Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 150
WILL - A Cidade do Amor


Notas iniciais do capítulo

eu percebi q todo esse tempo eu tava botando a Ciara ( a garota praticamente figurante que foi sequestrada no País de Gales junto com a Mallory) no lugar errado do esqueminha que eu coloco onde cada um tá kk desculpa! favor ignorar pq é cap demais pra arrumar então eu n vou arrumar kkk

no momento, estão nas AMÉRICAS os grupinhos:

— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,

— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Rachel e Zia

— Indo para o Peru: Meg e Apolo

— Peru: Leo, Calipso,Magnus, Jacques, Alex, Festus, André (Brasileiro que tava na Nigéria e não sabe jogar futebol)

no momento, estão na AFRICA, os grupinhos:

— Nigéria : Olujime

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:

— Indo para a Itália: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Reyna, Ciara

— Indo para Inglaterra: Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory

— França : Sam, Anúbis, Sadie, Will, Nico

— Alemanha: Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/747866/chapter/150

WILL

Como tínhamos acordado mais cedo do que eu gostaria para sair do British Museum, tirar um cochilo no trem para Paris foi algo muito bem vindo. Eu quase me via desejando para o trajeto até a capital francesa ser mais longo, para que não eu, mas Nico, pudesse dormir mais um pouco, mas pelas estimativas de Sam, na pior das hipóteses em 4 horas estávamos em Paris. 

Eu acho que eu tive uma noite de sono bem mais proveitosa que Nico. Até tinha aproveitado para tirar uma soneca nas duas primeiras horas de viagem, mas Nico estava ainda largado no assento do trem do outro lado do corredor, logo ao meu lado. Os assentos daquele trem eram organizados de forma que duas pessoas se sentassem lado a lado, mas uma fileira olhava para frente e outra para trás. O resultado era que quatro pessoas ficavam ao redor de uma mesa de cada lado do trem. Devia ser esquisito quando não se conhecia as pessoas com quem dividia o trem. No nosso caso, no entanto, simplesmente significava que eu estava sentado com Sam ao meu lado e Anúbis e Sadie na minha frente, enquanto Nico resolveu criar um quarto próprio do outro lado ocupando dois assentos.

Sadie bem que poderia repetir o mesmo, e até sugerimos, mas ela preferiu ficar alternando entre dormindo e acordada com a cabeça deitada no ombro de Anúbis. Quando eu acordei e o sono começou a ser substituído por tédio, especialmente porque estava bem claro que estávamos sem assunto, eu decidi que era hora de fingir que aquilo era uma viagem escolar normal e inventar alguma coisa pra fazer.

— Vamos jogar “Eu nunca”? - perguntei repentinamente, e Sam e Anúbis olharam para mim como se eu fosse doido.

— Jogar o quê? - perguntou Anúbis.

— Agora não é hora pra isso. - respondeu Sam.

— Não tem nada querendo destruir o mundo nesse exato segundo e tudo que podemos fazer agora é esperar o trem chegar em Paris. - lembrei - Se desestressar um pouco faz bem.

— Tá, mas porquê esse jogo? - perguntou Sam.

— Foi o primeiro que eu pensei. - justifiquei, dando de ombros.

— Como é esse jogo? - perguntou Anúbis.

— Cada um deixa todos os dedos de uma ou duas mãos levantados e cada um tem sua vez de falar alguma coisa que nunca fez. Por exemplo, “eu nunca… fui pra França”, aí quem já tiver feito a coisa, abaixa um dedo. Quem ficar sem dedos para abaixar, perde.

— Basicamente ganha quem tiver feito menos coisas.  Mas eu só aceito jogar se não fizerem perguntas problemáticas demais. - disse Sam, cruzando os braços.

— Depende do que você chama de problemática demais. - falei brincando, mas então vi a cara que ela me encarava - Tá, sem perguntas muito problemáticas e polêmicas. E aí, topa também? Acho que usar as duas mãos é melhor, já que estamos em três. 10 chances então. 

— Vai ser um adolescente normal e joga… - resmungou Sadie, sem abrir os olhos.

— Desde quando está acordada? - perguntou Anúbis.

— Não tô. - resmungou ela ainda sem abrir os olhos - Xiu… tô dormindo. 

— Então tá… - disse ele olhando para Sadie e então para mim e Sam - Vamos jogar. Mas de fato, sem perguntas problemáticas.

— Vou me comportar. - prometi com a mão sobre o peito - Eu começo?

— Pode ser. - respondeu Sam enquanto Anúbis só afirmou com a cabeça.

— Eu nunca… Tive uma conversa em árabe! - falei, com um sorriso de vitória, pegando os dois desprevenidos.

— Isso foi meio específico. - reclamou Anúbis.

— Isso foi eu pegando leve. - respondi - Vai, um dedinho a menos aí.

— Então tá… - respondeu Anúbis abaixando um dedo - Eu nunca… 

— O que em 5 mil anos você pode não ter feito? - perguntei.

— Eu nunca… - repetiu ele, antes de continuar - Fui matriculado como eu mesmo como aluno de uma escola moderna.

— Boa. - disse Sam enquanto nós dois baixamos um dedo.

— Então se eu colocar você numa escola, você vai se sair mal? - perguntei, imaginando a cena.

— Mediano… - admitiu ele, olhando com o canto do olho para Sadie, aparentemente preocupado com algo que eu não soube dizer.

— História você viveu tudo então provavelmente sabe mais que o professor. - lembrou Sam - Das exatas… 

— Eu vi Pitágoras explicando o teorema dele… Apesar de o teorema ser mais velho que ele e não ser tanta novidade assim. - disse Anúbis, parando para pensar um pouco - Egito tinha bastante matemática e física, muito que se perdeu. Thoth me ensinou muito quando era mais novo. Não sei até que ponto se equipara ao conteúdo do Ensino Médio.

— Química? - perguntei - Biologia?

— Não muito de química. - respondeu ele - De Biologia… Duvido achar muita gente melhor em anatomia.

— Até neuroanatomia? - perguntei empolgado - Dá pra realmente aprender muito neurônios e afins abrindo corpos? Assim.. claro, tem o cérebro e a medula espinhal bem óbvios mas, nervos são pequenos demais para ver… Ou você simplesmente automaticamente sabe já que prepara as múmias?

— Eu nunca… - disse Sam de repente - Tive interesse em me aprofundar demais em anatomia.

Olhei para Anúbis, e suspirei antes de abaixar um dos dedos.

— Só avisando, geralmente esse jogo envolve expor segredos das pessoas. - falei.

— Você prometeu não ter perguntas muito problemáticas. - disse Anúbis.

— Exatamente. - reclamou Sam.

— Não precisa ser segredo muito profundo… - falei, dando de ombros - Pode ser… tipo…  eu nunca fiz algo errado sem meus pais saberem…

Cabisbaixa, Sam escondeu um dedo, imediatamente fiquei curioso, especialmente por ela estar meio cabisbaixa. Anúbis também a baixou um dedo, mas não pareceu ficar sem graça. Imagino que minha curiosidade tenha ficado visível no meu rosto, pois ele logo, com o braço sob o qual Sadie não dormia, apontou para ela. 

— Já tem uma lista só com ela. - explicou ele - Nem era pra eu estar aqui desde do começo dessa confusão.

— Não tem mais interessantes e que eu não saiba? - perguntei.

— Pelo o que eu entendi, as regras do jogo não incluem explicar tudo. - respondeu ele - E você, nunca fez nada errado, sério?

— Ah eu faço… mas minha mãe anda bem atualizada ultimamente. - admiti.

Nosso jogo então foi interrompido pelo celular de Sadie tocando. Só porque eu queria saber o que Sam tinha aprontando, poxa.

Sadie se sobressaltou, acordando de uma vez quando seu celular tocou. Seu cabelo estava um pouco bagunçado e seu rosto deixando bem óbvio que ela tinha acabado de acordar. Com visível preguiça, ela pegou o celular que tocava, e que acabou por acordar Nico também, e atendeu a ligação.

— Que foi Carter? - perguntou ela - Você não dorme não?

— Na verdade, acabei de acordar. - disse ele pelo telefone - Que horas são aí?

— Quase 11 horas. - respondeu Sadie soltando um bocejo - Porque acordou tão cedo? Sequer tem sol aí?

— Ele tá começando a aparecer. - respondeu Carter enquanto Sadie colocava o celular apoiado logo abaixo da janela do trem, para que todos pudessemos ver melhor Carter e ele ver a todos nós, e não só à Sadie - Acordamos cedo porque temos uma longa viagem pela frente. Me informaram que eu preciso chegar no Sudão logo.

— Quem te informou? - perguntou Sadie - Conseguiu falar com o Tio Amós?

— Não… - disse Carter e logo a câmera mudou de foco para uma mulher sorridente com roupa de leopardo e logo atrás dela, estava Zia.

— Fui eu! Oi, Sadie! - exclamou a mulher.

— Bastet! - exclamou Sadie, repentinamente acordada

— Ah não… - resmungou Anúbis.

— Eu ouvi isso, cão! - rebateu Bastet, e Anúbis só revirou os olhos - Espero que esteja cuidando bem da Sadie! 

— Melhor que você. - rebateu Anúbis, cruzando os braços.

— Dá pra vocês dois pararem com essa briga de cão e gato? - reclamou Sadie.

— Mas ele está cuidando bem mesmo de você? - perguntou Bastet.

— Claro que está! - respondeu Sadie - Mas eu também não preciso de uma babá, sabe?

— Sei que sabe se proteger muito bem, mas uma ajudinha a mais não faz mal né? - perguntou Bastet.

— E deixaram você vir? - perguntou Anúbis para Bastet.

— As consequências de Osíris estar fundido com Julius Kane… - disse Bastet dando de ombros - O instinto paterno achou que estava desequilibrado o tanto de ajuda que cada filho tinha, então vim ajudar Carter. É por causa da mesma fusão que você ainda não tá em maus lençóis, assim andando com a Sadie como… como se fosse um… um… grego… 

— Que mentira… - rebateu Anúbis, claramente parecendo ofendido - Os gregos já teriam largado a mortal ou o mortal a muito tempo. 

— Sim… ficar mais tempo não é o forte dos deuses gregos. - concordei.

— Ou arcar com a responsabilidade do que deixam para trás. - completou Nico.

— E olha que a gente ainda tá nos que tiveram mais sorte com os pais… - disse, olhando pra ele - Ou mais ou menos.

— O máximo é ‘mais ou menos’. - disse Nico, gradualmente mais acordado.

— As vezes é melhor assim… - disse Sam, de uma forma séria demais.

— De toda forma, não esquecemos que você assim com a Sadie é um problema na lista. - lembrou Bastet.

— Não achei que esqueceriam. - respondeu Anúbis, cruzando os braços e desviando o olhar, parecendo pensativo e preocupado.

— Como está o meu pai? E minha mãe? - perguntou Sadie, talvez tentando mudar de assunto. 

— Estão bem. Preocupados, claro. - admitiu Bastet - Únicos que defendem isso que vocês dois tão inventando… O que duvido que aconteceria se não fosse o fato de seu pai estar fundido com Osíris… Logo, conhece vocês dois bem até demais.

— Vamos falar de outra coisa, por favor? - pediu Sadie.

— Daqui a pouco vamos nos encontrar nas docas com Paulo e Drew para partir. - explicou Carter, apesar de ele não estar visível mais, mas claramente quis salvar o dia.

— Paulo? - repeti surpreso.

— Drew? - repetiu Sadie também, não parecendo gostar muito.

— É bem longe, então temos que aproveitar cada minuto. - completou Zia.

— Vocês receberam alguma notícia do pessoal na América do Sul? - perguntou Sam repentinamente.

— Não… - respondeu Zia - Nada desde daquela ligação e mensagem de Íris que Apolo e Meg também estavam. Não sei se eles já chegaram lá.

— Vocês arrumaram um barco pra ir pra lá? - perguntou Sadie.

— Eu trouxe um. - disse Bastet dando uma piscadela.

— Vamos passar pelo Canal de Suez, já que ir pelo Nilo vai estar mais perigoso. - explicou Carter - Mas vamos ter que tomar cuidado ainda assim com o Canal.

— Dependendo de quando passarem por lá, pode dar uma olhada no obelisco de Israel né? - perguntou Sadie.

— Talvez… tava vendo que tem um no Líbano também, mas é bem pequeno. Não sei se conta. - disse Carter - Ainda vai demorar até chegarmos lá. Vamos conversando e vemos o que fica melhor dependendo de onde cada um vai estar.

— Beleza. - concordou Sadie.

— Já estão perto de Paris? - perguntou Zia.

— Acho que mais uma hora e pouco… - disse Sam olhando para o relógio.

— Avisem se tiverem novidades em Paris. - pediu Zia.

— Pode deixar. - respondi.

— Acho que não vão ter tantos problemas. - disse Bastet - Pelo o que eu entendi, vocês derrotarem Hafgan e seu exército afetou bastante os planos deles na Europa. Mas eu não baixaria a guarda ainda assim.

A conversa durou só mais alguns minutos, e depois voltamos para nosso jogo enquanto Sadie e Nico, ficaram conversando entre si durante o resto do nosso jogo (que Anúbis perdeu e logo depois eu perdi, Sam então foi a ganhadora). Sadie e Nico também aproveitaram para entrar em contato com os maias e astecas na Alemanha e ver se eles estavam bem e se tinham alguém que talvez podiam fazer a magia no obelisco no que ficava na Polônia. Eles disseram que talvez um deles consiga, e que iriam tentar e nos manter informados. 

Almoçamos no trem mesmo, admirando a paisagem do interior da França passando pela janela e falando alto e jogando, afastando qualquer pessoa que quisesse ficar muito perto de nós. Ainda bem que o trem não estava tão cheio. Nossa quero mais missões assim que os inimigos não atrapalham tanto. 

Talvez eu tenha deixado meu coração se acostumar com a calmaria que tínhamos desde que derrotamos o Asag, mas eu voltei a sentar ao lado de Nico, onde estava antes dele resolver se apossar do banco e cair no sono, e entrelacei meu mindinho com o dele, sobre a mesa. Ele deixou de olhar para a vista, e olhou para mim, levemente surpreso e rapidamente corando.

— Que foi? - perguntou ele.

— Nada. - respondi - Tava só pensando como é legal que estamos indo para Paris juntos.

— Em missão. - lembrou ele.

— Eu sei. - confirmei.

— Com mais três pessoas. - acrescentou ele.

— Que não tão nem olhando pra cá. - falei, e notei ele olhando rapidamente para os demais, ocupados demais com a vista da própria janela, enquanto o campo virava a periferia de Paris. 

— E? - perguntou ele, ficando mais vermelho.

— E eu to com saudade dos seus beijos. - admiti, deixando o título de Paris de ‘cidade do amor’ tomar conta de mim por um segundo.

Uma parte de mim achou que eu estava ousando demais as minhas chances, mas não é que Nico se aproximou e me deu um selinho? Eu sorri por um segundo antes de ir atrás de mais. Satisfeito, deitei a cabeça no ombro dele para admirar o resto de paisagem que tínhamos antes de chegar em Paris e quando chegamos, o que Bastet falou logo se provou verdade.

Chegamos numa estação grande dos trens e, depois de nos enrolarmos um pouco com as informações em francês e como as coisas funcionavam num país novo, tal como outros franceses ou turistas, pegamos tranquilamente o metrô. Depois de algumas estações estranhas, chegamos na Place de La Concorde, uma praça com o obelisco egípcio bem no meio, atraindo todo o sol pra ele. Foi só quando saímos do metrô que realmente a fixa caiu que estávamos em Paris. Pois no meio da multidão de gente na estação de trem moderna, não parecia que estávamos na famosa Paris. Mas ali, ali eu já acreditava.

Carros rodeavam a pequena praça, que ficava no meio de um balão. Uma dúzia de turistas estavam lá, tirando foto de cada centímetro que conseguiam, prédios belos e elegantes que pareciam ter saído de qualquer filme da Revolução Francesa ou de nobreza de um lado, à esquerda, árvores enfileiradas de um grande jardim à frente e atrás, e o Rio Sena à direita. Minha cabeça já tava até colocando alguma música de fundo bem francesa ali… por algum motivo acho que minha cabeça escolheu uma música de Ratatouille.

— Por favor, não vamos comentar sobre o nível de dificuldade baixíssimo que as coisas parecem estar até agora para não azarar o resto da viagem. - pedi.

— Combinado. - falou Nico.

— Sim… - disse Sam - Vamos aproveitar.

— Poxa… em outra oportunidade, seria legal aproveitar pra turistar… É Paris, poxa… - resmunguei enquanto os outros começavam a ir em direção ao obelisco, mas antes que Nico passasse por mim para fazer o mesmo, eu me curvei levemente, como um mordomo ou sei lá, indicando o caminho do obelisco - … Monsieur…

— P-Para com isso. - reclamou Nico, com a cara ficando da cor de um tomate e se apressando para acompanhar o pessoal.

— Mas é a cidade do amor! - falei, brincando e provocando ele um pouco.

— Foco, Will. - reclamou Nico - Obelisco primeiro.

— Eu sei. Só tô pegando no seu pé um pouco. - falei.

Ficamos ao redor de Sadie e Anúbis que começavam a fazer mais uma vez a magia do obelisco. Acho que mais umas duas ou três vezes e até eu teria decorado a magia. Será que a gente podia aprender também, para resolver os obeliscos mais rápido? São tantos, afinal de contas.

Eu, Nico e Sam continuamos de braços cruzados, quase como três guarda costas enquanto Sadie e Anúbis faziam a parte mais complicada e os turistas encaravam a gente. Não tendo nenhum monstro para lutar, estava entediado. Então, ainda de braços cruzados, inclinei meu corpo um pouco na direção do de Nico e sussurrei para ele.

— Omelette Du Fromage.

— Quê? - perguntou ele, não pegando a referência.

— Depois te explico. - respondi, suspirando de decepção mas lembrando que não dava pra esperar diferente e acrescentando Laboratório de Dexter nas coisas que eu teria que apresentar para ele.

Olhei para os turistas, muitos acompanhados de o que parecia ser seus pares românticos, todos olhando tentando entender o que fazíamos com o obelisco milenar. Já estava torcendo pra acabarmos logo, antes que a polícia aparecesse e resolvesse checar também o que estávamos aprontando. 

— Pronto. - declarou Sadie enquanto a luz do obelisco brilhava sem ninguém mais perceber. 

— Próxima parada, pirâmide do Louvre? - perguntei. 

— Pelo mapa do celular, não é muito longe daqui. Podíamos ir andando. - explicou Sam. 

E assim fomos, indo em direção a uma das árvores e logo sendo cercado pelo lindo jardim que separava a Place de La Concorde do Museu do Louvre. Era tudo muito lindo, muito cara de “nobreza esteve aqui”. Isso é, menos os ratos gordos fazendo festa numa lixeira que passamos. 

— Eca! - exclamou Sadie ao ver também os ratos. 

— Não fala assim. - falei - Vai que é o Ratatouille.

— Que não se chamava Ratatouille. - respondeu ela. 

Ainda assim, quanto mais perto do Louvre ficávamos, mais tenso eu ficava. Afinal, se tinha monstros para atacar a gente, a hora mais provável era agora. Já estava vendo a hora de chegarmos lá e ao invés de um bando de turistas, darmos de cara com um bando de monstro, algum deus aí com o nome potencialmente complicado, e muito caos. 

Contudo, quando chegamos lá, o único caos que encontramos foi o de turistas tentando tirar foto do mesmo lugar ou saindo e entrando no Louvre em grandes quantidades. Nós nos entreolhamos por uns segundos, e demos de ombros, não querendo azarar a nossa sorte. 

A pirâmide de vidro do Louvre estava lá, linda e glamourosa… ou destoando da arquitetura de época do Louvre, se preferir essa descrição. De toda forma, não havia nada de estranho por ali na casa da Mona Lisa. 

— Não vamos comentar pra não azarar. - falei. 

— Não tem muito o que podemos fazer né? - perguntou Sam - Não é como com os obeliscos que sabemos como impedir ou desfazer as magias. 

— Nem temos total certeza que essa pirâmide é uma das que eles vão usar. - completou Nico. 

— Podemos ficar de olho nela hoje, para ter certeza que nada vai acontecer nas próximas horas. - sugeriu Sadie - Mas temos que partir para a Turquia logo. 

— Hearthstone, Blizen, Mestiço e Mallory devem ter conseguido já desfazer a magia de mais obeliscos na Inglaterra no tempo que ficamos aqui. - disse Sam - Vamos ganhar mais um tempo para eles para que possam ficar de olho em Paris, e depois partimos para a Turquia. 

— Quanto tempo acha bom? - perguntei.

— A Turquia não é exatamente aqui do lado. - lembrou Sadie - Ao menos não de trem. 

— Quais as chances de conseguirmos uma passagem de avião para podermos ficar mais tempo aqui? - perguntei - Não temos Percy aqui para certas pessoas não gostarem dele num avião. 

— Quem? - perguntou Sadie. 

— O cara dos raios. - comentei. 

— Zeus. - respondeu Anúbis e na hora um raio, inofensivo, mas que deu medinho, caiu mais além - Acho que sei um jeito de conseguirmos dinheiro pra ir de avião… se aceitarem pagamento em ouro. E quem sabe alguma informação de o que acontece por Paris. Apesar de garantir mais informação que ouro… 

— A gente dá um jeito de trocar. - disse Sadie - Deviam fazer um fundo monetário pra gente. O dinheiro que temos da Casa da Vida já tá apertado com tanta gente pra manter, alimentar e tal. 

— Qual é essa sua ideia de conseguir ouro? - perguntou Nico. 

— Algum amigo? - perguntei. 

— Um conhecido. - respondeu Anúbis - Só nos falamos duas ou três vezes. 

Deixamos os turistas e franceses bem vestidos para trás e pegamos novamente o metrô na torcida para que o Louvre não resolvesse ser atacado no tempo que ficássemos fora. Nosso próximo destino, acabou sendo uma outra atração turística. Eu já estava me sentindo turista em Paris, o que eu gostava, faltava só uma câmera pra tirar as fotos do passeio. 

Compramos os ingressos e seguimos junto com um grupo, por uma escadaria que ia para debaixo de Paris, numa atração com o nome nada animador de Les Catacombes de Paris. Descemos e descemos por escadarias estreitas seguindo a fila de turistas liderada pelo guia, enquanto outra fila ia subindo ao nosso lado, voltando para a luz do sol. 

O ar ali era pesado, mesmo quando chegamos em corredores baixos de paredes rugosas. Mas piorou quando essas mesmas paredes passaram a ficar repletas de esqueletos, com caveiras e ossos meticulosamente ordenados, como se, de uma forma grotesca, o corpo daquelas pessoas fosse um adorno de parede ou tijolos para a mesma. Eu mal conseguia ouvir o guia contando sobre a história do lugar, sobre como se estendia por sei lá quantos quilômetros da capital francesa, que começou em mil setecentos e sei lá quanto, ou quantos milhões de corpos tinham ali. 

Olhei com o canto do olho, e Nico não parecia tão intimidado e desconfortável quanto eu estava, mas parecia de fato um pouco preocupado, ao menos. Tentei um pouco ver pelo lado dele, mas falhei pois não sabia bem qual devia ser o lado dele no momento. Como a morte podia criar algo como aquilo? Que triste ver tantas pessoas amontoadas assim mesmo que organizadas? Eu sem dúvida pendia para o segundo. 

— Ah não… - resmunguei quando vi que a intenção de Anúbis, que nos guiava enquanto ignoravamos o guia, era de nos separar dos turistas. 

— Xiu. - pediu Sadie, me fazendo lembrar que eu não estava ali para conhecer Paris. 

Disfarçadamente, pulamos a corda que separava a área de visitação da área proibida e logo o grupo de turistas não nos via mais. A iluminação ali era pior, mas ainda era bem claro que estávamos cercados por caveiras e demais ossos, que tentei não olhar demais pra não sair nomeando cada um numa tentativa desesperada de focar em outra coisa ao invés de tudo que havia ali, e naquela energia pesada sobre meus ombros. 

Eu sentia meu coração bater, ansioso por sair de lá conforme a luz diminuía cada vez mais. Não sei se era a profundidade, ou simplesmente o peso que o lugar tinha, mas até respirar parecia mais difícil. Sem perceber, me vi pegando a mão de Nico. Sei que tem lugares piores, mas algo parecia rastejar ali. Ou podia ser só minha imaginação, afinal os turistas de antes não pareciam tão preocupados, apesar de sem dúvida meio desconfortáveis e pensativos. Olhei pro pessoal, e a cara deles não era das melhores. Imagino que concordavam comigo. 

Em certo ponto, já mal conseguindo ver os outros na minha frente, viramos numa esquerda. A primeira coisa que eu vi foi um esqueleto, encapuzado com um pano preto e se misturando naquela escuridão e segurando uma foice. Eu dei um pequeno grito, admito que nada másculo, pensando imediatamente que minha hora tinha chegado. Mas ninguém fez “xiu” para mim, pois quase todos os outros se sobressaltaram e/ou colocaram a mão na frente da boca para evitar um grito. Isso é, menos Anúbis e Nico, que pareciam estar tranquilamente passeando num parque ensolarado no meio da tarde. 

— Ça fait longtemps… - disse a figura encapuzada num francês que eu não entendi uma palavra e com uma voz que parecia tomar conta daquele lugar mas ao mesmo tempo sussurrar em meus ouvidos.

— Acho que eles vão preferir em inglês… - disse Anúbis, apontando pra gente brevemente com a cabeça.

— Vraiment dommage… Ainda assim, é uma honra, como sempre, Guia das almas e Pesador dos corações. - disse o esqueleto, se curvando levemente - Última vez creio que foi… 

— Na Revolução Francesa, provavelmente. - disse Anúbis.

— Sim, de fato. - concordou o esqueleto - A que devo essa visita… e acompanhada de mortais…

— Erm… Anúbis… quem é esse? - perguntou Sadie, perguntando exatamente o que eu estava com medo de dizer em voz alta.

— Sou Ankou, um servo da morte. - disse o esqueleto, Ankou.

— Por razões da treta internacional que estamos…devo perguntar… - eu falei - Posso dizer que você é francês?

— Sou bretão e normando… O norte da França é meu lar. - confessou Ankou - Mas particularmente gosto das Catacumbas de Paris.

— Tem… alguma nacionalidade de deuses macabros assim que você não conhece tanto? - perguntei, curioso, olhando para Anúbis - Estamos quase fazendo um checklist de deuses da morte, dos mortos ou algo do tipo.

— Admito que fora da Europa, África e do Oriente Médio eu acho que nunca nem conversei com a maioria. - respondeu Anúbis - Mas também só tenho ou tinha mais o costume de falar com Hades e Ereshkigal.

— Eresh-quem? - perguntei.

— Cuidado com o que fala… - alertou Ankou - A senhora Ereshkigal é alguém que não vai querer como inimiga.

— De fato… - respondeu Anúbis - Ela é da Suméria… e realmente não é alguém que você vai querer irritar… ela é forte… e velha… e vingativa.

— Qual é o motivo da honrosa visita? - perguntou Ankou.

— Estamos precisando de ajuda… e informação. - disse Sadie, claramente já bem acostumada com o ciclo social do namorado - Ajuda sobre como podemos chegar mais rápido em Istambul e informação sobre se alguma coisa aconteceu de estranho por Paris, mais especificamente na pirâmide do Louvre.

Ankou parou um pouco por uns segundos, pensando. Ou assim eu esperava, era difícil ler o rosto dele considerando que era só uma caveira e ainda por cima embaixo de um capuz preto que praticamente só deixava visível do nariz pra baixo. 

— Ouvi falar do problema que acontece… - disse Ankou - Sobre a ajuda para chegar em Istambul, voltem amanhã que vou ver o que eu consigo. Mas sobre informações… o nível do Sena tem subido recentemente… a naiade dentro dele deve ter se juntado ao grupo de Hafgan. 

— Derrotamos Hafgan alguns dias atrás, no País de Gales. - disse Sam.

— Bom. Isso é bom. - disse Ankou - Ele estava montando um exército com os mortos dele… bem… imagino que já saibam disso. Eu bem tinha visto umas semanas atrás ele e Naunet passeando pelo Louvre. Deve estar relacionado.

— Então podemos dizer que o Louvre é o próximo… - falei.

— Isso se eles não trocarem, agora que derrotamos o Hafgan. - disse Nico - Eles devem achar alguém para ficar no lugar dele, provavelmente né? Ou fazer outra pirâmide que fique mais fácil.

— Se eles não souberem que nós sabemos que a pirâmide do Louvre é uma da lista… não tem muitos motivos pra eles trocarem… - disse Sam, olhando preocupada para o Ankou.

— Ah não se preocupe, não vou dedurar vocês. - disse o Ankou e, apesar de ser um esqueleto assustador com voz arrepiante que dizia isso, eu acreditei - Não sou doido. Sei que Ereshkigal foi a favor de ajudar os mortais na discussão que teve no Olimpo, e Anúbis está com vocês, assim como um filho de Hades… Não sou um deus muito grande, sei não mexer com o que é grande demais pra mim.

— O que pensa em ver para irmos até Istambul? - perguntei.

— Talvez posso conseguir alguma montaria. - disse Ankou - Não uso mais tanto meus cavalos e carruagem mesmo… 

— Sem querer soar mal-educada… - disse Sam - Mas não seria algo pelo ar mais rápido?

— Não se preocupe, são bem mais rápidos do que qualquer trem ou carro que tentar usar. - garantiu Ankou.

— Porque você não tem coisas legais como uma carruagem? - perguntou Sadie, aos sussurros para Anúbis.

— Porque eu não precisava recolher os mortos… - respondeu Anúbis aos sussurros pra ela - Não lembro de você reclamando que eu deveria ter mais coisas legais quando foi até o submundo implorando pela Pena da Verdade.

— Mas um carro… ou algo do tipo… - resmungou Sadie de volta enquanto os dois não pareciam notar que a gente prestava atenção na conversa.

— Porquê em situações normais eu não preciso de um. - respondeu Anúbis - Quando arrumarmos todos os obeliscos eu te levo pra passear em Londres em literalmente 1 segundo ou pra porta da sua sala de aula.

— Mesmo mortal? - perguntou ela e ele pareceu em dúvida.

— A gente faz um teste antes… - garantiu ele.

— Então… voltamos amanhã na esperança de boas notícias? - perguntei - Tem alguma outra fofoca útil? Sabe algum lugar pra gente ficar também?

— Não tenho outras… fofocas.... Mas podem ficar por aqui. As Catacumbas são bem grandes, e tem parte sem corpos e… turistas… - respondeu Ankou claramente chamando os ‘turistas’ a pior parte dali.

— Queríamos ficar num lugar que dê pra ver o Louvre… - justificou Sam - As Catacumbas chegam perto de lá?

— Se é assim, não posso ajuda-los. - respondeu Ankou - O Louvre está do outro lado do Sena. Mas se eu realmente puder emprestar a carruagem para vocês, podem usá-la para dormir também enquanto não forem para a Turquia.

E assim, fomos embora para nos juntarmos disfarçadamente aos turistas de novo e então encontrar um lugar perto do Louvre para ficar de olho nele enquanto descansávamos. O que pode parecer fácil considerando o tanto de hotéis das redondezas, mas a gente não tinha conseguido promessas de dinheiro e… já parou pra ver quanto custa um hotel em Paris nessa região? Não recomendo. Sam pensou em ver por um momento e nos arrependemos.

Então fomos para o plano B. Quando os restaurantes que rodeavam a pirâmide fecharam (e a gente deu uma de turista aproveitando o tempo livre para tirar foto com várias partes do exterior do Louvre enquanto isso), nada que um pouco de magia egípcia para destrancar a porta dos restaurantes não solucionasse. Errado, eu sei, mas eles tinham uma visão perfeita da pirâmide e era melhor que dormir no meio da praça do Louvre. E só queríamos um lugar para dormir.

Fomos então acordados antes do sol por uma mensagem de Íris vinda direto do Peru com notícias preocupantes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

desculpa novamente pela demora e por hj é só. Feliz Natal e Ano Novo adiantado se não tiver mais cap até lá :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Deuses da Mitologia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.