Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 130
CALIPSO - Novos Amigos


Notas iniciais do capítulo

DESCULPA A DEMORAAAA! eu TIVE q atualizar a do Anúbis 2x pq chegou num ponto incrível da história e quem sabe sabe kk aí pra completar o desastre e piorar a demora, o cap n tava fluíndo, aí eu passei mal ontem e enfim...a vida. ainda to meio mal, mas tô aqui trazendo cap novo pra vcs. o prox cap vai ser daqui tbm e n do Anúbis kk já q ele ganhou 2 caps. tenho q equilibrar. enfim, boa leitura.


ps importante: inhame e mandioca são coisas diferentes kk


no momento, estão nos EUA os grupinhos:
— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,
— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia

no momento, estão voando, os grupinhos:
— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão na África, os grupinhos:
— Nigéria : Leo, Calipso, Olujime, Magnus, Jacques, Alex, Festus


no momento, os grupos que estão na EUROPA são:
— País de Gales: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Sam, Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory, Anúbis, Sadie, Will, Nico. // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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CALIPSO

O interior da tal Casa de Campo levava até um pátio com vários cômodos o rodeando. Nesse grande pátio, havia várias mesas e algumas pessoas já estavam lá comendo e bebendo. Algumas pareciam cansadas e machucadas, o que com certeza não deixava os ânimos ali tão bons, mas ao menos estava acima da média. Porém, de toda forma, também não foi muito agradável quando todos olharam para nós. Claramente chamávamos atenção demais ali.

Se já estávamos chamando atenção demais ali, me pergunto como estava Festus, que havia ficado de fora da Casa de Campo. Como o pátio ficava numa parte de céu aberto, até daria para Festus voar até ali, já que não passava pela porta. Mas eram tantas mesas e pessoas no pátio, que com certeza tudo ficaria muito apertado e potencialmente desastroso com Festus ali também.

— Até daria pro Festus entrar, por causa desse teto aberto… - disse Leo olhando, do pátio, para o céu, aparentemente pensando o mesmo que eu - Mas tem muita gente e mesas aqui. Será que o teto aguenta Festus em cima dele?

— Melhor nem arriscar. - respondi.

— Vai que dá errado e viram nossos inimigos por vocês terem destruído o telhado deles. - disse Alex.

— Concordo com a Alex. - disse Jacques.

Eu estava bem sem graça com todos olhando com o canto do olho e fofocando aos sussurros sobre nós, era difícil ignorar, até porque uns pareciam falar um pouco mais alto na esperança de respondermos algumas das perguntas, o que eu não estava afim. Havia sido uma viagem cansativa e eu só queria descansar. Eventualmente parei de notar a curiosidade dos outros quando o cheiro da comida chegou até mim e minha barriga começou a roncar.

— Adunni… - disse Iemanjá repentinamente - Apresente e explique tudo para eles, por favor. 

— Claro. - respondeu Adunni.

Iemanjá então virou-se e foi embora, nos deixando a sós com Adunni, que logo indicou com a cabeça a direção de o que parecia ser uma fila. Essa fila ia para dentro de um dos cômodos ao redor do pátio e, pelo cheiro, ali era a fila da comida.

— Bem, aqui é a fila da comida. - disse Adunni - Vamos fazer nossos pratos, pegar uma mesa e então explico melhor para vocês. Só pegar um prato e botar a comida que quiserem. Tem sempre suco também e uns molhos na última mesa.

Ficamos uns minutos lá até que, repentinamente, surgiram duas pessoas, uma moça e um rapaz. O rapaz tinha uma camisa extremamente colorida, com cores tão fortes que os olhos doíam. A menina estava com os cabelos cacheados soltos e usava uma calça jeans com uma camiseta cheia de cores e padrões que pareciam típica dali pois pareciam ter a mesma energia da camiseta do cara. Ele também vestia jeans, só que o dele era preto, enquanto o dela era azul marinho.

— Adunni! - exclamou a moça - Quem são eles? Conta pra gente, vai.

A moça passou o braço pelos ombros da nossa guia e o cara ficou só olhando para nós. Na nossa frente e atrás de nós na fila, deu para ver que as pessoas prestavam atenção. Todo mundo queria saber direito quem nós éramos. 

— Amigos do Olujime. - disse Adunni indicando Olujime com o rosto.

— Eu sou Olujime, prazer… - acrescentou Olujime.

— Estranho… - disse o cara olhando para cada um de nós - Trouxe gente normal assim pra algo que era claramente um problema bem mágico? É perigoso.

— Relaxa, nós temos um currículo bom. - respondeu Alex.

— Eles são semideuses só que de outros panteões. - explicou Adunni para os amigos e então virou-se para nós - Esses são Sarah e Eniola. 

— Quais? - perguntou cara, Eniola, com cara de curiosidade.

— Nórdico e grego. - respondi.

— Uhm… - resmungou Eniola não parecendo ir tanto com a nossa cara ainda.

— E eles vão se juntar na guerra? - perguntou Sarah.

— Depende de a que guerra você tá se referindo. - respondeu Alex.

— E podemos explicar para eles? - perguntou Eniola.

A conversa já tinha durado o suficiente para conseguirmos entrar no cômodo de onde saía o cheiro maravilhoso. Basicamente tinha uma mesa com alguns pratos limpos para pegar e logo depois várias panelas enormes com comida dentro. Cada pessoa pegava um prato e começava a colocar a comida que lhe interessava no prato. 

A comida era bem diversa mas ao mesmo tempo diferente de tudo que eu conhecia. Tinha um arroz era laranja bem escuro, frango com um molho alaranjado também, uma sopas com algo dentro, umas saladas diferentes e outras comidas que eu não tinha a menor ideia do que deveria ser.

No final, depois das comidas, havia até uma daquelas máquinas de encher refil de refrigerante como tinha no shopping (e que eu achei uma invenção bem interessante).

— Iemanjá pediu para eu explicar e apresentar tudo. - disse Adunni, pegando um dos pratos limpos - Então sim, creio que podemos explicar. Mas só espero que não estejam aqui, grudados na gente, pra furar a fila da comida.

— Droga! Descobriu meu plano! - reclamou Sarah rindo.

Minha barriga roncou e eu consequentemente acabei ignorando todo o resto que acontecia ao meu redor. Meu foco era só um: a comida. Peguei meu prato enquanto Sarah e Eniola iam para o final da fila e comecei a colocar nele comidas que eu não sabia o que era nem metade e não sabia qual o tempero da outra metade. Eu estava com tanta fome, que nem prestei muita atenção em Adunni apresentando para Alex cada prato que ela perguntava o que era.

— Isso é arroz Jollof, não sei se vai achar ele muito apimentado. - alertou Adunni.

— Estou acostumada com comida mexicana. - disse Alex pegando bastante do tal arroz - E aquele ali, é o quê?

— Inhame triturado. - explicou Adunni - Fica uma delícia com sopa.

Um a um, fomos terminando de montar nosso prato. Adunni foi a primeira a terminar, e por isso também foi logo separando uma mesa para nós. Nos sentamos lá e assim que começamos a comer, sem nem esperar Sarah e Eniola, Adunni começou a nos explicar melhor o que acontecia.

— Então… - começou Adunni enquanto eu começava a comer - Tem duas coisas. Primeiro, o que tem sido mais uma pedra no sapato, toda noite somos atacados por alguma coisa vinda ou da floresta, ou da água. 

— Que coisa? - perguntei depois de mastigar bem e engolir a comida, mas senti a picância ainda na minha boca inteira. 

— É uma coisa diferente todo dia. - explicou ela - Às vezes repete, mas o fato é que fica trocando como se quisesse só nos perturbar mesmo. Geralmente são monstros, enviados por Nanã e Oxum. 

— Então essa noite promete. - deduziu Magnus. 

— Sim. - confirmou Adunni enquanto Sarah e Eniola se sentavam com a gente - Conseguimos lidar suficientemente na maioria das noites. É mais um empecilho cansativo. 

— Bem cansativo. - acrescentou Eniola - Estou, sinceramente, precisando de uns dois dias, só dormindo, mais nada. 

— Gente, nada a ver, mas essa comida tá muito boa! - exclamou Leo repentinamente - Não sabia que a comida da Nigéria era apimentada.

— É sim. - disse Sarah rindo.

— Continuando… Ficamos revezando entre todos, deixando sempre pelo menos quatro pessoas de olho nas fronteiras toda noite mas…. - disse Adunni suspirando pesadamente - É complicado. Nem todos aqui sabem lutar. E ainda temos alguns de nós em outros lugares da Nigéria e do mundo… não é só aqui que estamos com esse problema.  

—  Nós até temos certa estrutura e um número forte de pessoas comparando às outras cidades que… sabe? Que o resto das pessoas não podem saber e que acontecem coisas meio… mágicas… pelo mundo. - disse Sarah - Então meio que não temos só o nosso cantinho pra tomar conta. 

— Que bom que têm. - disse Olujime - A situação que vimos nos astecas e maias era meio deprimente. Muito espaço pra pouca gente. 

— E olha que vocês nem ficaram tanto lá. - disse Jacques. 

— QUEM FALOU ISSO?! - exclamou Sarah, com olhos arregalados. 

Claramente pingentes falantes que viram armas não eram muito comuns por ali, pois Sarah e Eniola levaram um susto e ficaram tentando procurar a fonte da voz. Magnus então pegou Jacques e ergueu o pingente para que todos pudessem ver.

— Foi ele. - disse Magnus.

— Fui eu! - exclamou Jacques - Jacques, a espada do verão, muito prazer.

— Ahm… ok…prazer… eu acho… - disse Sarah.

— Você não parece muito uma espada. - disse Eniola.

— É porque estou no meu formato de bolso. - explicou Jacques - Mostra aí pra eles como sou uma bela espada, Magnus.

— Agora não… - pediu Magnus - Estamos num refeitório cheio de gente…

— Por favor! - pediu Jacques.

— Depois, ok? - perguntou Magnus.

— Por favor! - pediu Jacques, novamente.

— Depois ou nunca! - reclamou Magnus - E se pedir de novo, é nunca.

— Tá… - resmungou Jacques aparentando não gostar muito da ideia, mas acabando por aceitá-la mesmo assim.

— Bem… erm… O que estávamos falando mesmo? - perguntou Adunni.

— Que os astecas e os maias tinham pouca gente. - lembrou Olujime.

— Ah sim… - disse Adunni - Aqui normalmente tem menos gente do que está vendo, como chamamos vários para virem até aqui, está sem dúvida bem movimentado. Para alguns é até novidade que os orixás de fato existem e são relacionados a eles de alguma forma.

— Tem uma menina muçulmana que está em total conflito interno. - sussurrou Sarah, como uma fofoca.

— Minha irmã é muçulmana. - disse Alex - Ela resolveu o conflito interno dela desconsiderando os deuses nórdicos como deuses e acho que tentando não pensar muito nisso.

— Deve ser complicado… - disse Sarah.

— E também, - continuou Adunni - Não temos só nigerianos vindo até aqui, também temos pessoas de outros países como Cuba, Brasil, Porto Rico, Trindade e Tobago e outros que tem pessoas que, de uma forma ou outra, acreditam nos orixás ou tem alguma relação com eles.

— Interessante… - comentei.

De fato achei interessante. Talvez eu esteja meio desatualizada mas, ao menos na época da Grécia Antiga, religião era muito algo ligado à nacionalidade. O pouco que eu já tinha conseguido me atualizar quanto ao século 21 me fazia ter certeza que esses países citados por Adunni eram bem longe da Nigéria. Certamente as coisas mudaram bastante desde a Grécia Antiga.

No meio dessa conversa, notei que Magnus estava ficando com o rosto bem vermelho e começava a beber água cada vez mais frequentemente. Acho que o tempero apimentado estava começando a incomodá-lo, mas ele tentava disfarçar. Eu troquei um olhar com Alex e, pela cara de segurando o riso dela, acho que ela havia notado isso também. Com todo o resto do pessoal focado na explicação de Adunni, acho que só nós duas notamos.

— Mas você disse que havia duas coisas acontecendo. - disse Leo - Os ataques toda noite é uma, qual a outra?

— Estamos treinando para uma guerra. - revelou Adunni, bem séria - Uma guerra contra os mesmos que nos enviam esses monstros toda noite. Os orixás sabem mais do que nós, mas até onde sabemos, Nanã e Oxum estão juntos com a deusa egípcia Naunet. Aparentemente a situação no Egito está muito ruim, forçando os magos, ou algo assim, a fugirem e lá vai ser o foco de uma provável batalha. Nós e outros povos da África, estamos treinando, nos preparando para quando for a hora de ir para o Egito.

— Ah legal! - exclamou Leo, fazendo Adunni, Eniola e Sarah olharem para ele com cara fechada.

— O que raios isso tem de legal? - perguntou Eniola.

— Não… nada… desculpe. Não me expressei direito… - disse Leo, bem sem graça - Quis dizer legal porque é um problema que já sabemos e um dos nossos amigos está bem preocupado então… juntando tudo isso, tem uma chance grande de nós ou ao menos só nossos amigos, também irem para o Egito quando chegar a hora.

— Entendi… - respondeu Adunni.

— De toda forma, não sabemos mais do que isso. - acrescentou Eniola - Acho que os orixás tem alguma forma de comunicação com eles, não sei dizer.

— Mas o Leo tem razão… - disse Alex - Muito legal ver que não estamos tão sozinhos quanto achávamos. O resto do pessoal vai gostar de saber disso. Já perdemos amigos demais nessa confusão toda.

— Vamos então ficar aqui treinando com eles? - perguntou Magnus.

— Isso é uma boa pergunta… - concordou Leo.

— Vocês estão bem vindos para dormir aqui por hoje, são nossos convidados. - disse Adunni - Mas quanto a lutar do nosso lado ou não, isso é com Iemanjá. Não por não estarem na lista daqueles que chamamos, mas sim porque temos que ficar enviando ajuda para outros povos e pode ser que ela prefira que vá ajudar outros. Especialmente considerando que não tem um motivo muito… pessoal, por assim dizer, para ficar na Nigéria.

— Então acho que por hoje o que temos de dever de casa é simplesmente dormir? - perguntou Magnus, com uma empolgação quase palpável na voz ante a expectativa de dormir.

— Não sei vocês, mas aceito muito uma noite de sono sem ser na água. - disse Leo.

— Temos um quarto para vocês. - disse Adunni.

— Falando de coisas mais banais… - disse Alex - Notei que tem um campo de futebol lá fora. O futebol é muito popular na Nigéria?

— Só o esporte mais popular. - disse Eniola rindo - E somos a melhor seleção da África!

— É… depende do ano… - disse Sarah.

— Sarah! - reclamou Eniola.

— Quê? Estou falando a verdade! - defendeu-se Sarah - Quem ganhou a última Copa Africana foi Camarões, o que deixa eles com cinco copas e nós ainda com só três! E ainda tem o Egito com sete e Gana com quatro!

— Gana não ganha desde 82! - exclamou Eniola - E os árabes não contam!

— Não sei como vocês conseguem se interessar tanto por um bando de homem correndo atrás de uma bola… - resmungou Adunni revirando os olhos.

— Claro que os árabes contam! Ainda estão no mesmo continente! E falando neles, o time da Argélia tem melhorado bastante. E sobre Gana, eles ainda ficaram em quarto na última. - lembrou Sarah - Ao contrário de nós, que nem nos classificamos.

— Fala isso pros árabes então, muitos se acham fazendo “só” parte do Oriente Médio. - reclamou Eniola - Além disso, a Argélia foi eliminada na fase de grupos!

— Marrocos e Tunísia então! Eles chegaram nas quartas e ainda tem o Egito que ficou em segundo! - rebateu Sarah - E ainda assim, nós nem nos classificamos! É pior que nem ter passado da fase de grupos!

— É porque estamos guardando o fôlego pra copa do mundo… - disse Eniola, sem ter muita certeza disso.

— Pff, até parece. - contrariou Sarah - Já está ruim só com os times africanos e agora você quer colocar os europeus e os latinos na conta?

Eu, completamente perdida como estava, deixei os dois conversando e foquei em minha comida. Adunni fez o mesmo mas Leo e Alex acabaram por entrar na conversa enquanto Magnus até tentava, mas estava tendo que receber algumas explicações e parecia perdido.

A conversa durou o suficiente para todos terminarem de comer e ainda pegarem uma sobremesa. Eu peguei um doce, em formato de uma pequena bola, que Adunni me explicou ser um doce de coco bem crocante e com caramelo. Também peguei uma banana grelhada que Adunni insistiu que eu deveria experimentar junto com tipo de molho feito de amendoim, azeite e pimenta. Admito que depois de uma janta apimentada, uma sobremesa com mais pimenta não era muito o que eu queria, mas comi mesmo assim (e me arrependi).

Com todos de barriga cheia, saímos da Casa de Campo, com o sol já tendo se pondo a um tempo, deixando tudo escuro apesar de alguns postes iluminando o caminho. Logo na saída, vimos algumas crianças brincando com Festus como se ele fosse o brinquedo. Eu segurei uma risada, era uma cena fofa e Festus não parecia ligar, apesar de ter aparentemente ficado feliz por uma desculpa para sair dali.

As crianças ficaram tristes por termos tirado o brinquedo delas dali, mas Festus não pareceu se importar, muito pelo contrário. Ele gostou de ter se juntado a nós, especialmente porque Leo juntava comida para ele. Leo tinha conseguido um pouco de molho de tabasco, surrupiado às escondidas, aparentemente, pois não tinha visto o frasco de molho até o momento em que Leo tirou ele de sei lá onde e deu para Festus.

— Vamos ver se conseguimos um pouco de óleo de motor. - prometeu Leo.

— Tem algum lugar que possa ter óleo de motor por aqui? - perguntei para Adunni - É para o Festus comer.

— Ahm… Meu pai com certeza tem. - respondeu Eniola, encarando Festus, acho que tentando processar o dragão e seus hábitos alimentícios.

— Eniola, tem como você levar eles até seu pai? - respondeu ela - Eu vou mostrar pros outros onde eles vão dormir.

— Tá. - respondeu Eniola.

Eniola guiou o caminho passando pelas várias casas, extremamente parecidas entre si, com pessoas conversando, brincando, vendo tv, treinando no quintal, ou o que fosse. Como já estava escuro, a movimentação estava bem mais calma do que quando chegamos. No caminho todo, o interesse de Eniola era em Festus.

— Como ele funciona? - perguntou Eniola.

Parecia que era tudo que Leo queria ouvir. Logo começou toda uma longa explicação que durou o caminho inteiro até chegar na casa de Eniola. Quanto mais andávamos, menos casas e pessoas havia. Logo duas coisas ficaram óbvias, a casa de Eniola era nas beiradas da cidade e também era parte de uma oficina de carros. Logo ao lado da casa, estava o lago onde chegamos, com apenas o muro baixo, ainda em construção, e alguns metros de grama separando os dois.

— SEU PAI É MECÂNICO?! - exclamou Leo claramente achando aquilo a coisa mais incrível do mundo.

— É. - confirmou Eniola com um pequeno sorriso.

A porta do mecânico era de um lado, mas a porta da casa era do outro. Mesmo antes de ele abrir a porta, eu ouvi o som leve de uma televisão. Esse som aumentou quando ele abriu a porta. A primeira coisa que vi foi um homem, largado no sofá, dormindo com a televisão ligada.

— Eu ia perguntar se podia mas… Ele com certeza está cansado.  - disse Eniola, suspirando logo em seguida - Acho que ele não vai se importar. Vem.

Ele fechou a porta com cuidado e seguimos ele em direção à oficina. Ele abriu-a e, enfim, era uma oficina. Tinha um carro lá, prateleiras, equipamentos, peças e mais meio mundo de coisas que Leo certamente achava bem mais interessante que eu. Enquanto Leo estava vendo tudo que tinha na oficina, Eniola estava procurando dentre vários frascos na estante, até que ergueu vitoriosamente um que realmente tinha cara de óleo.

— Aqui, garoto. - disse Eniola estendendo o frasco para Festus, que logo aproveitou alegremente sua janta - Cara, muito legal vocês terem um dragão.

— Festus é maravilhoso né? - perguntou Leo rindo e Festus, orgulhoso e feliz pelo elogio, rugiu e sacudiu o rabo.

— Cuidado para não acordar os vizinhos, por favor. - pediu Eniola, apesar de ter rido um pouco - A da frente tem uma filha pequena.

Eu desviei minha atenção dos dois e olhei para o lago, logo ao lado. Estava sereno e a lua refletida nele era muito linda. Nem havíamos perguntado sobre o muro que estavam erguendo ao redor da cidade. Será que era para proteger as pessoas dos tais ataques que aconteciam toda noite?

Enquanto eu pensava nisso, vi um ponto do lago começando a se mexer estranhamente de um jeito nada natural. Não sei explicar o motivo, mas fiquei só mais interessada nisso. As vozes de Leo e Eniola conversando pareciam só ruídos de fundo. Nem achei muito surpreendente quando, do ponto da água que se movia estranhamente, começou a aparecer uma cabeça. 

A cabeça foi se erguendo e eu, sem pensar, como num transe, comecei a andar em direção a cabeça que logo se revelou como sendo a cabeça de uma bela mulher. Lentamente a mulher saía mais da água, mostrando mais de si. Ela usava o cabelo todo trançado, como parecia ser muito comum ali, era negra como todos que havíamos conhecido até então desde que chegamos na Nigéria, e usava belas jóias nas orelhas e nos pulsos que eram tão douradas quanto o top de biquíni que usava.

Eu me aproximei mais, nada mais parecia importar. A mulher olhava para mim, eu passei por cima do muro em construção e notei que o biquíni não era feito de tecido, nem era de fato um biquíni, mas sim de escamas. Mesmo assim, continuei a me aproximar dela até meus pés começarem a tocar a água.

O sorriso dela foi aumentando, era um sorriso bonito. A água começou a subir pela minha perna e eu estava já tão perto que via que mais escamas continuavam na cintura dela. Já até notava que as escamas lembravam mais as de uma cobra do que as de um peixe. 

A água já estava em minha cintura quando a mulher misteriosa tocou delicadamente em minha bochecha e ouvi a voz de Leo ao longe:

— CAL! VOLTA AQUI! CAL!

Meu cérebro não processou o grito dele. Uma pequena parte de mim queria que eu desse mais ouvidos ao grito, mas eu não consegui. Na verdade, nem sequer consegui desviar o olhar dos olhos daquela mulher, nem mesmo quando ela abriu um sorriso grande, a ponto de mostrar os dentes, que parecia ser extremamente ameaçador.

Ouvi o passo pesado de Leo quando ele pisou na água, ela tocava levemente em minhas bochechas e meu pescoço até que, bruscamente, me agarrou pelo pescoço e me puxou para debaixo d’água. Sei que eu deveria ter me debatido, mas não o fiz. Era como se meu cérebro estivesse desligado desde antes de atravessar o muro em construção.

Vagamente notei que a água ao meu redor ficava branca e não me afogava. Notei como a outra metade do corpo da mulher era uma enorme cobra, que me envolveu completamente. Uma pequena ideia, do tamanho de uma formiga, surgiu em minha mente dizendo que eu deveria gritar e me debater, mas tudo que eu queria fazer era fechar os olhos e dormir.

Me deixei levar por aquele sono, meus olhos ficaram pesados enquanto tudo ao meu redor ficava tão branco que eu não via mais nada. Tudo foi se apagando, todos os problemas foram sumindo. Porque eu estava na Nigéria mesmo? Eu não lembrava. Tão pouco lembrava com quem eu estava ali.

De olhos fechados, abracei a escuridão e notei… que não lembrava mais onde estava. Meu corpo estava pesado, senti repentinamente que estava deitada sobre algo, parecia grama. Respirei fundo e abri os olhos lentamente e então vi o céu e a copa de uma árvore. Risos de alegria chegavam até meus ouvidos e achei as vozes levemente familiares. Lentamente me sentei, protegida do sol pela sombra da árvore, e olhei para o foco das vozes, onde se estendia um exército e de onde vinha meu pai, Atlas, completamente vestido para a batalha, andando até mim, com cabelos escuros amarrados para trás, olhos cinzas, pele morena clara e musculoso como sempre.

Finalmente lembrei onde estava, havia aproveitado um momento de relaxamento embaixo da árvore logo depois de uma das batalhas dos titãs contra os filhos de Cronos. Fui a única de minhas irmãs a me juntar ao meu pai na batalha, o que era triste, mas tudo bem. Elas se arrependeriam da escolha quando nosso pai ganhasse dos filhos de Cronos junto com seus irmãos.

— Vamos, os filhos de Cronos não descansam. Tem que treinar! - disse meu pai.

— Essa guerra já dura anos… - falei - Uns minutos respirando não vão mudar muita coisa.

— Claro que faz! - respondeu ele enquanto eu me levantava de vez.

— Desculpe… - resmunguei.

— Não seja tão duro com ela… - disse minha mãe se aproximando de nós.

Uma parte, do tamanho de uma formiga, do meu cérebro, disse que havia algo errado ali. Logo respondi a essa parte que, claro que tinha, minha mãe era para ter escondido do meu pai minha tentativa de relaxar por um tempo. Sabia bem que ele estava nervoso pois tínhamos uma guerra para ganhar, mas eu queria esquecer disso por um segundo.

Com um sorriso doce, minha mãe, Pleione, se aproximou de mim e acariciou minha bochecha gentilmente chegando até a levar uma mecha de cabelo minha para atrás da orelha. Ela estava linda com o cabelo loiro escorrendo pelas costas e o vestido branco cheio de pregas com um pedaço do pano passando por cima de apenas um dos ombros, enquanto o outro ombro ficava completamente exposto. Seus olhos escuros eram familiares e confortáveis e eu tinha certeza que poderia ficar ali para sempre.

Com o toque dela, meu peito relaxou. Era se como, sem palavras algumas, ela dissesse que tudo ficaria bem. Lembrei de como haviam dito de como os filhos de Cronos estavam aprendendo a lutar melhor mas… não… os titãs sabiam mais. Era tudo questão de tempo até os titãs ganharem a guerra.

— Porque nós duas não sentamos embaixo da árvore e relaxamos juntas? - perguntou minha mãe.

— Aceito a oferta. - respondi, ignorando o resmungo e revirada de olhar de meu pai.

— Não quer se juntar, querido? - perguntou minha mãe e, de novo aquela sensação de algo errado, devia ser só uma impressão sem sentido minha, talvez eu tivesse esquecido alguma coisa na minha tenda.

Meu pai pareceu em dúvida por um momento, deu meios passos indecisos para ambas as direções, a nossa ou do resto do exército, mas acabou por simplesmente negar com a cabeça e ir em direção ao exército deixando só nós duas embaixo da árvore.

Minha mãe se sentou primeiro e logo deu dois pequenos tapas na sua frente, pedindo para eu me sentar.

— Sua trança está toda bagunçada. - disse ela - Deixe-me arrumar tal como fazia quando era pequena.

Eu obviamente não ia recusar a oferta. Era muito gostoso quando minha mãe fazia minha trança. Então, sentei na frente dela e ela desfez o que sobrou da trança, que estava certamente bagunçada, amassada e com um pouco de grama. Seus dedos percorriam meu cabelo de um jeito tão confortável e relaxante que eu poderia dormir. Queria ficar ali para sempre.

 


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Notas finais do capítulo

por hoje é só e até o prox cap!



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