Os Deuses da Mitologia escrita por kagomechan


Capítulo 128
LEO - Montanha-Russa Aquática


Notas iniciais do capítulo

IMPORTANTE: em caps anteriores eu falei que eles estavam indo para a cidade de Ilesa, na Nigéria, achei com mais sentido eles estarem indo para Oyo, também na Nigéria. Oyo tem uma relevância maior para os Iorubá do que Ilesa. só isso. beijinhos e bom cap ♥

no momento, estão nos EUA os grupinhos:

— Nova Roma: Frank, Lavínia, Hazel, Annabeth, Kayla, Grover, Percy, Piper,

— NY: Cléo, Paulo, Austin, Drew, Carter, Meg, Apolo e Zia

no momento, estão voando, os grupinhos:

— Indo para Europa: Reyna

no momento, estão em alto mar, os grupinhos:

— Indo para Nigéria : Leo, Calipso, Olujime, Magnus, Jacques, Alex, Festus

no momento, os grupos que estão na EUROPA são:

— País de Gales: Caçadoras de Ártemis (Thalia, Ártemis, etc), Clarisse, Sam, Blitzen, Hearthstone, Mestiço, Mallory, Anúbis, Sadie, Will, Nico. // Maias-Astecas: Victoria, Micaela (a menina q parece Annabeth) e Eduardo (guri chato que o Mestiço deve estar querendo esganar), Ciara



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LEO

Depois de passar uma eternidade no mar, você começa a achar que não vai chegar nunca. Achando que não vai chegar nunca, você começa a achar que, no final das contas, talvez estivesse chegando mesmo. Faz sentido? Sei lá. Só sei que foi o que eu senti quando finalmente vimos terra.

Me senti como os exploradores espanhóis, tirando o fato de que eu, e o resto do pessoal no barco, não iríamos chegar num lugar que já tem gente e fingir que é tudo nosso. Uma diferença que acho bem válida. Mas ver terra ainda não tinha sido o sinal de que nossa viagem tinha chegado ao fim. Não... claro que não. Ainda tínhamos que acompanhar a costa da África até alcançar a costa da Nigéria. Então assim seguimos. Esperando alcançar a costa certa. 

O barco navegava, a costa passava, não tinha nada de diferente acontecendo. Fazia mais que um dia que nenhum monstro nos atacava. Exatamente por isso, eu me vi jogando Uno com Magnux, Alex e Olujime. Estava tudo indo bem, eu só tinha mais uma carta na mão, aí Alex vai e joga um +4 logo pra mim.

— O que eu fiz pra você? Tem como me explicar, por favor! - reclamei enquanto pegava mais quatro cartas e sentia minha chance de vitória escapando - Achava que você era legal…

— Eu sou legal! - rebateu ela.

— Então porque faz isso comigo? - perguntei.

— Lembra daquelas 6 cartas que você me fez comprar na rodada passada? - perguntou ela.

— E a culpa é minha que o Magnus jogou um +2 e ele foi acumulando até você? - perguntei.

— É sim. - respondeu ela - Você podia ter aceitado o +4, como um cavalheiro, ao invés de transformar ele num +6.

— Amargurada… - resmunguei.

— Foram vocês que quiseram aceitar que dava para acumular as cartas de +2. - lembrou Magnus.

— Não se preocupe, vai ter vingança! - prometi.

— E quem disse que a minha  vingança acabou? - perguntou Alex.

— Amargurada de fato… - comentei.

— Então… qual cor agora? - perguntou Olujime.

— VERMELHO! VERMELHO! - pediu Jacques.

— Fica quieto! - reclamou Magnus.

— Amarelo. - respondeu Alex.

Nosso jogo foi felizmente interrompido (felizmente porque agora minhas chances de ganhar estavam bem baixas), quando Festus se aproximou resmungando e bufando, olhando para algo do lado de fora do barco. Com medo de ser algum monstro, pois estávamos estranhando a falta dele desde que deixamos a América do Sul para trás, todos nós nos levantamos. Mas a melhor coisa foi que o que vimos não foi monstro, e sim uma cidade.

Já tínhamos passado por outras cidades no caminho, o que gerou vários questionamentos cheios de esperança de “já é aqui?”. Mas como a resposta sempre era “não”, tínhamos parado de perguntar e esperar e assim deixamos o barco amarelo demais do Magnus decidir o caminho. Mas agora, por Festus estar agitado também, parecia que finalmente tínhamos chegado na Nigéria.

— Acho que é aqui… - disse Olujime.

— Aqui já é Oyo? - perguntou Magnus.

— Não tem mar em Oyo, lembra? Aqui é Lagos. - explicou Olujime.

— Capital da Nigéria… - disse Alex.

— Não. - corrigiu Olujime - Erro comum. A capital é Abuja, não Lagos. Lagos é a maior cidade.

Como ficamos o caminho inteiro revezando quem dormia e quem ficava acordado, já que tivemos problemas no começo da viagem com alguns monstros desconhecidos atacando o barco, por mais que estivesse de dia, com o sol queimando forte, Calipso dormia. Era uma soneca breve, até porque já estávamos no final da tarde, mas imagino que ela não tenha dormido direito na noite anterior ou já estivesse se preparando para a próxima noite mal dormida.

— Cal… - chamei ela de mansinho, balançando de leve seu ombro - Chegamos.

Calipso acordou num susto, pronta para entrar em qualquer briga que não acontecia, mas logo tratei de relaxar ela.

— Calma… sem brigas acontecendo… - falei apesar de ainda assim ela ter olhado ao redor enquanto se levantava.

De um lado, onde só tinha água, tinha também vários navios cargueiros. E quando digo vários, quero dizer VÁRIOS! Eu nem queria me dar ao trabalho de contar. Do outro, onde estava a costa, tinham praias de areia, ou de pedra, e uma entrada bem larga de um rio. Ao redor do rio e das praias, tinha uma dúzia de enormes prédios bem bonitos e com cara de novos e caros. Alguns estavam até em construção ainda. 

Mais além, no horizonte, eu conseguia ver mais prédios de tamanhos diferentes e idades diferentes. Conforme fomos entrando no rio, mais eu sentia que não era em Lagos, na Nigéria, que estávamos chegando, mas sim em Nova York. Uma Nova York com um pouco mais de verde e um clima mais agradável.

— Não tem como chegarmos até Oyo por nenhum rio, né? - perguntou Alex abrindo o Google Maps junto com Magnus e Olujime - É bem pra dentro da Nigéria. 

— Como vamos chegar até lá? - perguntou Magnus.

— Enquanto você dormia ontem eu estava falando com Olujime e pensamos em pegarmos um carro. - disse Alex - Dá umas três ou quatro horas de viagem provavelmente.

Bem, a discussão estava bem tranquila e tudo mais. Nada de preocupante até o momento (o que era estranho), até que vi uma mulher num barquinho parado no meio do nosso caminho. Ela estava de pé no barco dele, que era mais uma canoa, e olhava diretamente para nós com uma seriedade e de um jeito que… sei lá… me fez ter certeza que ela não era só uma nigeriana aleatória passeando de barco perto de Lagos.

— PARA O BARCO! - alertei - OU ENTÃO VAMOS PASSAR POR CIMA DAQUELA MULHER!

Não sei se o Bananão via o obstáculo no caminho, já que ele parecia se virar sozinho na navegação, ou se foi pelo meu berro, mas o barco de fato parou. A mulher na canoa não se moveu nem um pouco e, agora que estava mais perto e menos desesperadora, eu consegui notar que ela parecia ser no máximo só um pouco mais velha do que nós. Ela também usava calça jeans preta, blusa regata preta e all star preto. A única cor que chamava atenção era do cabelo dela, que era roxo e estava trançado em dezenas de trancinhas longas. De perto, também deu para ver que em cada bochecha dela havia uma pequena cicatriz perfeitamente horizontal, abaixo dos olhos.

Devido à probabilidade de ser uma mortal qualquer, mesmo que a névoa provavelmente fosse nos ajudar caso seja, Festus tentou (só tentou mesmo) se esconder atrás de nós e da amurada do barco. Não acho que ele tenha conseguido ficar todo escondido assim mas, o que vale é a intenção.

— Oi moça, desculpa quase te atropelar. - disse Magnus bem alto para ela ouvir.

— Será que ela fala inglês? - cochichou Calipso ao meu lado.

— Inglês é a língua oficial da Nigéria. - respondeu Olujime sem tirar os olhos da mulher.

— Quem são vocês? - perguntou ela.

— Turistas passeando de barco. Só isso. - respondeu Alex.

A mulher ergueu a sobrancelha de um jeito que eu tive 100% de certeza que ela não acreditou em nós. Mas, se eu quisesse ter 150% de certeza, ela ainda falou:

— Então é total coincidência vocês estarem com Olujime?

E ela ainda falou com muito sarcasmo na voz, claro.

— Você me conhece? - perguntou Olujime totalmente perdido.

— O que quer com ele? - perguntei e Festus rugiu atrás de mim, deixando de ficar escondido - Calma garoto, ainda não.

— Eu particularmente, nada. - respondeu a mulher olhando para Festus meio surpresa, mas não se deixando abalar - Até onde sei, você foi chamado até Oyo pelos orixás, Olujime. Estou aqui na entrada da lagoa de Lagos à espera daqueles que responderam o chamado e decidiram chegar por essa mesma rota que estão usando.

— Ah, não fomos os únicos então? - perguntou Calipso enquanto eu pensava em como aquilo, no final das contas, não era a entrada de um rio, e sim de uma lagoa.

— Vocês não foram chamados, só Olujime. - comentou a mulher.

— Eles são meus amigos e me ajudaram a chegar até aqui. - respondeu ele.

— Como saberei se posso confiar neles? - perguntou ela.

— Como sabemos que podemos confiar em você? - perguntou Alex - Você conhece ela Olujime?

— Não. - respondeu ele.

— Justo. - respondeu a mulher dando de ombros e suspirando - Me chamo Adunni, sou semideusa filha de Iemanjá. Chamamos vários semideuses, filhos de algum orixá, com os quais imaginamos poder confiar e contar, e que acabaram espalhados pelo mundo, para se reunir em Isese Abule, perto de Oyo. 

— Não fui o único então? - perguntou Olujime.

— Não. - disse Adunni - Imagino que esteja perdido. Mas vamos explicar tudo em Isese Abule.

— O que exatamente é Isese Abule? - perguntei.

— É uma vila? - perguntou Olujime - “Abule” é vila em iorubá.

— Sim. - respondeu Adunni - Expliquei minha parte, agora expliquem a de vocês.

— Bem, tem a questão de que pode estar mentindo ainda, mas ok. - disse Alex.

— Isso é um problema difícil de resolver. - disse Adunni com uma leve risada - Não tenho um detector de mentira. Pelo menos é um problema para ambos os lados aqui.

— Verdade. - concordou Calipso - Mas bem, conhecemos Olujime uns anos atrás em Indianápolis nos Estados Unidos. É nosso amigo e pediu ajuda para chegar até aqui e resolvemos também fazer companhia.

— Ah sim, ouvi dizer que alguns dos convocados estavam nos Estados Unidos. O que não é muito incomum. - admitiu Adunni - Mas lembrar um por um é meio complicado, um momento. Tentei me esforçar em lembrar o nome e o rosto da maioria, verdade. Mas mais que isso já era complicado demais.

Ela então pegou um celular no bolso da frente da calça e mexeu nele por alguns segundos. Seja lá o que ela tinha naquele celular, ela afirmou com a cabeça.

— Continuem. - disse ela sem levantar a cabeça do celular.

— Eu sou Leo, ela é Calipso. - expliquei - Nós dois moramos com Olujime em Indianápolis. 

— Leonidas Valdez, filho do deus grego, Hefesto. - disse ela aparentemente lendo do celular - Calipso, titã de terceira geração, filha de Atlas. Certo? Grupo bem aleatório…

— É… - resmunguei - Conhece a gente? 

— Não. - respondeu ela - Mas checamos o máximo de Olujime que conseguimos para certificar-nos de que ele era confiável. Não podemos deixar qualquer um entrar assim em Isese Abule. 

— Devo me preocupar com terem conseguido tanta coisa assim da minha vida? - perguntou Olujime.

— Sei que é desconfortável e me desculpe por isso. Apesar de não ter sido eu quem fiz… mas me desculpe mesmo assim. - disse Adunni - Mas não usamos nenhum método muito invasivo demais. Apenas internet e alguns contatos que, julgando pelos seus amigos aí, talvez cheguem até o Olimpo.

— Não sei se eu colocaria a internet como sendo não “invasiva” mas ok… - comentei.

— Pois é… Nem quero imaginar o que aconteceria se vissem meu histórico da internet… - comentou Alex.

— Devo me preocupar? - perguntou Magnus olhando para Alex.

— Nah… Relaxa. Só umas fanfics que… bem… deixa pra lá. - disse Alex.

— Bem… - disse Magnus enquanto desviava o olhar de Alex, meio preocupado - Vocês são bem informados, pela cara. - comentou Magnus.

— É importante ser bem informado para não ser colocado para trás. - disse Adunni - Mas e vocês dois, quem são?

— Sou Alex Fierro, filha de Loki. Estamos juntos com Leo, Calipso e Olujime tentando lidar com todo esse problema aí que tá rolando, você sabe do que estamos falando né? E eu ACHO, mas só acho mesmo, que um dos seus me chamou também, ou pelo menos apareceu pra mim… não sei. - respondeu Alex.

— Sei do que falam sim mas… um dos nossos? - perguntou Adunni, finalmente erguendo os olhos do celular - Não ouvi falar de ninguém ter chamado alguém que não fosse pelo menos africano ou afro-descendente. Quem foi?

— Eu não sei o nome. - admitiu Alex - Era um cara com saia dourada, brinco de argolas, pérolas penduradas na frente do rosto e um chapéu dourado.

— Assim é difícil saber, apesar de ter uns chutes. Podemos checar se você por fim entrar. - disse Adunni - De toda forma, seu nome está aqui.

— E eu sou Magnus Chase, filho de Frey. - disse Magnus - Tirando a parte de algum deus nigeriano me chamar, estou na mesma da Alex.

— Orixás. Não deuses. - corrigiu Adunni - E somos iorubás, apesar da maioria de nós, semideuses e seguidores, sermos de fato nigerianos também. O território do nosso povo não coincide com a divisão dos países.

Atrás de mim, Festus rugiu amigavelmente e começou a resmungar coisas que duvido que Adunni tenha entendido minimamente a intenção dele. No máximo, ela parecia ligeiramente surpresa com a presença de um dragão de metal.

— Ah sim, esse é Festus. Ele ficou triste por ter sido ignorado. - expliquei.

— Ah… prazer… Festus… - disse Adunni, com um sorriso, voltando os olhos para o celular, digitando algo e então guardando-o - Por mim, vocês podem entrar. Resta saber se vocês irão querer.

— O que acham? - perguntou Alex.

— Ela parece ser legal… - respondi dando de ombros.

— Na pior das hipóteses estamos em maior quantidade. - lembrou Calipso.

— Exato. - acrescentou Adunni - Se não quiserem confiar em mim, podem dar seu jeito.

— Acho melhor você decidir, Olujime. - eu disse.

Olujime parou por uns segundos, olhou para Adunni e então para cada um de nós e então confirmou com a cabeça.

— Vamos com ela. - disse Olujime - Estou com um bom pressentimento.

— Ótimo! - respondeu Adunni - Posso subir no barco de vocês então? Na lagoa tem um atalho para Isese Abule. Vou mostrar para vocês.

— Ahm… acho que sim né? - disse Magnus.

Paramos o Bananão momentaneamente para que ela pudesse subir e para amarramos a canoa dela perto no bananão, para a coitada da canoa não ficar lá, largada, sozinha e solitária, no meio da entrada da Lagoa de Lagos. Enquanto fazíamos isso, me aproximei de Olujime e cochichei com ele:

— Essa Iemanjá que ela disse que era filha, é deus-... quer dizer… orixá do quê? - perguntei torcendo para Adunni não ter ouvido.

— É a senhora dos mares. - respondeu ele - Ela também é responsável por todos que morrem no mar estão sob seus domínios.

— Por que todo mundo que está minimamente perto da morte é gótico? - questionei - Não dava pra ter, sei lá, um semideus, filho de algum deus dos mortos aí que só veste rosa, por exemplo, ou algo do tipo? Um cosplay ambulante da Barbie. 

— Essa Iemanjá, ela é… legal? - perguntou Magnus repentinamente se juntando na conversa, quase me dando o susto pois, por um segundo, achei que era Adunni.

— É conhecida como uma mãe carinhosa e doce, acolhedora com todos e todas. - respondeu Olujime.

— Ótimas notícias então. - comentei.

Nossa conversa foi interrompida quando tudo estava pronto e Adunni entrou a bordo do Bananão. Ela subiu com muita calma, considerando que estava em desvantagem numérica e agora em nosso barco. Mas não trocamos mais muitas palavras, cada lado ficou encarando o outro, todo mundo meio desconfiado mas tentando esconder isso o máximo que dava.

Como se nada tivesse acontecido, fomos seguindo as instruções dela para acompanhar aquela entrada da Lagoa de Lagos até de fato chegar na lagoa. E, bem, fizemos isso. Quanto mais seguíamos aquele trecho com formato de rio, mais perto da cidade íamos ficando. Dezenas de prédios de alturas diferentes iam aparecendo no horizonte e também algumas casas apareciam nas margens da água parecendo que as costas da casa flutuavam de tão rente a água que elas estavam. Olhando bem, talvez flutuassem mesmo. 

Era óbvio,  mesmo sem de fato entrar na cidade, que Lagos era uma cidade grande, cheia de comércio e todos os demais prós e contras de uma cidade grande. Sério, cada vez mais eu pensava em Nova York. 

Depois que passamos por baixo de três pontes, Lagos começou a ficar para trás e aí sim, a água onde estávamos começou a parecer de fato uma lagoa. Ou até um lago. Me perguntei qual era afinal de contas a diferença entre um lago e uma lagoa, pois aquilo parecia grande o suficiente para ser um lago. 

Continuamos navegando, as cidades que surgiam nas margens iam parecendo cada vez menores até que, eventualmente, ao nosso redor tinha mais verde do que sinais de obras do ser humano à direita embora a esquerda os pequenos vilarejos continuassem. Quer dizer, continuaram até um ponto onde, do nada, tudo ficou quieto e parecia que éramos apenas nós ali na lagoa.

Eu fiquei com a nuca arrepiada, Festus resmungou ao meu lado e eu e Calipso fizemos carinho nele para tentar tranquilizá-lo, mas, olhando para os outros, não parecia ter sido o único que sentiu um arrepio. Magnus e Alex também estavam se olhando e Olujime olhava atentamente para Adunni, que parecia muito tranquila na frente do barco.

— Se aproxima aqui dessa margem. - disse Adunni repentinamente apontando para uma das margens do lago.

O Bananão prontamente seguiu a direção. Eu comecei a me perguntar se iríamos desembarcar ali. Não seria minha primeira escolha de lugar já que aquela margem não parecia muito “pisável”. Lembrava muito um pântano, como se a terra estivesse tentando ocupar o lugar da água.

— Ahm… já chegamos? - perguntei - Ou vamos agora ir por terra?

— Confia em mim? - perguntou Adunni.

— Nada pessoal, mas acabei de te conhecer. - respondi.

— Se preferirem, podem arrumar um carro em Lagos e irem até Oyo com ele. - sugeriu ela dando de ombros - E lá em Oyo tentar encontrar um dos nossos, que ficará desconfiado tal como está comigo, e aí eles vão te levar para Isese Abule, se acharem que vocês são confiáveis.

— Quanto tempo chegamos lá do seu jeito? - perguntou Calipso.

— Meia hora no máximo. - garantiu ela.

— Sabe quando as coisas são boas demais para ser verdade? - perguntou Magnus.

— Já temos um histórico muito ruim de coisas dando errado. - comentou Alex em voz baixa.

Quanto mais nos aproximávamos, mais havia folhas flutuando ao nosso redor e até galhos com folhas saindo da água. Eu já conseguia ver o chão, logo o Bananão ia acabar raspando no chão e, ainda assim, aquele arrepio só aumentava. O arrepio piorou de vez quando Adunni olhou para nós com uma cara que eu só tive tempo de pensar “ferrou”.

Não tive tempo de fazer mais nada também, porque, de repente, o Bananão despencou como se aquilo tudo fosse uma montanha-russa escondida. E eu obviamente fiz a coisa mais madura e máscula requerida nessa situação, comecei a gritar. Pelo menos eu não fui o único. Magnus me acompanhou na gritaria. O pior, além dos berros, é que não fazia nenhum sentido. Era só as margens de uma lagoa meio pantanosa e do nada estávamos no meio da escuridão despencando numa forte correnteza formada pela gravidade.

O barco sacodia de um lado para o outro, tentei me recompor e poupar a garganta enquanto me agarrava a Festus e a Calipso, que fazia o mesmo. Magnus e Alex se agarraram um ao outro e a uma parte do Bananão. Olujime também se agarrou ao barco, Festus resmungava e rugia, Adunni também havia se agarrado ao barco e nos encarava com uma atenção incômoda.

Como se já não tivéssemos burlado as leis da física o suficiente por um dia, o barco começou a subir, com a água e tudo. Zero sentido, eu sei. Continuamos subindo numa velocidade incrível, eu sentia gotas d’água batendo na minha cara e então notei que nos aproximávamos do que parecia ser a água vista debaixo. Aparentemente, era como se o barco tivesse virado um submarino, mesmo que ao nosso redor eu visse só escuridão, não algas, peixe ou lixo.

Do mesmo jeito súbito que o barco começou a descer antes, ele saiu da água e tudo voltou ao normal. Estávamos secos, apesar de termos atravessado a água. Era assim que Percy se sentia? Provavelmente sem contar a leve vontade de vomitar.

— O QUE RAIOS FOI ISSO? - perguntou Alex para Adunni enquanto eu ainda estava processando.

— Um atalho. - respondeu Adunni, sem se alterar - Desculpa, sei que o atalho é meio… brusco.

— Brusco é pouco. - comentou Magnus.

— Não poderia ter avisado? - perguntei.

— Não. - respondeu Adunni - Pois também é lá que realmente é decidido se vocês podem entrar. Então… Bem vindos a Isese Abule.

Ela ergueu o braço e apontou para o lugar que me lembrou um pouco o Acampamento Meio-Sangue. Havia várias casinhas ao redor da água e um muro de pedras que separava a água, das casas. Havia pessoas ainda construindo o muro, claramente ele era uma novidade que por algum motivo se tornou necessária.

Nossa chegada, com um barco super nada chamativo completamente amarelo, claramente chamou atenção. Vários começavam a se reunir ao redor do muro e perto da água. Alguns até pareciam prontos para a batalha, mas relaxaram quando Adunni acenou para eles do barco, mas, mesmo assim, não abaixaram a guarda completamente.

Mas achei interessante como o grupo abriu caminho quando uma mulher de vestido azul e cabelo bem longo e cacheado se aproximou. Ela era claramente importante. 

Bem perto do Bananão, um cara se aproximou. Tinha a cabeça raspada e usava uma regada branca e calças caqui. Ele gritou alguma coisa para Adunni num idioma que eu não conhecia, a única coisa que eu entendi foi o próprio nome da Adunni e o nome do Olujime. Ela respondeu algo no mesmo idioma e, quando o cara ia responder mais algo, Olujime coxichou para nós:

— Ele perguntou se é algum recém-chegado dos convocados. - sussurrou Olujime - Ela confirmou e disse que eu vim com alguns amigos, e que todos passaram no que ela chamou “atalho de Iemanjá”. Ele se ofereceu para ficar de olho nos recém-chegados em Lagos no lugar dela.

— Que idioma é esse? - perguntou Alex.

— Iorubá. - respondeu Olujime.

— Você não tinha dito que inglês era a língua daqui? - perguntou Magnus.

— É um pouco mais complicado do que isso… - comentou Olujime - Bem mais complicado na verdade. É mais a língua em comum entre um monte de gente que fala idiomas diferentes como primeira língua.

Talvez acanhados demais, descemos do Bananão quando chegamos na borda. Ao invés de nos apresentar pra todo mundo, Adunni e o garoto que havia falado com ela foram soltar a canoa dela do nosso barco, o que nos deixou na situação constrangedora de ser o centro das atenções para uma dúzia de pessoas… tirando os que perderam o interesse e voltaram para seus afazeres ou para a vila.

Essa uma dúzia de pessoas tinham idades bem diferentes. Os mais novos deviam ter 6 anos, os mais velhos tinham idade para ser meus avós. Notei que, assim como Adunni, algumas pessoas tinham cicatrizes no rosto. Algumas bem maiores e mais evidentes do que as dela. Todas simétricas demais para terem sido acidentes de batalha. Ainda assim, as pessoas com cicatrizes eram minoria e os mais novos não tinham.

— Erm... Oi… - disse Alex.

— Olá. - respondeu a mulher de azul - Vejo que Olujime trouxe alguns amigos.

— Sim… - respondeu ele tão perdido quanto nós, na verdade, ele parecia meio indeciso se deveria ficar intimidado.

— Devem estar cansados da viagem. - disse a mulher - Vamos mostrar o lugar e poderemos comer e então conversar. E sim, Olujime, eu sou quem você acha que eu talvez seja.

— Quem? - perguntei olhando para Olujime.

— Iemanjá. - respondeu Olujime engolindo em seco - Certeza que eu ainda vou acordar lá em Indianápolis.

Atrás de mim, Adunni se juntou ao nosso grupo depois de ter falado com o cara. Olhei para o lago e vi o cara na canoa de Adunni sendo engolido pelo lago, provavelmente estava tendo a mesma aventura de montanha-russa aquática que nós tivemos.

— Isso não é um sonho. Você realmente está aqui. - respondeu Iemanjá - E temos muito sobre o que conversar. 

Iemanjá então guiou nosso caminho em direção a entrada do muro de pedra que trabalhavam para erguer. A maioria das pessoas trabalhava, mas ainda assim, me senti observado demais, ou talvez fosse só impressão minha. Claramente não estavam esperando visitas extras quando chamaram Olujime.

— Queria ter te recebido junto com Xangô, - dizia Iemanjá para Olujime - infelizmente ele e Oxumaré tiveram que ir para uma reunião importante em Nova York.

— Erm.. tudo bem… - respondeu Olujime sem graça.

— Ali, a direita, temos as casas das pessoas que moram por aqui, hóspedes e residentes temporários. - explicava Iemanjá - Providenciaremos para que tenham um lugar para descansar e dormir, afinal a noite já está perto, não acho que vão querer passar a noite fora.

— Por enquanto, não temos um lugar para ir depois daqui. - disse Alex.

— Então dormirão aqui. - disse Iemanjá - Serão muito bem vindos.

— Obrigado… - disse.

— A esquerda temos alguns campos de treinamento, uma escola, campo de futebol, dentre outros. - continuava Iemanjá - A frente, naquela construção maior, é a… bem… o nome original é Casa de Campo, mas não funciona mais como o nome sugere, mas o mantivemos mesmo assim. 

Todas as casas, menos a Casa de Campo, eram perfeitamente quadradas. Mas a Casa de Campo era bem maior. Os telhados de todas, feitos de madeira, eram bem altos e bem retos, tão altos que o da Casa de Campo fazia ela parecer ter mais telhado do que parede. Não entendo de arquitetura, mas acho que Annabeth teria gostado de ter vindo aqui.

Pela direção que Iemanjá ia, a tal Casa de Campo era nosso destino. Era uma linha reta, então era impossível se perder. No caminho, notei as crianças brincando, jovens treinando com espadas e poderes, tal como no Acampamento Meio-Sangue. Mas no Acampamento Meio-Sangue não tinha um campo de futebol, então nisso eles ganharam de nós.

— Vamos tratar de nossos assuntos enquanto comem. - disse Iemanjá entrando na Casa de Campo.

Quando entrei na Casa de Campo atrás dela, fui logo recebido pelo cheiro mais maravilhoso de todos, o cheiro de comida.

 


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Notas finais do capítulo

ps pra provar q eu fiz o dever de casa e pra vocês entenderem pq n sei se vai explicar: fazer cicatrizes no rosto é/era uma prática comum dos iorubás. cada cicatriz tem um significado. contudo, todavia, entretanto, a prática foi perdendo a popularidade no decorrer dos anos até ser tornada proibida na Nigéria em 2003.


por hoje é só! até o prox cap



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