Australia escrita por spyair


Capítulo 2
Beco


Notas iniciais do capítulo

As falas que estiverem em itálico estão sendo ditas em japonês, okay?
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/747723/chapter/2

Eu sabia que meu pai tinha um nadador japonês, e sempre o imaginei bem estranho. Sabe, como a maioria dos japoneses. Igual a todos os outros. Mas, vejam bem o tamanho da minha surpresa. Aquilo não podia ser um japonês, simplesmente não tinha condições. Japoneses não são todos nerds viciados em estudo, sushi e mangá? 
Respirei fundo. Estava do lado de fora do clube, encarando o enfeite do chaveiro que prendia todas as chaves. Uma arraia. Meu pai sempre gostou delas, da graciosidade como elas nadam, e não achou nenhum animal melhor pra representar seu clube de natação. 
— Como uma pessoa pode demorar tanto assim pra se trocar? Fala sério… — murmurei para mim mesma, puxando o celular do bolso. — Ah, não acredito! — eram 22:45. Meu ônibus já tinha passado, e o próximo só ia aparecer dali a duas horas — Perdi o ônibus por culpa daquele velho! 
— Espero que o velho não seja eu — a voz aveludada e rouca preencheu meus ouvidos, fazendo-me dar um pulinho de susto. 
— C-c-claro que não! — balancei as mãos na frente do corpo enquanto falava, afobada. — V-você não...
— Tá, tanto faz — deu de ombros, passando pela porta de vidro. Tranquei logo aquela porcaria para poder ir pra casa. A pé. — Sua casa é longe daqui? 
— Hã? Não, não! — doze quadras de distância. Passando pelos lugares perigosos da cidade. 
— Posso te deixar em casa, já que te fiz perder o ônibus… 
— Quê?! — okay, esse grito saiu mais alto que o esperado. Acalme-se, Olívia! — Não precisa… 
— Vamos logo — numa revirada de olhos ele começou a andar. Conformei-me e passei a segui-lo.  Andávamos lado a lado, ele olhando fixamente para frente e eu fitando o chão. O que eu faço? A criatura mais linda do universo está me levando para casa, que diabos eu vou fazer? — Como é seu nome? 
— Olívia… — respondi baixinho. 
— Okay, Olívia — ai meu coração! Ele disse mesmo meu nome com seu maravilhoso sotaque japonês! Nunca gostei muito do meu nome, mas soa tão lindo saindo da boca dele.
Já havíamos percorrido sete quadras, eu estava cansada, ele parecia meio impaciente, já era muito tarde, e as ruas estavam começando a ficar vazias. 
— Tem certeza que já está perto?
— Ahn, sim, claro — olhei para ele com um sorriso nervoso no rosto. Ainda faltava cinco quadras, pertinho. — Se formos por aquele beco, chegaremos mais rápido — avisei, apontando para uma lata de lixo que indicava a entrada o tal beco. Só agora me toquei que ainda não sei o nome dele. — Hum, esqueci de perguntar, mas qual seu nome? — indaguei enquanto viramos a esquina para o beco. 
— Rin Matsuoka. Ahn, pode parecer nome de menina mas eu sou um garoto… — disse rapidamente, como se aquela apresentação já estivesse ensaiada. Claro que era ensaiada, nosso destino já estava escrito nas estrelas desde o início dos tempos.
— Você passa por esse beco sozinha todos os dias? — questionou, quebrando o silêncio entre nós. 
— Sim, mas geralmente volto pra casa mais cedo do que isso — expliquei, segundos antes me perder em seus olhos. Os olhos carmesim fitavam o caminho à nossa frente, totalmente concentrados, enquanto eu os fitava. Logo me pedi em seus cabelos ruivos que puxavam para o vinho, impecavelmente bagunçados. 
Senti algo chocar-se contra minhas coxas, e no momento seguinte eu estava estatelada no chão. Minha saia ergueu-se perigosamente, mas eu consegui segurá-la antes que mostrasse demais. 
— Ei, você está bem?! 
— Claro! — tentei me levantar do chão rapidamente, mas minha falta de equilíbrio me levou novamente ao chão. — Talvez eu precise de ajuda… 
Rin soltou uma risadinha e me estendeu sua mão, a qual eu prontamente aceitei para tomar impulso e conseguir levantar. Murmurei um "obrigada" para podermos continuar nosso trajeto. Já era possível ver o final do beco que tinha nos poupado três quadras, e simplesmente fiquei passada quando saímos do bendito beco é aquela criatura não me jogou na parede e me possuiu. Tá, exagerei. 
— Hum… O que você gosta de fazer? — novamente ele quebrou o silêncio. 
— Ahn… leio mangá… — sei que eu falei mal dos japoneses que liam mangá ainda a pouco, mas qual é? É muito bom! — e nado. 
— Nada? Sério?! — de repente um brilho se ascendeu em seus olhos. 
— É. Tipo, não nado bem como você nem nada do tipo, mas eu gosto de nadar. Deve ser porque passei a infância inteira naquele clube — dei de ombros, olhando para o lado. 
— Podíamos nadar juntos qualquer dia — sugeriu, e instantaneamente meu rosto assumiu um tom rubro. Ao notar isso, o garoto ficou vermelho também — Mas não nesse sentido! Quer dizer... Como uma competição! Não nós dois juntos na… 
Depois que Rin perdeu sua fala, um silêncio completamente incômodo pairou sobre nós pelas duas quadras que se seguiram. Dei graças aos céus quando avistei o portão da minha casa. Apressei o passo para chegar logo lá, e uns cinco metros de distância comecei a ouvir latidos altos e histéricos. Muito bem, Al, acorde a vizinhança inteira e me exponha. Revirei os olhos ao chegar ao portão, encarando o grande pastor alemão que rosnava e exibia seus dentes pontiagudos para o garoto ruivo ao meu lado. 
— Calma, Al. Ele é meu amigo. 
— Al, quem está aí fora?! — pôde ser ouvido um grito vindo do interior da casa, e no instante seguinte meu pai aparecera no jardim. — Ah, Liv, você chegou! — papai sorriu, mas seu sorriso murchou ao ver Rin ao meu lado — Matsuoka? O que faz aqui?
— Veio me deixar em casa, já que alguém — direcionei um olhar sugestivo ao meu progenitor — me fez perder o ônibus e me largou naquela espelunca — cruzei os braços, recebendo risada nervosa como resposta. 


###


Bati duas vezes na porta de madeira, aguardando resposta. O dono do quarto em questão era meu irmão mais novo, Sam. Você deve estar se perguntando o que diabos uma criança estaria fazendo acordada a essa hora. Mas acredite, meu irmão não se deu bem no quesito "criança normal". Basicamente, ele é um hacker super gênio, que fica bastante feliz em me ajudar com minhas lições de casa em troca de algumas coisas que não são perfeitamente adequadas para a idade dele, se é que me entendem. Acontece nas melhores famílias. 
— Pode entrar — foi a consentimento para minhas batidas, dado em japonês. Sim, meu irmão é fluente. Em quatro línguas. Abri a porta, adentrando o quarto. Estava bem escuro, exceto pela luz do  computador que iluminava parte do  quarto. — Trouxe o que eu pedi?
— Claro — depositei uma revista à sua frente, em cima do teclado do computador. Deve estar se perguntando como eu também falo em japonês. De alguma forma eu tinha que me comunicar com meu irmão numa linguagem que meu pai não compreendesse, então combinei meus conhecimentos na língua adquiridos em animes e as conversas com meu irmão.
— É sempre bom fazer negócios com você — retrucou, entregando-me um caderno grosso enquanto já estava concentrado nas folhas da revista. 
— Hum… Sam, eu preciso de mais uma coisinha.


###


— Hana! Precisamos conversar! — exigi, assim que fomos liberadas da aula. — É sobre o meu trabalho. 
— Liv, eu já te disse que você não precisa detestar esse trabalho e…
— Não! Eu adoro aquele trabalho! — puxei uma pilha de papéis de cima da minha mesa, estendendo para que ela visse. No exato momento em que seus olhos encontraram a primeira folha, eles quase saltaram das órbitas. Puxou os papéis da minha mão, folheando-os de maneira alvoroçada. 
Sam havia conseguido aquilo para mim, eram fotos e dados sobre o Matsuoka, desde o dia de seu nascimento até suas alergias. Todo o tipo de informação sobre ele que fosse possível de adquirir pela internet estava ali.
— Será que tem alguma vaga lá no Clube de Natação?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Bora se manifestar meu povo, comentem o que acharam!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Australia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.