A Colônia escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 8
Capítulo 7




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Capítulo 7

Alguém estava quebrando a porta do meu quarto, ou algo muito parecido com isto. Não era possível que estavam apenas batendo contra ela!

Me levanto, abrindo meus olhos, e quando a porta do banheiro abre eu quase caio no chão.

— Quem é você? – Pergunto para a garota que parecia ter quase minha idade.

— A pessoa que arruma sua bagunça? – Eu puxo um dos lençóis para cobrir meu corpo. Agora certamente eu passaria a dormir com mais roupas e não completamente nua.

— Eu não ouvi você entrando, não sei se gosto disso. – Digo a garota e seus olhos se arregalam levemente.

— Todas as criadas são treinadas para serem silenciosas, senhorita, sinto muito. – Ela diz rapidamente, passando as pequenas mãos pelo vestido bege sem graça.

— Se alguém não estivesse tentando arrombar a porta, eu certamente não saberia de você, estou certa? – Questiono tentando soar mais suave.

— Até o torneio creio que sim, depois eu poderia ser sua ajudante se quisesse. – Ela responde e eu franzo o cenho

Alcançando o robe preto de seda e o visto rapidamente, enquanto ela abre a porta, o suficiente para ver quem era.

— Ela acabou de acordar Grão Senhor, não acho...

A pobre garota nem mesmo termina de falar antes de lentamente Noah, o Grão Fenwick, entrar em meu quarto, fechando a porta logo em seguida.

A criada parecia estar prestes a explodir, se era de raiva ou de indignação eu não sabia.

— Bom dia, Alishia. – Noah fala, cruzando os braços musculosos na frente do peito.

— Não sei se ter alguém quase derrubando a porta do meu quarto e depois entrando sem ser convidado é um sinal de que o dia será bom. – Falo e coloco as mãos na cintura. – De onde você vem não ensinam bons modos ou só ensinam vocês a serem bastardos ignorantes?

Certo, agora sim a garota estava indignada.

Noah apenas me olha, e um sorriso lento e malicioso surge em seu rosto.

— Como é seu nome? – Pergunto a garota.

— Erin, senhorita. – Ela responde e abaixa o olhar.

— Erin, você pode ir, eu prometo que termino o que você estava fazendo, sempre me perguntei quem arrumava as minhas bagunças, agora eu sei. Vou manter o quarto arrumado. – Falo suavemente e olhos azuis – normais – me encaram chocados.

— É o meu trabalho, eu posso arrumar quando não estiver aqui. – Erin fala rapidamente.

— Podemos arrumar juntas, o que acha? – Ofereço, percebendo que se ela ficasse sem fazer seu trabalho não seria uma boa coisa. Erin concorda com o rosto corada e tímido. – Pode ir, se alguém te perguntar por quê não está aqui, diga que tranquei a porta.

Erin assente e vai embora, me deixando sozinha com Noah.

— Agora você pode me dizer o que está fazendo no meu quarto? – Pergunto a ele, que já havia se sentado na poltrona florida. Noah com todo seu tamanho e corpo, sentado em uma cadeira de estofado florido, era meio engraçado.

E também o fazia parecer inofensivo. Só parecia.

— Você está atrasada para o seu primeiro dia de treinamento. – Ele diz simplesmente, batendo os dedos contra o braço da poltrona.

— O quê? E você não podia ter falado isso ontem? Que íamos começar cedo? – Questiono irritada, mas não me movo para trocar de roupa. – Alias, que horas são?

— Algo entre Seis e Sete. – Ele responde com aquele sorriso desgraçado de lindo.

Ela só podia estar brincando comigo...

— Você treinar agora? O inverno está quase chegando, deve estar um frio miserável lá fora a essas horas! – Digo incrédula e ele apenas meneia a cabeça para mim.

— Está reclamando? Acha que este torneio vai ser uma brincadeira? Você vai lidar com pessoas poderosas, algumas não são boas. – Ele fala e se levanta, vindo em minha direção, e eu apenas ergo meu queixo. – Então pare de falar e troque sua roupa, não me faça arrepender por ter te escolhido.

— Eu não pedi para você me escolher. – Retruco irritada.

— Não, não pediu, mas vai agradecer por ter sido escolhida.

Ele olha bem nos meus olhos e tento manter minha mente bloqueada, mas não era fácil quando aquele homem lindo na minha frente sorria como se eu fosse seu café da manhã.

— Pode não fazer isso? – Murmuro para ele. – Se vai ser mesmo meu treinador, tente não invadir meu quarto e minha cabeça, isso é rude e grosseiro.

— Com medo do que posso descobrir? – Noah sussurra, e ele estava tão perto que eu podia até mesmo sentir sua respiração em meu rosto.

Dou um passo para trás e viro o rosto.

Eu podia não ter certeza, mas acreditava que ele tinha alguma ideia das coisas que se passavam em minha mente. Todo cuidado era pouco, ainda mais agora, com alguém tão poderoso como ele por perto.

— Isso depende. – Digo casualmente e abro o armário, ficando de costas para ele.

— Sim?

— Desde que cheguei, imagino como seria despir alguns dos guardas reais. Já reparou como são bonitos? – Falo e sorrio.

Noah não responde e antes de entrar no banheiro, olho sob o ombro e o vejo com a expressão séria, ele me olha e eu ergo uma sobrancelha para ele.

— Estarei pronta em dez minutos. – Informo e entro no banheiro, fechando a porta.

                                                         * *

Noah não queria ir para o pátio aonde todos os outros treinariam mais tarde.

Inteligente.

Então ele me levou para outra parte do palácio. Passamos pela cozinha que naquele momento estava movimentada, enquanto os cozinheiros preparavam o café da manhã, do qual eu não participaria.

Ótimo, pensei provavelmente desmaiaria por não comer nada enquanto treino.

Mas mesmo sentindo aquele cheiro delicioso de pão assado, fiquei com a boca fechada. Aquele Grão Senhor já era arrogante o suficiente, e se eu reclamasse ele certamente usaria isto contra mim depois. Enquanto saiamos pelos fundos, observo maravilhada o que via a minha frente.

— Aquilo é uma cachoeira? – Pergunto sem nem mesmo piscar.

Quase corro até chegar ao pequeno muro de pedra, me apoio nele e quase grito quando olho para baixo e vejo o penhasco.

— É sim, o palácio esconde muito bem esta vista, mas não é algo que é desconhecido pelos Níberianos. – Noah para ao meu lado e aponta para o lado esquerdo. – Vamos para lá.

Como é?

— Você está falando sério? – Eu o encaro, horrorizada. – Não precisamos ir para tão longe, vamos levar o dia todo!

Desta vez, Noah quem ergue uma sobrancelha para mim, eu fico tão encantada pelo movimento que não percebo quando ele coloca sua mão grande sobre a minha.

E então não estávamos mais no palácio.

— Puta merda! – Eu quase grito, quando paramos entre algumas árvores. Sabia como era a sensação de transpassar, mas quando se fazia isso para mais longe do que eu podia ir, era diferente.

Agora entendia o que Daemon sentiu quando fiz isso com ele.

— Não faça isso de novo ou pelo menos me avise se for fazer! – Grito com Noah que estava escorado em uma árvore com os braços cruzados, enquanto eu – inclinada, com as mãos abertas sobre o joelho – lutava para acalmar minha respiração.

— Até parece que você nunca transpassou. – Ele fala com um meio sorriso. – Estava na sala do trono quando você e o guarda Wes pararam. Deu sorte garota, que ninguém além de mim a viu, os outros competidores são seus inimigos até que o torneio acabe.

— Não posso transpassar para longe, não como você. Isso nem mesmo faz diferença. – Falo me erguendo.

— A diferença que um segundo ou poder transpassar mesmo que não seja para longe, é muito grande. É a diferença entre viver ou não.

— Isso soa muito como um covarde correndo. – Falo e Noah dá de ombros.

— Correr não te faz covarde, não quando uma luta ainda existir entre você e seu oponente.

— Já teve que correr alguma vez, Grão Senhor? – Questiono ironicamente, mas ele me ignora.

— O que você pode fazer? – Ele pergunta e eu reviro os olhos. – Vamos, Alishia, responda.

Mordo o interior da minha bochecha e também cruzo meus braços.

— Não sei muito bem, na verdade. – Respondo com sinceridade. – Posso transpassar para curtas distancias e também transpassar objetos, posso manipular água, mas não é algo de grande importância, curar a mim mesmo e aos outros se o ferimento for pequeno.

— Agilidade? – Ele pergunta e eu concordo. – Força?

— Nunca testei minha força. – Dou de ombros, sendo sincera. Na colônia nos era ensinado a não depender muito de coisas que você poderia ficar sem, e força estava entre elas.

— Mais alguma coisa?

— Que eu saiba, não. – Falo e ele, o mais rápido que posso acompanhar, para à alguns passos a minha frente.

— Vamos ter uma semana para descobrir então. – Noah ergue as duas mãos e como um passe de mágica, duas espadas aparecem, uma em cada mão. – O Rei disse que você contou que tem algum treinamento, vamos ver o que sabe.

Ele joga a espada longa da mão direita para mim e eu a pego no ar.

Tento não perder nenhum de seus movimentos, analiso seu corpo - principalmente suas pernas – enquanto ele me rodea como um leão selvagem. Fico no mesmo lugar, com a espada erguida, esta era uma dança desafiadora e eu a conhecia muito bem.

Noah era poderoso e até aonde eu sabia, Grão-Fenwicks possuíam todos os dons existentes, eram puros e calculistas, também eram bons, mas vingativos. Basicamente, nem mesmo podiam ser comparados a um Níberiano apesar de alguns moraram nas ilhas de Níbia.

Ele faz o primeiro movimento, sua espada descendo como um veloz feixe de luz em direção ao eu quadril. Eu bloqueio seu movimento com minha própria espada, as laminas se chocam, aço contra aço, fazendo um ensurdecedor.

Empurro a dela com a minha e Noah nem mesmo espera antes de se mover novamente, sua espada desta vez vindo em direção a minha cabeça.

Me baixo e rolo no chão, sentindo as pedras afundarem fundo minha pele, quando me levanto, vendo o sorriso irônico de Noah.

— Você não está atacando. – Ele ronrona.

— Quer lutar, Noah? Então vamos lutar! – Falo e antes que ele possa atacar novamente com todos aqueles golpes precisos e perfeitos, transpasso sua espada e a minha e em seguida avanço sobre ele, com meus punhos.

Ele bloqueia meus primeiros movimentos, e quando ele se ‘’distrai’’ com apenas minhas mãos, eu chuto seu estômago, forte o suficiente para fazê-lo cambalear, mas quando giro levantando minha perna para chuta-lo, Noah a segura, tento me equilibrar e me viro, levando meu punho direito em seu nariz.

Crac...

Encaro o rosto de Noah quando ele me olha, sangue escorria sem parar de seu nariz, mas o bastardo ainda sorria, como se seu nariz quebrado apenas melhorasse a luta e seu dia.

Ofego quando sinto o punho dele em minha barriga, e em seguida estou sendo jogada para trás, ou melhor... estou praticamente voando, e quando bato contra uma árvore, podia sentir meus ossos rangendo com o baque.

— Não gosta de usar magia e nem de lutar com espadas? – Noah questiona, passando a manga de sua camisa sobre o nariz e a boca. – Ruim, Alishia, isto é ruim.

Encosto a cabeça contra a árvore, contendo a vontade de revirar os olhos para o sabichão.

— Não é que eu não goste, eu apenas não gosto de depender de algo que eu nem sempre posso ter em mãos. – Olho para minha mão, meus dedos estavam levemente vermelhos pelo soco que consegui acertar nele. – Quando cheguei aqui, poderia ter evitado muitas coisas se tivesse minha magia, mas não tinha a permissão.

— Você pode estar a um passo de ser morta e sua magia ou até mesmo uma adaga pode ser sua última saída para sobreviver. – Noah me oferece a mão, e eu a pego, me erguendo do chão.

— Novamente, eu posso usar todos os recursos, mas não quero ser uma dependente de todos e me acomodar.

— Não estou dizendo para se entregar a tudo, apenas deixe que uma coisa complemente a outra. – Noah se afasta um pouco e eu observo, hipnotizada, quando ele começa a mover os braços, mexendo os dedos de suas mãos com tanta delicadeza e suavidade, fazendo folhas se levitarem e flutuarem ao meu redor, o vento soprando mais quente como se acariciasse meu corpo. Algo úmido toca meu rosto, então noto as pequenas gotículas de água, se movendo em sincronia com as folhas. – Magia é algo belo e misterioso, entendo quando diz que não quer depender apenas dela, mas como eu disse, algo simples, como estas folhas podem também se transformar em uma arma letal.

Como um batimento cardíaco, rápido e frenético, Noah abre suas mãos e todas as folhas que flutuavam, voam em uma velocidade assustadora, algumas, mais não todas, acertam em cheio um passarinho que voava, como se fossem pequenas laminas, o derrubando inerte no chão.

— Uma folha, uma coisa tão pequena, leve como uma pena, mas com a precisão, a força e a habilidade certa, até mesmo estas pequenas folhas se tornam armas. – Noah fala e eu engulo em seco.

E algo muito mais assustador acontece.

O passarinho antes imóvel no chão, solta um quase inaudível piado e tomba para o lado, se erguido naquelas duas pequenas perninhas, então simplesmente sai voando, as folhas que o tinham acertado, ficando no chão.

— Como fez isso? – Pergunto horrorizada para Noah.

— É algo entre voltar no tempo e mescla-lo. – Noah responde. – Mas não vamos falar sobre isto agora, neste momento, você vai trazer as espadas. Seus golpes são bons, mas temos testa-los novamente.

— Eles são bons, mas temos que testá-los? – Falo sorrindo e transpasso as espadas novamente, trazer era mais difícil do que mandar, mas passei por muito treinando e agora quase não sentia dificuldade.

— Sempre podemos melhorar. – Noah pega sua espada e mexe os ombros, os alongando. Ele estava realmente falando sério. – A cada vez que você conseguir usar não apenas a espada, mas também sua força e sua magia ao mesmo tempo, terá direito a uma pergunta.

— Quem disse que tenho perguntas? – Questiono e ele me sorri levemente, como se eu fosse uma pobre garota tola.

— Já que não tem perguntas, faça isso para seu próprio bem, o torneio começo daqui uma semana.

— Vou fazer pelas duas coisas, quero ter direito as minhas perguntas. – Falo rapidamente e o sorriso dele aumenta.

— Terá que me acertar também, só assim as responderei.

Desgraçado presunçoso!

Também alongo meus ombros, como ele havia feito antes, e arrasto a ponta da lâmina da espada no chão, desenhando uma linha.

— Se eu conseguir fazer com que você atravesse esta linha, terei direito a uma pergunta extra. – Digo encarando aqueles olhos fascinantes.

— Tudo bem, agora me mostre o que sabe fazer, Tsundere. – Ele fala com um sorriso de fazer muitas Níberianas desmaiarem.

— Eu vou, Grão Senhor, eu vou. – Afirmo lambendo meus lábios.

Então o nosso treinamento começa de verdade.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!



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