A Colônia escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 7
Capítulo 6




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Capítulo 6

Pela segunda vez naquele dia, uma batida soa em minha porta. E pela segunda vez, eu encontro o rosto chocado de Daemon. 

— Estou me sentindo ofendida. É a segunda vez que me olha como se eu não fosse a mesma pessoa. - Falo me afastando da porta e indo novamente para frente da penteadeira. 

— É difícil de acreditar que você é a mesma pessoa, ontem você parecia uma mendiga. - Ele fala e ri quando faço um gesto vulgar para ele. 

— Isso porque eu estava nas ruas da capital tentando permanecer viva. - Digo quando termino de pintar meus lábios. - É isso que acontece quando você começa a viver por conta própria, você deve saber como é. 

Daemon não se senta enquanto me observa calçar as sapatilhas de cetim que tinha encontrado no armário. 

— O que você fazia para se sustentar? Quando estava lá fora? - Pergunta e eu sorrio.

— Algo como malabarismo e artesanato, mas as pessoas da capital não sabem aproveitar um bom espetáculo ou uma boa arte. - Me levanto e passo as mãos pelo vestido.

Era simples apesar da saia levemente rodada, porém a cor vermelha vibrante se destacava, tinha trançado meus cabelos na lateral e também pintei meus lábios meus lábios com um vermelho mais escuro. As sapatilhas de cetim preto eram delicadas, e como o vestido era de um corte médio, uma boa parte de minhas pernas estavam à mostra.

— Estamos atrasados? – Questiono encontrando seu olhar.

— Creio que sim, mas está tão bonita que será perdoada. – Ele responde com sorriso tímido.

— Então vamos. – Digo sorrindo maliciosamente, e antes que Daemon abrir a porta, seguro sua mão e em poucos segundos estamos em um dos corredores perto da sala do trono.

— Merda, você não disse que podia transpassar! – Daemon exclama com uma expressão de pânico e um pouco pálida.

— Você não perguntou, Wes. – Falo rindo. – Me proibiam de transpassar aonde eu morava, quis aproveitar que agora eu posso.

— Espero que avise da próxima vez, caramba! – Ele coloca a mão contra o peito, me olhando com mais calma. – Como funciona com você?

Puxo seu braço e passo o meu no dele.

— Eu não posso transpassar para lugares muito distante, como outra cidade se é isto que está perguntando. – Murmuro percebendo os olhares curiosos dos criados que passavam. – Meu limite alguns metros de distância, e tenho que me concentrar muito também, funciona do mesmo jeito para transpassar objetos.

— Estou impressionado, não são muitos os que podem transpassar, acho que nem mesmo o rei consegue.

— Então guarde este detalhe para você, tome esse conhecimento como outro passo para a confiança que estamos construindo. – Digo seriamente. – Soldados e Guardas também vão participar do jantar?

Daemon me guia pelos corredores, e com a boa audição, já conseguia ouvir vozes altas mais à frente.

— Caramba, não, enquanto vocês estiverem comendo, nós estaremos de guarda logo atrás, observando e passando vontade. – Me encolho, pois, a ideia não soava agradável. – Quer dizer, o Capitão Durand, que é amigo do Príncipe tem permissão para participar.

— Isso é uma merda. – Afirmo com sinceridade.

— Eu sei, mas somos recompensados e este é nosso trabalho.

Paramos em um corredor de duas entradas, e uma dava para a sala de jantar, eu nunca diria em voz alta, mas sentia um leve pânico atingir meu estomago.

— Eu deixo você aqui, fui até seu quarto porque meu turno começa daqui alguns minutos.

— Obrigado por ir me salvar, estava ficando apavorada por não saber o caminho até aqui. – Falo e sorrio agradecida.

— Acho que isto nos deixa quites, pois devo dizer que dei boas risadas de sua reação quando o Grão-Fenwick te escolheu, você parecia estar de cara com a morte. – Daemon ri e podia sentir minhas bochechas corando.

— Não vou me esquecer deste desaforo, bom se lembrar.

— Sei que não. Nós vemos depois. – Ele diz com um meio sorriso e se vira, desaparecendo no outro corredor.

Respiro fundo algumas vezes numa tentativa de me livrar do meu rubor. Não tinha ideia de quantos minutos estava atrasada, mas não podia esperar mais.

O mais calma possível, eu caminho até a entrada da sala de jantar, que por sinal era enorme e já estava lotada com todos os competidores, o bom sinal era que enquanto olhava o lugar, não tinha visto o rei e ninguém havia se sentado ao redor da mesa ainda.

— Alishia!

Me viro em direção a voz de Chester, que vinha saltitando em seu vestido verde em minha direção.

— Você se atrasou. – Ela afirma e eu seguro a vontade de revirar os olhos.

— Não sabia aonde ficava a sala de jantar, cheguei apenas ontem. – Falo e observo maravilha o cabelo dela. – Seu cabelo é incrível.

— Dá muito trabalho para cuidar, mas o resultado faz valer a pena. – Diz alegremente e me seguro para não erguer minha mão e tocar aqueles cachos vermelhos. – Você está magnifica também, como conseguia trançar seu cabelo sozinha?

— A mulher que me criou me ensinou. – Dou de ombros.

— Esta sim é uma habilidade que queria ter. – Chester fala, aquele sorriso travesso nunca deixando seu rosto. – Estava indo pegar uma bebida quando te vi entrar, quer ir comigo?

Graças aos Deuses...

— Claro. – Concordo contendo o alívio.

Era boa em muitas coisas, mas ficar sozinha e socializar com muitas pessoas não eram uma delas.

Chester segura me mão e quase me arrasta, passando sem nem mesmo olhar no rosto dos demais, e também faço o mesmo, até porque não era uma boa ideia conhecer todos eles, apenas um aliado era o suficiente, e ao que parecia Chester tinha decidido que está seria ela.

Paramos em frente a uma enorme mesa cheia de petiscos, frutas e bebidas.

— Você sabia que o Rei mandou fazer esta sala de jantar apenas para os convidados? – Chester diz e quando eu abro a boca ela continua. – Hoje será uma exceção, ele e o Príncipe jantarem conosco.

— Seria estranho se tivéssemos que ter todas as refeições com a realeza por todos os dias. O café da manhã já é tortura suficiente. – Falo baixo. – Eu mesma não acho que seria agradável.

— O Príncipe pode ter aquela expressão malvada, mas não acho que ele e o Rei são tão ruins. – Chester me entrega uma taça, e mesmo sem saber o que era o conteúdo, eu a pego. – Já que estamos conversando sobre isto, por que o Príncipe esperou para falar com você?

Quase gemo quando percebo que vários rostos se viram em nossa direção.

— Ele queria saber se eu estava bem, não me senti muito bem quando assinei a permissão. – Minto e os olhos de Chester se arregalam. – O que foi?

— Estou surpresa, nós não tivemos autorização para assinar a permissão ainda, o Rei disse que faremos isto apenas quando cada competidor tiver um instrutor. – Ela responde e eu viro para frente, tentando ignorar a atenção dos curiosos ao nosso redor.

— Talvez o escrivão não tinha recebido a ordem. – Falo suavemente, dando de ombros novamente.

— Bem, e o que você pode fazer? – Ela pergunta me olhando com expectativa.

— A sala de refeição não é lugar certo para demonstrações de magia.

Sinto frio puro subir por minha espinha, e me viro, encontrando Noah, o Grão-Fenwick, com uma expressão séria no rosto.

— Sinto muito, Grão Senhor. – Chester fala rapidamente, seu rosto corando violentamente.

Risadinhas podiam ser ouvidas ao nosso redor, e merda, isto me tira do sério.

— Sinto muito, Senhor, mas tenho certeza que a pergunta de Chester foi apenas figurativa, por mais que a ideia soe interessante, não mostraria o que posso fazer na frente dos outros competidores. – Sorrio levemente e olho para Gael, que tinha uma expressão irônica em seu rosto. – Como meu instrutor, deve concordar que guardar a surpresa para o momento certo é a melhor escolha.

Chester se remexe ao meu lado - claramente desconfortável -, enquanto eu e Noah nos encaramos. Não tinha conseguia decidir se aqueles olhos de cores diferentes eram mais intimidantes ou impressionante. Talvez as duas coisas.

— Vejo que escolhi certo. – Noah diz por fim e sorri, deixando aquelas presas afiadas a mostra. Isto sim era apavorante. – Não quis ser grosseiro, senhorita Chester, como um bom apostador e instrutor, tenho que manter minha competidora na linha.

— Claro, Senhor, não ofendeu. – Chester cora novamente – por outro motivo, desta vez - e eu reviro os olhos.

— Vou deixar as duas damas conversarem. – Noah fala e se retira, indo conversar com os demais no salão.

Levo a taça pela primeira vez aos lábios, e agradeço ao ser Divino pela bebida ser vinho e não suco de amora.

— Sabe, eu nem mesmo posso ler pensamentos, mas os seus estão sendo bem óbvios. – Murmuro para Chester que ainda seguia Noah com o olhar.

— E como não pensar? Acho que ele é o homem mais lindo que já vim. – Lindo e apavorante. Me seguro para não corrigir. – Você é uma cadela sortuda, além de um instrutor que parece um Deus, é a campeã dele.

— Ainda não sei como isto funciona, ele também não é o jurado das tarefas? – Questiono bebendo mais do vinho.

— Ele é, mas você será apenas a aposta maior dele, assim como nossos instrutores apostaram em nós. O fato dele ser jurado não vai interferir em nada, a aposta é algo que fazem separados das notas, como em um jogo de cartas. Você aposta algo de valor, mas apenas no final descobrirá se ganhou ou não. – Chester explica e me olha ansiosa. – Você soube que a primeira tarefa será em dupla? Treze duplas.

Ah, agora eu entendia o porquê dela, estar grudada em mim.

— Vou tentar não me ofender pelo fato de você estar me rodeando pelos motivos que em parte não são certos. – Digo secamente.

— Eu realmente gostei de você, não estou falando com você apenas por meus interesses. – Ela diz e eu meneio a cabeça, sorrindo. – Certo, eu também queria perguntar se você aceitaria ser minha dupla, mas já que está ofendida, me responda: Prefere fazer dupla com algum desses outros ignorantes? Nós duas somos as estranhas, você admitindo ou não, e pelo fato de certa forma, temos sido os destaques, somos os primeiros alvos marcados.

— Você mostrou seu ponto. – Aceno concordando e olho redor, observando todos os competidores, e Chester realmente estava certa, todos pareciam desagradáveis.

— Griel parece ser bom e legal, mas garoto é tão magro que nem mesmo foi uma opção para mim.

Eu tusso e levo a mão na boca, tentando não cuspir o vinho.

— Depois eu sou que sou uma cadela. – Sussurro com a voz rouca.

— Estou apenas sendo sincera. – Chester se defende, sorrindo abertamente. – Então? Vai ser minha dupla?

— Eu nem mesmo sei qual será a tarefa.

— Ninguém sabe, e acho que este é o ponto. – Ela diz e morde o lábio.

— Tudo bem ruiva, vou ser sua dupla. – Concordo.

Afasto a taça quando ela quase pula em cima de mim, passando seus braços em volta do meu pescoço e me abraçando apertado.

— Obrigado. – Ela sussurra se afastando e eu sorrio.

Conversamos por mais alguns minutos, e podia sentir a frustação de todos enquanto esperávamos o Rei e Príncipe, no fim das contas eu não tinha me atrasado.

Minutos depois, alguns guardas entram, entre eles Daemon – que por sinal ficava muito bem em seu uniforme azul escuro e preto -, e os liderando, estava o Capitão Durand, com a mesma expressão indiferente. E assim como na sala do trono, toda a corte real entrou, seguida pelo o Rei e o Príncipe.

— Sinto muito pelo atraso, infelizmente tivemos um imprevisto. – O Rei se desculpa, indo direto para a ponta direita da enorme meda. – Sentem-se por favor, vamos dar início a nossa refeição.

Depois que o Príncipe, Grão-Fenwick, se sentaram cada um aos lados opostos do rei, esperamos todos da corte se sentar, em seguida fomos nós. Antes de me sentar ao lado de Chester, ofereço um meio sorriso para Daemon, que surpreendentemente, retribui.

Diferente do burburinho de minutos antes, ninguém, nem mesmo uma pessoa sequer, ousou falar enquanto pratos eram trazidos por vários cozinheiros.

— Antes de começarmos, quero agradecer a compreensão de todos vocês e desejar-lhes boas-vindas ao palácio, sei que muito se empenharam para estar aqui para participarem do torneio que se iniciará daqui poucos dias. – O Rei Alfred diz, seus olhos dourados brilhando de uma forma diferente conforme ele olhava para cada um de nós. – Façam valer a pena. Podem se servir.

Acho que não havia nenhuma diferença entre o Rei iniciar a refeição e abrir as portas do submundo, pelo alvoroço que começou enquanto todos se serviam.

Rindo com Chester e erguendo meu olhar, encontro o Príncipe me encarando, e por sua expressão ele parecia pensar o mesmo.

— Como uma boa companheira de dupla, tenho que te dizer para manter sua mente bloqueada quando estiver perto de tantos Tsundere, e principalmente se o Grão Senhor estiver presente. – Digo em voz baixa para Chester.

— Não sei se podemos esconder algo de um Grão-Fenwick, mas vou me lembrar disto. – Chester fala e enfia uma boa porção de purê na boca.

— Claro que é possível, basta treinar. – Contradigo cortando o cordeiro em meu prato, e quando como um pedaço, solto um baixo gemido. – Isto está bom!

— Sim, e como está! – Chester concorda.

— Até mesmo um Deus choraria comendo este cordeiro.

Acho que poderia muito bem morrer de prazer comendo tão bem... Penso enquanto saboreio.

A risada do príncipe soa pelo salão segundos depois, chamando a atenção de todos.

— Tudo bem, Phillip? – O Rei pergunta não tão baixo, interrompendo sua conversa animada com Noah.

— Sim, Tio. Estava apenas pensando que até mesmo os Deuses chorariam comendo este cordeiro. – Príncipe Phillip responde, levando lentamente o garfo a boca.

Os olhos vermelhos de Chester quase saltam de seu rosto conforme ela me encara.

— Oh sim, tenho que concordar. – O Rei concorda e volta a conversar com Noah, assim como todos voltam a comer.

— Não vou dizer o que pensei para leva-lo a rir, mas está entendendo o que estou querendo dizer? – Digo entredentes para Chester.

— Maldição, será que algum deles leu meus pensamentos? – Chester questiona e apesar do momento ser desesperador, eu tento conter meu próprio riso. – Acho que vou vomitar.

Enquanto nós comíamos, eu a atormentava Chester falando que provavelmente não apenas o Príncipe, mas também o Grão Senhor, tinha conhecimentos sobre seus pensamentos depravados.

Depois da sobremesa, o Rei se retirou, afirmando estar cansado pelo longo dia que teve. Pobrezinho.

Muitos ainda ficaram no salão, e quando Chester começou a reclamar de dor nos pés, eu me retirei com ela, não querendo ficar sozinha naquele lugar. Não quando eu podia sentir dois pares de olhos sobre mim.

Daemon ainda estava de guarda, e apesar de saber que provavelmente não me encontraria com ele no dia seguinte, mal podia esperar para contar a ele sobre o ponto alto daquela noite.

O Príncipe com intenção ou não tinha mostrado um de seus dons. Acho que apostaria com Daemon que até no fim daquele torneio eu descobriria quais eram os outros.

Sorrindo, eu balanço a mão em direção as velas acesas, as apagando. Então viro na cama e fecho meus. Por incrível que pareça, comecei a dormir logo em seguida.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!



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