Steal Your Heart AU escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 33
Discussões de Relacionamentos


Notas iniciais do capítulo

Oi gente :)

Gostaram da nova capa de SYH? Bem, não ficou aquela coisa maravilhosa e nem perfeita, mas é provisória até conseguirmos evoluir nisso - até porque, EU que fiz e deu bastante trabalho pra vocês serem ingratos comigo, please amem o novo estilo dela. Huehuehuehue :v

Aproveitem o capítulo! Qualquer erro já sabem, né?

Capítulo postado dia: 10/06/2019, às 22:53.



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Adrien

— Sua vez. – digo, agarrando sua mão e lhe puxando levemente até a abertura que jorrava água e sal na nossa direção. A observo balançar a cabeça freneticamente.

— Não, eu não vou te deixar aqui Adrien. – a morena se recusa, enquanto o ar se torna cada vez menor no espaço que compartilhávamos. Tentamos manter nossas cabeças acima da superfície, mas tal ação se tornava cada vez mais difícil para a mesma. – Ninguém fica pra trás.

— Isso não é um pedido – retruco, trincando os dentes. Seguro sua nuca e lhe dou um leve selinho. Analiso seu rosto e tento não falhar na minha expressão séria. – é uma ordem.

— Eu... – a mestiça engasga. – não posso.

— Pode sim. – respondo, lhe suplicando com o olhar. Aquele azul tão brilhante quanto o céu de Paris nos dias de verão. Aquela imensidão que sempre me encantara desde o primeiro momento que lhe vira. – Nos encontramos lá em cima. – nossos olhares se cruzam e por um momento meu coração para de bater. Odiava mentir para as pessoas que tinham importância no meu coração. - Eu prometo.

Eu prometo.

Eu prometo.

Eu prometo.

Me levanto tossindo com tanta força que minha garganta doí como se tivesse acabado de beber um copo de ácido. Jogo água salgada para fora e respiro fundo três vezes até ter certeza que meu coração estava batendo de novo. Encaro minhas mãos trêmulas, ofegante. Estava vivo. Meu corpo todo doía e particularmente um dos meus pés estava sangrando um pouco, mas assim que minha mente voltou a funcionar nada daquilo importava.

Ela havia me salvado. Marinette tinha voltado para me salvar.

Olho ao redor, sentindo minha cabeça girar quando lhe avisto alguns metros de distância de onde estava na areia da orla daquela praia. A mestiça estava de bruços, com as ondas quebrando aos seus pés. Meus pulmões queimam dentro do meu peito quando me levanto de supetão e começo a correr na sua direção.

— Marinette! – grito, me jogando sobre a mesma e virando seu corpo de lado. Sua roupa estava encharcada e sua pele fria como gelo quando seguro seu rosto entre as mãos. Meu coração acelera ao perceber que não está respirando. – Marinette? Marinette, acorda! Acorda! Não faz isso comigo garota, pelo amor de Deus, responde! – grito, aproximando meu rosto do seu para sentir se a mesma estava inspirando.

Junto minhas mãos e começo a fazer massagem cardíaca na mesma, tentando forçar seu coração a voltar com o máximo de cuidado que se conseguia ter numa situação daquelas. A possibilidade de nunca mais ver aquele sorriso cheio de vida faz meu coração acelerar e lágrimas ameaçarem cair dos meus olhos. Seguro seu rosto novamente e faço respiração boca-a-boca, admirando o fato de que, se estivéssêmos em uma situação totalmente diferente, iria adorar abusar daquele momento só para provocar aquela garota e naquele momento não poderia ter outro pensamento na minha cabeça a não ser de salvar sua vida. Aplico um pouco mais de força sobre seu peito torcendo incessante que aquilo dê certo como em tantos filmes que já vira aquilo acontecer. Sopro o máximo de ar que consigo pela sua boca, sentindo meus olhos arderem quando Marinette ainda não dá sinal de vida.

— Vamos Cheng, vamos. – murmuro, estreitando os olhos com a voz embargada. – Por favor.

Ouço sua risada numa memória distante. O primeiro dia que nos conhecemos. A “disputa de dança” que fizemos ao som de Closer no auditório vazio. Nossa corrida para concluir o trabalho da aula de Moda. A facada que eu levara para salvá-la. Suas mãos trêmulas cuidando de mim. O dia em que ficamos presos no closet da casa do Broussard. O dia anterior quando nos divertíamos na praia. Milhões de estrelas iluminando o céu enquanto a carregava nos meus braços para acomodá-la na minha cama.

— Por favor. – sussurro, já ofegante por repetir aquela sequência sem pausa.

Antes que pudesse tocar sua boca novamente seu corpo se ergue, fazendo Marinette cuspir água para o lado as tossidas, curvada sobre si mesma. Lhe abraço com força e, não me importando com minhas lágrimas caindo sobre seu rosto ou lhe causar uma impressão de um “maricas sensível”. Que se dane o que ela poderia pensar de mim. Mari estava viva. Só isso importava.  

— Nós... Estamos vivos? – a morena sussurra, apoiando suas mãos no meu peito e afundando seu rosto no meu pescoço. Solto uma risada fraca camuflada por um soluço.

— Bem, agora nós dois estamos. – respondo baixinho, beijando o topo da sua cabeça com um sorriso fraco. – Você me assustou garota. Pensei que tivesse perdido você.

Cheng dá uma gargalhada mínima roçando seus lábios ainda gélidos na minha clavícula. Olho ao redor e só consigo enxergar uma longa extensão de areia até o horizonte banhado pelo mar. Era perto do final do dia e começava a escurecer rapidamente. Agarro a baixinha nos meus braços e começo a caminhar para longe da beira d’água, em direção a areia mais próxima das árvores do que parecia uma das nossas ilhas particulares. Acho alguns velhos troncos jogados por ali e sento a mesma em um deles.

— Parece que estamos ilhados e está anoitecendo. Vamos fazer uma fogueira para secar nossas roupas e sinalizar que estamos aqui. Tenho certeza que a Guarda Costeira irá passar por essa ilha, então tenho que ser rápido. – informo, lhe dando um leve beijo, me agachando para ficar na sua altura. – Você fica aqui. Não quero que se esforce, está me entendendo?

— Mas eu quero ajudar. – Marinette retruca, me encarando com aqueles olhos pidões. – Aliás, quatro mãos são melhores do que duas. Juntos podemos conseguir mais lenha pra fogueira.

— Não. – repito, me levantando e indo na direção das árvores mais próximas para pegar alguns gravetos. – Fique aí, eu já volto.

— - -

— Eu tinha dito para ficar sentada onde eu havia te deixado. – reclamo quando me aproximo mais uma vez do tronco em que Mari estava terminando de ajeitar algumas pedras num circulo meio uniforme.

— E eu disse que queria ajudar. – devolve, batendo as mãos para tirar o excesso de areia e apontar para o que havia feito. – Pra sua informação existe muito mais madeira velha perto da orla da praia do que no lugar pra onde você foi.

Reviro os olhos quando vejo que Cheng conseguira pegar praticamente o dobro de madeira do que eu, feito um círculo de pedras na areia para o fogo não se espalhar e ainda conseguido fazer o fogo. Não sei se fizera tudo isso para mostrar que era totalmente independente de mim ou se fora apenas para me ajudar mesmo, porém confesso que aquilo me ferira um pouco o orgulho. Juntos colocamos a madeira que conseguimos ajuntar na fogueira e torcemos para que o fogo não se apague. Estava anoitecendo e em breve começaria a ficar mais frio. Quando percebo que o calor já é o suficiente para aquecer uma pequena parte do meu corpo me aproximo de Marinette que até então ficara encolhida encostada naquele tronco velho improvisado como banco. Seu silêncio me incomoda, tanto quanto a constatação de termos apenas dois sinalizadores de emergências para pedirmos socorro.

Respiro fundo, apoiando meus braços sobre os joelhos e olho para o céu. Estava tão estrelado quanto o céu da noite anterior.

— Estou preocupada com minhas amigas. – ela solta, abraçando os joelhos e encarando o fogo com um olhar distante. – Elas são mais que minhas amigas, são uma segunda família pra mim. Jamais me perdoaria se algo acontecesse a elas.

— A culpa não seria sua, de qualquer maneira. Nenhum de nós imaginava que tudo isso iria acontecer. – argumento, seguindo seu olhar. – Isso é um exemplo que não temos como prever o futuro Mari.

— Não. – rebate, engolindo em seco. – As vezes não queremos entender que algo está pra acontecer e só quando acontece percebemos que poderíamos ter evitado aquilo.

— O que quer dizer com isso? – lhe pergunto, virando o rosto para encarar sua expressão. Ela continua parada, parecendo pensar em contar ou não alguma coisa. – Marinette?

— Há um tempo eu recebi um bilhete. – a mesma começa, escolhendo as palavras. – Inicialmente eu pensei que fosse uma brincadeira de mau gosto de alguém, até mesmo de você. A frase que estava escrita remetia a um aviso, uma ameaça, não sei. – conta, pensativa. Estreito os olhos ao observar seu maxilar tenso. – “Estamos de olho em você.”, era o que dizia. Nada me tira da cabeça que isso tem a ver com essa perseguição que quase nos matou.

— Foi por isso que naquele dia do nada você ficou estranha quando me perguntou se era estúpido o suficiente para ficar te enviando bilhetes. – murmuro, me lembrando do dia do nosso primeiro beijo. - Você acha que a mesma pessoa pode ter mandado aqueles caras pode ter ameaçado você? – questiono, balançando a cabeça. – Quem? Porquê alguém iria querer fazer mal a você, a qualquer um de nós?

— Eu não sei Adrien. – Marinette rebate, apertando mais os joelhos e encontrando meu olhar. – Nada disso é coincidência. Não pode ser. É um fato: esse alguém que quer nos matar por algum motivo e ele sabe o que nós vamos fazer, se não soubesse não teríamos encontrado aquele barco na sua praia particular. Por isso estou preocupada. – ela continua, desviando o olhar para suas mãos. – Eu tive o mesmo pressentimento ruim quando encontrei esse bilhete e quando estava saindo de casa para vir para a cabana. De alguma forma eu sabia que poderia acontecer alguma coisa e mesmo assim eu vim pra cá.

— Mari, não teria como você adivinhar o que iria acontecer. – tento lhe contradizer, mas a mestiça balança a cabeça.

— A responsabilidade das minhas amigas estava sobre Bridgette e eu não faço ideia do que aconteceu com ela. – a morena argumenta e dá um suspiro. – Foi tudo tão rápido e... Eu... Eu mal consegui enxergar alguma coisa quando cheguei na superfície e... – sua voz começa a embargar e em nenhum momento a mesma me encara nos olhos novamente. Simplesmente começa a desabar, provavelmente esgotada por tantas emoções reprimidas daquele dia. – Ela deve estar desesperada me procurando por todos os lados...

— Vem cá. – chamo, lhe segurando pela cintura e a colocando num meio abraço no meu colo. Ela tenta limpar o rosto para não fraquejar na minha frente, mas não dou importância alguma. – Pode chorar, eu prometo não contar pra ninguém. – digo baixinho em seu ouvido, abraçando seu corpo e descansando sua cabeça debaixo do meu queixo. – Tudo vai acabar bem, acredite.

Fecho meus olhos enquanto sinto seu corpo estremecer por algum tempo, torcendo para que não fosse de frio. O fogo nos aquecia enquanto a noite começava a nos cercar, silenciosa e calma no meio de um turbilhão de pensamentos que nos atormentavam.

— Obrigado por ter voltado. – digo, quebrando a quietude que nos cercava. – Se você não estivesse lá eu teria morrido.

— Ninguém fica pra trás. – a Dupain-Cheng responde baixinho, dando uma leve fungada. – Só estava seguindo meus princípios.

Levo minha mão até o seu rosto e o viro levemente na minha direção. Seus olhos refletem a luz que nos aquece, os tornando mais brilhantes do que já eram. Acaricio sua bochecha com meu polegar e por um longo momento me contento apenas em vê-la ali, respirando, viva.

— Você salvou a minha vida. – ressalto, sentindo sua pele esquentar embaixo dos meus dedos. Não consigo deixar de tocar sua face, observando-a fechar os olhos por alguns segundos. – Poderia ter nadado até o barco da Guarda Costeira junto com Bridgette e me deixado para trás. – afirmo, sentindo o coração acelerar com tal chance que realmente poderia ter acontecido. Lhe encaro profundamente quando seus olhos se abrem. - Porque não fez isso?

— Não podia. – ela diz, diminuindo seu tom de voz. – Simplesmente não podia te deixar para trás.

— Porque não Cheng? – sussurro, encostando minha testa na sua. – Me diga a verdade.

— Porque você roubou algo que não conseguiria viver sem se te deixasse morrer. – Marinette devolve, num outro sussurro. Lhe observo confuso enquanto a mesma coloca seus dedos entre meus cabelos. – Meu coração.

Ficamos assim por longos minutos, ambos encostados na testa um do outro, abraçados como se em algum momento fôssemos virar mais um punhado daquela areia em que estávamos sentados, apenas em silêncio assimilando tudo o que acontecera. Será que eu havia entendido direito? Marinette tinha acabado de dizer que também estava apaixonada por mim ou seria apenas uma constatação errada causada pelo cansaço físico?

De qualquer modo, eu jamais entenderia aquela garota. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa ouço um som distante. Gritos e uma sirene. Afasto meu rosto do da morena por tempo suficiente para enxergar ao longe um canhão de luz vindo na nossa direção. Marinette levanta antes de mim e começa a acenar com os dois braços, tentando chamar a atenção do que parecia ser um barco. Pego os dois sinalizadores do chão e acendo um, jogando o mais alto que consigo antes do mesmo demorar um pouco de explodir. A luz do barco pisca e começa uma aproximação mais rápida.

— Eles viram a gente. – Mari comemora, agarrando meu braço com um sorriso. – Estamos salvos.

— Viu? – digo, dando um beijo em sua testa e lhe entregando o segundo e último sinalizador que tínhamos, já aceso e prestes a explodir. – Eu disse que tudo daria certo no fim.

Logo conseguimos enxergar a marca registrada da Guarda Costeira e quando consigo me dar conta estou sendo prensado num abraço de Félix, como há muito tempo não fazia. Demoro alguns minutos para retribuí-lo, mas mesmo assim, só de vê-lo bem e me salvando daquela ilha isolada já me sinto em casa novamente. Quando o mesmo se afasta de mim consigo enxergar rapidamente um resquício de lágrimas no seu rosto e uma expressão de total alívio em seus olhos. Ele respira fundo e bagunça meu cabelo, exatamente como fazia quando éramos pequenos e aquele idiota ficava me tirando a paciência.

— Nunca mais faça isso comigo de novo seu babaca. – ele reclama com a voz um pouco embargada, mas consigo ver o esforço que estava fazendo para não começar a chorar de novo. Apenas suspiro, dando um sorriso de lado e o abraço mais uma vez. – Vamos. Seus amigos estão quase arrancando os cabelos na cabana.

Uma gargalhada sai, enquanto alguns bombeiros da Guarda aparecem e me entregam um cobertor térmico. Félix me agarra pelo ombro e caminhamos para o barco onde Marinette e Bridgette já estavam nos esperando. Nossos olhares se encontram rapidamente antes de arranjarmos um lugar para que os paramédicos fizessem um rápido check-up em nós dois. Nesse tempo todo meu irmão não saira do meu lado, pelo contrário: mal piscava para não tirar os olhos de mim.

Estava usando a mesma roupa da hora do ataque: uma camisa branca e uma bermuda preta. Deveria estar com frio, mas não aceitara o cobertor oferecido. Sua prioridade agora era eu e por um momento nunca fiquei tão feliz.

***

Alya

Estávamos na estrada já a meia hora com destino a Paris. As luzes estavam apagadas e o ônibus dirigido por Gorila balançava levemente conforme desviávamos de alguns carros na rodovia, com breves clarões de faróis que entravam por algumas janelas com as cortinas abertas. A maioria estava dormindo, incluindo uma Bridgette agarrada numa Marinette e uma Kattie adormecidas, uma pendurada sobre a outra. Do outro lado do corredor um montinho de sombras denunciava Adrien dormindo numa polltrona reclinada junto de outras quatro onde estavam Plagg, Louis e Wayzz dormindo aos roncos. Duusu estava na cadeira de trás encostado no vidro do ônibus com os fones no ouvido e – pelo incrível que parecia desde que entramos juntos naquela longa viagem de volta para casa – nas últimas poltronas, lá atrás, onde as cadeiras eram maiores e provavelmente bem mais confortáveis do que já eram -, Lily dormia com um daqueles negócios de cobrir os olhos para ricos. Ao lado da loira estavam Chloé Bourgeios e aquele tal de Alex. A julgar pela posição que estavam dava para ver que aqueles dois tinham tido uma bela de uma discussão e agora estavam brigados.

Respiro fundo, caminhando na direção de onde Nino estava dormindo com um dos braços enfaixado.

Depois de termos conseguido chegar na praia e pedir a ajuda de Plagg e dos outros não demorou muito para saírem em disparada na direção onde o Iate da família Agreste era alvejado por tiros de metralhadora. O sentimento de alívio aos poucos foi substituído pelo desespero quando tivemos a notícia de que Marinette, a nossa Marinette, estava desaparecida junto do Adrien. Foram longos momentos de angústia temendo o pior, e nem mesmo a companhia da Rainha do Inglaterra nos faria ficar tão aliviadas quanto o momento que um dos barcos que saíra para procurar pelos dois voltou com ambos vivos.

Acho que nunca mais vou querer viajar de Iate outra vez.

Dou um beijo na testa do meu garanhão e me levanto, caminhando na direção das últimas três pessoas acordadas além de mim até aquele momento. Tikki falava tão baixo com o irmão mais velho dos Agreste que não contive minha curiosidade ao observar ambos se calarem quando me aproximei o suficiente. Eles pareciam exaustos e o assunto não deveria ser outro senão o ataque que haviam vivido há poucos minutos. Arqueio minha sobrancelha com a cara de surpresa que Trixx faz quando me vê de pé.

Obviamente ela queria que eu também estivesse dormindo que nem os outros. Mas... Porque? O que eles estavam falando que eu não podia saber?

— Alya. – a morena de cabelo channel e degradê exclama, fazendo o papo cessar rapidamente entre os três. – Não consegue dormir? Precisa de alguma coisa?

— Não, obrigada. – agradeço, um pouco desconfiada. Me sento na poltrona de frente para a mesma, encarando Félix e Tikki em seguida. – Na verdade, eu estou com a cabeça agitada demais para conseguir pregar os olhos.

— Bem-vinda ao clube então. – o loiro de olhos claros murmura, com um sorriso sarcástico. Reviro os olhos e arrumo os óculos que ameaçava cair do meu rosto.

— Do que estavam falando? – questiono, sem conseguir conter a curiosidade. – O que é tão importante que não podem compartilhar comigo também?

— Não comentávamos nada muito importante ao ponto de mudarmos de assunto assim, da maneira que você está dizendo. – a ruiva de olhos azuis vibrantes argumenta ao meu lado, esfregando os olhos cansados. – Apenas sobre esse incidente que aconteceu mais cedo.

— “Incidente”? – repito, lhe encarando descrente. – Aquilo foi mais é um atentado, isso sim. Eles queriam matar a gente, não fingir um assalto cinematográfico.

— Até porque, se realmente estivessem gravando alguma coisa, eles jamais entrariam na nossa praia particular sem a nossa permissão ou da marinha francesa. – Félix acrescenta, num cochicho. Ele bufa, mexendo nervosamente no cabelo. – De qualquer modo não adiantaria merda nenhuma, porque eles entrariam como entraram e desapareceriam sem deixar vestígios do mesmo modo que sumiram antes da Guarda Costeira aparecer com a polícia.

— Como assim, “desapareceram sem deixar vestígios”? – Trixx indaga, mais rápida do que eu. – Pensei que a segurança de Calanque fosse uma das melhores da França.

— Deveria ser. – Tikki comenta, dando um pequeno bocejo. – O que a polícia disse a você? – pergunta ao loiro.

— Ah, a polícia não descobriu nada, só disse que “iria investigar tudo em segredo de Estado”. – responde, amargurado enquanto cruza os braços. – Ridículo.

Encaro o chão constantemente movimentado por alguns segundos e volto a olhar na direção do irmão mais velho de Adrien.

— Então vamos investigar por nossa conta própria. – concluo, me surpreendendo com o silêncio surpreso dos três. – Eu duvido que assim que colocarmos os pés em Paris os jornalistas, fofoqueiros e repórteres vão nos deixar em paz. Fala sério, a Guarda Costeira inteira ficou em estado de alerta. Até os helicópteros foram acionados para fazer buscas. – argumento, ajeitando os óculos mais uma vez e encarando Trixx. – Ninguém vai fingir que nada disso aconteceu, muito pelo contrário. Precisamos ter uma resposta para as perguntas que eles irão fazer.

— O problema é que nós também não temos resposta alguma Alya. – a mesma responde, prendendo o cabelo curto num coque improvisado. – Sei que você quer ajudar, mas acho que devemos deixar esse assunto para a polícia.

— A polícia vai enrolar vocês para sempre, sabem disso. – rebato, apertando meu punho. – Além do mais, nós que estávamos a bordo e presenciamos tudo podemos ser a chave para resolver esse mistério. Você sabe disso Félix. – insisto, lhe encarando com um olhar suplicante. – Por favor, tenho certeza que se nós ao menos tentarmos vamos conseguir alguma coisa e...

— Trixx tem razão. – o loiro me interrompe, seriamente. Arqueio minhas sobrancelhas e me calo. – Se meter com o que não conhecemos é como entrar numa areia movediça. Quando você se dá conta de onde está e de tudo o que sabe já pode estar envolvido o bastante para não conseguir mais sair.

Um pigarreio – ou uma tossida forçada, sei lá – de Tikki chama minha atenção e desvio o olhar do Agreste tempo o suficiente para ver um clima estranho se formar entre nós. Minha confusão se estampa no meu rosto quando os três se entreolham e simplesmente ficam mudos. Meu instinto de jornalista estava apitando, fazendo minha mente gritar que tinha alguma coisa suspeita ali e sem perceber estreito os olhos, pensativa. Era apenas impressão minha ou eles realmente estariam escondendo alguma coisa de mim?

Um bocejo sai da minha boca, me lembrando por um pequeno momento que estou exausta. Foi o suficiente para a ruiva e a outra morena murmurarem que já estava tarde para todos nós.

— Tente dormir um pouco. – Félix aconselhara, se levantando e apertando os dedos com força na poltrona que estava sentado. – Assim que chegarmos vamos direto para a delegacia prestar depoimentos sobre o que aconteceu. Todos nós.

— Claro. – murmuro, ficando de pé enquanto encarava o chão e seguia para o meu lugar perto de onde Nino e Mari estavam.

— Alya. – o mesmo diz, alto o suficiente para Louis se remexer na poltrona e continuar babando onde estava. Me viro para lhe encarar, igualmente séria.

— Sim? – digo, baixo, sem quebrar nosso contato visual.

— Fique longe dessa confusão. – pede, e por um segundo penso ter ouvido um tom de súplica em sua voz. – Por favor.

— Vou ficar. – minto, procurando soar o mais convincente possível para uma garota com espírito jornalístico de 18 anos, sono e vontade de esganar alguém por esconder algo de mim.

Não olho para trás, não até estar sentada na cadeira ao lado de Nino e apoiar minha cabeça em seu pescoço, fingindo dormir. Quando abro meus olhos mais uma vez o loiro não está mais lá e ambas as garotas também não. Suspiro, sentindo o braço ferido do Lahiffe me envolver e me deixando levar pelo sono.

Eu vou descobrir o que estão escondendo. Ah, se vou.

***

Jacques

— Anda logo Laura, vamos sair atrasados por sua culpa. – lhe chamo, batendo novamente na sua porta. Olho o relógio de pulso e esfrego um dos olhos.

Era praticamente madrugada ainda, lá pras quatro e meia da manhã, mas quem se importava? O ônibus que carregava Alya e o resto do pessoal chegaria dali a pouco na delegacia do meu pai, ou seja, eu não podia perder a oportunidade para saber como é que a morena dos meus sonhos estava. Talvez aquela fosse a minha chance de me aproximar da Cesàire e quem sabe de mostrar a ela o quanto me importava com sua existência. Eu até tinha insistido para a Novaes ficar em casa depois de todo aquele esforço que havia feito para o encontro do Diego dar certo, mas ela era teimosa demais para ver que estava cansada demais para ficar horas e horas plantada naquela delegacia gelada onde o seu Achille trabalhava. Agora estávamos ali, praticamente todos nós acordados e prontos para sair ainda de noite lá fora para encontrar com nossos conhecidos.

— Você deveria parar de ser tão insuportável Olivier. – a brasileira reclama, abrindo e fechando a porta do seu quarto rapidamente. – Sério, só porque estou acordada não quer dizer que continue de bom humor.

— E quando é que você está? – brinco, lhe mostrando a língua enquanto vamos para a cozinha. Ela apenas me dá um tapão na cabeça e revira os olhos.

— Todos prontos? – minha mãe pergunta em voz alta, colocando um casaco e pegando as chaves do carro. – Laura, querida, pode pegar minha bolsa aí encima do sofá para mim?

— Claro. – a mesma diz, lhe entregando aquela coisa cheia de lantejoulas que eu havia lhe dado de presente do Dia das Mães quando tinha sete anos. – Eu liguei pro Diego também, ele disse que talvez daria uma passada lá pra ver como a Marinette estava. Podemos dar uma carona de volta pra ele?

— E você ainda pergunta Laurinha? – dona Charlotte responde, abrindo a porta com um sorriso. – Vamos, Achille já deve estar chegando com a escolta dos seus amigos.

— Escolta? – repito, caminhando junto com as duas até nossa garagem. Laura rouba meu lugar no banco do passageiro e eu reviro os olhos, sendo obrigado a sentar no banco de trás que nem uma criança. – Não acha que isso é um exagero?

— Ah, muito exagero mesmo você querer um pouco de segurança depois de ter acabado de sofrer um atentado. – Lau comenta, e eu reviro os olhos com o seu sarcásmo. – Coisa tão boba, né? Pra quê uma escolta policial?

Jogo minha cabeça no encosto do banco e fecho os olhos, ignorando a mesma por um minuto. Nosso carro começa seu trajeto nas ruas desertas e silenciosas do outro lado do centro de Paris, passando por uma Champs Èlysess com pouquíssimos carros no tráfego local. Se meu pai não tivesse me ligado algumas horas atrás dizendo que tinha sido designado para aquele trabalho que envolvia Alya eu jamais estaria ali aquela hora da manhã em plenas férias. Jamais. O que um garoto apaixonado não faz não é mesmo? Totalmente estúpido. Encaro o leve reflexo de Laura no retrovisor direito do carro. Ela não tinha motivo nenhum para estar ali, mas mesmo assim estava a caminho para apoiar as novas amigas. Bem, pelo menos ela tinha feito amizades depois do aniversário do Diego, já era um bom começo. Seu cabelo estava falhamente preso num rabo de cavalo e podia ver o sono pesando nos seus belos olhos cor de mel, lhe deixando um ar de quem não dormia bem há dias e que se recusava a continuar tentando.

Dou um sorriso de lado. Minha Laurinha magricela de aparelho ficava linda a cada dia que passava. Realmente meu pai estava certo em algo: aquela garota nos daria trabalho quando começasse a chamar a atenção de outros caras.

— Jacques, quero que você compre alguma coisa para comermos até seu pai chegar. Vá com a Laura até o mercado 24 horas que tem no fim da rua e volte o mais rápido possível para cá. – minha mãe diz, estacionando o carro no estacionamento da delegacia e puxando o freio de mão. – Ouviram?

— Sim senhora. – respondo, tirando o cinto e fechando a porta atrás de mim quando saímos do carro. Agarro a mão da garota ao meu lado e começo a caminhar na direção oposta da loira. – Como os brasileiros dizem “Vamos num pé e vortamos no outro”.

— Cuidado. – dona Charlotte alerta, olhando ao redor e entrando no prédio onde meu pai passava a maior parte do seu tempo.

Menos de cinco passos depois a brasileira ao meu lado bufa, enfiando as mãos dentro de sua jaqueta preta. O mercado 24 horas que mamãe havia me dito era mais perto do que eu imaginava: era praticamente um quarteirão dali. Na certa a maior clientela daquele lugar deveriam ser os policiais atrás de alguma coisa para comer de madrugada. Reprimo uma risada ao imaginar meu pai comendo uma caixa daqueles famosos donuts que via nos filmes americanos.

— Nós não falamos desse jeito. – a Novaes resmunga baixinho. Arqueio minha sobrancelha, balançando a cabeça.

— Falam sim. – rebato. Juntos entramos no mercado, sendo quase cegados por tanta luz que atinge nossa vista. Com a morena nos meus calcanhares vou até a seção de salgadinhos, pegando um Doritos grande e um tubo de batatinhas sabor churrasco.

— Não, não falamos. – ela insiste, agarrando um tablete de chocolate ao leite e outro branco com frutas vermelhas. – E você é um idiota por pensar assim.

— Se for o seu idiota já um bom começo. – comento, lhe lançando um sorriso pretensioso. Ela não dá um daqueles sorrisos radiantes dessa vez. – Ei, tá tudo bem Lau? Você está esquisita desde cedo.

— Não estou esquisita. – responde, desviando o olhar do meu. – Você está enxergando demais Jacques.

— É, eu tenho olhos saudáveis ainda. – digo, antes de chegarmos no caixa. Pego o dinheiro na minha carteira e observo a mesma continuar calada. – Você sabe que pode contar comigo sempre.

— Já que é assim, tenho uma pergunta pra você. – Laura solta, enquanto agradecia a moça do caixa e pegava nossas compras. Balanço a cabeça para que prossiga, mas antes de chegarmos na porta de entrada do mercado ela se coloca na minha frente. – Porque vocês, homens, ligam tanto para a aparência das mulheres? Qual... Qual o sentido dessa idiotice?

— Não ligamos só para a aparência Lau. – lhe respondo franzindo a testa. – Há vários outros quesitos que avaliamos numa garota antes de qualquer coisa.

— Ah, é? – a brasileira retruca, cruzando os braços. – Tipo o que?

— Caráter. Conduta. Essas coisas, agora vamos. – exemplifico, começando a andar e sendo parado de novo.

— Porque vocês enxergam o que está totalmente fora do alcance e não conseguem ver o que está debaixo do nariz de vocês? – questiona, balançando os braços, exasperada. – Quer dizer, qual o problema de vocês? É impressionante como nós somos iludidas com essa lábia. – a mesma reclama, dando meia volta e saindo do mercado a passos largos.

Respiro fundo e começo a correr atrás de uma Laura que parecia estar furiosa com alguma coisa que até agora eu não havia entendido direito o que era. Olho o relógio novamente. Cinco e meia da manhã. A porta da delegacia já estava começando a se encher de vans dos jornais de Paris e a brasileira estava indo naquela mesma direção a passos duros. Me adianto e me coloco a sua frente mais uma vez no que parecia ter se tornado um joguinho interno. Ela me fuzila com seus olhos de gato e gesticulo com os braços.

— O que raios você quer dizer com esse papo? – lhe indago, não conseguindo pensar em absolutamente nada naquele momento. – Será que você pode me explicar de fato o que está acontecendo Laura?

— O que é que você vê em mim? – me pergunta e pela primeira vez naquela conversa eu emudeço. – Vai, me diz, o que é que você vê em mim? Me fala alguma coisa útil depois desse seu discursozinho ridiculo de quinta.

— Que inferno garota. – resmungo, passando as mãos pelo cabelo, com raiva. – Porque estamos discutindo sobre isso? Até parece que estamos tendo uma DR, sendo que somos apenas amigos. – acrescento, vendo a morena arregalar os olhos, parecendo surpresa. – Fala sério Lau, estamos agindo igual a duas crianças, já chega. Temos coisas mais importantes para fazer, vamos. – lhe chamo, continuando nosso caminho até a delegacia.

— Claro, encontrar com a Alya e levar um outro fora dela é muito mais proveitoso e importante do que isso, tem razão. – a Novaes comenta, irônica.

Nesse momento um ônibus corta o trânsito local da avenida com várias viaturas policiais de sirenes acesas na direção contrária a que estávamos, anunciando a chegada dos Agrestes e companhia para deporem para o delegado que pegara aquele caso. Instintivamente meus olhos o acompanham, procurando por uma pessoa em específico. Alya. Tomara que ela esteja bem.

Uma tossida de Laura me faz voltar a ouví-la. Porém, dessa vez, não com ironia ou sarcasmo que há pouco dominara sua voz contra mim. Dessa vez sua voz tem uma profunda tristeza, há muito guardada e que fizera meu coração falhar antes de entrarmos de vez no Departamento de Polícia de Paris.

— Sabe, é realmente admirável que as pessoas só valorizem algo depois de estar totalmente perdido.


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