Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 14
Capítulo 14 - I Wanna Be Yours




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Segredos que eu mantive em meu coração

São mais difíceis de esconder do que pensei

Talvez eu só queira ser seu

Eu quero ser seu, eu quero ser seu

(I Wanna Be Yours, Arctic Monkeys)

 

Miranda entrou no carro, emburrada, e fechou a porta do passageiro com força. Max olhou para ela. Ele parecia bem, sem nenhum ferimento aparente, ao contrário de Rafael.

—O que foi isso? –Max perguntou. Ele não parecia mais estar com tanta raiva.

—Eu que pergunto. Você acha que tem o direito de sair batendo nas pessoas assim?

—Não. Eu fiquei nervoso. –Ele parecia até envergonhado.

—Nervoso? –Ela perguntou em voz alta. –Todos esses dias em que você tem me evitado, saindo cedo e voltando tarde, e você não se perguntou como eu estava me sentindo? Quer dizer, você pode ficar com quantas garotas quiser, e eu não posso nem olhar para outro garoto e é assim que você responde?

—Eu não fiquei com ninguém.

—Não minta. Eu vi você com aquela garota. –Miranda disse olhando para o estacionamento à sua frente.

—Não viu. Ela me perguntou se eu queria ficar com ela e eu a empurrei para Lagarto. –Max respondeu. Ele parecia calmo agora, ao contrário de Miranda.

—Não importa! Você não sabe como eu estive me sentindo todos esses dias.

—Eu sei. Me desculpe. –Max passou a mão pelo cabelo e observou Miranda. Queria pegar na mão dela, mas se controlou.

—Vamos para casa. Quer saber? Vou pegar minhas coisas e ir embora. –Ela disse e Max franziu os lábios. Ligou o carro e dirigiu sem dizer uma palavra. Decidiu deixar para conversar quando estivessem em casa.

Assim que chegaram ao apartamento, Miranda correu para o quarto e começou a jogar suas coisas dentro da mala. Max a observou.

—Pare. –Ele disse. Parecia estar sentindo dor. –Não vá.

—Qual é o seu problema? –Miranda perguntou, irada, parando no meio do caminho para por um vestido na mala preta.

—Pra onde você vai?

—Para a casa de Nath.

—Não. Fique aqui. –Max disse, indo até a cama e se sentando na beirada. –Vou melhorar, juro.

—Eu só queria entender. –Miranda disse, os olhos se enchendo de lágrimas. –Na noite em que nos conhecemos você foi tão gentil e atencioso, e depois começou a me evitar como se eu tivesse uma doença contagiosa. E agora você vem me pedir para ficar?

—Eu... me desculpe. Sou um idiota. Fiz todas essas coisas horríveis, mas... Toda vez que eu fico com você, preciso te tocar. –Ele pegou a pequenina mão de Miranda. –Preciso ficar mais perto. –Ele se aproximou, olhando nos olhos azuis profundos da garota. –Preciso... de você. –Ele disse, levemente ofegante. Ele virou a cabeça e deu um beijo entre a bochecha e o pescoço de Miranda.

—E qual é o problema? –Miranda perguntou, tocando o queixo de Max. A proximidade dele deixava-a tonta. O calor da pele dele aquecia o coração gelado dela depois de tantas rejeições, e os lábios de Max pareciam ser capazes de curar qualquer dor com beijos suaves. Ela levantou o rosto dele de leve e viu que os olhos de Max estavam vermelhos. Ele sofria tanto quanto ela quando não estavam juntos.

—Você não percebe? Nós temos quase cinco anos de diferença. Você é rica e eu sou um garçom bêbado qualquer. Ninguém vai aceitar se a gente ficar junto.

—Quem liga? –Miranda tinha que ficar na ponta do pé para olhar nos olhos de Max. Ele era tão lindo... –Você sente meu coração? Ele bate mais rápido quando estou com você. Eu gosto de absolutamente tudo em você, suas tatuagens, sua voz, seu toque. Não me importo com o resto. Nem com os outros. –Ela sussurrou, e Max fechou os olhos, encaixando a cabeça na curva do pescoço dela. Ela cheirava à baunilha.

—É uma merda você ter se apaixonado por um bosta como eu. –Max disse.

Miranda acariciou os cabelos curtos de Max, e desceu o dedo pela nuca dele, onde um sol tatuado se escondia sobre a camisa preta. Deu um beijo perto da orelha dele, e sentiu quando os pelos do rapaz se arrepiaram. –Venha aqui.

Ela se soltou de Max por um instante e se sentou na cama, indicando que ele deveria se deitar. Max deitou-se com a cabeça nas pernas dela, parecendo debilitado. Miranda via a casca que ele havia construído ao redor dele se romper, deixando que ela entrasse. Ela passou os dedos pelo cabelo dele continuamente.

—Me desculpe. –Ele disse baixinho. Miranda sorriu. –Você ainda vai embora?

Ela ficou em silêncio por alguns instantes. Agora Max não parecia o homem que a deixava sozinha todas as noites, nem o animal que havia espancado Rafael na festa. Parecia um garoto perdido.

—Não. Se você me aceitar de verdade. Se me acordar antes de ir ao trabalho e voltar mais cedo. Se passar alguns fins de semana livre comigo, parar de dormir no sofá e passarmos a ser um casal de verdade, eu ficarei.

—Um casal. –Max repetiu, como se estranhasse a palavra, mas gostasse de como ela soava mesmo assim. Ficaram alguns instantes em silêncio. –Você ia mesmo ficar com aquele cara?

—Rafael? Acho que sim. Mas ele não faz meu coração bater mais rápido como você.

—Não queria que você o beijasse.

—Eu percebi.

—Porque eu sei que você nunca beijou ninguém. –Max sentou-se de frente para Miranda. –Eu queria ser o primeiro.

Max olhou nos olhos de Miranda e se aproximou. Ela sabia o que iria acontecer, mas não estava nervosa. Era como se o beijo fosse inevitável, e os dois souberam que iria acontecer no momento em que se conheceram. Os lábios de Max eram quentes e macios, e Miranda sentiu o calor invadi-la logo depois. Passou as mãos ao redor do pescoço dele e Max a trouxe para mais perto de si, fazendo com que ela se sentasse em seu colo. Existia uma eletricidade inexplicável entre os dois, e Max estava adorando. Tinha se segurado por muito tempo.

Miranda soltou Max e abriu os olhos. Ele estava sorrindo para ela. Ela exibiu um sorriso tímido, e Max colocou as mãos ao redor do rosto dela. –Fique comigo. –Ele sussurrou. Desfaça sua mala. Vou ser o melhor namorado.

Miranda esteve esperando por isso desde que conhecera Max. Namorado. Ela não sabia com certeza o que tinha feito ele mudar de ideia e assumir que também estava apaixonado por ela: se fora o choque de encontrá-la naquela festa, ou o fato de Miranda quase ter ficado com outro garoto, a ameaça dela de ir embora, ou a discussão entre os dois. Mas ele estava sorrindo para ela com aquele ar que não sabia explicar o que era, um misto de selvageria e carinho, como se aquele sorriso se aplicasse somente à ela. Miranda abraçou o pescoço de Max, e os dois se deitaram na cama. Max apertou a cintura dela. –Namorado. –Ela repetiu.

—Isso. Você quer namorar comigo? –Max perguntou, com a voz rouca. Ela sorriu. Era o que mais queria.

 

Max dormiu bem pela primeira vez em semanas. A dor nas costas tinha desaparecido, ele não tinha acordado no meio da noite por causa da luz que passava pela janela da sala, nem por causa dos barulhos que vinham da rua. Miranda ainda estava dormindo, enrolada em um cobertor azul. Max sentiu-se o homem mais feliz do mundo. Ele passou os braços pela cintura da garota e a trouxe para mais perto de si, delicadamente, para não acordá-la. Aninhou-a contra seu peito e beijou de leve o pescoço dela. Uma parte de Max queria que ele se afastasse, dizendo que ele não era digno de ficar com Miranda, que aquilo iria dar uma merda gigantesca, e que ela acabaria machucada por causa dele, mas Max não se importava mais com nada daquilo. A sensação de poder tocá-la, beijá-la, sentir os dedos deslizando pelo cabelo macio de Miranda, poder sentir o agradável cheiro de baunilha que emanava do corpo dela, valia a pena todo o resto. Ele não soube explicar como havia conseguido se manter no controle durante tanto tempo. Ele não iria perdê-la agora. Definitivamente. Miranda abriu os olhos, azuis como o oceano profundo, e se aconchegou no peito de Max. Podia sentir que ele estava sem camisa, os músculos do peito e do braço faziam pressão na pele macia dela. Eles não haviam transado. Conversaram por alguns minutos, mas Miranda simplesmente adormeceu nos braços de Max. Ele apagou as luzes do apartamento, tirou a camisa que estava vestindo, por que ela ainda exibia alguns vestígios do sangue de Rafael, e se deitou ao lado de Miranda, com um imenso sorriso no rosto.

—Bom dia, meu bem. –Max disse perto do ouvido de Miranda, tirando uma mecha de cabelo do rosto dela, e colocando-o atrás da orelha.

—Bom dia. –Ela respondeu, corando.

—O que você quer de café da manhã? –Max perguntou, soltando Miranda. Ela olhou para as roupas, para o vestido azul que ainda estava colado no corpo, e franziu a testa.

—Não acredito que dormi com essas roupas. –Ela disse, olhando para Max. Ele vestia só uma bermuda preta.

—Eu gostei desse vestido. –Max comentou, observando Miranda se levantar da cama para pegar uma camiseta dele no armário. –Fiquei muito surpreso quando te vi vestindo isso na festa ontem.

—Ele é de Nath.

—Ela que te levou lá?

—Sim. –Miranda gritou, entrando no banheiro para se trocar. Demorou apenas um minuto para abrir a porta novamente e jogar o vestido azul em cima de sua mala aberta. –Ela disse que ia ser bom para mim. Quer dizer, ela achava que você estava apenas me usando.

Max franziu a testa e se levantou. –Eu não estava. Eu estava me controlando para ficar longe de você porque eu sou um bosta.

—Você não é. –Miranda disse. –Quer dizer, na maior parte do tempo. –Acrescentou, com um sorriso.

 

***** 

Max olhou com o canto de olho para Miranda, uma bolinha encolhida no sofá. Ela estava abraçando os joelhos e espiava a televisão com um olho só. Ele sorriu. Miranda queria assistir a um filme, e disse que Max podia escolher qual seria. Ele, logicamente, escolheu um de terror. Não porque ele adorava esse tipo de filme, quer dizer, ele realmente gostava deles, mas principalmente porque assisti-los com garotas era a melhor coisa. Miranda deu um gritinho com algo que aconteceu no filme, e Max se segurou para não cair na risada. Ele nem estava prestando atenção ao que passava na televisão. Mantinha os olhos fixos nela, e um sorriso permanente no rosto. 

—Está com medo? -Ele perguntou. Max estava sentado em uma das extremidades do sofá, e Miranda estava ao lado dela.

—Não. -Ela disse, com a voz esganiçada. Max riu.  

—Estou vendo.  

—Você nem está assistindo!  

—Não mesmo.  

—Então por que colocou esse filme?  

Max deu de ombros. -Não sabia que você não gostava de filmes de terror. 

—Não é que eu não gosto. É que eu… 

—Tem medo?  

—Cale a boca. -Ela disse baixinho. Max sorriu e se aproximou de Miranda, passando os braços ao redor dela. 

—Meu bem, vou te proteger de qualquer coisa. Assaltantes ou fantasmas. Podem vir todos. 

Miranda olhou nos olhos negros de Max e sentiu o coração bater com força no peito. Max era maravilhoso, mesmo com as falhas, e as escolhas erradas. Os olhos eram como imensos buracos misteriosos, que faziam Miranda ter vontade de entrar e desvendar cada minúsculo pedaço da história deles; o sorriso fazia com que todo o coração dela derretesse; os beijos eram como acender pequenas chamas em seu corpo; os braços a faziam se sentir segura, e, ao mesmo tempo, livre para fazer qualquer coisa, pois sabia que ele estaria lá, amparando-a. -Obrigada.  

Max a olhou com uma sobrancelha erguida. -Por…?  

—Por tudo. Quer dizer, você está me hospedando na sua casa e não pede nada em troca. Eu sei que a conta de água aumentou, porque, bem, meu cabelo é muito mais comprido que o seu. E agora você tem que alimentar duas bocas, além disso… 

Max a calou com um beijo estalado. -Não precisa agradecer por nada. Como eu posso explicar? Eu sou muito mais feliz com você aqui. Infinitamente mais feliz. 

Miranda adorava quando Max expressava o que sentia por ela em palavras. Ele não fazia isso com muita frequência. Ela estava completamente apaixonada por Max, e sabia que ele sentia o mesmo por ela. Miranda se aproximou de Max, colando os lábios nos dele. 

Max abraçou Miranda e a trouxe para mais perto. Ele ardia de desejo pela garota, e já fazia mais um mês que ele não transava. Claro, ele sabia que iria demorar para que Miranda aceitasse transar com ele. Ela era muito conservadora nesse aspecto, e não sabia direito como as coisas funcionavam entre casais. Tinha demorado para ele a convencer a deixar colocar a língua dentro da boca dela enquanto eles se beijavam. O hálito dela era de cereja e açúcar. Ele sentiu os dedos de Miranda acariciarem seu cabelo e separou as bocas para que pudesse beijar seu pescoço. Ali, baunilha e flores. 

Miranda tinha vergonha de admitir que seu corpo quase entrava em combustão quando Max a beijava no pescoço ou perto da orelha, enquanto os dedos encontravam a abertura da camiseta comprida que ela usava e passavam suavemente nas costas dela. Miranda estava vestindo uma das camisetas pretas de Max, com pequenos desenhos fluorescentes na frente. Ele estava só com uma bermuda jeans com bolsos. Ela colocou as mãos na barriga dele, nos músculos saltados. 

Max acariciou os cabelos de Miranda e ela o olhou com um sorriso no rosto. -Você não quer mais assistir ao filme né? -Ele perguntou.  

Ela balançou a cabeça negativamente. -Não. Eu não gostei desse. Da próxima vez, eu que vou escolher. 

—E o que você quer fazer agora? -Ele perguntou, beijando o rosto da namorada. 

—Vamos sair.  

—Agora? São dez e meia. –Ele disse, meio desapontado.

—Temos que jantar. 

Max coçou a cabeça, pensativo. Era verdade. Eles iriam fazer as compras no dia seguinte, e não havia nada que pudessem cozinhar. -Tudo bem. Aonde você quer ir?  

Miranda saiu do colo de Max e arrumou a camiseta no corpo. -Tanto faz.  

—Drive-thru de fast food?  

Miranda fez um bico. -Isso não parece muito… 

—Aí a gente nem vai precisar sair do carro. E você não vai precisar trocar de roupa. 

—Posso ir assim?  

—Pode. -Max se levantou e colocou a camiseta preta jogada do outro lado do sofá. -Só coloque uma blusa comprida. Não quero que ninguém veja suas pernas no elevador. 

Max foi até a porta do apartamento e colocou a chave do carro e a carteira no bolso da bermuda. Sentiu os braços de Miranda abraçarem-no por trás. -Gosto quando você tem ciúmes de mim. 

—Ah é? Até eu me meter em uma briga e você acabar beijando o outro cara né?  

—Foi uma exceção. Quer dizer, ele não tinha feito nada de errado. 

Max colocou os braços sobre os braços dela. -Qualquer um que chegar perto de você já está fazendo coisas erradas. -Disse suavemente.  

Miranda deu uma risadinha e o soltou. Corre até o quarto dos dois e voltou vestindo um longo casaco, que ia até o meio da coxa. -Vamos logo. Estou com fome. 

 

Miranda colocou os pés cruzados sobre as coxas de Max. Eles tinham estacionado o carro perto de um posto de gasolina iluminado, e estavam comendo hambúrgueres e batatas fritas com ketchup. 

O Natal estava chegando. Isso queria dizer que estava chegando à época em que Max voltava para a fazenda e revia seus parentes. Ele estava indiferente àquilo, mas Miranda estava muito ansiosa. 

—E se seus pais não gostarem de mim? -Ela perguntou, preocupada. 

Max estava deitado no sofá ao lado de Miranda, abraçando-a pela cintura, as pernas de ambos entrelaçadas. -Eles vão gostar de você. Você não devia se preocupar tanto. 

—Mas eles são seus pais!

—Olhe, eu não estou preocupado com a possibilidade de seu pai não gostar de mim. Porque isso já é uma certeza.

Miranda não contestou. Sempre que eles falavam sobre o pai, ela se estressava ao pensar que uma hora ou outra teria que ligar para ele e dar notícias. Teria que voltar um dia. Quando pensava sobre os dias no hotel, sentia uma pontada ao se lembrar de Victor. Não falava com ele há semanas. Ele tinha dito que iria levá-la para o aniversário de quinze anos da irmã em fevereiro, mas já era quase Natal, e ela sabia que aquela promessa não iria se concretizar.

—Notícias de Thomas? –Max perguntou, dando uma grande mordida em seu hambúrguer.

—Ele não tem falado com Isa, e anda meio triste com isso.

—Mas ele vai revê-la em breve.

—Eu sei. –Miranda sorriu e apertou a mão de Max. Ela sabia de toda a história. Antes de Miranda chegar, Max tinha comprado uma passagem de avião para os Estados Unidos para passar o Natal com Isa, já que ela iria ficar alguns dias sozinha por lá. Mas depois que Miranda apareceu, ele chegou a conclusão que não podia ir embora e deixar Miranda para trás, principalmente depois que os dois começaram a namorar. Então ele havia entregado a passagem para Thomas poder ir passar o Natal ao lado de Isa, e quem sabe, finalmente se reconciliar com a garota. –Você falou para os seus pais que eu também vou para lá?

—Na verdade não. Acho que vou fazer uma surpresa. Nunca levei uma garota para o sítio.

Miranda voltou a ficar nervosa. Max sorriu tranquilamente e ofereceu uma batata frita embebida em ketchup para ela. –Quer?


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