Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 13
Capítulo 13 - Cigarette Daydreams


Notas iniciais do capítulo

Oi! Há quanto tempo! Sei que sumi por mais dias que o habitual, mas agora estou tentando voltar ao ritmo normal de escrita e postagem, não se preocupem. Como estão sendo as férias de vocês? Espero que tão boas quanto as minhas. Bem, boa leitura e beijinhos. Volto em breve.



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Devaneios de cigarro

Você tinha apenas dezessete

Voz suave com uma tendência maliciosa

Quase me deixou de joelhos

    (Cigarette Daydreams, Cage The Elephant)

 

As coisas não tinham progredido muito. Max geralmente agia frio com Miranda, mas de vez em quando se permitia ser carinhoso, apenas para se sentir culpado logo depois. Estava passando menos tempo em casa. Miranda deitou-se no sofá e colocou o rosto no travesseiro de Max. Inalou o cheiro do perfume dele e suspirou. Ainda não tinha descoberto qual era o cheiro daquele perfume. A rotina continuava a mesma. Ela acordava, depois que Max ia embora, comia o café da manhã que ele fazia para ela, limpava o que podia na casa, saía para falar com os simpáticos moradores e vendedores da vizinhança, voltava para almoçar, ficava a tarde toda na internet a procura de curiosidades, fazia a janta e torcia para que Max chegasse cedo, coisa que raramente acontecia. Naquela noite, estava claro que ele não chegaria. Ela se perguntava o que Max fazia quando estava fora. Se os amigos dele sabiam sobre ter uma garota dormindo no apartamento dele há algumas semanas. Imaginou que não. O telefone tocou e Miranda correu para atender, esperançosa.

—E aí, garota? –Nath falou animada do outro lado.

—Oi Nath. –Miranda respondeu, sentindo algo murchar dentro dela.

—Que voz de morta é essa? Meu Deus. Não me diga que você tá choramingando por causa de Max de novo. Olha, sei que parece que ele gosta muito de você, mas...

—Ele gosta mesmo. –Miranda respondeu. –Ontem mesmo ele me abraçou e eu ouvi a batidas aceleradas do coração dele.

—Isso é bem estranho. Acho que ele só vai atrás de você quando tá carente. Você é tipo um cachorrinho, sabe?

—Não sou um cachorrinho.

—Tudo bem. De qualquer forma, finalmente surgiu a oportunidade que nós estávamos esperando.

Miranda já sabia o que era. –Uma festa?

—Sim! Uma grande festa.

Miranda tinha ficado próxima de Nath, por motivos que as duas melhores amigas dela, Isa e Evey, estavam viajando, e ela estava sozinha naquela cidade. Miranda apreciava a companhia dela.

—Eu te dou meia hora para se arrumar. Vou passar aí com um táxi.

—Não sei...

—Ah, pare. Max está aí?

—Não.

—Ele só vai chegar de madrugada. Vamos nos divertir um pouco. Se você não gostar, prometo que te levo de volta para casa.

Miranda cedeu. –Tudo bem. Meia hora?

—Isso. E nada de vestidos extravagantes e com muitas camadas. Use aquele azul que eu te dei. Meia hora. Beijos.

Nath desligou. Miranda olhou para o relógio. Dez da noite. Max não iria chegar tão cedo mesmo. Suspirando, ela pegou o vestido azul justo com algumas tiras finas nas costas e entrou no banheiro do quarto de Max, que já tinha virado quarto dela há tempos.

O vestido lhe caía bem. Era azul celeste e realçava os olhos dela. Miranda não tinha muitas curvas, mas elas ficavam bem com o vestido. Colocou sapatos pretos de salto médio e deixou o cabelo solto, os volumosos cachos perfumados e chamando atenção. Nath chegou pontualmente meia hora depois de desligar o telefone. A festa era em uma espécie de salão baixo e abarrotado de gente. Estava escuro, mais escuro do que a primeira festa que Miranda fora, e ela mal conseguia enxergar as pessoas perto dela. Muitos já estavam bêbados, e assim que elas chegaram, Nath correu para a pista de dança. Ela gostava mesmo de dançar. Miranda olhou ao redor, absorvendo os detalhes do local. Não conhecia a música que estava tocando, mas gostou da sensação que lhe causava, como se ela não pudesse ficar parada enquanto a ouvisse. Miranda não sabia se iria beber. Não queria muito, mas sabia que Nath tinha esse costume. Iria decidir depois. Ela dançou sozinha discretamente, enquanto andava pela festa inteira.

Max bebeu da latinha de cerveja e massageou as têmporas. A cabeça dele estava latejando de leve, e ele não sabia se era fome, a falta de luz ou a música alta. Podia ser tudo isso. Lagarto estava dançando loucamente ao lado dele, e Pedro parecia entediado, mexendo no celular apoiado no balcão.

—Aí. –Lagarto os chamou. Os dois olharam para ele. –Aquela garota não era amiga de Luke? –Ele apontava para uma garota loira, que dançava balançando o cabelo na pista. Max se lembrava dela. Se chamava Nathália, e era amiga próxima de Thomas. Ela parecia estar se divertindo. –Ela é bonita.

—Ela tem namorado. –Pedro disse. Tinha voltado a olhar para o celular e segurava um copo de plástico entre os dentes.

—O que tem nesse teu celular? –Lagarto indagou. –Namorada nova? –Ele riu alto, como se tivesse contado uma piada muito engraçada.

—Idiota. Estou vendo se as notas já saíram no sistema. –Ele respondeu, atualizando a tela do celular. Max revirou os olhos. Estava entediado. Queria ir para casa, jantar com Miranda e assistir um filme ao lado dela, mesmo sabendo que quando chegasse lá, acabaria dando uma resposta fria para ela e se deitando sozinho no sofá. Ele era um babaca. Um completo babaca.

Miranda viu Max de pé, com cara de poucos amigos perto do balcão de bebidas. Estava carrancudo, com os braços cruzados sobre o peito e as sobrancelhas cerradas. Miranda queria ir até ele, pegar suas mãos e encostar a cabeça em seu peito largo, para tirar a carranca de seu rosto. Viu dois garotos ao lado dele, conversando e, ocasionalmente, se batendo. Ela sorriu.

Uma garota que ele não conhecia tocou no braço dele de leve e sorriu para Max. Ela tinha cabelos castanhos grossos e muito rímel nos cílios compridos. Ela perguntou alguma coisa para Max, ainda segurando o braço dele, ma ele não conseguiu escutar. Se inclinou e indicou o ouvido, para que ela falasse mais perto.

—Quer ficar comigo? –Ela perguntou, falando alto dessa vez.

Miranda observou a garota desconhecida ficar nas pontas dos pés para falar com Max. Ele fez uma careta de desentendimento e se agachou para ouvir melhor. Os lábios carnudos da garota estavam tão próximos da orelha dele que Miranda ardeu de ciúme. Bem, era isso que Max fazia quando não estava em casa. Ela se virou e deu as costas para Max antes que ele a visse. Foi atrás de Nath, passando por uma multidão de pessoas até chegar na amiga, que dançava no meio da pista.

—Nath! –Ela gritou.

—Oi, Mi! E aí? Tá gostando? Bebeu alguma coisa?

—Não, eu...

—Aqui. –Nath colocou um copo na mão de Miranda e sorriu. Ela parecia feliz, parecia estar curtindo a festa, e Miranda não teve coragem de pedir para irem embora. Nath esteve esperando muito por uma festa bacana para levar Miranda.

—Tudo bem. –Miranda respondeu, segurando forte o copo.

—Quer dançar comigo?

—Tudo bem. –Ela repetiu, e deixou que Nath pegasse as mãos dela e a guiasse, fazendo passos estranhos com os pés e os braços. Mesmo assim, era algo bonito de se ver. Miranda sorriu, tentando se esquecer da imagem da garota próxima de Max, e deixou que a música, e Nath, e guiassem.

Depois do que pareceu umas duas músicas, alguém tocou no ombro de Miranda. Ela estava pronta para confrontar Max, mas quando se virou, viu um garoto um pouco mais velho que ela sorrindo. No escuro ela não conseguia enxergá-lo direito, mas viu

que ele tinha olhos estreitos, de origem asiática, era alto e magro, um rosto quadrado, cabelos escuros penteados para cima com gel, e covinhas nas bochechas.

—Oi. –Ele disse para ela, alto por causa da música.

—Oi. –Ela respondeu, meio assustada. Olhou para Nath, que sorria para ela também.

—Ela é solteira. –Nath gritou para o garoto, e saiu de perto dos dois. O garoto desconhecido olhou achando graça para Nath, e voltou a se concentrar em Miranda. Ele não tinha nenhum piercing ou tatuagem visível, não tinha ombros largos e não tinha feito o coração dela bater mais rápido de imediato. Mas era bonitinho.

—Meu nome é Rafael. –Ele disse. –E o seu?

—Miranda. –Ela respondeu. O garoto indicou a bebida dela com a cabeça.

—O que cê tá bebendo?

Ela olhou para o copo que Nath tinha lhe dado. –Não sei também. Minha amiga me deu, mas eu não faço ideia do que seja.

Ele sorriu. –Eu tava vendo você dançar. Tu é muito bonita.

—Ah. Obrigada. –Ela disse, sem jeito. Não tinha ideia do que estava fazendo. Ele se aproximou um pouco mais de Miranda e ela ficou nervosa. 

—Você, sei lá, toparia ficar comigo? -Perguntou, parecendo nervoso também. Talvez ele não fosse tão mais velho que Miranda. Dois anos, no máximo. 

Miranda não sabia se deveria aceitar. Nath parecia aprovar a ideia. Mas ela nunca tinha ficado com alguém antes, nunca tinha beijado um garoto, nem mesmo Max, por mais que morresse de vontade de fazê-lo. E como Max reagiria? Bem, ele não parecia se importar muito, pela maneira como estava agindo com aquela garota minutos antes.

—Tudo bem. -Miranda disse por fim. Ela não sabia o que esperar, mas podia ser uma boa experiência. O que ela tinha que fazer? Ele iria aproximar-se e beijá-la? Ela tinha que se mover? Onde tinha que colocar as mãos? Rafael sorriu e pegou a mão dela, guiando-a por entre a multidão de pessoas. 

—Aonde vamos?  

—Para um lugar melhor. -Ele respondeu, apontando com a outra mão para um dos cantos do salão, onde outros casais estavam se beijando encostados na parede. Miranda sentiu o suor nas costas. Será que Rafael podia sentir que a mão dela estava suada também? Mas quando faltavam apenas alguns passos para eles chegarem no canto, os olhos dela cruzaram com um certo par de olhos negros.

Max demorou um segundo para entender o que estava acontecendo assim que viu Miranda. Bem, obviamente ela estava naquela festa. Um garoto segurava a mão dela e eles estavam indo para um dos cantos, onde várias pessoas se beijavam quase se engolindo. Ele demorou mais um segundo para chegar onde os dois estavam, e empurrou o garoto japonês para trás, para longe de Miranda.

—Mas que porra...? –Ele perguntou, se recuperando e olhando Max de cima a baixo. Ele era um pouco mais alto que Max, mas claramente mais fraco.  Mesmo assim, não se deixou intimidar. –O que tu tá fazendo?

—Rala daqui. –Max disse em uma espécie de grunhido. Sentiu mãos pequenas o empurrarem de leve para frente. Miranda olhava para ele em um misto de medo e raiva.

—Rala você. –O garoto retrucou. –Tá maluco? –Ele olhou feio para Max e estendeu a mão para Miranda de novo. Ela hesitou, olhando para Max. Então ela se lembrou de todas as noites que Max havia se recusado a voltar para casa, e imaginou quantas garotas ele havia beijado nesse meio-tempo, enquanto ela estava sentada naquele sofá, esperando por ele. Franziu a testa e pegou a mão de Rafael. –Vamos sair daqui.

Max estava louco de ciúme. Ele não sabia o que Miranda estava fazendo naquela festa, nem o que ela estava prestes a fazer com aquele garoto desconhecido. Ela parecia estar brava com ele, e Max sabia que tinha dado um milhão de motivos para ela estar assim, mas ficar com outro garoto não parecia ser a melhor maneira de resolver isso, pelo menos para ele. Max estalou o pescoço para os dois lados e não deu outro aviso: foi como um raio para cima do outro cara, desferindo um soco no rosto dele antes que ele percebesse o que estava acontecendo. Algumas pessoas perto deles gritaram e se afastaram, e alguns casais pararam de se beijar para ver a briga. Rafael foi parar quase encostado na parede, com a mão no rosto. Olhou para Max com fúria. Miranda foi até Rafael, desesperada. Ela não queria que a noite acabasse assim.

—Você está bem? Ai meu Deus. –Ela disse, se agachando para tentar enxergar melhor o rosto do garoto.

—Estou. Não foi tão forte. Quem é esse cara? Você o conhece? –Ele perguntou, vendo Max ir até ele novamente. –Mas que merda!

—Para! –Miranda gritou para Max. Ela não sabia se ele tinha bebido, mas ele parecia furioso.

—Sai de perto dela, seu bosta. –Max falou, sombrio, para Rafael, que estava se levantando.

—Ela tá contigo? Porque ela aceitou me dar uns beijos. –Rafael provocou, e se agachou no momento em que Max tentou lhe dar outro soco. Ele empurrou Max para trás, agarrando na camisa dele, e os dois foram parar no chão, quase derrubando um garoto bêbado que passava por ali. Agora eles tinham mesmo conseguido chamar atenção da festa. Miranda não sabia o que fazer. Será que toda vez que Max saía, ele se metia em confusão? Rafael deu dois socos rápidos no torso de Max, e Miranda sentiu como se tivesse sido nela. Ficou sem ar e continuou de joelhos no chão, incapaz de fazer alguma coisa. Alguns garotos da festa tentaram tirar Rafael de cima de Max, e Max aproveitou para desferir um chute no peito de Rafael. Os garotos soltaram Rafael com o susto, e Max deu um soco por baixo, bem no queixo dele. Finalmente conseguiram separar os dois, e Miranda correu para Max, que estava gritando para que o soltassem.

Max viu Miranda indo até ele e empurrou os dois garotos que o seguravam para o lado, abrindo os braços para abrigar Miranda em um abraço, ele tinha certeza que ela estava assustada. Mas ela esmurrou o peito dele algumas vezes, relativamente fraco.

—Seu idiota! O que você estava fazendo? –Ela gritou, mas Max não a soltou do abraço.

—Vamos sair daqui.

—Não quero sair com você. –Ela disse, mas os dois sabiam que ela estava mentindo. –Tenho que ver como ele está.

—O babaca?

—O babaca é você. Me solte. –Miranda disse, passando por baixo dos braços dele e indo até Rafael, que estava deitado, com algumas pessoas ao redor. Ela abriu espaço entre as pessoas e se agachou novamente. Ele tinha sangue escorrendo da boca, e respirava com dificuldade.

—Me desculpe. Mil desculpas. –Ela disse para Rafael, que olhou para ela confuso.

—Você não fez nada. –Ele tentou falar, cuspindo sangue para o lado oposto ao dela. Ele se sentou com a ajuda de alguém que ela não enxergava. –Foi culpa daquele lunático. Foi mal. Não posso ficar com você hoje. Tenho que ir para o hospital. Acho que perdi um dente. –Ele disse, limpando o sangue da boca com o braço.

—Espero que você fique bem. Sinto muito. –Miranda repetiu. Ela sabia que Max havia causado aquilo por causa dela.

—Relaxa. –Ele disse. Sorriu. Miranda não viu nenhum dente faltando de imediato, mas todos estavam tingidos de vermelho. –Não vou ganhar nem um beijo?

Ela olhou para Max, que estava falando com Nathália, um pouco afastado de onde eles estavam. Ele estava com os braços cruzados, e não tirava os olhos de Miranda. –Acho que ele não deixar.

—Ele é teu namorado? –Rafael perguntou baixinho.

—Não. –Ela respondeu. Rafael pareceu confuso, mas não perguntou mais. –Mas ele está me esperando. Desculpe por tudo. Estraguei sua noite. –Miranda disse, desviando os olhos de Max por um segundo para se inclinar e dar um beijo suave na bochecha de Rafael. Ouviu o rosnado de Max e não esperou para ver a reação do outro garoto, apenas se levantou e correu para Max e Nath.


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