Cat Twins escrita por Jessmee


Capítulo 3
Pesadelo


Notas iniciais do capítulo

Sabe o que faz dos pesadelos algo bom? É que eles não são reais.
Até os pesadelos podem ser melhor que a realidade.



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Gritos, gemidos de dor, um barulho que me lembrava meus dias de treino com o papai... espadas. Eu estava encolhida, deitada na lama, chovia forte e tinha plantas em cima de mim.Estava imóvel, não sentia meu corpo ali. Estava muito escuro, não via nada, mas foi clareando conforme eu fui me acostumando com a luz fraca do luar. – Pai! – Tentei gritar ao ver meu pai de pé, no meio daquela briga. Ele segurava uma espada, mas nem de longe ele parecia um tipo de cavalheiro. Usava uma camisa larga e uma calça de moletom, seu pijama favorito. E a espada não era a dele, a que ele me dava aulas. Era uma espada fraca, enferrujada e fina. Inútil. Mas não nas mãos do papai, haviam corpos caídos em volta dele, ele estava indo bem. – Ma... mãe... – Eu não tentei gritar dessa vez, na verdade, nem consegui pronunciar direito na minha mente. Um dos corpos caídos, era do da minha mãe. Bem atrás do papai. Estava estirada no chão, com as mãos na barriga, vi seu sangue se misturar com a lama e as poças que a chuva fazia. Mamãe! Tentei gritar dessa vez, mas como quando tentei por papai, minha voz não saiu, nem mesmo um sussurro. Tentei me levantar, mas não sentia meu corpo. Eu só podia observar e rezar. A camisola branca que minha mãe tanto amava e que eu amava vê-la vestindo, não era mais branca de forma alguma. Papai caiu. Bem ao lado da mamãe. Mais uma vez tentei gritar, levantar, me debater, chamar a atenção daqueles monstros para mim. Mas não pude. Que inútil que eu era, de que serviu tantos anos de treino? Eu era inútil.
                Alguns relâmpagos iluminaram o rosto dos assassinos. E mais uma vez eu tentei gritar. Eram rostos familiares, não lembrava os nomes, mas já os havia visto. Eles eram dos nossos, eram da minha raça. Da minha e da mamãe. Eram Felinos. Como podiam? Não era esse o maior crime? Ter o sangue da própria espécie em mãos? Como podiam? Meus pais soltavam abafados gemidos de dor, papai tentou se levantar para lutar, mesmo com a espada quebrada. Mas eles não deixaram. Pisaram na barriga do meu pai, o chutaram. Papai não gritou de dor nenhuma vez, apenas alguns baixo gemidos algumas vezes. Ele pediu para deixarem mamãe a salvo, pediu para pouparem a vida dela. Mas eles cuspiram nos meus pais e chamaram minha mãe de ‘traidora nojenta’ e meu pai de ‘humano idiota’. Mais uma vez, tentava sair daquele estado, mas era inútil, eu era uma inútil. Eles não tiveram um pingo de piedade, não decapitaram meus pais, não acertaram seus corações, nada. Apenas continuaram os machucando no chão, o sangue deles espirrava, jorrava em mim, até que eles estavam praticamente mortos. Então um deles levantou minha mãe e a jogou em cima do meu pai. Os dois não podiam se mexer mais, apenas tinham os olhos mostrando toda a dor que sentiam. Os monstros foram embora e papai e mamãe me olharam. Pela ultima vez, eles sabiam que eu estava ali. E mesmo com toda a dor, mesmo todos os machucados e praticamente sem mais sangue no corpo, eles sorriram. E se foram, sorrindo. Mesmo com aquela morte horrível, mesmo naquele lugar horrível, eles sorriram. Eu fiquei os olhando, sem acreditar no que estava vendo. Meus pais, ensangüentados dos pés a cabeça, e sorrindo. Como se apenas estivessem tirando um cochilo depois do almoço. Tudo ficou obscuro novamente.”

                Eu estava no banheiro ainda, Kriis segurava meu pulso e eu estava imóvel. Kriis soltou e eu corri, corri para o quarto deles e abri a porta com toda a força que tinha. Eles não estavam lá. A luz estava acesa, o quarto estava todo quebrado, destruído. Tudo, não havia nada inteiro, as janelas estouradas, as cortinas no chão, a cama despedaçada. Tudo aquilo aconteceu e eu não vi nada? Não ouvi nada? E Kriis... Kriis assistiu... tudo? Eu cai ali mesmo, de joelhos, tremendo e sentindo meu rosto se encharcar de lagrimas silenciosas. Tudo girava, não tinha chão, não tinha ar, meu coração? Não sabia o que era isso naquele momento. Senti um par de mãos nos meus ombros. Kriis.

                — Eu também não ouvi nada, Melmel. – ela disse apenas, se jogando no chão atrás de mim e passando os braços em volta do meu pescoço, me abraçando e encostando a cabeça nas minhas costas. Chorando como eu.
                - Mas você viu... -
               — Não Melmel, eu não estava lá. Eu só lembro de ver aquelas coisas e acordar na cama... toda suja. Melmel, o que aconteceu? Irmãzinha... eu to com medo. – Ela dizia e desmoronava atrás de mim, soluçando, ficando sem fôlego de tanto soluçar.
                E eu apenas apertei os braços dela com minhas mãos, e fiquei chorando em cima deles. Eu não sabia, não sabia como as coisas seriam, não sabia o que havia acontecido. Não tinha certeza se era verdade. Eu rezava para que papai e mamãe aparecessem e nos abraçassem e então fariam cafuné e dormiriam conosco só essa noite. Como faziam quando tínhamos pesadelos. Mas no fundo eu sabia, eu já sabia que isso não aconteceria... nunca mais. Naquele momento só uma coisa estava certa para mim. Eu a protegeria, aqueles nojentos covardes não encostariam um dedo se quer na minha irmã. Ninguém encostaria. Eu não correria o risco de perde-la também. Nunca.


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Notas finais do capítulo

Sei que está meio confuso ainda. Mas as explicações chegarão em breve. Tenham paciência.



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