Un-break my heart escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 1
Undo this hurt


Notas iniciais do capítulo

Presente para Kali, pela fic maravilhosa que ela escreveu! Falando em dobrar metas, isso não foi o que te prometi 8D

Para quem quiser ouvir a música que a fic leva o nome, acho que ela combina com o clima:

https://www.youtube.com/watch?v=p2Rch6WvPJE



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Don't leave me in all this pain

Don't leave me out in the rain

Come back and bring back my smile

Come and take these tears away

I need your arms to hold me now

The nights are so unkind

(Não me deixe com toda essa dor

Não me deixe aqui fora na chuva

Volte e traga de volta o meu sorriso

Venha e jogue essas lágrimas bem longe

Eu preciso dos seus braços para me abraçar agora

As noites são tão cruéis)

Un-break my heart – Toni Braxton

 

Um dia, depois da guerra, você me disse: sempre que você precisar. Acho que sou muito idiota, ou levo as coisas demais ao pé da letra, mas você sempre soube que eu era assim. Você sempre soube. E eu precisei você muitas vezes. Ainda preciso.

E é sempre a você que eu recorro. Quando os pesadelos voltam.

X

Na primeira noite depois da guerra, eu acordei gritando. Eu me lembro da sensação de vazio, de dor e de desespero. Eu me lembro de pensar em Hinata padecendo sob o ataque de Pein, e de Naruto lutando por ela.

Os pensamentos eram retalhados; minha memória falhava. E eu gritei e corri como se a guerra acontecesse em meu quarto.

A minha mãe chamou por mim. Ela tentou me acalmar. A minha irmã não estava ali, mas no hospital ajudando os feridos.

Akamaru, onde está Akamaru?

Eu gritei por ele, eu assobiei. Chamei.

Akamaru, onde você está?

AKAMARU!

Mas ele não veio.

Ao invés disso, foram os seus braços ao redor do meu corpo. Os seus insetos fazendo uma cúpula sobre nós.

Shino, você não me disse nada. E quando perguntei sobre Akamaru, você também chorou.

X

Você, chorando? Como assim?! Eu não entendia o que poderia ser tão grave. Você não chorou nem mesmo quando seu pai se feriu gravemente na guerra. Nem mesmo quando Tsunade-sama disse que ele poderia morrer.

Você sempre foi uma rocha sólida, mas esta ali, aos pedaços, diante de mim.

Chorando.

Por quê?

X

“Onde está o Akamaru, Shino?” perguntei baixinho.

Você apertou mais o abraço, incapaz de me olhar nos olhos. Incapaz de me dizer qualquer coisa.

Sinto muito, Kiba.

Foi o que ouvi.

Eu sempre fui o mais lerdo da turma ao lado do Naruto. Sempre tive dificuldade nas matérias escritas, e você me passava cola com seus insetos. A Hinata sempre foi tímida demais, mas também me ajudava de vez em quando nos jutsus mais complicados. Eu só era bom em brigar. Nunca fui o cabeça. E mesmo para isso, contava com Akamaru.

Senti uma dor no peito quando vi você tirar os óculos, espantando as lágrimas.

Mesmo sendo o mais lerdo, eu compreendi. Akamaru não estava conosco.

X

Aquele episódio se repetiu todas as noites desde então. Era como se você dormisse na minha janela, esperando que acontecesse. Minha mãe já nem tentava mais me acalmar. Quando a gente era pequeno, ela tinha me dito que o vínculo que fazemos com nossos familiares é tão forte quanto o vínculo de uma irmã ou irmão. Mais forte que o vínculo gerado pelo jutsu do casamento.

Nós fazemos um pacto, Shino.

Será que é assim para você com os seus insetos também?

Eu acordei muitas noites, querendo me entregar à morte. Querendo saber onde ele estava. O que havia acontecido?

Mas sempre que eu perguntava, você desviava o olhar. A dor era tão grande em você, que eu temia te partir ao meio ou te quebrar feito o jarro de cristal que mamãe costumava ter na sala.

O que poderia ser tão ruim assim ao ponto de fazer Aburame Shino chorar?

X

Eu queria te consolar. Eu queria mesmo. Passamos a dividir as garrafinhas de sakê que minha mãe escondia pela casa todas as noites. Todos havíamos sofrido perdas. Hinata tinha perdido o primo e o pai. Tantas pessoas haviam morrido. Os pais dos nossos amigos. Os nossos amigos de infância. Era imensurável. Mas nós continuávamos. Tínhamos que continuar. Éramos ninjas. Não doía menos.

Você bebia ao meu lado e se escondia por trás dos seus óculos escuros. Quando eu surtava, você me abraçava e me escondia na sua cúpula de insetos. Eu nunca senti o seu chakra tão inquieto. Eu nunca te senti tão inquieto.

Era aquela sensação estranha, como um sexto sentido, que me dizia que havia algo errado. Coisa de amigo de infância. Coisa de quem conhece demais.

Eu sempre fui tão tapado, Shino. Eu queria poder te ajudar mais.

X

Os pesadelos não iam embora.

Eu via você lutando ao meu lado. Eu via Akamaru arrancando a perna de um inimigo com os dentes. Eu via você me protegendo. E Hinata lutando por Naruto. Eu via Neji morrendo ao nosso lado. Havia outras pessoas também. Outros shinobis. Inimigos, amigos. Simplesmente não fazia diferença.

O cheiro do sangue me enjoava, torcia o meu estômago. Eu queria vomitar.

Akamaru gritava.

Quando eu tentava olhar para o lado, não conseguia.

Havia uma cortina de insetos ao meu redor, me protegendo. Eu gritava o seu nome. Você estava ferido. Eu te amparei. Onde estava Akamaru?

Negro.

Como mergulhar em um penhasco sem fim.

X

Eu o busquei por dias a fio. Ele só podia estar desaparecido, talvez ferido no meio daquele cenário de dor e devastação. Todos me olhavam com pena. Eu não entendia. Seriam as sequelas da guerra?

Não sei.

Eu busquei o laço que possuíamos, mas não conseguia sentir. Tentei sentir o seu cheiro, mas ele era mascarado por aquele cenário sangrento. Por toda aquela carnificina.

Konoha havia se tornado um campo de batalha. O Ichiraku havia sido destruído—ele havia padecido em meio aos destroços, mamãe me contara. Uma perda lastimável. O prédio da escola havia sido derrubado. Em outros tempos, eu vibraria por isso. Não hoje. Quantas vidas se perderam? Eu não sei.

Akamaru não está em lugar nenhum. Eu continuo chamando.

Mas é você que vem, Shino. Como uma sombra na noite. Me perseguindo, sempre ao meu encalço. Por quê?

“Onde ele está, Shino?” perguntei outra vez. “Onde está o Akamaru?”

Olhei pra você. A droga dos óculos escuros escondia a sua expressão. Senti ódio pelo seu silêncio. Por você se esconder atrás daquelas roupas largas.

“ME DIZ, CARALHO! ONDE ESTÁ O MEU PARCEIRO, SHINO?!”

Eu nem vi o momento em que te esmurrei bem na cara. Você podia ter me impedido. Podia ter parado o meu golpe. Mas recebeu ele de braços abertos e o óculos voou do seu rosto, atingindo o chão.

O seus olhos estavam vermelhos e você fedia à bebida. Os seus insetos se agitaram, como que pra te defender. Você não fez nada além de ficar com aquele olhar triste e aquela expressão morosa. O meu coração doía tanto.

“Por favor, Shino, me diz...”

Eu caí de joelhos e comecei a chorar como o covarde que era. A verdade estava bem ali, não estava? Eu só não queria enxergar.

X

Você me levou pra sua casa naquela noite. Devo ter apagado de exaustão. Notei um pequeno altar quando acordei e só então me dei conta de que seu pai havia morrido. Eram só vocês dois, não eram? A sua mãe tinha falecido quando você ainda era criança.

Estou um pouco confuso. Eu fui ao enterro dela?

Acho que lembro de ter segurado a sua mão.

E ali, mesmo jovem, você não chorou.

“Sinto muito, Shino-kun.” Murmurei.

“Eu vou te contar, Kiba. Vou te contar o que aconteceu.”

Você não me poupou nenhum detalhe. Acho que preferia viver no escuro a saber da verdade.

X

Você me contou com detalhes o que houve. Preencheu as lacunas que povoavam os meus pesadelos e nublavam a minha mente.

Estávamos lutando contra um Pein, eu, você e Akamaru.

Outro Pein nos atacou e nos separamos.

Akamaru e eu fizemos a nossa formação, tentando segurar as pontas. Você estava exausto de agir como atacante e defensor.

O seu pai veio em nosso socorro. E foi atacado traiçoeiramente por outro Pein que o feriu gravemente. Você o tirou da batalha. Foi só um segundo. O ataque veio com força total. A barreira de insetos se colocou diante de nós.

Mas algo te desconcentrou.

Hinata? Naruto? Uma explosão? Você perdeu o foco na ordem. Akamaru se jogou na sua frente.

Você me protegeu, Shino.

E Akamaru protegeu vocês.

X

O seu pai morreu nos seus braços naquela noite, você me diz. Eu não me lembro de nada. O impacto da explosão me apagou. Você teve que escolher entre tentar salvá-lo e salvar Akamaru. Você lutou contra os dois Peins ao mesmo tempo para nos proteger antes que Ino e Chouji aparecessem pra te ajudar.

Éramos todos jovens e inexperientes lidando com algo que era maior que nós.

Quando a batalha acabou, minutos depois, seu pai havia perdido muito sangue. Akamaru também.

Você tentou salvá-los. Tentou tampar as feridas com um jutsu que havia aprendido da sua família.

Só não deu, Shino.

Não deu.

X

“Ele morreu pra me salvar, Kiba.”

Até chorando, você era silencioso.

“Akamaru era seu companheiro e eu falhei com ele. Eu sinto muito.”

Não consigo imaginar um momento mais triste do que esse na minha vida. Não sei se por vê-lo chorando ou pela certeza daquilo que eu já sabia.

Eu quero brigar com você. Eu quero sentir minha dor. Eu quero te culpar. Mas que culpa você tem? Que culpa você tem por me salvar e por Akamaru decidir salvar você?

As palavras que saem da minha boca foram as mais maduras de toda a minha vida. E desta vez, sou eu quem te abraço e deixo você chorar. Como tantas vezes você fez comigo. Antes e depois da guerra.

“Ele era o nosso companheiro.” Digo. “Nosso, Shino. E ele morreu defendendo um companheiro. Não poderia haver honra maior. Sinto muito. Sinto muito que tenha passado por isso tudo sozinho.”

Eu não aguento. Choro também. Choramos a noite toda até dormirmos juntos de tanta exaustão.

X

No dia seguinte, acordo com o cheiro de legumes e carne sendo cozidos. O cheiro me faz lembrar dos protestos no meu estômago e me sento no chão, sentindo o corpo dolorido. Dormir no chão não era um problema. Eu já estava acostumado a dividir o espaço com...

O vazio me atinge em cheio quando lembro da noite passada. Da nossa conversa. Da dor.

É quase como se você sentisse, mesmo sem eu dizer nada. Eu vejo a sua sombra se projetando sobre mim. Você me abraçando e trazendo consigo aquela sensação tão boa e reconfortante. Acho que é o seu cheiro. O cheiro forte de ervas, um pouco selvagem como o cheiro da floresta onde eu costumava ficar com Akamaru. Certa vez acho que você me disse que era mais confortável pros seus insetos.

Quero dizer algo. Quero dizer qualquer coisa. Não consigo. É você quem diz:

“Vai ficar tudo bem, Kiba. Pode não ser hoje, amanhã ou depois disso. Mas vai ficar tudo bem.”

“Não me deixe você também.”

 É injusto, eu sei, dizer isso. Mas sou egoísta e digo mesmo assim. Choro, soluço e bato de leve as mãos no seu peito. Você me aperta mais em seus braços.

“Nunca.”

Dói. Vai doer por muito tempo ainda e sei que não é só em mim. Mas as coisas vão ficar bem. As coisas vão melhorar. Porque não estou sozinho. Porque mesmo perdendo Akamaru, ele me permitiu ter você.

Uma dor não cura a outra. Mas seremos muletas um para o outro. Vamos ficar bem, Shino.

Espero que sim.


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Notas finais do capítulo

Já tem um tempo, eu tenho em mente, um projeto de Naruto pós-guerra. Sinceramente, eu não gostei do final da maioria dos personagens. Eu não gostei que a guerra foi simplesmente superada. Eu acho que a dor está ali, sabe? Ela está ali pra ser sentida.

Quando eu tive a epifania para essa primeira oneshot, quis passar um pouco disso.

Não é a minha primeira fic falando da perda de Akamaru, mas eu acho que é um contexto diferente. Na história original isso não acontece. Mas eu quis dar significado à perda. Um estigma, que por sinal será o nome da fic que vem por aí.

Essa longshot que eu planejo vai retratar a dor nua e crua. E as responsabilidades que vieram com ela. Talvez seja um projeto mais focado em Shino, Kiba, Naruto e Hinata. Talvez tenham mais coisas.

Vamos ver o que a sorte nos reserva.

Kali, desculpa! Eu sei que prometi um lemon bem escroto, mas essa ideia ficou martelando na minha cabeça. E, de alguma forma, queria que fosse sua.

Vamos dobrar a meta, né? 8D

Nem sei se você curte tanto coisas assim, mas vamos crer que na quarta skol, você não vai estar pensando. Espero que goste!

Comentem o que acharam, se o projeto parece instigador. Até breve!



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