A Cidade do Amor Mudou de Nome escrita por vupresque


Capítulo 1
Capítulo 1 - A Essência Humana


Notas iniciais do capítulo

Alô pessoal! Essa é minha primeira história publicada aqui no Nyah então ainda estou me organizando quanto a tamanho de capítulos etc. Por isso, qualquer sugestão é bem vinda! Essa é uma história muito íntima minha pois é baseada em fatos da minha vida. Espero que tenham uma boa leitura!!



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PARTE I - A CARONA

Capítulo 1 - A Essência Humana

Existe uma espécie de ser vivo com habilidades físicas, mentais, sociais e intelectuais de níveis extremamente altos. Essas são características nossas, integrantes vitalícios da espécie humana. Com essa bagagem biológica de inciante, e ao longo dos aproximados duzentos mil anos de existência humana, nós aprendemos a sobreviver no inóspito, a tornar o inóspito habitável; aprendemos que um grupo age melhor que um indivíduo (apesar de estarmos um tanto esclerosados nesse aspecto); aprendemos a explorar o solo e o subsolo, o aquático e o abissal, as grandes alturas e a escuridão que existe além delas. Ainda assim, somos meros humanos.

Ainda assim - surpreendentemente ou não - somos apenas meros seres humanos que passam a vida buscando por coisas que querem e coisas que não sabem que querem e, muitas das vezes, morrem sem encontrar ou alcançar essas coisas. Mas não é assim com todos. Felizmente para João, sua matrícula para a disciplina de Francês foi aceita pela a universidade e ele não morreria sem ticar esse desejo de sua lista.

João, para todos os dias; João Carlos, para certo grau de formalidade; ou Joca, para algumas pessoas muito específicas. Homem para o resto da sociedade, garoto ou moleque para sua família, João era um universitário de vinte e pou(quíssimos) anos. Membro de uma família financeiramente estável, era mais um dos diversos estudantes que mudam de estado para ingressar nas boas universidades públicas do país. Em seu segundo ano do curso de Direito, o rapaz pilotava um carro zero, vivia sozinho em uma quitinete de alto padrão próxima ao campus e ostentava um limitado número de amigos. É digno de nota que no auge dos seus vinte e poucos anos, João jamais teve uma experiência de trabalho.

O curso de direito não foi exatamente uma escolha pessoal, mas ele havia se acostumado. Estava acostumado principalmente com o suposto orgulho que sua família sentia quando alguém o elogiava só pelo fato de estudar a Constituição do país. Um termo melhor é "acomodado". João estava acomodado na satisfação dos outros e nem conseguia se lembrar de quando isso começou. Por isso, quando soube, em meados de julho, que tinha sido aceito para a disciplina de Francês, João sentiu uma felicidade tão grande que não sabia como conter ou muito menos como expressar.

João é um exímio exemplo de algumas das habilidades humanas das quais falei anteriormente. Naquele momento, ele ainda não sabia o quão significativa seria a aula de Francês para por a prova essas habilidades. Ele não pensava que seria convocado para a disciplina, visto que a preferência era dos alunos das áreas de linguagens, ciências humanas e artes. Aparentemente, ele tinha boas notas e isso garantiu sua vaga ali, comprovando sua excelência intelectual.

Por razões genéticas e, talvez, por um estilo de vida relativamente saudável, João era também um jovem adulto vigoroso, de boa aparência, altura acima do ordinário e com muita vitalidade, apesar de sua terrível tendência ao sedentarismo. Era dono de um temperamento equilibrado embora nem sempre muito brando; mantinha uma imagem positiva de si mesmo, mas às vezes falhava em fazer o mesmo com outras pessoas. Esses fatos demonstram as suas boas características físicas e sua natureza mental, em nível mediano.

No entanto, a real fraqueza de João era a habilidade social. A simples ideia de tentar passar uma impressão positiva já o desanimava quanto à possibilidade de fazer amigos. Ao menos novos amigos, uma vez que ele também estava acomodado quanto a permanente presença de seus antigos amigos. Infelizmente, essa insistente série de acomodações acarretou em uma deficiência em sua capacidade de socializar.

Obviamente, nem tudo foi afetado. João ainda ia à festas, bebia mais do que aguentava, dançava mais do que sabia e iludia mais do que se lembrava. O problema era fazer amizades, ou pior, desenvolvê-las e mantê-las. Porém, nem tudo estava perdido. Dificilmente estaria.

— Estamos aguardando por você, João. - Jeanne Bordoux, a professora de Francês, relembrou.

— Oh, oui¹. - o rapaz retomou a atenção.

— Tu peux recommencer le dialogue, Júlia? - Sra. Bordoux pediu.

— Pas de problème. - Júlia respondeu. - T'as des frères et soeurs, João?

— Oui. J'ai un frère et une soeur. Mon frère s'appelle Paul. Alors, ma soeur s'appelle Marion. - João continuou, seguindo o livro.

Sra. Bordoux, que já tinha esclarecido que seus cinquenta e oito anos não eram impedimento para que a chamassem por Jeanne, persistia em emparear João com Júlia. Talvez porque ambos sempre se sentavam perto ou porque ela já arquitetava alguma coisa antes mesmo que alguém pudesse imaginar.

Mesmo assim, João conhecia pouco a respeito da moça. Ela pouco falava além de quando era requerida para algum exercício, vezes em que demonstrava uma pronúncia excelente da língua estrangeira que jamais tivera contato antes. Esse enigma que a desconhecida aparentava era o tipo de charada que intrigava João. Entretanto, não o intrigava o suficiente. Ainda.

Diferentemente do estereótipo que assombra o arquétipo de um homem conquistador, João não era o tipo que gostava de desafios ou de qualquer dificuldade num geral. Na verdade, ele nem mesmo se considerava um membro da comunidade não declarada de homens conquistadores (talvez mais conhecidos sob o termo "mulherengos"). Como um ser humano jovem e saudável, ele gostava de satisfazer suas necessidades carnais, principalmente se conseguiria fazer isso de um jeito fácil. Seria necessário muito mais que um sotaque bonito e um ar misterioso para que ele desprendesse alguma atenção especial.

João não se lembrava de já ter se apaixonado ou sequer tido algum sentimento próximo da paixão. Ele não acreditava que um dia teria borboletas no estômago ou que perderia horas pensando só naquela pessoa única, como pregam os romances mais triviais. Em certa medida, ele sentia falta disso, dessa sensação que nunca experimentou. Sentia faltar de alguém que ainda não tinha conhecido e mal sabia quando conheceria ou se conheceria.

Apesar de todas as suas acomodações, de não tomar decisões por si mesmo e de se satisfazer com a satisfação dos outros, João ainda era humano. No fim do dia, João também era só mais um mero ser humano.

 

 

¹Traduções francês-português:

Oui = sim

Tu peux recommencer le dialogue? = Você pode recomeçar o diálogo?

Pas de problème = Sem problema

T'as des frères et soeurs? = Você tem irmãos e irmãs?

J'ai un frère et une soeur. = Tenho um irmão e uma irmã.

Mon frère s'appelle Paul. = Meu irmão se chama Paul.

Alors, ma soeur s'appelle Marion. = Em seguida, minha irmã se chama Marion.


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