Silhouette escrita por Anna Miranda


Capítulo 1
Autumn Locksley


Notas iniciais do capítulo

Adivinha quem voltou com história nova? pois é, não consigo não escrever hahaha.
Então, eu espero de verdade que vocês gostem de Silhouette.

Vamos lá, alguns avisos:
A história tem muita coisa que precisa ser dita, mas que não foi nesse primeiro capitulo, então paciência que aos poucos eu vou desenvolvendo isso.
Autumn é surda, como fica claro pela sinopse, como não tem como fazer a língua de sinais através da escrita, eu vou sempre marcar as falas dela e de todos os outros personagens quando estiverem usando a língua de sinais com o itálico.
Eu optei por usar o ASL ao invés da Libras e eu explico no fim do capitulo o motivo, eu não domino o ASL, por isso já fica aqui o pedido de desculpa se eu fizer alguma coisa errada.
Por último, criei um perfil no twitter pra essa fic, pq quero postar algumas fotinhas e afins, devo postar coisa de outras fics nele também, então se quiserem sigam o @silhouettesfic



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Mallow, Irlanda.

A chuva que havia caído de maneira torrencial no inicio daquela madrugada, agora escorria pela janela de forma suave. O vento corria do lado de fora da janela balançando os galhos das arvores em uma rítmica dança, e vez ou outra quebra o silencio do inicio daquele novo dia numa espécie de assovio, como se quisesse avisar algo aos moradores daquela pequena cidade.

Com um movimento contido ele se esticou até o criado mudo alcançando o celular. Na tela do aparelho mensagens de sua mãe e irmã se acumulavam e ele deixou um suspiro escapar percebendo que nem a distancia de horas faria elas aliviarem os cuidados extremos que dedicavam a ele e a Autumn.

Autumn. Pensar na pequena garota que estava enrolada ao seu lado embaixo das cobertas fez um sorriso se espalhar pelas feições dele. As nove da noite havia colocado ela na cama e lido a história favorita dela, assim como fazia todas as noites desde quando ela havia completado o primeiro ano de vida. No entanto, poucos minutos dele ter ido deitar, ele ouviu os passinhos dela tamborilarem sob o chão de madeira e pouco depois viu a porta do seu quarto ser aberta.

“Papai?”

“Sim querida” Ele disse pausadamente para que ela conseguisse ler o movimento de seus lábios

“Eu posso dormir com você?”

“Autumn”  Ele disse marcando com expressões faciais o fato de que eles já haviam

“Por favor, eu tô com medo do trovão.”

“Tudo bem, venha cá.” Ele disse movimentando as mãos e em seguida levantando um lado da coberta para que ela pudesse se aconchegar ao lado dele.

Descobrir aos vinte e dois anos que seria pai, não era o sonho da vida de Robin, no entanto, ele e Marian, sua namorada de faculdade, decidiram que a melhor coisa que podiam fazer naquele momento, era tentar ser uma família para o bebê que viria ao mundo. Ele havia proposto que se casassem, mas Marian achou melhor que eles apenas morassem juntos naquele primeiro momento, uma vez que eles já estavam passando por mudanças demais, e acrescentar a pressão de um casamento era tudo que eles não precisavam naquele momento.

Morariam juntos primeiro, veriam como as coisas se acomodariam entre eles, se acostumariam com a ideia de não serem mais apenas unidade e sim uma dupla, assim como se acostumariam com a ideia de serem pais, de terem uma vida sendo gerada que dependeria deles para o resto da vida, e então, se as coisas funcionassem bem, em um futuro poderiam voltar a pensar em casamento.

Dividindo sua vida entre a faculdade, o emprego de meio expediente e as responsabilidades de ser o provedor de uma família, Robin sentia que estava a ponto de explodir, e algumas vezes inconscientemente chegou a culpar Marian pelo seu esgotamento. Marian, no entanto, vocalizou inúmeras vezes o quão culpado ela acreditava que Robin era por ela ter que mudar todos os seus planos em relação ao futuro, por ela ser uma bagunça hormonal, pelo corpo dela esta enorme e até mesmo o culpava  por não caber mais nas calças jeans favoritas dela, e até mesmo o culpava.

No momento em que eles seguraram Autumn pela primeira vez em seus braços tudo mudou. As prioridades passaram a serem outras, o mundo passou a ter um novo significado assim como as brigas. O primeiro ano de vida de Autumn foi de longe o mais difícil, porém, ambos estavam muito determinados a fazerem as coisas darem certo, e em meio a uma briga aqui e um desentendimento ali, eles fizeram, até o inicio do ano anterior.

Robin havia acabado de sair para almoçar quando recebeu uma ligação de um numero de desconhecido, a voz calma e bem treinada era de uma enfermeira, e logo que ela se identificou ele sentiu o medo lhe tomar o corpo. Ela explicou, então, de maneira rápida que a esposa e a filha dele haviam sofrido um acidente de carro, e pediu para que ele fosse para o hospital o mais rápido possível.

Enquanto dirigia para o hospital, era como se ele estivesse em um estado de letargia, mais tarde ele se repreenderia por não ter lembrado de dizer a enfermeira as alergias que Marian tinha, e que a filha deles era deficiente auditiva.

Setenta e duas horas depois de receber a noticia do acidente, o pediatra de plantão que havia acompanhado Autumn desde que chegara ao hospital, lhe deu alta, então Robin pode leva-la para casa. Cinco horas depois de estar em casa com a filha Robin recebeu outra ligação do hospital dizendo que Marian havia falecido.

Desde então pai e filha vinham tentando da melhor forma possível se adaptarem a nova realidade.

—x-

Ele deslizou a faca repleta de geleia pela fatia de pão que havia sido cortada por ele em quatro pedaços e as colocou de maneira displicente no prato de plástico enfeitado com elefantes rosa. Em seguida encheu o copo cor de rosa com leite e o colocou juntamente com sob a ilha da cozinha. Nesse momento Autumn entrou no ambiente correndo fazendo com que seus cachos loiros balançassem e o laço que estava preso começasse a deslizar para fora dos seus cabelos.

Com o semblante fechado, Robin sinalizou para que ela parasse de correr, ou então ela poderia se machucar. Ela levou uma das  mãos fechadas punho até o peito e a movimentou de forma circular pedindo desculpa, mas o semblante dela deixava claro que ela estava se desculpando apenas por que era isso que o pai esperava, e não porque estava realmente arrependida, e o loiro teve que controlar a vontade de rir.

Robin ajudou a filha a subir em uma das banquetas que ficava do lado esquerdo da ilha e sinalizou para que ela começasse a comer, eles estariam atrasados para o primeiro dia de aula dela. 

Assim que viu que a pequena havia começado do desjejum, ele encheu sua xicara de café e sentou-se ao lado dela, lendo o jornal da manhã pelo celular. Menos de um minuto depois, ele desistiu da ideia, quando captou com o canto dos olhos a filha se remexendo na banqueta em que estava sentada. Conhecia-a bem demais para saber que isso era uma tentativa dela de chamar a atenção dele.

“Você esta animada para o seu primeiro dia?” Robin sinalizou de maneira rápida.

“Não muito!” Ela sinalizou de volta tão rápido quanto o pai.

“Por quê?”

“E se as pessoas dessa escola não gostarem de mim?” Ela perguntou e Robin sentiu algo se quebrar dentro dele, ao ver o medo da rejeição estampado nas lindas orbes azuis da filha.

“Autumn, não há nenhuma maneira no mundo em que as pessoas da sua nova escola não vão gostar de você, você é a menina mais doce e linda que eu já conheci, tenho certeza que no fim do dia você terá muitos novos amigos.”

“Eu sinto falta da Julie. Ela é minha melhor amiga”

“Eu sei querida, eu prometo a você que na primeira oportunidade nos vamos voltar a Dublin, e você poderá ter outro encontro de brincar com ela ok?”

“Ok.”

“Agora termine de comer, para podermos ir.”

Autumn dedicou sua atenção ao terceiro pedaço de pão com geleia, e enquanto mastigava balançava as perninhas curtas que estavam longe de alcançar o chão. Robin terminou seu café, e lavou a xícara, deixando-a sob o escorredor em cima da pia. Ele perguntou a filha se ela já havia terminado, e ela disse que sim, mesmo que o ultimo pedaço da fatia do pão reinasse majestosamente no centro do prato. Robin concordou, e a ajudou a descer da banqueta. Autumn nunca comia tudo, e ele já havia se acostumado a isso.

A escola nova de Autumn ficava a dois quarteirões da casa nova deles, então, numa tentativa de se familiarizem com a vizinhança, Robin decidiu que eles deveriam ir caminhando. No caminho, havia inúmeras poças d’águas, devido a chuva na noite passada, e Robin se parabenizou mentalmente por ter feito a filha usar as galochas de chuva, uma vez que ela insistentemente fazia questão de pisar em todas as poças.

“Bom dia!” Uma mulher de cabelos longos e loiros cumprimentou Robin e a filha, e ele poderia apostar que ela não havia passado dos vinte e dois anos.

“Bom dia! Você é senhorita Denali?” Ele perguntou.

“Isso mesmo, e você é?”

“Robin. Robin Locksley –ele disse estendendo a mão em direção a ela- e essa é minha filha, Autumn Locksley.” O loiro disse apontando para pequena que havia escondido o rosto em uma das pernas do pai.

“Olá Autumn” A loira a cumprimentou, mas não obteve nenhuma resposta.

“Ela não pode te ouvir. Autumn nasceu sem a audição.”

“Oh! Me desculpe. - a loira disse completamente envergonhada – Essa não é s minha turma, eu estou apenas substituindo a senhorita Mills, eu não sabia que Autumn ...” ela deixou a frase no ar com medo de dizer alguma coisa errada.

“Tudo bem. Você disse que esta substituindo a senhorita Mills, aconteceu algo?”

“Oh! não. Regina teve uma emergência familiar, mas ela vai esta de volta na hora do almoço.”

“Ok, eu esperava encontra-la para conversar um pouco sobre Autumn, mas acho posso esperar.”

“Autumn vai ficar bem, Archie vai acompanha-la durante as aulas.”

“Archie?”

“Archie, é o nosso conselheiro infantil, ele nos ajuda com as crianças e é fluente em ASL.¹”

“Ok. Eu provavelmente deveria ir, ela vai ficar bem né?” Robin disse um pouco apreensivo fitando a filha que havia optado por sentar na cadeira mais distante da turma.

“Ela vai ficar bem senhor Locksley.” Irina disse com um sorriso simpático.

“Eu posso me despedir dela?”

“Sim”

Robin caminhou cautelosamente pela sala repleta de crianças até o encontro da filha. Ele se agachou na altura dela e sinalizou perguntando se ela estava bem, a garota concordou e então ele se despediu dando um abraço apertado nela. Antes de deixar a escola, ele precisou respirar fundo algumas vezes para evitar que as lagrimas que havia se acumulado nos olhos dele caíssem.

—x-

A decisão de deixar Dublin e mudar para Mallow, surgiu devido a uma oferta de emprego. Não que ele precisasse, pois a posição que ocupava na empresa em que trabalhava era ótima, e o salario era mais do que o suficiente. Mas desde a morte de Marian, ele sentia que as coisas simplesmente não funcionavam como antes, como um reloginho. Como se isso não fosse suficiente, os instintos maternais de sua mãe se tornaram excessivos, ele começou a se sentir sufocado. Ele precisava de novos ares, assim como Autumn.

Coincidentemente ou não Mallow ficava cerca de quinze quilômetros de distancia Kanturk, cidade natal de Marian, e Robin achou que seria algo positivo tanto para filha quanto para a sogra que as duas morassem mais próximas uma da outra.

Então, ali estava ele, há um mês, morando sozinho com Autumn em uma casa de dois andares, com um lindo e espaçoso quintal em que ele em algum momento no futuro próximo instalaria um pequeno playgroud. Uma casa em que nenhum dos dois se sentia em casa. Uma casa grande demais para os dois. Mas ele e Autumn era sobreviventes, então era isso que eles fariam nos próximos meses. Eles sobreviveriam.

Ele estava fodidamente atrasado, esse era o único pensamento que dominava a mente de Robin enquanto ele dirigia próximo ao limite de velocidade pelas ruas de Mallow. Lentamente ele sentia o pânico rastejar por sua pele, o que Autumn interpretaria com esse atraso, estava apavorando-o. Marian nunca se atrasava para pega-la na escola, e agora que ele estava caminhando com suas próprias pernas pela primeira vez desde a morte dela, ele estava incrivelmente atrasado. Que ótimo pai ele era, ele pensou com sarcasmo.

Desorientadamente ele correu até a sala onde havia deixado a filha mais cedo, mas ela estava vazia. Assim como os corredores, e as outras salas próximas aquela. Uma sensação de angustia começou a se apoderar dele, mas antes que fizesse qualquer coisa precipitada, ele respirou fundo e caminhou até a secretaria. Lá uma senhora baixinha e de idade avançada, o informou que Autumn estava na biblioteca, acompanhada de um responsável aguardado a chegada dele.

Antes mesmo de atravessar a porta da biblioteca, ele sentiu os olhos da filha repletos de expectativas cair sobre ele, ele então ajoelhou e esperou pelo impacto quando a viu correr em sua direção. Ele a abraçou enterrando o rosto na pequena curvatura entre o ombro e o pescoço da filha, e começou a fazer movimentos circulares, numa tentativa silenciosa de dizer a ela que estava tudo bem.

Minutos depois pai e filha se afastaram e Robin fechou a mão em punho e a levou até o peito movendo-a circularmente, e pedindo silenciosamente aos céus que suas expressões faciais naquele momento conseguissem transmitir a filha o quanto ele realmente se sentia péssimo por estar atrasado.

“Querida eu sinto muito” Ele sinalizou para a filha.

“Esta tudo bem papai.” Ela respondeu com um sorriso no rosto

“Ela sinaliza rápido, às vezes é difícil acompanhar.” Uma voz doce rompeu a bolha em que pai e filha estavam.

Robin desviou o olhar da filha, e pela primeira vez desde que chegou a biblioteca viu quem ele acreditava ser a senhoria Mills. A mulher tinha longos cabelos negros que caiam em cachos suaves sob ambos os ombros dela, até quase a cintura, o rosto tinha traços finos e os olhos eram de um marrom tão diferente, que Robin duvidava ter visto alguém em sua vida com olhos tão lindos como aqueles.

“Você deve ser Robin Locksley, eu sou Regina Mills, prazer!” A morena disse com um sorriso no rosto estendo a mão em direção a ele.

“Sim! Robin... esse sou eu...Robin Locksley” Ele disse tropeçando nas palavras sem conseguir deixar de fitar o rosto lindo e incrivelmente doce a sua frente.

“Bom, agora que você esta aqui eu acho que eu posso ir.” Regina disse após um silencio quase desconfortável que se instalou entre eles.

“Tchau Autumn, até amanhã querida.” Regina sinalizou para a pequenina e recolhendo suas as duas bolsas que sempre carregava consigo, caminhou para fora da biblioteca.

“Senhorita Mills?” Robin a chamou segundos antes dela sumir no corredor.

“Sim?” Ela disse olhando na direção dele.

“Obrigado!”

Regina respondeu com um sorriso e então desapareceu no corredor. Robin ajudou Autumn recolher suas coisas, e os dois partiram para casa. No caminho até a casa, ele repassou os últimos acontecimentos em sua mente e se perguntou quando havia se tornado tão idiota ao ponto de não conseguir estabelecer uma conversa inteligível com a nova professora de sua filha.

1 ASL –American Sign Language, assim como português é diferente do inglês, a língua de sinais da língua inglesa é diferente da língua portuguesa. Como a história se passa na Irlanda eu achei que seria legal colcar a Autumn pra falar o ASL ao invés da Libras.

—xx-


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