Caçadores de Demônios - INTERATIVA escrita por Gabriel Min


Capítulo 2
A Organização


Notas iniciais do capítulo

Obrigado especial para Eros ♥



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Era tarde da noite, mas Jackie era taciturna. Sempre adorou trocar o dia pela noite e isso não era segredo para ninguém, ainda mais para Pietro, que andava grudado na garota, assim como um chiclete gruda em um sapato. A dupla estava sentada em um dos telhados dos inúmeros prédios daquela rua em particular; estavam no Centro da cidade, em missão.

O alvo em questão era um espírito brincalhão: um fantasma que passou tempo demais na Terra e se tornara só um dos chamados Estorvos. Os Estorvos eram como missões bônus, serviam apenas para ganhar experiência ou simplesmente para manter Jackie ocupada. Apesar disso, ela odiava caçar Estorvos. Ansiava por um desafio de verdade

― Ele está virando a rua ― Pietro avisou enquanto amarrava seu cadarço pela terceira vez naquela noite.

Jackie apontou para o fim da rua, utilizando sua mão como se segurasse uma pistola. Ela tentava enxergar de tão longe, mas não via nada. Pensou em chegar mais perto, porém, simplesmente estava com preguiça demais naquela noite.

― Você não pode simplesmente atirar nele? Sua mira é muito melhor do que que minha ― confessou ela, sem tirar os olhos do fim da rua.

― Então você admite que eu sou melhor do que você em alguma coisa?

― Pelo menos eu tenho 100% da minha visão ― zombou a garota.

Pietro Moscowitz era quase cego, tinha apenas alguns por centos em cada olho. Tudo o que ele enxergava eram sombras e luzes aleatórias, nada mais, nada menos. Em compensação, todos os seus outros sentidos eram mil vezes melhores do que o de qualquer outra pessoa no mundo, disso Jackie não tinha como discordar. Mas era lógico que ela odiava falar isso em voz alta.

― Parece que você errou afinal, não vejo ninguém.

― A minha percepção de fim da rua pode ser a sua percepção de começo de rua.

Jackie então virou-se, olhando para o outro lado da rua; e lá estava o Estorvo. Dentro do corpo de um drogado qualquer, o possuindo para que fizesse o que bem entendesse. Estorvos tinham essa habilidade de entrar em corpos que tinham uma energia parecida com a deles, ou seja, não podem possuir qualquer pessoa de forma aleatória.

Eles não eram fantasmas nem demônios, eram forças que passaram tanto tempo na Terra que perderam seu direito de ir ao céu, ganhando a chance de vagar por ai pela eternidade. Eram formas malignas a procura de alguém indefeso.

Entretanto, os caçadores tinham o poder de mandá-los ao inferno: lá eles teriam a punição que tanto os deixavam com medo.

Jackie observava aquele corpo possuído cambalear pela rua, batendo nas paredes e postes, caindo no chão diversas vezes. Aquele estorvo era recente, não devia ter mais do que duas semanas. Sem pensar mais nada, esticou os braços e posicionou sua mão direita como de segurasse uma arma.

― Eu vou errar dessa distância.

Antes de qualquer que fosse seu próximo movimento, ele fora interrompido por uma ligação. O identificador apresentava o nome de Kato Chou, o motorista.

― Se não se importa, estou no meio de um assunto nada importante.

Enquanto ela ouvia as palavras vindas do outro lado da linha, pequenos raios negros começaram a tomar conta da sua mão, só então é percebido o anel do dedo anelar. Um anel com uma pedrinha preta reluzente. Ela brilhava enquanto uma fumaça da mesma cor dava forma a uma pistola, exatamente posicionada onde antes existia apenas o vazio entre seus dedos.

― Me dá um segundo e eu já apareço aí.

Após o celular ser guardado no bolso do uniforme, foi possível escutar cerca de cinco tiros. O estorvo se assustou e correu, tropeçando logo em seguida. 

― Sinceramente, você está há anos com essa pistola e não consegue dar um tiro perfeito com essa distância mínima?

Dizendo isso, Pietro retirou do braço um lenço, o colocou por cima dos olhos e se virou. Os passos seguintes passaram rápido como um avião. Entre ele retirar uma flecha das costas, posicionar o seu arco, mirar trinta metros e acertar em cheio o alvo, não se passaram nem três segundos.

O jovem caiu no chão enquanto o Estorvo se desprendida de seu corpo. Em questão de segundos, tanto o alvo quando a flecha desapareceu.

― Agora sim a diversão vai começar de verdade!

Pietro era um garoto especial. Com um passado tenebroso, assim como Jackie. Ele, apesar de ser um pouco mais velho que ela, era tão novo quanto ela. Tão novo e tão conhecedor do lado ruim da vida.

― Escutou de novo minha conversa? ― Indagou a garota, enquanto a pistola desaparecia de suas mãos em questão de milésimos.

― Não posso fazer nada se meus ouvidos são superdesenvolvidos.

A dupla que andava pelos telhados em um segundo apareceu no chão momentos depois. No fim da rua, um carro preto, com um rapaz portado na frente da porta traseira. Trajava uma roupa preta, camisa com botões, um chapéu de motorista. Cumprimentou aquelas crianças como se fosse empregado delas. Não era possível ver seus olhos naquela escuridão, mas assim que os menores se aproximaram, ele deu a volta e se dirigiu a seu posto. Dentro do carro, Pietro tirava o lenço do rosto e o amarrava novamente no braço, se portando entre o banco do carona e do motorista.

― Foi detectado uma anomalia do vilarejo próximo dá saída da cidade ― ele tratou logo de explicar a situação.

― Tem certeza que não é outro estorvo? - Indagou Jackie.

― Os radares disseram que a força emitida pelo sinal é muito maior do que mil estorvos juntos. Precisamos investigar.

Do centro até a saída da cidade totalizavam no mínimo uma hora. Pietro era conversador demais, mesmo quando todos estavam calados e ninguém interagia com ele, o mesmo continuava a conversar, as vezes fazendo perguntas e respondendo ele mesmo. Mas Kato não gostava de deixa-lo falando sozinho, era triste, portanto, fazia o possível para encontrar respostas para todas as frases que ele soltava dentro do carro.

Aquilo deixava a viagem muito mais longa para Jackie e muito mais curta para Kato. Kato Chou havia a encontrado quando ela tinha quatro anos. Estava presa dentro de um castelo na Bélgica, escondida de cientistas do governo. Ela foi entregue pela mãe, por uma alta quantia. A organização a investigou por anos até finalmente encontrar a garota. Kato estava no grupo de resgate. Tinha apenas dez anos. Seu desejo de matar a mãe da garota o consumiu, mas fora impedido pela própria organização, já que a missão era única e exclusivamente para resgatar a garota.

As casas começaram a desaparecer dando lugar aos campos verdes a medida que eles se aproximavam da saída do local, logo estariam ao seu destino. Próximo ao limite da cidade, Kato desviou o caminho até uma estrada de terra, e de lá, dirigiu mais quinze minutos até avistar uma alta torre.

― Esta é minha deixa. Visão completa da cidade ― Jackie sorriu com a fala do maior, visto que ele era quase cego.

Pietro Moscowitz subiu na torre de vigilância do vilarejo abandonado e sentou na borda da proteção de madeira. O carro fora estacionado ali perto e eles seguiram a pé. Aquele era um vilarejo amaldiçoado. Aparecia de tempos em tempos e quando aparecia, seu campo acabava atraindo vários estorvos. Jackie perdeu as contas de quantas vezes já fora ali apenas para se livrar de alguns deles.

Kato caminhava ao lado de Jackie, observando cautelosamente os arredores daquele lugar abandonado. As casas eram feitas principalmente de madeira, o vento fazia aquele material velho ranger, o que deixava o local muito mais assustador.

Nada entre as ruelas fora encontrado, nem mesmo em algumas das casas de Kato verificara. No centro da cidade, algo que lembrava um comercio. Havia um poço no centro, uma igreja, e mais e mais casas abandonadas.

― Devemos entrar? ― Indagou Jackie, que parecia extremamente entediada. ― É bem provável que o sinal venha lá de dentro.

Kato confirmou com a cabeça e ambos entraram no local. E logo de cara Jackie pode perceber a diferença na atmosfera, pois a escuridão ali dentro era anormal. Ela sentia como se as sombras a estivessem a observando de alguma forma e aquilo era impossível.

Apenas uma pessoa no mundo poderia controlar as sombras da forma que quisesse.

E essa pessoa era Jackie.


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