Uma Chance para Reconciliação escrita por cellisia


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Como vocês conseguem marcar mais de um personagem e mais de uma categoria nas histórias? Nossa, eu não consigo, que raiva grrrrr



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Sasuke acabou dormindo no sofá. E novamente amanheceu.

A luz do sol sempre invadia a sala primeiro para depois ir para o resto da casa, então assim que a claridade acertou seu rosto, ele acordou.

Olhou as horas. Era ainda 07h15. Poderia dormir mais se quisesse. Mas iria para sua cama. Dormir no sofá era uma tortura para as costas.

Subiu as escadas e se dirigiu ao quarto de Sakura. Daria uma rápida espiada e voltaria pra cama.

Ela já estava acordada. Com as costas escoradas no encosto, ela trabalhava no seu tricô.

— Bom dia – Cumprimentou ele, bocejando ao passar pela porta.

— Bom dia – Ela lhe sorriu timidamente, voltando sua atenção ao gorro logo em seguida.

— Você dormiu bastante. – Sasuke comentou, arrumando os travesseiros dela – Está melhor? Está sentindo dor?

— Não, estou bem. Na verdade, acho que nunca dormi tão bem em toda a minha vida. Sinto como se pudesse correr uma maratona inteira. Exceto pelo fato de que eu não posso correr.

Ambos riram. Aquela sintonia que eles tinham, aquela facilidade de criar um clima agradável era tão boa...

— Está com fome? Eu pretendia voltar a dormir, mas já que está acordada, eu preparo o seu café.

— Eu deveria ser boazinha e dizer para não se preocupar comigo, mas não, não vou. Estou com fome sim.

Sasuke tornou a rir. Aquela era a Sakura que ele adorava. Sua Sakura de sempre. Exceto pelo fato de que ela não era mais sua.

****

— Está esfriando... –  Comentou ela olhando pela janela e mordendo um biscoito em seguida.

Sasuke havia subido com a bandeja do café. Hoje ele preparara leite, biscoitos de chocolate, iogurte e cortou um mamão.

— Sim, sim... –  Murmurou ele com a boca cheia –  Acho que vou deixar a lareira acessa durante esses dias.

— Isso é bom... –  Sakura falou distraída.

Tornaram a ficar em silêncio, até que ele se lembrou:

— Vou ter que fazer compras hoje. Nossa comida está acabando... Você quer ir comigo? Ou...

— Nah, prefiro ficar aqui. Esses dias em que tenho saído, por mais que me façam bem, têm me deixado muito cansada.

Ele assentiu e se levantou, recolhendo tudo. Estava prestes a sair do quarto quando ela o chamou:

— Ei, Sasuke... Eu queria ajudar de alguma forma... –  Ela falava mexendo inquietamente no cabelo e desviando os olhos a todo momento –  Você está fazendo tanto por mim... Sabe, se quiser, pode usar o meu dinheiro. Ou se precisar de alguma outra coisa...

Novamente ele precisou se segurar para não abraçá-la e apertá-la. Deus, como Sakura era fofa.

Sasuke então sorriu. Aquele sorriso de canto que ela adorava.

— Eu só preciso que você melhore.

Dizendo isso, deixou o quarto.

******

Para aquela hora do dia, o supermercado estava bem cheio. Era 11h00 e, em tese, as pessoas deveriam estar em casa preparando o almoço, não lotando o mercado.

Sasuke não tinha pressa, então olhava a tudo com bastante calma. Enquanto empurrava o carrinho pelos corredores, passou na sessão de guloseimas. Imediatamente se lembrou de quando, ainda casados, ele e Sakura competiam para ver quem pegava mais "porcaria".

O fato de já serem adultos parecia inexistir quando iam ao supermercado. Na verdade, pareciam duas crianças. Além de gastarem uma grana boa com toda aquela farra.

Desde que se separaram, Sasuke nunca mais gastou tanto com aquelas bobagens. Ele não perdera o gosto pelas guloseimas, é claro, mas, querendo admitir ou não, sem Sakura não era a mesma coisa.

Bem, não havia Sakura para competir com ele dessa vez, mas saber que ela estaria em casa quando ele chegasse, o deixou bastante animado, então encheu o carrinho de besteira.

— Você não deveria gastar tanto com tanta coisa inútil –  Uma voz às suas costas falou.

Sasuke se virou, deparando com uma mulher esbelta, de ar sério e um longo cabelo loiro, tento a franja cobrindo-lhe o olho direito.

— Ino – Falou ele ao ver a "amiga".

Sasuke não sabia exatamente se Ino era sua amiga já que ela nunca o considerou assim, mas aquele ditado "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" servia bem para o caso dele: "A amiga da minha esposa é minha amiga", certo? Algo mais ou menos assim.

Ino era a melhor amiga de Sakura desde... Desde que Sasuke se lembrava. Quando ainda estavam solteiros e ele ia até a casa dela para poderem namorar, na maioria das vezes, Ino estava por lá.

Ela nunca fora muito fã dele. Achava que Sakura era “areia demais para o caminhãozinho dele”. Apesar disso, quando a rosada a convidou para ser sua madrinha de casamento, ela não recusou o convite.

—Quem diria que eu te veria por aqui a essa hora. – Falou ela cruzando os braços – Principalmente por estar próximo ao horário do almoço. Você deveria estar em casa preparando alguma refeição para Sakura.

Oh, é claro que Ino já sabia que Sakura estava em sua casa. Na verdade, havia algo sobre ela que Ino não soubesse?

— Eu sei. – admitiu ele – Por isso vim agora. A comida por lá praticamente acabou. Não tenho ingredientes para fazer o almoço.

— Você é mesmo um idiota – Murmurou ela balançando a cabeça em desaprovação.

Sasuke rolou os olhos e continuou com as compras, e agora tinha Ino em seu encalço. Ela às vezes se afastava para pegar coisas para si própria, mas em seguida voltava para perto dele. Ela havia decidido que iria visitar Sakura, então tinha que esperá-lo terminar suas obrigações ali. E segui-lo por todo o supermercado fora a melhor opção que ela encontrou.

****

— Ela está lá em cima, no quarto de hóspedes –  Informou Sasuke, abrindo a porta da casa.

Ino assentiu e subiu. Já ele, estava ocupado entrando com as compras. Assim que terminou, subiu para o quarto de hóspedes também.

Entrou no quarto e a primeira coisa com a qual se deparou foi com Sakura rindo. Uau, há quanto tempo ele não a via rindo. Rindo de verdade, por estar realmente feliz.

Sasuke não queria admitir, mas sentiu inveja de Ino naquele momento. Ela conseguia arrancar belas gargalhadas de Sakura em apenas alguns minutos enquanto ele recebia sorrisos forçados todos os dias.

— Sakura – ele a chamou –, você está com fome? Já vou preparar o almoço. Quer comer algo em especial?

Ainda rindo, Sakura balançou a cabeça em negativa. Logo em seguida acrescentou:

— Ino vai passar a tarde aqui, tem algum problema? Pode fazer uma quantidade um pouco maior para o almoço?

— Ou então faça a quantidade de sempre e dê a sua parte pra mim. Não ligo se você ficar sem comer –  Ino alfinetou, rindo maliciosamente.

Ele forçou uma risada polida. Estava prestes a deixar o quarto quando ela tornou a chamá-lo:

— Sasuke, por que você deixa a Sakura nesse quarto tão frio? Lá embaixo tem uma lareira, certo? Leve-a para lá, oras.

— Oh... Ela... Sakura não falou nada. Não sabia que queria ficar lá embaixo.

— Ela não precisa falar, isso é algo óbvio. Ou você é cego?

Sasuke se limitou em suspirar, como se rogasse paciência aos céus, e olhou para a rosada, a qual estava ligeiramente corada. Ela provavelmente estivera com vergonha de pedir.

Sorriu de canto e foi até ela, pegando-a nos braços.

— Ei, não ligue para Ino. – Sakura sussurrou no ouvido dele enquanto desciam as escadas – Ela adora te infernizar, mas no fundo gosta de você. Eu acho.

— Obrigado pela preocupação – Ele ironizou e ela riu.

Bem, ao menos havia conseguido fazê-la rir. Sasuke 1 x 1 Ino.

A sala era praticamente colada à cozinha, então a conversa das duas chegava aos ouvidos dele. Ou o que elas permitiam que ele ouvisse, claro, afinal passavam a maior parar do tempo sussurrando.

— ... ele quem me ajuda na hora do banho – Sasuke ouviu Sakura falar.

— Sério? – Ino se espantou.

— Bem, sim. Não há mais ninguém aqui além de nós dois.

— Mas... Mas você deixa ele te tocar? E se ele tentar algo, te molestar ou sei lá?

O Uchiha teve vontade de rir. Então era por isso que Sakura falava aquelas coisas estranhas. Ino ficava colocando ideias na cabeça dela.

— Não, Sasuke nunca fez isso. – Sakura respondeu – Ele é realmente sério com suas responsabilidades. Além do mais... Não é como se ele nunca tivesse me visto... nua...

— Isso quando vocês estavam casados. – Ino bufou – Agora é diferente.

E então elas voltaram a falar aos sussurros. No entanto, alguns minutos depois, a voz de Ino tornou a invadir-lhe os ouvidos:

— ... e como você está reagindo a isso tudo, Sakura? Ao divórcio, o acidente...

A rosada ficou alguns instantes em silêncio antes de responder:

— Sabe, eu queria poder voltar no tempo. Queria voltar àquela noite e nunca ter saído de casa. Se eu não tivesse saído, não teria sido atropelada e não estaria passando por isso agora. Na verdade, queria voltar mais ainda... Voltar na época em que Sasuke e eu éramos namorados...

— E nunca tê-lo conhecido, sei. – Ino a interrompeu – Sim, seria uma boa ideia.

— Não. – Sakura falou rindo – Eu não o odeio, Ino. E não me arrependo de tê-lo conhecido. Isso jamais. Aquela época foi ótima e, mesmo que você não goste dele, Sasuke foi muito importante na minha vida. Na verdade, grande parte do que sou hoje foi por causa dele. Ele era realmente importante e querido por mim...

O silêncio se instaurou na sala. Segundos depois Ino perguntou, agora com uma voz mais branda:

— E ainda é, não é mesmo?

Sakura não respondeu nada, apenas soluçou. Não era preciso ser nenhum especialista para saber que ela estava chorando.

Após isso, ele não ouviu mais nada.

*****

O almoço fora servido tarde. Além de ter começado a ser preparado tarde, Sasuke ainda o fez sozinho, o que contribuiu para atrasar tudo mais ainda.

Como estavam todos lá embaixo, a refeição foi servida por lá mesmo. Há quanto tempo ele não comia àquela mesa...

Sakura estava bastante faladeira naquele dia. Bem, tendo Ino ali para animá-la, não poderia ser diferente. Já Sasuke, se mantinha em silêncio, apenas pensando no que ouvira mais cedo. De qualquer forma, mesmo que quisesse participar da conversa, ele não conseguia acompanhar o ritmo das duas.

Então Sakura não se arrependia de terem se conhecido, mas se arrependia de seu casamento com ele. Era isso? Ok, levando em consideração que estavam agora separados, era bem comum, até normal, Sakura se queixar e falar mal de tudo o que vivenciou e a irritou durante a época que ficaram juntos, mas para Sasuke aqueles três anos em que estiveram casados foram os melhores de sua vida. Ele sempre fizera de tudo para agradar Sakura, sempre tentou ser o marido ideal. E ter que ouvi-la dizer que preferia voltar no tempo para não ter que "passar por tudo aquilo" era bastante incômodo. Até... lhe doía o peito.

O dia passou voando. Ao menos para as duas. Para Sasuke as coisas pareciam se arrastar mais devagar que filhotes de tartaruga na praia.

E então a noite finalmente chegou. Era cerca de 21h00 quando Ino se despediu.

— Pode voltar de novo se quiser. Sasuke não se importa – Sakura, que estava sentada no sofá, falou.

— Você não mora mais aqui, Sakura. Não fale por ele. – Respondeu Ino, pegando suas coisas – Mas talvez eu volte, quem sabe... Ou talvez eu torne a te visitar apenas quando você estiver melhor, não sei...

A rosada fez uma expressão magoada, mas assentiu.

— Ei, Sasuke. – Ino o chamou – Será que você pode me acompanhar até a porta?

Sasuke se encontrava ajoelhado no chão mexendo nas brasas da lareira. Ele a havia acendido algumas horas atrás e agora precisava cuidar para que não apagasse.

— Tudo bem – Falou ele levantando-se e a seguindo.

Ele pensou que fosse acompanhá-la só até o corredor, cortesia que ela exigia de sua parte. Tal foi seu espanto quando ela o puxou para fora da casa, fechando a porta atrás de si.

Ino o prensou contra a parede, apoiando um braço acima de sua cabeça encarando-o profundamente. Mesmo que ela fosse mais baixa que ele, ela parecia realmente intimidadora agora.

— Alguma vez você já pensou em reatar seu casamento com a Sakura? – Perguntou ela sem rodeios.

O Uchiha a encarava de olhos arregalados, estava realmente surpreso com tudo aquilo. Ele então relaxou e respondeu com franqueza:

— Sim. Um mês depois de nos separarmos eu comecei a pensar se podia fazer algo a respeito. Mas logo tratei de esquecer a ideia. Ela parecia muito bem sem mim. E ainda parece... Tsc! – murmurou ele se referindo ao fato de ela ter se divertido o dia inteiro tendo Ino ali, coisa que não aconteceu durante todos os dias em que estiveram juntos.

Ino o fitou em silêncio durante alguns segundos. Em seguida sorriu, um sorriso estreito, daqueles em que abre os lábios sem mostrar os dentes. Mas logo em seguida riu. Uma risada divertida. Passando para uma gargalhada - algo próximo da zombaria - tão alta que assustou Sasuke.

— Você é realmente um idiota. – Ela bufou por fim, revirando os olhos – Além de idiota é cego. Mas tanto faz. Espero que cuide bem dela. Se fizer algo, se tentar alguma gracinha, você será o próximo com as pernas quebradas.

E então se afastou com seus deslumbrantes fios loiros balançando ao vento, deixando-o bastante confuso.

*****

Sasuke tornou a entrar. Sakura tinha o pescoço apoiado na cabeceira do sofá enquanto mantinha os olhos fixos na lareira.

Ela parecia absorta em seus pensamentos, pois nem o ouviu chamar. Até que ele balançou-lhe os ombros levemente.

— Ah, oi – Respondeu ela.

— Você me ouviu, Sakura? Perguntei se posso te levar para cima e te ajudar com seu banho. Eu já pretendia ir dormir...

— Oh, claro – Ela se assentou ereta no sofá.

Sasuke a pegou nos braços e subiu com ela.

Enquanto ajudava-a a se despir, ele se mantinha sério e silencioso, embora tentasse disfarçar.

Sakura agora conseguia fazer tudo sozinha, praticamente. Ele apenas precisava carregá-la para o banheiro. Logo em seguida saía e ficava esperando à porta até que ela terminasse. Após o banho, já deitada na cama, ela o chamou:

— Sasuke... Você... Você está bem?

Fora a vez dele de forçar uma risada.

— Claro, Sakura, por quê?

— Ah... Você parece tão sério, não sei... Como se algo o incomodasse...

Ele, que juntava as roupas do chão, ficou em silêncio. Estava prestes a sair, mas parou à porta.

— Ei, Sakura... Posso te fazer uma pergunta? – Sasuke nem esperou pela resposta – Hm... Alguma vez você... Você já...

— Eu já...? –  Sakura o incentivou, visto que ele havia se calado.

— Ah, deixa, não é nada. – Ele novamente forçou uma risada – Se precisar de algo me chame. Boa noite, Sakura.

E saiu do quarto, deixando-a curiosa e confusa.

*****

O dia seguinte amanheceu e a rotina novamente se iniciou.

Sasuke se levantou, fez sua higiene e foi até o quarto de Sakura. Ela ainda não havia acordado, então ele desceu, preparou o café da manhã e o deixou na cadeira ao lado da cama para que ela pudesse pegar assim que acordasse.

Ele tornou a voltar no quarto apenas na hora do almoço. Sakura, é claro, já havia acordado. A bandeja do café estava agora vazia e ela mantinha sua atenção no tricô.

— Oh, você voltou ao tricô. – Comentou ele, entrando no quarto – Bom dia, Sakura.

— Bom dia? Mas já está de tarde. – Ela riu – E sim, quero terminar isso logo. Dependendo do resultado, eu até começo meu suéter. Caso contrário me conformo de uma vez que não nasci pra isso.

Sasuke riu e pegou a bandeja vazia.

— Vou preparar o almoço. Já está com fome?

— Um pouco...

Ele assentiu. Estava prestes a deixar o quarto quando se lembrou:

— Sakura, você quer ficar lá embaixo outra vez?

Sakura sorriu de canto, pousando o tricô no colo.

— Por agora não, mas, mais tarde, talvez eu queira sim.

****

A tarde correu rápido. Após o almoço, Sakura passou boa parte do tempo dormindo, então Sasuke não precisou fazer nada por ela durante aquele período e pôde se dedicar às suas coisas.

Ele até chamara Karin pra sair, mas ela recusou, dizendo estar gripada e indisposta. Ela vinha agindo estranho desde aquela noite em que tentou agarrá-lo no sofá da sala.

A noite então chegou. Era por volta de 19h00 quando tornou a ir no quarto de Sakura. Ela já havia acordado, e olhava distraidamente pela janela.

Sasuke teve vontade de assustá-la. Ele então andou na ponta dos pés, em silêncio absoluto, e se aproximou de sua cama. Estava prestes a gritar e fazer uma careta maluca quando ela suspirou, ainda sem tirar os olhos da janela:

— Nem se atreva.

— Tsc, já me descobriu – Murmurou ele ligeiramente frustrado.

— Você não serve para pregar sustos nos outros. E eu vi seu reflexo pelo vidro da janela.

Sasuke suspirou fingindo frustração. A rosada então se virou para ele sorrindo levemente, o qual ele retribuiu.

— Ei, Sasuke. – Sakura repentinamente o chamou – Será que você pode me ajudar com o banho agora e depois me levar lá pra baixo? Queria ficar próxima à lareira.

— Claro – Ele sorriu gentilmente.

****

— Então você não quer jantar hoje – Sasuke cruzou os braços em desaprovação.

Ele havia levado Sakura para baixo e a acomodado no sofá. Ela trabalhava em seu tricô de modo que não precisasse encará-lo.

— Não – Ela murmurou.

— Mas você não pode ficar sem comer.

— Eu já disse que não quero, Sasuke.

Sasuke suspirou, colocando as mãos na cintura e olhando para o teto. Até que se lembrou.

— Ah! Eu me lembrei de quando ficávamos... Quero dizer, ontem no supermercado eu comprei guloseimas e todo tipo de porcaria gordurosa. Quer comer isso?

Os olhos da rosada imediatamente se iluminaram. Nem foi preciso dizer nada, ele entendeu apenas por aquela expressão de criança que acabou de ganhar um brinquedo novo.

Foi até a cozinha e logo em seguida voltou com algumas batatas chips, doces e refrigerante. Entregou-lhe a de sabor churrasco, sabia que era sua favorita, e ficou com a de sabor consommé. Assentou-se no chão, próximo a ela, e começou a olhar uma revista.

Os minutos se passavam e eles se mantinham em silêncio. Os únicos barulhos eram das agulhas de tricô batendo uma contra a outra, as páginas da revista sendo viradas e as batatinhas sendo mordidas.

De repente, Sasuke sentiu algo sendo colocado em sua cabeça. Assustou-se, levando a mão até a coisa que agora estava ali. Era macia e quente...

— Eu finalmente acabei. – Sakura falou – Fiz o gorro pra você.

Sasuke agora segurava um gorro preto, embora a parte de cima tivesse algumas interferências amarelas.

— Minha lã preta acabou. – Ela continuou falando – E eu não queria incomodar pedindo mais, então usei a amarela. Como tem estado frio, pensei que seria útil. E, bem, é também uma forma de agradecimento por tudo que tem feito por mim... E pensar que você se ofereceria para cuidar de mim, perderia seu tempo apenas por minha causa... Então... É, obrigada, Sasuke. Espero poder retribuir esse favor algum dia.

Sasuke apenas a encarava em silêncio com os lábios entreabertos. Como Sakura conseguia ser grosseira em alguns momentos e ao mesmo tempo tão doce? Ele queria apertá-la e dizer que não havia problema. Mas se refreou.

— Não precisa agradecer, Sakura. – Ele exibiu seu sorriso de canto favorito – Desde que você melhore, o resto não importa.

O coração de Sakura até começou a bater mais intensamente. Suas bochechas ficaram coradas e ela tratou logo de desviar os olhos.

— Então, Sasuke. – Ela pigarreou, mudando de assunto – Eu queria ter te perguntado isso há mais tempo, mas sempre me esquecia. Você... Você não tem ido ao trabalho, não é? Está faltando esses dias por minha causa? Olha, eu não quero ser mais incômoda do que já tenho sido, então eu vou pagar por esses dias que você está perdendo. Quanto vale o seu dia de trabalho?

Repentinamente Sasuke começou a rir, fato que ela não entendeu.

— Qual a graça? – Ela emburrou a cara, encarando-o com os olhos estreitados.

— Na verdade, Sakura, eu não trabalho mais naquela empresa.

Sakura arregalou os olhos em surpresa.

— Não?

— Não. Pouco depois que nós... Nós nos separamos, eu pedi demissão. Eu agora mexo com meu próprio negócio. É bem pequeno, mas quem sabe ainda vá deslanchar...

— Nossa, uau! Eu... – Ela estava estática, ainda digerindo tudo – ... E pensar que o motivo das nossas brigas eram seu trabalho... E de repente você sai dele.

Sakura sempre fora contra o emprego dele de gerente naquela microempresa. Ele vivia sobrecarregado, sempre cansado e quase não tinha tempo para ela. Às vezes, ela ficava dias sem vê-lo, afinal ele saía cedo e voltava tarde. A única certeza que ela tinha de que ele estava lá era quando o via dormindo ao seu lado nas madrugadas em que levantava para beber água.

— O que você faz agora? – Perguntou ela.

— T.I. Sou técnico em programação e informática.

— Tá falando sério? – Ela tinha um timbre de deboche na voz.

— Por que o deboche? É algo que eu gosto...

Sakura sorriu. Pela primeira vez, desde que ele começara a cuidar dela, ela lhe exibiu um sorriso verdadeiro. Não havia risadas forçadas ou sorrisos de canto. Ela estava realmente feliz por ele. Embora, mesmo que não admitisse, estivesse ligeiramente magoada também.

— Sim, eu sei, por isso estava tão incrédula. Você sempre gostou dessa área, mas por algum motivo nunca se dedicou a isso. Sempre preferiu ser escravo naquela empresa e nunca entendi o porquê. Eu sempre apoiei seu gosto pela informática, mas você nunca se empenhou. Você realmente mudou, Sasuke...

Sasuke virou-se para ela, observando-a intensamente.

— Sakura, você realmente nunca soube o motivo de eu me matar de trabalhar naquela empresa?

Ela balançou a cabeça em negativa, olhando-o com curiosidade.

— O motivo era você – Falou ele por fim.

Parecia que os olhos de Sakura iriam pular das órbitas, tal era o espanto que ela exibia.

— E-Eu?

— Sim. Você.

Sasuke então ficou em silêncio, pensando se realmente deveria continuar. Será que, depois de todo aquele tempo, iriam finalmente conversar sobre a relação deles? Por fim ele suspirou, continuando a falar:

— Quando nos casamos eu prometi que te daria a melhor vida possível e nunca deixaria que lhe faltasse nada. Lá eles me pagavam muito bem, fora as comissões e benefícios extras que eu recebia. E eu... Eu não podia largar tudo aquilo, principalmente porque naquela época nós estávamos tentando ter um bebê. Não é que não gostasse de informática, mas um iniciante como eu demoraria bastante para conseguir algum lucro. Como eu iria sustentar esposa e filho com um salário tão curto? Então, é, no fim preferi ficar por lá. Trabalhando como um escravo, mas recebendo bem. – Ele sorriu levemente antes de concluir – Ao menos consegui te dar a vida que eu prometi.

Sakura estava se segurando para não começar a chorar. Seus olhos estavam marejados, mas não permitiria que as lágrimas caíssem. Ainda não. Como ela nunca soubera daquilo?

Seu coração começou a doer por culpa. Quantas vezes ela não pensou que ele estava apenas usando a desculpa de estar sobrecarregado na empresa enquanto a traía.

— Sabe, Sakura – Sasuke continuou. É claro que sabia que Sakura estava prestes a chorar, mas precisavam esclarecer tudo de uma vez por todas –, eu passei pelo menos meio ano me perguntando o porquê de você ter pedido o divórcio. Eu nunca entendi o motivo e, na verdade, até hoje não entendo. Eu... Eu sempre me esforcei para ser o marido ideal, nunca deixei lhe faltar nada, eu nunca te traí. Então por quê? O que eu fiz de tão errado que te fez ter nojo de mim a ponto de me querer fora da sua vida?

Sakura, que apenas ouvia a tudo, finalmente falou:

— Você não me dava o seu tempo. – E então as lágrimas começaram a cair – Eu não queria apenas saber que você estava lá, eu queria que você realmente estivesse.

— Mas eu sempre estive lá pra você.

— Não estava não! – Ela gritou entre lágrimas – Quantas vezes eu já passei a noite em claro, quantas vezes eu dormi no sofá te esperando. Às vezes... Às vezes eu ficava dias sem te ver porque você sempre chegava tarde da noite e quando eu acordava você já havia saído. Aliás, esse foi um dos motivos do porquê de não termos conseguido um bebê. Você não fazia sexo comigo. Estava sempre trabalhando. Ou quando tinha algum tempo, estava cansado demais.

— Mas eu já te expliquei o motivo...

— Pro escambau com a vida fácil cheia de privilégios. – Ela gritou injuriada – Preferia viver debaixo da ponte tendo você sempre lá comigo a viver cheia de regalias e te ver uma vez na semana. – Sakura ficou em silêncio por alguns segundos antes de completar – Você... Você sequer soube que eu estava grávida.

Agora fora a vez dele de demonstrar tamanha surpresa e espanto.

— O-O quê? Você... – Sasuke forçou uma risada ainda não acreditando, logo em seguida olhou para a barriga dela.

— Não precisa me olhar assim. Não há mais nada aqui.

— Aquele seu vício repentino por bolinhos de anko! Não me diga que...

Sakura riu de forma estranha, como se zombasse dele.

— Não, claro que não. Aquilo foi coisa momentânea. – Ela passou a mão no rosto, tentando secar as lágrimas – Você nunca soube disso porque eu estava esperando completar um mês para poder te contar. Mas eu sofri um aborto antes disso. Eu te liguei, eu liguei tantas vezes... E só caía na caixa postal. Eu consegui falar com a Ino e ela me levou ao hospital. Fiquei dois dias internada, mas você nunca soube disso porque, justo naquele dia, não voltou pra casa. Estava trabalhando.

Sasuke tinha o rosto pálido e o semblante descaído, como se estivesse se afogando em um mar de culpa.

— Por que... – Sussurrou ele com a voz vacilante – Então por que você nunca me falou nada? Você preferiu ir embora a me falar o que te incomodava. Bem injusto da sua parte, não acha?

— O fato de eu sempre reclamar sobre seu emprego e sempre pedir pra que você se demitisse não eram claros o suficiente pra você? – Sakura novamente ficou em silêncio antes de terminar – Você também não tentou me impedir de ir.

Sasuke passava a mão no cabelo de maneira intensa enquanto tinha os olhos fixos no chão. Até que falou:

— Eu não tentei impedir porque, já que estava decidida a ir embora, nada do que eu dissesse te faria mudar de ideia. E também eu estava sem reação. Sakura, foi um tremendo choque pra mim chegar em casa após um dia supostamente normal e ver minha esposa sentada na escada, com várias malas, apenas esperando que eu passasse pela porta pra poder me dizer um frio "Desculpa, Sasuke, não dá mais. Adeus".

Naquele momento a rosada estremeceu. Ela se lembrou da cena. Lembrou-se do quão fria fora. Sequer dera a ele chance de falar alguma coisa. Despedira-se sem olhá-lo nos olhos e fechou a porta atrás de si.

— Além do mais – continuou ele –, mesmo que eu tentasse não faria diferença, não é? Afinal "seria melhor voltar no tempo para não precisar se casar comigo".

— O quê? Eu nunca disse isso!

— Eu ouvi você falar isso ontem com a Ino.

Sakura o encarava como se ele fosse louco. Até que entendeu. Então era por isso que ele estava agindo de forma estranha na noite anterior...

— Não acredito que você ficou bisbilhotando nossa conversa... – Murmurou frustrada.

— Eu não fiquei. Mas era possível ouvir tudo lá da cozinha.

A rosada massageou levemente as têmporas, pensando no que falar. Por fim suspirou.

— Eu não quis dizer que preferia não me casar com você. Sasuke, eu não tenho nenhum arrependimento quanto ao tempo que ficamos juntos. Eu só queria voltar à época em que éramos namorados porque foi uma época incrível. Éramos tão apaixonados, tínhamos uma ligação tão forte... E você era bem mais presente. O fato de você ser atencioso e gentil nunca mudou, mas quando estávamos namorando, você se dedicava a mim diretamente, e não através do trabalho, achando que estava me beneficiando. – Sakura tornou a passar a mão no rosto secando as lágrimas – Sasuke, eu te amava tanto naquela época... Eu amava tanto que meu peito chegava a doer...

Ele, que estava no chão, levantou-se e foi até ela, passando a mão em seu rosto para enxugar as lágrimas.

— E agora? – Perguntou ele passando um dedo através do contorno de seus lábios – Você ainda me ama?

Sakura arregalou seus intensos olhos verdes em surpresa. Não esperava por aquela pergunta.

— E-Eu não sei... –  Ela desviou os olhos – Estou confusa demais pra pensar sobre isso no momento... E eu... Eu não quero ser tratada como segundo plano outra vez.

Sasuke não falou mais nada. Era melhor não forçar a situação.


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Notas finais do capítulo

Notei que o número de palavras dos capítulos estão aumentando de maneira gradual lol
Falem comigo, leitores, eu não mordo =)



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