Alma Sombria escrita por Meraki


Capítulo 6
Capítulo 5




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A LUA BRILHAVA NO SONHO DE PATA PARTIDA, A FLORESTA ESTAVA CLARA, ILUMINADA PELA LUZ PÁLIDA. As árvores, agora, pareciam ainda maiores, dando a impressão de tocarem o céu. barulhos e ruidos de presas podiam ser ouvidos por todos os lados, fazendo a barriga da gata roncar. Fazendo posição de tocaia, Pata Partida andou, pata ante pata, cercando um coelho jovem que havia cometido o erro de afastar-se dos pais. Sem esperar muito Pata Partida pulou, mas, um ruido ao longo da floresta fez com que o coelho, assustado, fugisse aos pulos. Frustada Pata Partida olhou em volta, na tentativa de achar quem, ou o que, fizera com que perdesse o almoço. Um brilho ofuscante vinha de trás das árvores, chegando cada vez mais perto. Pata Partida ficou imóvel, o corpo forçando-se contra o chão duro, apertando os olhos contra a luz forte. De repente, a luz apagou-se, dando lugar apenas a uma gata de palagem branca, luminosa. A gata aproximou-se mais da aprendiz, ficando um camundongo de distância. Era sua mãe! Flor de Aurora! mas, o que ela estaria fazendo em seus sonhos?
— M...mamãe? - Miou a aprendiz, os olhos arregalados, olhando o semblante em paz que ela trazia no rosto.
— Oh filha... eu vim me despedir - Ela miava, o rosto calmo, os olhos azuis brilhando.
— N.. não.. mãe.. você não pode! - Pata Partida miava, o olhar bicolor começando a encher de lágrimas.
— Eles estão me chamando, filha. - Ela miou calmamente, rodeando a aprendiz. - Veja, preciso lhe mostrar uma coisa. - Ela disse, apontando mais a frente com o focinho. Dois caminhos largos estendiam-se, um para cada lado. Um deles era escuro, sombrio. O outro era iluminado pelas estrelas do tule de prata, o caminho esguio era marcado por várias e várias gerações de patas, e, no seu fim, estendia-se uma luz ofuscante, na qual, no outro caminho, não havia.
— Está vendo? esses são os dois caminhos no quais você terá de escolher, na hora certa. - Ela miou, olhando Pata Partida com seu olhar azul.
— Mas.. mamãe.. o que é isso? -
— Na hora, você irá saber... faça a escolha certa, meu bebê, faça a escolha que seu coração mandar. - Disse a gata, virando-se para a filha, para ficarem cara a cara. Pata Partida mal podia entender o que aquilo significava, talvez, aqueles eram o caminho da Floresta Negra e do Clã das Estrelas?.
— Mamãe.. não vá.. por favor. - Pata Partida fechava os olhos, tentando evitar as lágrimas que lutavam para escorrer.
— É preciso, meu amor. - Ela ia chegando mais perto. - Não se preocupe, meu bem, para você, eu vou sempre estar aqui. - Ela ronronou. Pata Partida não podia dizer mais nada. Flor de Aurora aproximou da filha e, suavemente, tocou seu nariz ao dela, e, com um clarão, ela sumiu, igual como apareceu.
Pata Partida acordou arfando, os olhos totalmente abertos. Metade dos aprendizes ainda dormiam, exaustos da noite passada. Já fazia algumas luas desde a última assembleia. O clã andara bem movimentado, aproveitando a fartura de presas que o Renovo trouxera, enviando patrulhas de caça. As patrulhas de fronteiras também eram constantes, assim como o treinamento dos aprendizes. Pata Partida ia visitar os filhotes de Copo de Leite quase todos os dias, que lhe tirava as preocupações. Era muito bom ver o futuro do Clã crescer saudável. Com pequenos tremeliques no corpo, Pata Partida começou a se lavar, abaixando a pelagem que, de novo, estara arrepiada. Os sonhos que Pata Partida tivera quase sempre lhe pareciam um aviso, esse então lhe deixou nervosa, o que será que aquilo queria dizer? dois caminhos... sua mãe... Era difícil para a jovem gata responder essas perguntas.
— Pata Partida - Uma voz calma sobresaiu na entrada da toca aconchegante, era Pata Branca. - Seu pai quer lhe ver. - Ela miou, calma.
— Ah, sim, diga que eu já vou. - Disse ela. Pata Branca concordou e, rápido, desapareceu novamente. Pata Partida tomou um banho completo antes de ir, afastando o nervosismo e, dando lugar a felicidade de mais um dia no Clã do Trovão. Com passos compensados, Pata Partida caminhou para fora da toca. Tépidos raios de sol iluminavam a clareira fria, de vez em quando um vento atingia as copas das árvores, sacudindo-as brutalmente. Pata Partida caminhou em direção a toca de seu pai. Cauda de Esquilo organizava a patrulha do sol alto, que esperavam a patrulha do amanhecer chegar. Uma das rainhas saiu do berçário, esticando as patas ao sair, apreciando o sol e, fazendo Pata Partida lembrar que ainda não fora ver os bebês de Copo de Leite.
— Papai? - Pata Partida miou sobre a cortina de Liquéns que formavam uma espécie de cortina, protegendo a toca do sol.
— Entre. - A voz grossa sobresaiu sobre a voz fina da aprendiz, que, entrou sem exitar. A toca estava aconchegantemente fresca e clara. Estrela de Rocha estava sentado no centro, as patas mexiam-se, agitadas, e o olhar alternava-se de lá para cá.
— Você já comeu? - Perguntou o líder, a fitando de cima a baixo.
— A..ainda não - Ela respondeu, estranhando a agitação do pai.
— Bem, então coma. Hoje, eu que te levarei para treinar. - Assentiu ele com a cabeça. Pata Partida não podia conter uma pontada de ânimo pelo seu pai, líder do Clã, lhe levar para treinar.
— Ah.. está bem, eu vou indo então. - Ele assentiu, fitando-a desaparecer sobre a cortina de liquéns.
— Ah, e diga a Cauda de Esquilo que venha aqui. - Miou ele, colocando a cabeça escura para fora.
— Está bem. - Respondeu a gata por sobre o ombro. Talvez, a visita ao berçário tivesse de ficar para depois.
— Cauda de Esquilo, Estrela de Rocha quer vê-lo. - Miou ela ao passar ao lado do gato, que assentiu com a cabeça, piscando-lhe gentilmente. Pata Branca comia um pintassilgo junto a Pata Listrada. Pata Partida pegou para si uma pomba torcaz e foi comer junto aos amigos.
— Olá pessoal - Ronronou a gata ao sentar-se ao lado.
— Olá - Miou Pata Branca, Pata Listrada piscou-lhe em boas vindas.
— Vocês não vão acreditar, sabe quem resolveu me levar para treinar hoje? - Miou a gata, empolgada.
— Espinheiro? - Sugeriu a gata branca.
— Céus, o Clã das Estrelas que me livre. - Ronronou, divertida.
— Quem, então? - Perguntou Pata Listrada, um brilho de curiosidade começando a aparecer em seu olhar amarelo.
— O papai
— O quê? - Miou Pata Branca, quase engasgando.
— Achei que estava brincando quando disse que não iriamos acreditar - Miou Pata Listrada, olhando-a com um brilho de diversão no olhar.
— Pois é - Roncou a gata, soltando um suspiro.
— Estão é bom apresar-se, você sabe que ele não é muito de esperar. - Miou Pata Listrada, apontando a presa da irmã com o focinho. Pata Partida a devorou em poucas mordidas, tal era sua fome. Agora, de barriga cheia, iria esperar seu pai. Esticando as pernas, Pata Partida espreguiçou-se, ciente de que seus músculos grandes estavam bem expostos sobre a pelagem salpicada. Deixando-se pender nas patas, Pata Partida rolou, de olhos fechados, aproveitando o calor morno do sol, e, ali, ficou um tempo.
— Vamos? - a voz familiar soou acima de si. Pata Partida abriu os olhos, seu pai a olhava, divertido.
— Ah, sim, vamos! - Num pulo ela pôs-se se pé, feliz. - O que vamos fazer? - Indagou em quanto saiam do túnel de tojos, seu pai ia a frente.
— Irei insinar-lhe técnicas de batalhas.. e... um pouco do código dos guerreiros. - Miou ele meio desconfortável, mas, logo tratando de mostrar empolgação. - Vai ser divertido, e bom para essa cabeçinha ai - Ele deu uma patada carinhosa na cabeça da filha, que soltou um ronron. Ao chegarem no vale de areia, Estrela de Rocha foi para a extremidade do local, e, com um movimento de cauda, fez para para que a filha ficasse na outra.
— Bom, vamos lá, me ataque. - Miou ele, sentando e colocando a cauda arrumadinha sob as patas da frente.
— Assim do nada? - Perguntou, confusa.
— Sim, do nada. Ou você acha que um guerreiro inimigo vai combinar antes de te atacar? - Miou, divertido. - Vamos, ataque. - Pata Partida deu de ombros, e, abaixando-se um pouco, pegou impulso no chão para dar um salto no ar e correr até seu pai, mirando sua cabeça. Quando chegou perto, Estrela de Rocha pulou para o lado, fazendo-a embaralhar-se nas próprias patas ao passar a cauda negra por elas.
— Bem, você foi muito obvia ao mirar minha cabeça. Vamos, surpreendá-me! - Exclamou ele, já pronto para o próximo ataque. Pata Partida observou bem, ele era obviamente maior que ela, mas, ela podia apostar que sua força podia bater de frente com a de seu pai. Então, calculando o que faria dessa vez, ela pensou em enganá-lo com um salto. Correndo, ela saltou, seu pai foi para o lado, mas quando a gata arremeteu-se até ele, ele já estava pronto. Com as patas trazeiras, deu-lhe um chute no peito, fazendo-a parar longe.
— Vejo que a velocidade não é seu forte - Ele ronronou, parando em pé em quanto a aprendiz lutava para tirar a poeira do corpo. - Tente algo que não a precise usar. - Disse ele, colocando-se na posição inicial novamente. Pata Partida sacudiu a cabeça, colocando as ideias em ordem. Se quisesse pegá-lo, teria de usar seu ponto fraco ou algo que ele tivesse, que a aprendiz fosse tão boa quanto. Correndo em zigue-zague, a gata derrapou de costas e parou em baixo do grande gato, que tentou dar um salto, mas, só serviu de impulso para aprendiz, que deu-o um chute no peito, fazendo-o perder o equilibro.
— Agora você entendeu - Ele miou, arfando em quanto se levantava. - Percebeu que seu forte é a força, e não a velocidade. - Miou, orgulhoso. - Vamos mais uma vez. - Pata Partida colocou-se em posição de tocaia, e, agilmente avançou, dando-o um tapa na orelha. Estrela de Rocha cambaleou para o lado, mas não perdeu o equilibro. Com um sobressalto ele girou no chão, agarrando-a firmemente.
— Pense, o que você poderia fazer para livrar-se de uma imobilização? lembrando que a força é seu forte. - Disse ele quando ficou por cima da filha, a apertando contra o chão. Pata Partida não tinha muita escolha, mirou os lugares do corpo do pai que estavam desprotegidos. Sem apertar muito, ela mordeu o ombro do mesmo, e, em quanto ele contorcia-se para libertar-se, a aprendiz usou as pernas trazeiras para, numa tentativa, chutá-lo e arrancá-lo dali. Deu certo, Estrela de Rocha escorregou o quadriu da barriga da mesma, e assim, deu-lhe libertate para se contorcer, livrando-se do líder.
— Muito bom! - Miou ele, levantando-se. - Tudo bem que eu não usei toda minha força... - Brincou ele, vaidoso. - Você aprende rápido, meu amor. - Ronronou ele, satisfeito. - Bem, agora, você se defende, e eu ataco.
~~
O sol estava em seu alge quando sairam do vale de areia. Pata Partida sentia-se exausta depois de uma manha inteira praticando defesa e ataque. Lado a Lado, eles caminhavam pela floresta, voltando para casa.
— Quero que você entenda bem o que o código dos guerreiros significa.. isso é indispensável para formar um bom guerreiro. - Pata Partida assentiu, curiosa.
— O código é o que une todos no Clã, a base de tudo, entende? - Ele fez uma pausa, olhando a filha. - Você tem todas as armas para tornar-se a melhor guerreira dessa floresta, e quem sabe, um dia líder. - Ele miou desviando o olhar, meio sem graça. - Faça as escolhas certas, e o Clã das Estrelas a recompensará de volta. - Miou ele, passando rapidamente a lingua sobre o ombro da mesma. Pata Partida ia falar algo, mas foi interrompida pelo uivo desesperado de Cauda de Esquilo, que vinha em sua direção, os olhos castanhos arregalados de tristeza.
— Estrela de Rocha! Estrela de Rocha! - Ele miou, ofegante. - Ainda bem que você chegou. - Ele respirou fundo. - Ocorreu uma luta de fronteira com o Clã das Sombras... - Ele fez uma pausa. - E.. eu sinto muito - O olhar do representante se perdeu, deixando a cabeça cair sobre os ombros largos. - Flor de Aurora está morta.


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