Alma Sombria escrita por Meraki


Capítulo 4
Capítulo 3




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OS OLHOS DE PATA PARTIDA ARREGALARAM-SE DE PAVOR, sua pelagem eriçava-se ao longo da espinha, e, suas garras, na hora desembainharam-se.
— Pata Partida? - Uma voz grossa soou atrás da aprendiz, fazendo-a rodopiar no ar e cair com as garras fincadas no chão duro. Era Risco Branco, o grande guerreiro a fitava com os olhos amarelos redondos de curiosidade. Caindo desajeitadamente no chão, a gata deu-se conta de que o mentor poderia ter desconfiado de algo, ou pior, os felinos lá dentro a escutado. Ciente de que estava sendo observada de perto pelos olhos penetrantes do guerreiro, Pata Partida abaixou a cabeça, e, na tentativa de acalmar-se, começou a lamber a pelagem do peito.
— S..sim Risco Branco... - Miou ela, sem lavantar a cabeça para fitá-lo.
— O que estava fazendo ai? escutando conversa? seu pai não lhe disse que isso é feio? - Miou ele, fazendo o sangue da mesma gelar. A gata levantou a cabeça, procurando o olhar do mesmo, tomada por uma onda de alívio, a gata percebeu um brilho de divertimento no olhar do mentor.
— Eu só... - Ela iria tentar explicar, mas logo viu que não era necessário. - O que faz aqui? - Perguntou.
— Vim te buscar, sei que não combinei nada com você, mas está um dia lindo para disperdiçarmos, vamos treinar. - Falou ele, logo dando as costas, rumo ao túnel de tojos. Antes de virar-se para segui-lo, Pata Partida contraiu as orelhas para dentro da toca de Aveleira, na tentativa de tentar ouvir o que eles faziam agora. Estava puro silêncio agora, não era ouvida a voz tanto de Aveleira quanto de Estrela de Rocha. Talvez eles tivessem ouvido a voz do guerreiro branco e tratado de terminar aquela conversa misteriosa. Pensou ela, com uma pontada de medo ao lembrar-se das palavras do pai, o que significava aquilo? será que ele, por ser líder, tivera os mesmos sonhos que a jovem gata?. Ao chegar no topo da ravina rochosa Risco Branco parou, e, com cautela e silêncio, fez um sinal para que Pata Partida verificasse o ar. Com a cabeça inclinada a aprendiz sorveu o ar cheiroso com vontade. Os raios de sol enchiam as copas das árvores, refletindo seu brilho forte no chão gramado da floresta, deixando-a cheia de vida. Era possível ouvir os sons de passarinhos ao longe, e, o calmo arranhar de um rato silvestre entre as raízes de uma árvore. Pata Partida inclinou a cabeça para apontar-lhe a presa ao mentor, que, aproximou-se da aprendiz e sussurou em seu ouvido.
— Abaixe-se devagar, um rato pode sentir o bater de seus passos no chão de longe, então, certifique-se de pisar com leveza, concentre seu peso no quadril. - Miou ele, fazendo a tocaia, esperando a aprendiz imitá-lo. Com uma certa pontada de empolgação, a gata abaixou-se, e sempre atenta para pisar com leveza, ela avançou, o quadril balançando de um lado para o outro, e, pata ante pata, ela imitava o guerreiro branco, seguindo com confiança. Logo, a gata já estava a uma raposa de distância do pobre ratinho, que mordiscava uma semente ingenuamente. Com uma certa emoção a gata pulou, o rato, ligeiro, deu um pulo no ar, escapando do ponto de morte. Pata Partida, novamente lançou as garras, atingindo-o antes que ele conseguisse fugir, ou, soltar um guincho que alertasse a floresta inteira.
— Foi bom, mas você tem que ter calma, Pata Partida. - Ronronou ele, olhando-a com um brilho de experiência no olhar.
— Certo... - Miou ela, olhando em volta, tentando localizar mais alguma coisa.
— Vamos pelo Pinheiros Altos, por lá deve ter algo. - Miou o mentor em quanto enterrava a presa pega para apanhá-la na volta para casa. Ao longo que andavam o sol ficava cada vez mais forte. A cada passo, as patas grossas da aprendiz afundavam um camundongo de comprimento nas folhas murchas e quentes do sol, fazendo-a lembrar o quanto tempo não chovia.
— Pronto - Roncou Risco Branco, parando no centro do local plano. - Vamos por aqui - Apontou com o focinho, seguindo o cheiro de presa. Pata Partida o seguiu, o treino, graças ao Clã das Estrelas, a arrancara um pouco das lembranças do sonho, e, do que ouvira na toca de Aveleira. O sol alto estava em seu alge quando mentor e aprendiz alcançaram o túnel de tojos, e, com a boca pesada com as gordas presas que pegaram, lado a lado, desceram a encosta. A primeira visão que a aprendiz teve foi a de seu pai deitado ao lado da Pedra Grande, parecia em paz. Cauda de esquilo, o representante, conversava com uma dupla de guerreiros experientes nas extremidades do acampamento. Lua Nova preparavá-se para sair com Pata de Esquilo, que tomava um banho caprichado.
— Vá e leve isso para os anciãos. - Ordenou o mentor, apontando a caça que pendia na boca da gata, que concordou com a cabeça, virando-se. - Ah, e amanha esteja pronta no sol alto! - Miou ele por sobre o ombro, sem esperar respostas, colocando suas presas na pilha.
Pata Partida acabou de levar suas presas para os anciãos e, emfim, foi pegar sua parte. Sua barriga roncava de fome, a aprendiz escolheu para si um camundongo gordinho e foi comer no tronco caído, onde os aprendizes comiam.
— Boa Tarde Pata Branca - Ronronou a gata salpicada, alojando-se ao lado da amiga.
— Olá Pata Partida. - Miou ela, dando uma lambida de boas vindas na orelha da gata. - Soube que você estava bem distante hoje cedo - Disse ela, encarando a amiga com seu olhar azul água.
— Foi Pata de Esquilo, não foi? - Perguntou Pata Partida, sem encarar a amiga, dando uma mordida com vontade na presa.
— Ah... sim - Respondeu meia sem jeito - Ele apenas disse que.. que você estava preocupada com algo - Deu de ombros. - Eu apenas achei que quisesse compartilhar. - Pata Partida olhou para o céu, pensativa. Realmente, Pata Branca era uma das poucas em que confiava, talvez seria bom compartilhar suas preocupações com alguém em quem confiava.
— Bem... eu.. eu sonhei que me tornava uma assassina... quer dizer... eu.. eu atacava o Clã... com vários outros gatos vadios - Miou ela, voltando para a hora do sonho. Seu pelo começava a arrepiar-se levemente.
— O.. o quê? - Pata Branca a olhava, seu olhar azul com um brilho de compreensão e suavidade. - Isso pode ser apenas um sonho, quer dizer, não precisa se preocupar com isso... os sonhos nem sempre são coisas boas... - Falou ela, tentando acalmar a amiga, lambendo sua pelagem suavemente.
— Mas... mas não é só isso - ... - Eu.. - Pata Partida pensou em falar no que ouvira na toca da curandeira mais cedo, mas isso era uma coisa que não poderia contar para todo mundo, ou melhor, uma coisa que era melhor guardar para si. - Bem, você tem razão. - Disparou, por fim, trocando lambidas com a amiga.

— Ei, Pata Partida, vamos, levante. - A voz suavemente calorosa ecoava em seus ouvidos, despertando-a calmamente do sono - Vamos, Filha acorde. - Miou novamente, cutucando a pelagem da aprendiz com cuidado. Pata Partida abriu os olhos lentamente, Flor de Aurora, sua mãe, a olhava carinhosamente.
— Arrrgh - Grunhiu ela, fazendo força para levantar-se. O treino de hoje cedo havia esgotado suas energias, e, depois da refeição, fora descançar um pouco.
— Já é lua alta, seu pai convocou uma reunião, vamos, levante-se. - Ela deu a última cutucada na filha, e, girando agilmente a silhueta macisa, ela saiu da toca. Pata Partida ficou ali mais algum tempo, se lavando. Quando saiu da toca, a aprendiz deixou o queixo pender sobre a boca tal era sua surpresa. O acampamento estava incrivelmente claro, sendo iluminado pela luz da lua cheia. Podia-se ver várias silhuetas recortadas nas sombras andando para lá e para cá, trazendo a si, uma lembrança nostálgica de quando era filhote, só não conseguia saber o por quê.
— A clareira está bem movimentada hoje. - Murmurou a aprendiz, aproximando-se de Folha de Outono e Céu Chuvoso, que olhavam para a Pedra Grande, curiosos.
— Sim.. está mesmo. - Respondeu Céu Chuvoso, fazendo-lhe um aceno de cabeça.
— É, porém a noite está bem calma... se eu ficar no acampamento levarei Pata Branca para treinar... a escuridão da noite as vezes pode ajudar. - Miou Folha de Ouotono, piscando-lhe com carinho. A figura escura do líder sobresaiu no topo da pedra com um único e ágil pulo, calando os gatos que ali conversavam. Não foi preciso fazer a convocação habitual, pois, todos os gatos já estavam ali reunidos.
— Bom, como todos sabem, hoje é dia de lua cheia, proporcionando-nos a honra de comparecermos a assembleia. - Ele fez uma pausa, varrendo a clareira com o olhar. - Irá a assembleia essa noite eu, Cauda de Esquilo, Castanha, Estrelinha, Pelagem de Chumbo, Espinheiro, Pata Listrada e Pata Partida. - Disparou o líder, descendo então da pedra. Pata Partida sentiu uma onde de emoção tomar conta de si, nunca antes havia ido numa assembleia, e, ter a honra de comparecer junto ao seu irmão a deixava feliz.
— O que irá dizer sobre os gatos vadios que andam invadindo nosso território? - Perguntou Estrelinha, um dos anciãos mais velhos, porém bem sábio e experiente.
— Ainda não sei... - Admitiu o líder, olhando-o com segurança. - Isso não é um problema apenas do Clã do Trovão, os gatos vadios vagam pela floresta a hora que bem entendem, isso é uma ameaça a todos os Clãs. - Respondeu por fim, abaixando a cabeça em um cumprimento e então, fazendo um sinal com a cauda para que os convocados o seguissem, rumo a assembleia.


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