Era o seu primeiro dia de aula naquele colégio. Para Bruno, era mais um inferno que sempre o atormentava.

Bruno era apenas um garoto de dezessete anos, franzino, de cabelos arrepiados e castanhos. Seus olhos eram esverdeados, e contrastava com sua pela branca.

Odiava o emprego de sua mãe, que o fazia ir de cidade em cidade. Agora estava num pequeno bairro no Interior de São Paulo. Já era um rapaz tímido, ainda mais se mudando a cada oito meses.

Mas sua mãe sempre tentava o confortar em vão, dizendo que não se mudariam mais, e que agora Bruno poderia ter os amigos que sempre quis ter.

Para um jovem de dezessete anos, era baixo, usava óculos discretos, mas que escondiam seus olhos esverdeados.

         Não era para se gabar, mas sabia que logo ia ser conhecido no colégio inteiro por suas belas notas. Desde novo sempre foi o melhor aluno de quaisquer escola que entrasse, e isso nem sempre agradava aos outros, e as vezes nem a ele mesmo.

Entrou na sala de aula de modo tímido. Como sempre, todos os olhares se dirigiram ao mesmo. Aqueles olhares eram como tiros que fuzilavam Bruno, não que os outros o olhasse assim, mas ele detestava ser o centro das atenções aonde quer que fosse.

Tentou o máximo evitar os olhares dos outros alunos, se sentou na primeira cadeira vazia. Largou sua mochila preta com desenhos vermelhos ao chão. Ajeito seus óculos que escorregava lentamente para frente.

         A professora nesse momento parou a sua aula de História e também dirigiu-se até Bruno. Assim como o rapaz, usava óculos, mas não tão discreto como do mesmo.

Tinha os cabelos loiros, presos a um laço preto. Sua pele enrugou-se mais ainda ai abrir um sorriso simpático para o novo aluno.

      – Bom dia, meu jovem rapaz – Desejou a professora.

      – Bo... Bom dia! – Respondeu desajeitado.

      – Como se chama? – Indagou a mulher, deixando o garoto mais constrangido.

      – Bruno... –

      – Prazer, Bruno! Me chamo Maria... Seja bem vindo! – Desejou a mulher, voltando em seguida escrever ao quadro negro.

         Algumas cadeiras atrás se encontrava Rodrigo, um rapaz loiro, robusto e alto.

Seus cabelos arrepiados em forma de moicano logo demonstrava a rebeldia do jovem.

Seus olhos azuis logo se dirigiram ao novo aluno a sua frente. Soltou um sorriso malicioso e em seguida levou seu olhar até seu amigo a seu lado.

      – Arranca uma folha do seu caderno, Eduardo... – Pediu Rodrigo, erguendo sua mão até seu amigo.

         Eduardo, assim como Rodrigo, era um rapaz robusto, tinha apenas dezesseis anos. Seus cabelos pretos lisos e olhos azulados faziam sucesso entre as meninas da escola. Mas não tanto sucesso quanto Rodrigo, que era líder de um time de futebol.

Assim como desejado, Eduardo arrancou uma folha de seu caderno e deu para Rodrigo. Como era de se esperar, o jovem delinquente lançou uma bola de papel diretamente na cabeça de Bruno, sem a professora sequer notar.

Mais um idiota para atormentar a vida de Bruno. Mas isso parecia não irritá-lo, já havia se acostumado com esse tipo de pessoas.

          E logo chegou o intervalo. O pior momento para Bruno, se sentia um animal exótico no zoológico. Aqueles olhares o incomodava tanto, que diversas vezes deixava de sair da sala, para evitá-los.

O jovem garoto riscava uma das ultimas folhas de seu caderno, enquanto os outros alunos saiam da sala.

      – É aquele o novo aluno... – Comentou Rodrigo.

      – Ah, é? Achei ele bonitinho... – Disse a garota ao seu lado.

      – Vamos até lá ... – Ordenou Rodrigo, se aproximando de Bruno.

         Bruno já percebia a aproximação de alguém, mas preferiu ignorar e fingir que não era com ele. Mas Rodrigo agora colocava sua mão sobre seu ombro, agora Bruno não via alternativa, ao não ser olhar.

      – Olá – Sorriu Rodrigo.

      – Oi... – Disse sucinto.

      – Me chamo Rodrigo. Esses sãos meus amigos, Eduardo, Ísis e Mariana! –

      – Ah... Me chamo Bruno – Respondeu Bruno, tentando disfarçar sua timidez irritante.

         Rodrigo sentou-se a frente de Bruno, ainda mantinha um sorriso. Mas não parecia ser um sorriso de alguém simpático, e sim de uma pessoa debochada, sarcástica e esnobe. Esse era o melhor dom de Bruno, conseguia perceber o caráter de qualquer um apenas em olhar para o individuo.

      – Da onde você é? – Indagou Ísis.

Ísis era um bela menina de dezesseis anos, cabelos pretos. Pele morena, assim como de uma índia. Seus cabelos ficava um pouco acima de sua cintura, seus olhos castanhos realçava sua pele morena e seus lábios avermelhados.

      – Eu vim do Sul... – Bruno responde, dirigindo seus olhos a beleza da garota.

      – Já fui pra lá, é um lugar muito bonito! – Elogiou Mariana.

Mariana tinha os cabelos loiros cacheados até os ombros. Seus olhos eram tão azuis como o céu em dias ensolarados. Tinha dezoito anos, um belo corpo, demonstrando que já era uma mulher com toda sua sensualidade.

         Bruno sorriu para as meninas e os dois garotos. Não que já confiasse nos mesmos, mas não gostava de fazer inimigos. Precisava ser agradável, mesmo que Rodrigo não lhe passasse a mínima confiança.

      – Não se preocupe... Agora somos amigos! – Ponderou Rodrigo, pondo novamente sua mão direita sobre o ombro do novo aluno.

         Rodrigo permanecia sentado no sofá. Em sua mão direita segurava um copo de cerveja. Ouviam música em alta altura, um rock agressivo.

A sala estava toda bagunçada, haviam latinhas e copos espalhados por todos os lados. Uma pizza pela metade continuava largada na mesa de madeira.

      – E então, o que vocês acham? – Perguntou Rodrigo, bebendo mais um pouco de cerveja.

      – Eu acho crueldade... – Discordou Ísis, sentada na janela ao lado do sofá.

      – Deixa de ser boba, Ísis... Só vamos brincar com o moleque! –

      – Ah, eu acho que vai ser bem divertido – Respondeu Eduardo, encostado sobre a parede de frente para seu amigo.

         Mariana se encontrava deitada sobre a perna de seu namorado, Thiago.

A garota se divertia com as idéias cruéis de seu amigo, já Thiago não demonstrava tanta animação.

Thiago era um rapaz de dezoito anos, assim como sua namorada. Tinha os cabelos arrepiados loiros arruivados, olhos castanhos e um corpo robusto assim como de Rodrigo.

      – Concordo com minha irmã, isso pode sair errado, Rodrigo! – Alertou o namorado de Mariana.

      – Caramba, vocês são tudo um bando de neorótico... É só uma brincadeirinha com o novato, o que tem demais nisso? – Eduardo insistiu.

      – Eu acho uma ótima idéia! – Falou o garoto que acabara de entrar na sala segurando uma garrafa de cerveja.

      – É assim que se fala, Igor... – Falou Rodrigo, dando altas gargalhadas.

         Igor sentou-se ao chão. O garoto tinha apenas quinze anos, era o mais novo do grupo. Seus cabelos pretos eram quase raspados. Tinha o corpo magricela, e um rosto bastante juvenil, entregando de vez sua idade. O que o deixava completamente irritado.

      – Então, ninguém contra, certo? – Perguntou Rodrigo, enquanto acendia um cigarro.

      – Contanto que não machuque o garoto, por mim tudo bem... – Concordou Thiago, enquanto era observado por Mariana que permanecia deitada sobre sua perna.

Pela feição da jovem Ísis, demonstrava que a  mesma discordava totalmente daquilo. Mas era minoria, então decidiu aceitar meio relutante.

      – Bem... Está meio tarde! Preciso ir... – Comentou Mariana, levantando-se do sofá.

      – Eu te levo em casa... – Thiago se levantou junto de sua namorada – Vamos, Ísis –

A irmã de Thiago decidiu ir junto do casal, afinal, já passava das dez horas da noite.

      – Eu também já vou indo – Eduardo disse – Valeu por emprestar sua casa, Igor! –

         Logo todos já haviam ido pra suas perspectivas casas. Parecia que o plano de mal gosto de Rodrigo continuava.

         Já havia chegado a hora do intervalo. Rodrigo conversava com seu amigo Eduardo próximo a um dos bebedouros.