Um conto de destino e morte escrita por magalud


Capítulo 18
Capítulo 18 – Minha amada imortal




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Capítulo 18 – Minha amada imortal

 

— Olá, Severus.

O sorriso de Hermione nunca pareceu mais adorável, seus traços graciosos totalmente cativantes. Severus precisou se esforçar para manter a voz firme.

— Olá, Hermione.

— Posso ver que todos os mal-entendidos estão finalmente esclarecidos. Fico contente.

— Eu também. Chronos foi insistente em garantir que não havia nada entre vocês dois. De outro modo, eu não teria vindo.

— Senti sua falta - disse ela, ainda sorrindo. - Você é o único amigo que eu tenho de... antes.

Severus confessou:

— Até hoje me sinto mal por ter mentido para você, aliás. Mas claramente não havia outra maneira. Além disso, nós, Encarnações, não devemos nos misturar com mortais.

— Soa preconceituoso, mas posso entender o motivo agora.

Ele mudou de assunto:

— Satã voltou a amolar você?

— Para dizer a verdade, não. Acredito que a nossa pequena trapaça tenha funcionado.

A voz dele adquiriu timbre de seriedade.

— Hermione, escute. Se ele voltar, você deve me falar imediatamente, ouviu?

Embora Severus pudesse ver que Hermione estava calma, estava claro que ela não subestimava a situação.

— Você sabe o que está acontecendo? A Mãe Natureza parecia bem preocupada.

Severus respondeu:

— Todas as Encarnações estão em alerta para as maquinações de Satã, mas ninguém sabe com certeza o que ele está aprontando. Não se pode presumir que ele tenha abandonado os planos a seu respeito. Esta é a razão pela qual você deve estar sempre alerta contra qualquer tentativa.

Os grandes olhos castanhos de Hermione o encararam, e ela garantiu solenemente:

— Farei isso, Severus. - Então ela inclinou a cabeça e franziu o cenho, formando ruguinhas entre as sobrancelhas. - Você se incomoda que eu o chame de Severus? Tecnicamente não é mais seu nome, então eu não sei se-

Quando ela não terminou a frase, Severus adiantou-se em garantir:

— Não me incomoda. Na verdade, eu prefiro ser chamado pelo meu último nome mortal. Da mesma forma, você se incomoda se eu chamá-la por outro nome que não Clotho?

— Por favor não me chame assim. Não consigo pensar em mim mesma com sendo nada além de Hermione.

— E como viúva, também?

Ela arregalou os olhos. Severus imaginou se ele mencionara cedo demais o difícil tema do marido morto. Ele tentou corrigir a situação:

— Eu não deveria - Eu lamento - Por favor-

Hermione ergueu uma mão.

— Não, tudo bem. É só que eu não penso em Ron há alguns dias e - ela parecia admirada - fiquei surpresa. Na verdade, estou chocada, porque antes disso tudo acontecer, eu não conseguia pensar em nada além de  Ron.

Severus sentou seu coração apertando, ao perceber que ela devia se sentir culpada por não agir como uma viúva correta ao perder o amado marido. Sempre um cavalheiro, ele observou educadamente:

— Não se pode esperar uma recuperação rápida de uma perda tão trágica.

Hermione o encarou, um pouco admirada, e assentiu.

— É mesmo. Ainda assim, tudo que eu consigo pensar neste momento é no quão desesperadamente eu quero beijar você.

E ela se pôs a fazer exatamente isso, enquanto Severus não conseguia decidir se entrava em pânico, se tinha um ataque cardíaco de grandes proporções ou se ele simplesmente se entregava a uma alegria desmedida. Sua inação foi interpretada como consentimento por Hermione e ela não perdeu tempo em tascar-lhe um daqueles beijos de cinema.

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Houve um silêncio ensurdecedor e comemorativo dos outros dois aspectos do Destino, quando as duas Encarnações finalmente se entregaram a seus sentimentos há tanto tempo reprimidos, e viraram um casal. Atropos e Lachesis deram-se as mãos e abriram sorrisos de dividir o rosto ao usufruírem de lugares privilegiados para testemunhar um final feliz.

Ou talvez fosse apenas o começo. Quem poderia dizer?

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Abismado e atônito eram duas boas definições para a reação de Severus ao ser profundamente beijado pelo objeto de suas afeições, Hermione Granger, antes Hermione Weasley. Sua surpresa, porém, não o impediu de apreciar os lábios finos e aromas doces da moça. Havia um ruído alto em seus ouvidos da corrente sanguínea, e um brilho de alegria nos olhos dela quando ele a viu assim que seus lábios se separaram. Ela tinha um sorriso tímido, mas ele continuava boquiaberto.

— Espero não ter assustado você - ela disse.

Severus ainda tentava controlar seus batimentos cardíacos.

— Er..

O sorriso dela caiu. Em segundos ela se mostrou horrorizada.

— Ai, não, foi demais para você? Será que eu interpretei tudo errado? Se você não quiser isso, eu lamento.

Ele segurou as duas mãos dela e garantiu:

— Não, não, você não interpretou nada errado. Eu só - estava desprevenido.

Hermione estava um pouco insegura também.

— Não tive intenção de chocar você.

Ele beijou as duas mãos dela entre as dele.

— Foi um choque inesperado mas bem-vindo. Eu não tinha ideia que você aceitaria isso.

Ela deu de ombros.

— Não foi difícil. Eu sempre soube que Ron iria querer que eu reconstruísse minha vida. Embora ser imortal não fosse parte do plano, não vou reclamar também.

Severus ergueu uma sobrancelha e admitiu:

— Você não me pareceu ser tão aventureira antes.

Ela riu suavemente, um som definitivamente maravilhoso.

— É mesmo? Viver como foragidos além de combater um Lord das Trevas no mundo bruxo não é aventura suficiente para você?

Ele lembrou:

— Até onde eu saiba, você entrou naquele combate com um entendimento profundo, preparações e antecipações de cada futura possível necessidade.

Ela suspirou:

— E ainda assim quase não conseguimos.

— Eu sei. Eu estava lá - rememorou Severus gravemente, coração apertado. - Teria sido doloroso vê-la morrer.

Hermione disse:

— Você se tornou uma Encarnação muito respeitada após a Batalha de Hogwarts. Eu nunca soube disso.

— Você era mortal na ocasião. Mortais não devem saber sobre essas coisas. É bem compreensível.

Hermione sorriu.

— Severus, você se sente bem com isso? Quero dizer, sobre - nós? Ouvi que você não queria ofender seu amigo Chronos por minha causa.

— É bem verdade - admitiu Severus -, contudo, isso terminou por ser uma preocupação descabida. Apesar disso, eu sugiro manter dos outros este novo progresso como segredo, para não alertar o Pai da Maldade.

— Acho que o segredo será prudente. - Ela sorriu para ele, antes de rir em voz alta. - Isso é estranho. Digo, olhe para nós. Aqui estamos nós, dois imortais, num romance secreto e clandestino, trocando memórias de nosso tempo como mortais. Na verdade, é quase bizarro.

— Verdade - ele concordou, com um sorriso. - Acha que pode lidar com isso?

Ela chegou bem perto dele, e o sorriso mudou de ingênuo para provocante.

— Acho que posso, mas você sabe que sou aventureira.

E pela primeira vez em muito, muito tempo, Severus Snape deu uma risada sincera e genuína.

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Namorar uma Encarnação da Imortalidade provou ser mais complicado do que eles previam. Os horários de Severus como Morte eram literalmente imprevisíveis, e Hermione também tinha seus deveres - tanto como Lachesis ou como Clotho, já que ambas compartilhavam o mesmo corpo. E assim, o mesmo corpo tinha que arranjar tempo também para Chronos, para que ele e Lachesis pudessem se ver.

— E como vamos fazer isso? - indagou Chronos.

— Devemos manter as aparências a todo custo - disse Lachesis.

— Obviamente - palpitou Severus.

— Não vejo como - disse Chronos. - Quero ver minha amada, e a Antiga Clotho vinha até minha casa. Mas se Lachesis fizer isso, Severus terá que vir aqui ver a Nova Clotho. E isso pode gerar suspeitas.

— Como assim? - quis saber Severus.

— Ah, meu chapa - disse Chronos. - Você é meu camarada e tudo mais, mas todo mundo sabe que você adora aquela sua casinha adorável, e que você raramente sai de lá. Daí as suspeitas.

A carranca de Severus aumentou, e Lachesis teve que admitir:

— Ele tem razão, velho amigo. Você é meio solitário e nossa Nova Clotho conseguiu arrancá-lo de dentro de sua casinha tão segura.

A Encarnação da Morte tentou firmemente não ficar vermelho. Chronos sugeriu:

— E essa pode ser a solução para nosso dilema. Morte dificilmente sai de casa. Por que ele deveria parar de fazer isso?

— O que está dizendo, amor?

— Estou dizendo - esclareceu o Tempo - que Destino e Morte são reconhecidamente bons amigos. Destino o visita com frequência, não é, minha amada?

Lachesis indagou:

— De que outra forma eu veria meu amigo? Ele quase nunca sai de casa.

— Exatamente! - exclamou Chronos. - Por que isso deveria mudar? Se Lachesis continuar a visitá-lo em casa, não haverá motivo para suspeita.

A sobrancelha de Severus voou para cima quando ele percebeu as implicações.

— Lachesis entra e Hermione fica, é isso que você está dizendo?

— Agora você está entendendo o que estou dizendo - sorriu o homem mais velho.

Severus sentiu que ele precisava dizer:

— É uma boa ideia, mas as pessoas podem acreditar que essas visitas não sejam somente "chazinho com torradas".

Lachesis se animou:

— E elas não estariam erradas. Ao menos não completamente erradas.

Chronos sorriu de maneira pervertida.

— Meu docinho de coco! Está sugerindo que deixemos os outros pensarem que você está mantendo um falso caso com Thanatos do mesmo modo que eu tenho um falso caso com Clotho?

— Por que não? - ela quis saber. - Ainda acho que não é um falso caso, porque tecnicamente Destino tem mesmo um envolvimento romântico com Morte.

Severus observou:

— Isso é genial. Soa até shakespeariano, se me permitem.

Chronos contribuiu:

— Na verdade, se a memória não me falha, esse é o enredo de uma ópera, escrita por um homem excessivamente talentoso e engraçado que conheci um tempo atrás. Ou será que ainda vou conhecê-lo no futuro?

Lachesis sorriu com afeto.

— Não se apoquente, luz da minha vida. O importante é que tudo ficará bem agora. Isso resolve tudo!

O novo arranjo foi imediatamente posto em prática. A Mãe Natureza veio para o chá e já ficou sabendo do novo objeto de afeição de Lachesis. A cadeia de eventos estava em ação quase imediatamente: Natureza contou para Marte e, tão certo como o Sol se levantava, ele mencionou o fato para seu velho camarada Satanás. Em questão de dias, uma visita apareceu em Spinner's End.

— Morte, meu bróder!

Severus não estava impressionado.

— Gostaria que você evitasse referir-se a mim nestes termos.

O homem de terno vermelho negou.

— Não mesmo, cara. Não vai rolar. Então! O povo anda dizendo que você apareceu com uma nova amante. Seu danado!

— Como é que é?

— Não precisa ser tímido, cara. E não estou julgando ninguém. Não, eu não. Além do mais, quem sou eu para julgar se você prefere o prêmio de consolação, já que a deliciosa está fora de alcance. Aquele horroroso do Chronos é tão ganancioso! Mas deixa isso para lá. Diga aí: como vai a coroa? Lachesis nunca pareceu ser grande coisa na cama, mas às vezes essas são as mais safadas, não é mesmo? Digo, cara, elas têm experiência!

Morte nem se abalou.

— Eu me recuso a abordar qualquer um desses assuntos. Não são de sua conta.

Satã negaceou com a cabeça.

— Mas aí é que está: é muito da minha conta. Você foi muito esperto. Existem vantagens que eu não tinha considerado nesta situação, meu amigo. A senhora deve sentir saudades destas atividades; portanto, você deve satisfazer as necessidades dela, e com certeza ela deve ser bem impaciente. Ela também não só tem habilidades nas artes do amor físico mas também ela provavelmente deve ser muito grata a você pelos serviços que você proporciona. Isso é que é vantagem! Você deve ser um homem muito, muito sortudo, meu amigo.

— Eu disse que não discutiria isso com você ou qualquer um.

— Eu entendo. Você é da velha guarda. Eu respeito isso. Você provavelmente não quer expor a dama. Que cavalheiresco. Admirável, até.

Severus suspirou para deixar clara sua irritação.

— Que bom. Então, se isso é tudo...

— Não, eu só queria lhe dar os parabéns, Sr. Espertinho. Mas eu peço que me conceda um pequeno favor, por gentileza. Apenas me fale - sobre você.

— Eu?

A voz de Satã se tornou mais gentil e suave quando ele indagou:

— Você está contente? A dama o faz feliz?

Era um truque. Severus podia ver de longe que era um truque, então ele andou com cuidado. Ele também fez sua voz ficar mais suave para responder.

— Só o que posso dizer é que isso não é de sua conta.

Satã jogou a cabeça para trás e soltou uma risada alta, antes de observar:

— Você é engraçado e também esperto. Será um deleite tê-lo finalmente nos meus domínios.

Foi o suficiente para lembrar Severus do motivo de estarem fazendo tudo aquilo. Uma fúria gelada formou-se em suas entranhas só de pensar nessa criatura perigosa assediando Hermione. Por isso sua resposta perdeu toda a gentileza e suavidade quando ele rosnou:

— Em seus sonhos.

— E aí está: o ódio puro e sincero, bem como eu gosto - apontou Satã, contente consigo mesmo. - Agora que meu trabalho aqui está feito, devo me despedir. Não se preocupe. Eu saio sozinho. Até mais!

Severus admitiu que ele se corroeu de ódio por algum tempo depois que o Capiroto saiu. Ele relatou o incidente para as outras Encarnações.

— Isso só comprova como ele é perigoso - apontou Chronos.

— E que ele não é do tipo que desiste facilmente daquilo que quer - completou Lachesis.

— Farei tudo que puder para proteger Hermione - jurou a Encarnação da Morte.

Lachesis virou-se para ele, com um sorriso.

— Ela sabe, meu amigo.

E aquilo aqueceu o coração de Severus mais do que ele gostaria de admitir em voz alta.

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— Você está bem, Hermione?

Eles estavam em Spinner's End, como tinha sido combinado. Severus tinha arrumado um pouco a casa, com objetos novos para tornar o ambiente aconchegante e mais confortável para a namorada que o visitava. Na cama, a conversa pós-sexo era um luxo ao qual eles nem sempre podiam se entregar. Aquele era um momento raro.

Hermione sorriu com tristeza, aconchegando-se a ele.

— Você me conhece bem mesmo.

— Aconteceu alguma coisa?

— Eu fui vê-la ontem.

— Sua filha? Rose?

Ela assentiu.

— Ela cresceu tanto. O tempo passa aqui mais rápido do que quando somos mortais?

— Não, o tempo é o mesmo, muito embora Chronos mude. É nossa percepção que muda. Eu vivi apenas pouco mais de vinte anos, e mais vinte se passaram desde então, mas parece apenas uns seis.

Hermione ainda tinha a mente distante.

— É tão estranho observá-la assim. Sou a mãe dela, mas ela tem uma mãe que não sou eu.

Severus beijou seu cabelo.

— Gostaria de poder ajudar. Mas até hoje tenho problemas em identificar o que nós somos. Porque não estamos mortos, mas podemos morrer. Não somos eternos, mas não envelhecemos. Estamos à margem da existência.

— Mas nós amamos - ela disse, e beijou-o nos lábios. - E comemos. E dormimos e bebemos e sentimos.

— Encarnações da Imortalidade, é como nos chamam - lembrou ele, com um suspiro. - Podia ter um modo mais bacana de lidar com isso.

Hermione deu de ombros.

— Talvez o que estamos vivendo agora seja o melhor que existe. E não é lá tão ruim, vamos combinar.

— Verdade - ele admitiu. - E a pergunta se faz necessária: fazer sexo comigo transforma você numa pessoa macambúzia?

— É claro que não! - Ela se pôs a tranquilizá-lo. - Estes são meus grilos não resolvidos de mãe. Espero que isso não pese tanto no dia do meu julgamento.

— Acredito que você possa se redimir durante o tempo no cargo. Deve se animar por ter essa chance. Eu sei que não me concederão nenhum alívio.

— Como pode ter tanta certeza?

— Satanás me diz que é questão de tempo, e nisso acho que ele tem razão. Eu matei um homem (Morte) e atentei contra a minha própria vida. Isso sem mencionar meus atos nos meus tempos de Death Eater. Eu precisaria de umas duas reencarnações para compensar tudo isto.

— Eu sou meio nova aqui, mas as outras Encarnações disse que você é exemplar como Encarnação da Morte. Então devia pegar mais leve com você mesmo.

Severus sorriu e apertou-a contra si.

— Que sonho lindo: uma eternidade a seu lado...

— Uma eternidade é muito tempo - ela disse, numa voz marota e falsamente inocente. - O que poderíamos fazer para matar esse tempo todo?

Ele lambeu a orelha da moça e sussurrou sensualmente:

— Tenho certeza de que seremos capazes de bolar alguma coisa...

E todos os pensamentos macambúzios foram dispersados para bem longe.


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