Bela Morta escrita por Eloá Gaspar


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora!



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Bruno sentiu sua cabeça latejar com força mesmo antes de abrir os olhos e quando o fez sentiu a claridade o consumir, como fazia aos vampiros em filmes de terro antigo. Mesmo com claridade o castigando, Bruno conseguiu ver ao seu redor que estava na sala da sua casa, mais especificamente jogado sobre o tapete, com as mesmas roupas de ontem, com exceção dos sapatos e dos óculos. E de todos os malefícios de uma boa ressaca, ele não havia obtido um, que ela já começava duvidar se erra um malefício mesmo, Bruno não havia esquecido nada da noite passada.

As coisas estavam bem confusas para o rapaz, mas ele conseguia lembrar de todas as suas ações, principalmente do beijo que havia dado em Ana. Bruno enterrou a cara no tapete com a lembrança, porém ele não se demorou muito nessa posição, pois um cheiro forte, aconchegante e muito conhecido alcançou suas narinas, café.

— Ainda bem que você acordou. - Bruno sentiu seu coração parar por alguns segundos e pensou que talvez ainda estivesse bêbado.

— Ana? O que você está fazendo aqui? - ela havia acabado de entrar na sala e assim como ele vestia as roupas do dia anterior.

— Você estava muito bêbado, te trouxe para casa e quis ter certeza que estava completamente saudável.

— Ana, desculpa! Desculpa mesmo. - falou se levantando em um movimento brusco que quase o fez cair devido a dor de cabeça.

— Tudo bem. Vejo que já está melhor, eu fiz café e já vou indo.

— Não, por favor. Toma café comigo, precisamos conversar sobre ontem.

— Eu não acho uma boa ideia. - ela não queria ficar ali, mas Bruno já sabia como ela funcionava.

— Eu vou insistir e você vai ficar, vamos pular essa parte e ir tomar café?

— Ok.

— Ótimo, só vou no banheiro antes.

Ele foi até o banheiro e aproveitou para tomar um banho rápido, com a intenção de melhorar seu aspecto e sua dor de cabeça. Bruno estava ansioso para conversar com Ana, mas ao mesmo tempo sentia-se temeroso, ele havia cruzado uma linha muito delicada, ela ainda estava ali, porém isso não significava que ela não iria embora e nunca mais voltaria.

Saindo do banheiro Bruno passou em seu quarto para se vestir e antes de sair pegou um pedaço de papel bonito, fez um pequeno pássaro de papel que havia aprendido com um amigo na faculdade e se direcionou a cozinha, onde Ana o esperava sentada a mesa de costas para a porta.

Bruno parou um momento encostado na parede da cozinha, observando o coque que Ana havia feito com seus cabelos negros, ele notou também que sua blusa estava amarrotada e que era de um azul mais escuro do que Ana usava normalmente, a cor mais forte contrastava com a pele clara do pescoço da moça e por um momento, Bruno sentiu-se fortemente tentado a enterrar seu nariz ali.

— Voltei. - se anunciou tomando assento perto dela.

— Eu fiz o café um pouco forte. - informou oferecendo a garrafa térmica.

— É disso que eu preciso hoje, obrigado. E isso é para você. - informou entregando o pequeno pássaro de papel a ela.

— Obrigada. - ela pegou o origami com cuidado o analisando com atenção sem perder seu aspecto sem emoção. - É muito bonito.

— Obrigado... não só pelo elogio, mas por ter cuidado de mim. Você não precisava ter dormido aqui, mas, mesmo assim, o fez, isso significa muito para mim. - ele segurou a mão dela entre as suas como se segurasse a joia mais valiosa do mundo.

— Você precisava de ajuda.

— Tiago estava lá, você podia ter me deixado sob a responsabilidade dele, mas veio comigo.

— Você precisava ser tirado de lá logo e Tiago não parecia disposto a fazer isso tão cedo. - ela sempre tinha uma resposta racional, mesmo que não fosse muito convincente.

— Eu podia vir sozinho. - rebateu com olhar desconfiado.

— Na minha antiga cidade um rapaz bebeu além da conta em uma festa, foi para casa sozinho, se perdeu e acabou morrendo afogado em um rio. Era perigoso te deixar só.

— Sua antiga cidade? Onde você morava? - fugiu um pouco do assunto.

— Pinheiral, sul do Rio de Janeiro. - respondeu desviando o olhar de Bruno o fixando na janela como se lembrasse de algo.

— Por que saiu de Pinheiral? - ele havia ficado curioso ao ver a reação de Ana.

— Para estudar. - era verdade, mas Bruno sentia que tinha mais coisa ali.

— E a sua família ainda mora lá.

O silêncio tomou conta da cozinha e Ana ainda tinha os olhos fixos na janela. Bruno sentiu o clima pesar, aquilo era algo que trazia um desconforto real a Ana, finalmente ele conseguia enxergar um princípio de uma atitude emocional, aquilo poderia fazer ele comemorar como um louco por finalmente ver uma reação humana em sua amada, porém pela primeira vez ele havia visto algo trazer desconforto a Ana e isso não era bom para ele.

— Ana. - a chamou tentando obter alguma resposta.

— Eu não quero falar sobre isso. - ela não parecia mais desconfortável e nenhuma emoção se manifestava em seus olhos.

— Ok! Vamos falar então de como eu fui bem idiota com você ontem. - voltou a mudar de assunto agora com um sorriso sem graça.

— Você estava fora de si, isso explica suas ações.

— Mas não as justifica. Eu não deveria ter te beijado sem o seu consentimento.

— Você não sabia o que estava fazendo.

— Eu estava bêbado, não possuído. Eu sabia o que eu estava fazendo, a diferença é que eu estava mais inclinado a realizar os meus desejos mais intensos, como te beijar.

— Como me beijar? - ela não estava surpresa, ela não tinha emoções, mas era bem inteligente.

— É. Sabe? Eu estou bem arrependido.

— Por ter me beijado?

— Não, claro que não. Por não ter pedido sua permissão para te beijar. - respondeu com um olhar intenso e ficando cada vez mais próximo da bela morta.

Ana não respondeu, apenas voltou seu olhar para Bruno que usou a mão para tocar o rosto alvo da moça, os dedos dele eram suaves e ternos e pareciam combinar perfeitamente com a pele macia da bochecha de Ana.

— Eu vou te beijar de novo, mas dessa vez com a sua permissão. Você não precisa dizer "Eu deixo." É só não me impedir, se não quiser é só se afastar. - falou baixo com rosto muito perto dela.

— Por que isso? - ela parecia estar como sempre, mas sua respiração já se tornava irregular.

— Porque eu te amo e respeito. Mesmo que você não demonstre e eu tenha falado um monte de besteiras ontem, hoje posso perceber que no fundo você também gosta de mim, só não sabe ainda. - respondeu tocando o nariz no dela.

— Para que fazer isso? Você poderia se apaixonar por qualquer mulher, como aquela Gabi, você sofreria bem menos. - ele se afastou um pouco surpreso.

Os lábios de Bruno se contraíram em um sorriso gigante, ele estava certo, mesmo tendo demorado muito para ter chegado a essa conclusão ele havia percebido que Ana gostava dele de verdade e sem dúvidas, mas ela apenas não sabia disso.

Ana mesmo sem compreender direito, sabia que Bruno sofria com sua falta de emoções e que era muito difícil para ele amá-la sem ser correspondido da forma que merecia. Contudo, o mais importante era que Bruno acabara de descobrir duas coisas, a primeira era que Ana gostava dele, se importava com seu bem-estar de forma geral e a segunda era que da forma Ana de ser, ela havia ficado digamos que enciumada por causa de Gabi.

Ainda com um sorriso enorme no rosto, Bruno voltou a se aproximar de Ana e com a motivação renovada a beijou, dando total liberdade para ela se afastar, mas ela não o fez. Os olhos sem vida de Ana se fecharam assim que os lábios de Bruno começaram a se mover contra os seus com empolgação. Como se era de se esperar, ela não estava respondendo ao beijo, mas estava completamente entregue as ações do jovem apaixonado, que agora tocava seus cabelos, intensificando sua vontade de tocá-la e beijá-la, porém ele se afastou um pouco menos empolgado com a falta de resposta.

— Eu preciso ir. - constatou mordendo os próprios lábios, em um gesto de nervosismo, mesmo sem parecer se sentir assim.

— Claro, você deve ter muito a fazer, já perdeu muito tempo comigo. - forçou um drama.

— Você precisava. - mesmo sem emoções aquilo parecia muito fofo para ele.

— Eu te levo até a porta. - falou compreensivo se levantando.


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