Bela Morta escrita por Eloá Gaspar


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Feliz Ano Novo!



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Em qualquer outra época se alguém falasse para Bruno que ele estaria irremediavelmente apaixonado por uma mulher sem as características essenciais de sua lista, e que ainda por cima estava aceitando e seguindo fielmente conselhos de Tiago para conquistar essa mulher, ele iria rir e pedir para esse alguém procurar ajuda psiquiátrica, mas hoje essa era a mais pura realidade.

Com um sorriso maior do que o necessário estampado no rosto, Bruno foi para sua casa sem nem perceber a viagem. Ele só conseguia pensar em Ana e em como de alguma forma ele estava avançando, pelo menos era o que ele achava.

Naquela noite, Bruno sonhou com Ana e mesmo no sonho a garota parecia ter surgido do mundo dos mortos, o que mesmo no sonho também não era mais problema para o rapaz. Nos sonhos eles passeavam por um campo aberto e Bruno falava sem parar sobre suas pretensões para o futuro, Ana ouvia tudo sem demonstrar nenhuma reação, até que o rapaz tomou coragem e a beijou um pouco antes de despertar.

— Não... - soltou chateado ao acordar.

Bruno já havia visto de perto todos os encantos de Ana, já tinha tocado sua pele, sentindo sua maciez, delicadeza e calor, já tinha sentido cheiro que ainda podia ser lembrado toda vez que o rapaz respirava fundo lembrando dela, porém ele sabia mais que nunca que jamais estaria em paz até sentir o gosto dela. Até que Bruno beija-se Ana, ele não estaria em paz.

xxx

— Bom dia! O que de tão inesperado aconteceu, para o Sr Certinho chegar atrasado? - Tiago questionou ao ver Bruno entrar com o rosto cansado na sala que dividiam.

— Eu estou ficando louco. - apesar de estar falando sério Bruno sorriu.

— Estou vendo. Isso tem a ver com a Ana? - seu tom era preocupado.

— Eu já não sei mais se tem algo que não tem a ver com ela. - era uma mistura de pesar e alegria inexplicável.

— Eu nunca te vi assim.

— É porque eu nunca estivesse assim.

— Você pediu ajuda a ela? - Tiago começou achar aquilo divertido.

— Sim, e ela acabou aceitando. Hoje depois do trabalho, vamos ao shopping. - respondeu deixando transparecer um orgulho inesperado.

— Isso é ótimo! Você está conseguindo. - falou animado.

— É... eu não sei. Ela ainda não demonstra nenhuma emoção. - estar apaixonado por Ana era como uma montanha russa muito veloz, Bruno ia de extasiado a inseguro em segundos.

— Ela é diferente, você vai precisar ter paciência.

— O problema é que eu preciso beijá-la. - os olhos de Bruno eram de uma convicção inabalável.

— Ok! Isso é novo para mim... Eu realmente nunca te vi assim. - Tiago não conseguia acompanhar as nuances de emoção de Bruno.

— Você não entende. É como uma doença que vai evoluindo... primeiro eu a vi, depois a toquei, então eu senti seu cheiro e agora... eu preciso beijá-la. - Bruno concluiu se sentando com um olhar perdido.

— Por que não pede um beijo de presente de aniversário? - sugeriu em um tom descontraído, mas o melhor amigo sabia que Tiago falava sério.

 - Ela nunca aceitaria isso... Isso é ridículo. - respondeu voltando ao normal.

— Pode ser ridículo, mas você não sabe se ela não aceitaria. Ela aceitou ir no shopping com você.

— Mas isso é completamente diferente.

— Se não quer pedir um beijo de aniversário tudo bem, mas ao menos a convide para seu aniversário.

Bruno até havia esquecido que seu aniversário já era semana que vem, Ana e o trabalho haviam feito ele se desprender de tudo mais, na verdade, Ana era a única responsável pelo rapaz ter saído totalmente do seu normal.

— Então, vai convidá-la ou não? - o melhor amigo insistiu.

— Vou. - respondeu decidido.

— Ótimo! Eu se fosse você pedia o beijo de presente hoje mesmo. - comentou só para provocar o amigo.

— Primeiro, eu não vou fazer esse pedido ridículo e segundo, eu não vou convidá-la hoje.

— Por que não? - perguntou confuso.

— Se eu não perguntar hoje terei uma boa desculpa para procurá-la amanhã. - respondeu com um sorriso divertido.

— Esse é o meu garoto! Está aprendendo. - comentou orgulhoso.

Bruno e Tiago trabalharam bastante o resto do dia, mal tendo tempo de comer direito na hora do almoço, mas isso não impediu Bruno de se ver de dez em dez minutos lembrando de Ana. Ele estava muito ansioso para sair com a sua bela morta, enquanto isso Ana também se pegava lembrando de Bruno, não com a mesma frequência e emoção do rapaz, mas sem dúvidas se Bruno soubesse disso estaria ainda mais feliz.

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— Boa noite! - Bruno falou de forma lenta diante da mesa de Ana que só então notou sua presença.

— Boa noite. - respondeu voltando sua atenção para ele.

— Vim te buscar para nossa missão. Você não se esqueceu, né? - falou deixando um pouco de sua ansiedade transparecer, mas isso não fez diferença para Ana.

— Não, não me esqueci.

— Que bom! Então, podemos ir? - completou sorrindo.

— Sim, só vou guardar minhas coisas. - respondeu colocando os papéis que estudava dentro de uma pasta.

Bruno observou cuidadosamente cada movimento que Ana fazia ao guardar suas coisas. Ele memorizava o movimento dos dedos brancos sobre os papéis e fechos da bolsa, o cabelo negro balançando sobre os ombros, costas e algumas mechas roçando suas bochechas, o os lábios rosados entreabertos puxando o ar involuntariamente. Grande erro!

Bruno desviou os olhos do rosto de Ana puxando o ar devagar. Ao mirar os lábios de Ana tão intensamente, o rapaz comentou um erro quase incorrigível, por muito pouco ele não perdeu o controle e não a beijou ali mesmo. Mas Bruno sabia bem que aquela não era atitude correta e principalmente uma atitude que ele nunca tomaria em sã consciência.

— Podemos ir. - Ana informou tomando atenção de Bruno de volta para ela.

— Vamos. - respondeu nervoso andando na frente dela.

O caminho até a saída da empresa e pelo menos, até dez metro do shopping foi completamente silencioso e dessa vez isso se devia exclusivamente a Bruno, é óbvio que Ana não puxaria uma conversa, mas mesmo se tentasse o rapaz não se sentia capaz de manter uma conversa, ainda mais com a boca de Ana tão perto. Porém com firmeza respirou fundo controlando seus impulsos se comprometeu consigo mesmo a se controlar.

— Estamos quase lá, já tem ideia do que eu devo comprar? - Bruno finalmente iniciou uma conversa.

— Não. - ele esperava por isso.

— Mas eu acho que assim que entrarmos em alguma loja a ideia vai surgir.

— É possível. - Bruno sabia que aquele comentário era mais uma tentativa de manter uma conversa e ele apreciou mais uma “pequena vitória sobre Ana”.

— Acho que podemos começar pela loja de brinquedos. - continuou agora apressando a caminhada.

— Quantos anos a garota vai fazer? - ela havia realmente esquecido.

— Acho que vai fazer dois, isso já descarta a ideia de dar um tabuleiro de xadrez ou algo parecido.

— Os pais poderiam guarda o tabuleiro de xadrez até que ela crescesse. - Bruno ficava cada vez mais contente, porque de alguma forma ela contribuía para conversa.

— Eles poderiam, mas eu quero que ela possa aproveitar o presente agora. - completou já dentro do shopping próximos a loja de brinquedos. - Vamos entrar aqui.

— Tudo bem.

— Vê algo interessante? - questionou ando entre as prateleiras de pelúcias e bonecos de borracha.

— Eu tinha um urso desses quando era criança. - Ana comentou olhando para um urso cor de marfim no topo de uma estante alta e apesar da falta de emoção seu olhar era intenso.

— Você gostava desse urso? - Bruno questionou esperançoso.

— Muito. - mesmo com aquela resposta sincera, a apatia era presente.

— Você ainda o tem?

— Não.

— O que aconteceu com ele? - o rapaz se agarrava a essa conversa cheio de esperanças de um resquício de emoção.

— Ficou para trás. - respondeu indiferente.

— Para trás, tipo a casa dos seus pais?

— Eu não quero falar sobre isso. - ela não parecia triste, tudo continuava o mesmo, sem emoções, mas mesmo querendo continuar ele sabia que era melhor não insistir.

— Só mais uma pergunta. - falou um pouco hesitante.

— Faça.

— Você acha que a menina vai gostar do urso?

— Acredito que sim. - respondeu fazendo com que Bruno sorrisse ao formular uma ideia em sua mente.

— Então é ele mesmo que eu vou levar. - respondeu procurando um funcionário da loja. - Amigo! Pode pegar dois ursos de cima da prateleira para mim? - pediu ao funcionário que passava no começo do corredor.

— Claro, senhor. - respondeu prestativo indo até eles.

— Pretende presentear a menina com dois ursos? - Ana questionou interessada, mesmo sem demonstrar.

— Não, um é seu. - respondeu com um sorriso quase infantil.

— Não é necessário.

— Eu insisto. - ele já sabia que a insistência era sua melhor arma contra o jeito de Ana.

— Aqui, senhor. - o atendente da loja entregou os dois ursos para Bruno.

— Muito obrigado. - agradeceu já se movendo para o caixa empolgado com sua ideia.

Após pagar, Bruno pediu para a moça do caixa colocar um dos ursos em um embrulho de algum tema infantil do momento, enquanto segurava firme, sentindo seus dedos afundarem no material macio do objeto.

— Esse é seu! - falou feliz entregando a pelúcia para Ana.

— Ainda não entendo o motivo desse presente. - respondeu pegando o urso em suas mãos e o apertando instintivamente.

— Você veio me ajudar, acho que você merecia. - falou observando atentamente os dedos de Ana flexionados sobre o urso.

— Eu te devia um favor. - ainda não fazia sentindo para ele.

— Na verdade isso só foi uma desculpa, você não me devia nada. E de qualquer forma eu fiquei muito feliz em te dar esse urso. - confessou com um sorriso largo, afinal agora Ana teria algo para se lembrar dele constantemente.

— Obrigada. - respondeu simplesmente já abraçada ao urso.

Era uma figura estranha alguém visivelmente sem emoções, agarrada a um lindo ursinho de pelúcia, mas Bruno estava amando aquela visão, ele tinha certeza de que conseguiria lembrar daquela imagem para sempre, mesmo que se passasse milhões de anos.

Depois de comprar o presente para a filha de seu amigo, Bruno e Ana foram embora para suas casas, o rapaz até tentou convencer Ana de fazer um lanche com ele na praça de alimentação, mas ela recusou e ele pensou que talvez não fosse hora de usar a insistência ao seu favor, afinal já a tinha usado hoje.

No caminho de volta para suas casas, Ana e Bruno não falaram muito e também não pareciam precisar, a cena estranha de Ana agarrada ao seu ursinho de pelúcia era entretenimento suficiente para Bruno. A bela morta observava atentamente seu brinquedo, nada em sua fisionomia ou olhar podiam demonstrar se ela gostava ou não do presente, mas a forma como ela dava atenção ao urso, fazia Bruno acreditar que ela havia gostado do presente a sua maneira e isso era o suficiente para ele.

A estação em que Ana ia soltar estava se aproximando, a moça diferente da ida, agora estava sentada e ao perceber a chegada de sua estação se levantou, Bruno fez o mesmo .

— Mais uma vez obrigado. - falou a abraçando sem se preocupar de espremer o ursinho entre seus corpos e como sempre Ana não respondeu ao seu abraço.

— De nada. - respondeu olhando para ursinho se certificando que ele estava todo certinho depois do abraço.

— Até amanhã. - falou ao mesmo tempo que o metrô parou.

— Até amanhã. - respondeu antes das portas abrirem para ela sair.


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Notas finais do capítulo

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