Meus dedos corriam pelas teclas tão depressa que pareciam pálidos borrões. A melodia que criavam enchia o auditório, melancólica e solitária. O som das últimas notas era facilmente extinguível pelas palmas que o seguiram. Boa parte do público, o rosto molhado de lágrimas, estava de pé.

Passei a gostar dos meus shows ao longo desse ano que estive viajando. Parecia errado tocar para outras pessoas que não Tom, mas só precisava imaginar que ele estava na plateia ouvindo. Além disso, percebi que as pessoas precisavam da minha música, por isso a organização me ‘encobriu’ e pediu os shows. O povo não tinha esperança, e vivia vidas tristes e vazias. Nem todos tinham uma Hannah ou um Tom. Minha música os fazia bem. Durante as horas que me ouviam, não existia mais o feio do mundo. A beleza de meu piano cobria tudo.

Por isso, relutei em abandoná-los por outro motivo que não Tom quando o convite chegou. ‘Você é um prodígio’, o homem que me procurou no camarim explicou. ‘Venha para a melhor escola do mundo, e será a pianista mais bem sucedida que existe.’

Gostava dos meus shows, fazer bem àquelas pessoas. Mas se fosse a melhor pianista, talvez...