Sky tinha acabado de fechar os olhos, provavelmente tentando aliviar a tontura ou algo assim. Enquanto isso, Leo estava a seu lado, com as mãos para cima e um sorriso no rosto, como se estivesse andando em uma montanha-russa ou algo do gênero. Às vezes eu odeio essa sua atitude infantil e imatura. Também detesto quando ele banca uma de espertalhão ou de cupido, como havia feito minutos atrás comigo e Jason. Nunca entendi meus sentimento por Jason. Sempre achei ele um cara muito simpático e com assuntos interessantes, além de não ser nada feio. Gosto de conversar com ele, e sempre acabávamos jogando algum jogo de tabuleiro ou cartas juntos. Eu sempre soube que ele tinha uma queda por mim, mas meus sentimentos por ele variavam o tempo todo, por isso nunca tomei uma iniciativa.

 As vezes o via como apenas um amigo e outras, como algo mais. A verdade, é que meu coração sempre ficou dividido entre ele e.... outra pessoa. E esse é o real motivo por nunca tê-lo chamado para sair, não quero iludi-lo ou nada do tipo, já que o que sinto por ele não é nem um pouco estável. Às vezes me pergunto se tenho medo de engana-lo ao aceitar sair com ele, ou enganar a mim mesma.

Viram? O assunto é bem mais complicado do que aparenta ser. E como sempre, Leo tinha que se meter e bagunçar tudo. De qualquer forma, tenho que tirar esse pensamento da minha cabeça e me focar no que é mais importante no momento: a missão.

O portal finalmente parou de girar, e nos deixou em frente ao portão de uma grande e luxuosa casa. Sky por fim abriu os olhos e deu uma cambaleada pra trás. Leo a segurou pelo braço e a ajudou a recuperar o equilíbrio.

— Caraca, isso foi muito legal! - ele começou a rir igual uma criancinha feliz que acabou de sair de um brinquedo no parque.

— Até que enfim acabou - Sky disse ficando de pé novamente - Então Cléo, se quiser bater nele enquanto esperamos os meninos, fique à vontade.

— Ei, eu te ajudei. Que trairagem é essa agora? - Leo protestou brincalhão.

—Tá tudo bem Sky. Já estou acostumada com Leo e suas idiotices - disse mirando-lhe um olhar severo.

— Obrigado, Cléo. Eu acho - ele respondeu confuso quanto a minha frase. - E me desculpa por antes. Mas eu precisava conseguir que Jason nos trouxesse aqui.

— Ainda assim, você não tinha o direito de se meter entre nós... - me virei pra ele furiosa.

— Ei, ei, ei. Vamos nos acalmar, pessoal. - Sky disse posicionando-se entre nós - Precisamos nos unir pra salvar aqueles dois. Leo, tem algo a dizer? - ela se virou para esse.

— Sinto muito, Cléo, de verdade. Sei que o que eu fiz foi errado e prometo que isso nunca mais vai se repetir. – ele me disse com um olhar sincero - Me perdoa?

— Muito bem, agora, Cléo? -  a ruiva tornou seu olhar para mim.

— Perdoado. Pelo menos conseguimos chegar até aqui. – disse após um tempo - E vai ser só um jantar, de qualquer jeito. - disse tentando me convencer também.

—Ótimo! – Sky afirmou batendo uma palma - Agora que o climão foi resolvido e eu não mais tenho que bancar a pacificadora, algum plano para entrar na casa? - ela disse voltando nosso foco para a missão de resgate.

A ruiva dirigiu sua pergunta principalmente a mim, já que Leo havia se sentado no chão e não parecia que ia ajudar muito. Comecei a encarar o casarão. Pelo visto, possuía dois andares. Havia duas janelas na parte de cima que aparentavam ser os quartos. Mas mesmo que eu e Sky fossemos voando e quebrássemos as janelas, ainda não saberíamos onde Will e Jack estavam. Além do mais, quebrar as janelas faria muito barulho e atrairia os outros guardiões, o que daria na certa em uma briga, coisa que eu preferia evitar. Se conseguíssemos apenas pegar os dois e sair dali sem lutar seria muito mais fácil, mas tenho a sensação de que isso não vai acontecer.

— O galera, dá um ligo aqui! - Leo distraiu-me de meus pensamentos.

Ele estava ajoelhado no chão, uma de suas mãos tocando a grama que havia na entrada. Sua cabeça estava inclinada de forma que parecia que ele tentava ouvir algo.

— Acho que tem mais um ou dois andares em baixo da terra - ele disse.

— Como você pode saber disso? - Sky perguntou se aproximando.

— A terra está com nivelações diferentes pra baixo. Também sinto que há uma grande concentração de materiais como tijolo e madeira no subsolo. Materiais normalmente usados em construções. Provavelmente essa casa ainda se estende para debaixo do terra - ele analisou.

— Bom trabalho, Leo - Sky o elogiou.

— Como de costume! - ele disse com crendice para si.

De repente, um portal se abriu de trás de mim, um igual ao que havíamos acabado de sair. De dentro dele, um garoto loiro de olhos azuis saiu, usando uma blusa cinza-escuro por debaixo de uma espécie de jardineira branca. Seu capuz estava abaixado, mas ainda podia-se ver sua máscara amarelo-claro que ele usava para cobrir os olhos. Seu cinto era preto e possuía um sol no fecho. Acompanhando-o, um menino com os cabelos negros e olhos verde-claro, saiu do portal. Ele utilizava uma roupa do mesmo estilo do loiro, mas eram da cor verde. E ao contrário de Kevin, Deuce tinha uma folha em seu cinto e usava uma blusa cinza-claro por debaixo da roupa.

— Kevin! Deuce! Que rápido - Leo exclamou ao ver os dois.

— Pois é, acho que nunca corri tanto no trânsito em toda minha vida - Kevin disse.

— Literalmente, fomos na velocidade da luz - o moreno ironizou - Mas e então, qual o problema? - ele perguntou enquanto o portal desaparecia atrás dele.

— Rastreei o celular de Jack e descobrimos que estão ai dentro- Sky explicou - O que torna a situação pior, é que descobrimos que essa é a casa de Dan.

— O guardião do Passado? - Deuce perguntou com esperança de que a resposta fosse “não”.

Sky fez que sim com a cabeça e destruiu essa possibilidade.

— Ok. Algum plano? - o loiro perguntou.

— Ainda não. Mas Leo acha que há dois andares subterrâneos onde talvez estejam escondendo a Jack e Will – eu disse.

— Certo, então deixe-me ver se entendi. - o britânico falou organizando a informação que acabara de receber - Essa ai é a casa de um dos gêmeos guardiões e provavelmente onde os 4 vivem. Will e Jack por algum motivo vieram parar aqui e agora estão presos ai dentro, possivelmente no subsolo.

— Você até que resumiu bem - Sky falou.

— Pessoal, não temos tempo a perder - os alertei - Temos que entrar ai agora.

— Vocês ouviram, vamos nessa. - Leo disse animado - Deuce, você vem comigo?

Deuce avançou na direção de Leo, que apontou suas mãos para o chão, como faz quando vai abrir caminhos debaixo da terra. Uma dupla óbvia para uma missão subterrânea: os guardiões da terra e da natureza. Se alguém ia achar Jack e Will lá em baixo, seriam esses dois.

— Vamos lá! - Deuce afirmava, enquanto Leo empurrava um pedaço de terra para o fundo.

Os dois seguiram pelo caminho que Leo começara a abrir pelos subterrâneos e deixaram nós três a sós, sem nenhum plano.

— Então Will e Jack estão lá em baixo? - Kevin perguntou para confirmar a informação

— Possivelmente- respondi.

— O melhor não seria atrair a atenção dos vilões para longe deles?

— Em outras palavras, você quer invadir a casa e lutar com geral. – disse.

— Agora sim falou minha língua! - Sky exclamou animada - O que estamos esperando?

Ela entrou em combustão e saiu voando por cima do portão. Eu carreguei Kevin por cima do mesmo e o joguei no chão logo depois. Ele deu uma cambalhota e usou sua velocidade para arrombar a porta. Nós três entramos na casa e nos deparamos com o salão de entrada, que tinha dois sofás com uma mesinha baixa no centro.  Olhando para a direita, pude ver um balcão, e na parte de trás deste, havia um congelador e uma pia. A casa até que era bem bonitinha, mas não havia nem sinal dos Guardiões, o que eu não tinha certeza se era uma boa notícia. Sky me deu um cutucão no braço e me apontou uma porta:

— Acho que dá para o piso de cima - a ruiva disse.

— Ou para o de baixo - Kevin opinou.

— Vocês querem dividir o grupo? – perguntei.

— Isso nunca é uma boa ideia - o loiro disse enquanto abria a porta lentamente.

Uma luz podia ser vista da escada que dava para baixo. Sky fez um sinal para descermos, e silenciosamente começamos a andar sobre os degraus. Eu flutuei um pouco acima do chão, normalmente não sou muito boa em não fazer barulho enquanto desço as escadas em um território inimigo rumo ao desconhecido.

Descemos até avistarmos uma outra porta, que parecia ser a entrada do porão. Lancei um olhar aos outros de “é agora”. Sky chutou a porta e entrou no local. Eu e Kevin a acompanhamos, posicionando-nos um de cada lado. Assim que entramos, nos deparamos com a pior cena possível: Will preso e desmaiado dentro de uma máquina, com Elize e Dan do lado de fora controlando-a. Do lado da porta, avistei uma cortina vermelha caída no chão, revelando um homem que aparentava ter seus 39 anos, aprisionado dentro de um paralelepípedo feito por substância mágica que se assimila ao gelo. Ao vê-lo, meu coração acelerou rapidamente. Isso era impossível, e muito preocupante.

— O Guardião da Mentes! - ouvi Kevin sussurrar, indicando que havia chegado a mesma conclusão que eu.

Mas se aquele era o Guardião, então a máquina a que Will estava preso só podia ser aquela que suga nossa energia vital. Eles estavam usando a energia de Will para despertar Ivan.  Ao redor da máquina havia vários caquinhos de vidro, que eu supus que foram quebrados por Jack ou Will, na tentativa de sair dali. Mas Will estava ligado a vários fios dentro da máquina, e com algemas nas mãos e pês, para prendê-lo a esta. E dado que ele está inconsciente, suponho que parte de sua energia já foi tomada. Justo quando penso que aquele cenário não podia piorar. Todos esses pensamentos rondavam minha cabeça quando Dan quebrou o silencio que havia se criado na sala:

— Ora, ora! Parece que alguém realmente veio ao resgate do moleque! - Dan disse rindo.

Ele caminhou até o centro do porão e nos mirou nos olhos.

— Deixa ele ir! - Sky disse agressivamente.

— Com todo o prazer. Assim que acabarmos de sugar sua energia! - ele respondeu - Elize, ligue a máquina!

A garota carregou suas mãos com energia e a levantou assim que ouviu a ordem. Quando ela parecia prestes a descer a mão e ativar a máquina, Kevin usou sua velocidade e avançou sobre ela, derrubando-a no chão.

— Droga! - Dan gritou com raiva.

Sky fez uma bola de fogo com as mãos e a lançou na direção de Dan, que se esquivou desta. A ruiva se virou para mim:

— Pronta?

Fiz que sim com a cabeça e ambas sacamos nossas armas. Eu tirei minha adaga, e Sky… foi de mãos vazias mesmo, apenas incendiando estas. Começamos a correr na direção do guardião. Este sacou uma espada e a lançou na direção de Sky, que se abaixou para não ser cortada pela lâmina. Eu mantive meu ritmo e lancei uma forte rajada de ar nele. Este saiu voando até bater fortemente contra a parede.  Do meu lado, vi Kevin e Elize lançando seus poderes um contra o outro na tentativa de alcançar a máquina primeiro. O gêmeo se levantou novamente e abriu um sorriso:

— Você vai pagar por isso! - ele lançou algo em minha direção.

Eu levantei minha adaga para lança-la em sua direção mas minhas mãos ficam paralisadas em pleno ar. De repente, eu não podia mais me mexer, era como se eu estivesse congelada. Sei bem como é essa sensação, Lucy já me congelara sem querer algumas vezes. Mas isso era diferente. Era quase como se o tempo tivesse paralisado ao meu redor.

— Agora entendem por que dizem que as pessoas ficam “presas” ao passado - ele disse rindo da piada.

Uma bola de fogo repentinamente apareceu e acertou sua blusa. Ele começou a gritar em desespero enquanto tentava apagar a chama. Sua distração fez o efeito passar e eu recuperei a movimentação do meu corpo:

— Você está bem? - Sky se aproximou.

— Acho que sim - respondi enquanto movimentava meus músculos lentamente.

Dan havia tirado a camisa e pisado em cima desta para apagar o fogo. Ele se virou para nós novamente e lançou sua magia mais uma vez. Sky arremessou chamas pelas mãos para tentar parar o ataque. Eu tentava me recuperar e ir ajudar, mas o efeito do feitiço de Dan ainda não havia passado por completo. Não só meu corpo, mas minha mente também estava quase congelada, eu sentia como se fosse perder o controle sobre mim mesma, mas Sky chegou antes e quebrou o feitiço. Esse ataque era mais forte do que pensava. Agora entendo por que Eric sempre nos diz para ter cuidado com os gêmeos.

Kevin de repente é lançado em minha direção, ele passou por cima de minha cabeça e caiu rolando no chão logo atrás de mim. Sai do transe em que estava e corri para ajudá-lo a se levantar. Do outro lado do porão, Elize se posicionou de costas para a máquina, em uma pose vitoriosa:

— Temos que chegar até a máquina - Kevin disse se levantando com esforço.

— Eu distraio ela, você chega até a máquina e tira Will de lá. - lhe disse.

Ele assentiu com a cabeça e voltou a encarar a garota, que abriu um sorriso:

— Digam tchau ao seu amigo! - ela disse enquanto reunia mais energia a seu redor para ligar a máquina.

— Agora! - gritei para Kevin, este saiu correndo em direção a Elize e começou a dar voltas a seu redor, causando quase um redemoinho.

O ar estava forte o bastante para que eu pudesse manipula-lo com facilidade. Criei uma forte corrente de vento e a atrai até mim. Elize veio juntamente com a corrente e saiu rolando no chão. Aproveito o vento que ainda estava na sala para jogar rajadas de ar em minha adaga e traze-la até mim. Apontei a arma na cara de Elize. Kevin parou seu redemoinho e avançou até a máquina para tentar abri-la. Ainda com a lâmina na cara da guardiã eu me virei para ela com meu melhor olhar de ameaça:

— Acabou. - ela me encarou com ódio ao ouvir isso.

— Eu não teria dito melhor! - escutei Dan dizer.

Virei-me rapidamente e vi Sky presa no mesmo feitiço que havia me pego momentos atrás. Ela encarava Dan raivosamente, enquanto este segurava uma espada contra seu pescoço.

— Abaixem as armas e afastem-se da máquina - ele disse para mim e Kevin - Ou a ruivinha aqui vai sofrer as consequências - ele pressionou a espada mais forte contra o pescoço desta.

Segurei minha adaga ainda mais firmemente contra o rosto de Elize, enquanto pensava comigo mesma qual a escolha certa. Se Sky não estivesse paralisada, com certeza nos diria para não baixarmos as armas: ela odeia esse clichê de perder a luta para salvar um companheiro. Mesmo que ela seja o companheiro em risco de morte. Encarei Kevin em busca de respostas, mas ele parecia tão perdido quanto eu. Apenas soltou um dos fios que ele tentava puxar para fora de Will e deu uma passo para frente em relação a máquina.

—Muito bem, loiro! Agora, você! - ele pressionou a espada mais uma vez, fazendo um corte no pescoço de Sky, resultando em um fio de sangue, que escorreu até o chão.

Eu realmente gostaria de ser fria como Sky nessas situações. Mas não sou. Afastei a adaga do rosto de Elize e a coloquei a um lado, pronta para joga-la no chão.

Nesse mesmo momento, o solo começou a tremer, como em um terremoto. Um buraco se abriu logo abaixo de Dan, jogando terra para cima e levando-o junto. O guardião do passado foi arremessado em direção a porta do porão, enquanto um tronco saiu de dentro do buraco. Dele pularam Deuce, Jack e Leo. O feitiço de Sky se quebrou e ela caiu para frente, mas Deuce teve um reflexo rápido e segurou-a.

— Até que enfim! - Kevin exclamou ao ver o trio.

Elize aproveitou meu momento de distração e usou sua energia cinética para lançar-me contra a parede:

— Cléo! - escutei Leo gritar preocupado.

“Ouch”. Pensava comigo mesma enquanto me apoiava na parede para me levantar. Da entrada do porão, Dan grunhiu furioso. Ele e Elize estavam em desvantagem, mesmo que quisessem lutar. Kevin era o mais próximo da máquina e o mais rápido. Tiraria Will dali em um piscar de olhos. Fora isso, seriam 2 contra 4 (contando que Kev estaria ocupado), eles não tinham chance de vencer desta vez. Bom saber que pelo menos a tática da vantagem numérica funcionou. 

Mas como que para estragar minha alegria, um pé saiu de uma sombra que se formara atrás do Guardião congelado. Logo toda uma pessoa estava completamente fora das sombras e nos encarava com ódio.

— Como ela chegou aqui? - Leo perguntou assustado a Deuce.

Este apenas devolveu com um olhar preocupado.

— Vamos fazer desta uma luta justa. - Thea disse com alegria, lançando-nos um olhar assassino.

A menina estendeu os dois braços para frente, enquanto ondas de escuridão saiam deles. Todo o cômodo foi tomado pela mesma sombra que cobrira a floresta dias atrás. Era quase impossível enxergar qualquer coisa. Escutei um grito distante de Deuce sendo atingido por algo. Virei-me rapidamente para tentar vê-lo e talvez, ajudar, mas uma mão de sombras surgiu do nada e me acertou  em cheio, arremessando-me longe. Não esperava que o jogo fosse ter uma reviravolta dessas. Sem enxergar um palmo a nossa frente, íamos cair mais rápido do que peças de dominó. Nossa única esperança era que Kevin usasse sua luz para dissipar as sombras. Precisávamos de uma iluminação urgente naquele lugar se quiséssemos ter alguma chance de sair inteiros dali. Eu me levantei novamente para gritar pelos outros, quando vi com dificuldade uma figura de aparência masculina se aproximando de mim por entre as sombras:

— Leo? - perguntei esperançosa.

— Tenta de novo - a voz de Dan saiu da figura.

Ele deu um pulo em minha direção e me jogou contra a parede. Sua mão direita, segurando meu pescoço contra esta. E a esquerda, segurando uma espada firmemente contra meu peito.