Os Buscadores de Relíquias—O Buscador Errante escrita por Jean Carlo


Capítulo 2
Parte 1—Espíritos — Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

E aqui é onde realmente começa a jornada do Daniel e do Marcos, então espero que todos embarquem nela comigo e no final se tornem um Buscador.



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Nascente Empírica/2014

Daniel chegou ao ponto de ônibus do seu bairro. O rapaz de vinte anos queria voltar a estudar seu curso de medicina, mas sua vida tomou um rumo totalmente inesperado nos últimos anos.

— Ainda está me evitando? — Daniel escutou Marcos perguntar ao seu lado.

Marcos era sua Alma de Ligação, que no passado foi um humano com algum tipo de poder sobrenatural e, quando seu coração foi transplantado, fez Daniel ganhar o dom de manipular almas e espíritos.

— Vou ficar falando contigo o tempo todo! — Exclamou Marcos chegando bem próximo ao ouvido de Daniel. O rapaz sentiu um ar gélido em seu pescoço. — Esqueceu que só você pode me ouvir? Então para esse drama e volte a falar comigo!

Daniel queria poder ficar livre de Marcos, mas era um desejo praticamente impossível, já que ambos eram ligados através de uma ligação complexa.

— Vai parar de chamar a atenção de outras almas? — Daniel perguntou entre os dentes. Sua voz saiu baixa demais para qualquer pessoa próxima ouvir. Sentiu Marcos ao seu lado, mas não visível. — Estou cansado das suas investidas amorosas!

— Não tenho culpa se aquela alma era uma deusa entre os espíritos — Marcos respondeu alegremente ao recordar-se da noite anterior. Enquanto Daniel estava em um restaurante com uma ex-colega de faculdade. O espírito aproveitou para andar nos arredores do prédio, quando encontrou uma Alma Selada.

Descobriu que Carla fora assassinada no beco ao lado do restaurante e no ato de sua morte, acabou deixando seu anel mais querido cair em uma fenda na calçada. Marcos sempre soube, se uma pessoa é morta e deixa algo muito importante perdido, às vezes sua alma não tem descanso no pós-morte.

— Tínhamos que libertar a Carla daquela prisão! — Marcos bravejou. — Você não sabe o que é viver em um lugar como aquele, pois ainda pode desfrutar de uma vida!

— Nem você! — Daniel disse ao olhar para rua e ver um táxi vindo em sua direção. — Não é porque posso salvar almas, que vou ficar fazendo isso, Marcos. Você me fez largar minha amiga para quebrar uma calçada e pegar a droga de um anel!

Daniel acenou para o táxi que logo parou. Poderia muito bem ter ido de ônibus, mas mudou de ideia ao ver, à quantidade de pessoas subindo a rua. Outro fato, que o fez desistir, era que estava em horário de pico.

===|||===

Demorou cerca de uma hora para chegar ao seu destino, já que o trânsito caótico de Nascente Empírica atrapalhou o percurso do carro. O veículo parou na frente de uma loja. Na placa estava escrito: Quinquilharia.

Saiu em uma calçada relativamente movimentada. Pessoas iam e vinham nas duas direções da rua, quando olhou para trás o taxista havia seguido seu caminho. Daniel não tinha trocado uma palavra depois que disse o endereço e entregou o valor da corrida, pois queria evitar ter contato com pessoas normais.   

Se alguém tivesse lhe contado a respeito de almas, pessoas ligadas a espíritos ou algo do tipo. Teria rido na mesma hora, mas agora que vivia dentro de um pesadelo real, achou que rir da situação, não seria uma coisa sensata de se fazer.

A loja localizava-se entre um grande departamento de eletroeletrônico e um prédio residencial grande o bastante para chegar às nuvens. Composta por um grande vidro na lateral direita, que no passado havia sido transparente, mas agora a sujeira era tão grossa que não deixava ninguém conseguir ver nada além dela. O restante da fachada era feita de tijolos à vista, com uma porta velha, na cor verde-limão e no centro dela um sol desenhado na cor lilás.

Abriu à porta e entrou. Assim que terminou de se movimentar na passagem, sentiu um aroma doce e quente no ar. Sabia que Joshua vendia várias coisas para chás, bebidas fortificantes. Então para cada visita era um novo cheiro no ar da loja, e dessa vez captou cheiro de chocolate, orégano e café torrado.

— Está atrasado! — Escutou alguém dizer mais ao fundo da loja. — Quanto mais tentar ter uma vida normal... Mas vai ser difícil de apagar a sua existência das pessoas!

— Sabe que não quero afastar as pessoas próximas, Joshua! — Advertiu Daniel atravessando a loja, enquanto desviava de várias prateleiras com ingredientes de todos os tipos e cores.

— Você agora é um Buscador de Relíquias e não deve ficar levando almas para o mundo humano — disse Joshua.

Daniel viu o rapaz de cabelos brancos e olhos roxos atrás de uma mesa ao fundo da loja. O lugar era bem iluminado, com um toque rústico e simples. Deu uma rápida olhada nas estantes na parte de trás de Joshua, quando avistou vários vidros de poções e ao lado, livros de todos os tipos e línguas. O rapaz conseguiu ler apenas dois desses títulos: Os Artífices da Vontade e Energier.

— Não vou emprestar os meus livros raros! — Exclamou Joshua debruçado na bancada olhando para Daniel. — São livros escritos por humanos, bem, é isso que as pessoas comuns pensam a respeito dos seus autores. Sabia que muitos autores são realmente aquilo que narram em seus livros?

— Sério? — Quis saber Daniel ao chegar mais próximo.

— Às vezes esses autores são pessoas com a habilidade de ver através das dimensões e, então veem diversos mundos, porém, eles não sabem que são reais. Acham que são apenas frutos de suas imaginações — respondeu Joshua ao ficar ereto.

O rapaz olhou pela bancada cheia de coisas de chás, bebidas e alguns itens que Daniel não conseguiu reconhecer.

— Tem algum serviço? — Perguntou mais uma vez.

— Andei vendo no sistema da polícia uma mansão vem chamando muito a atenção dos normais. — Joshua respondeu ao se virar e ir para a estante dos livros, que tinha outro balcão perto. O homem que aparentava ter pouco mais de vinte anos pegou uma folha. Daniel também tinha acostumado ao termo que Joshua usava para as pessoas que não podia ver o sobrenatural.

Daniel ficou olhando para o rapaz, enquanto o mesmo lia o papel em sua mão. Sabia a respeito da sua condição de imortal e também dos seus poderes, que ajudaram em uma das noites que Marcos perdeu o seu controle ao plano físico, pois na época ainda não controlava sua energia etérea, então fazia Daniel sentir muitas dores no coração e até mesmo perder os sentidos.

Daniel não tinha ajuda de ninguém, pois não poderia contar aos pais, que estava ligado ao dono do seu coração. Até, porque os dois moram fora do Brasil e isso causaria um problema ainda maior. Joshua começou visitá-lo todos os dias e, então passou seis semanas ensinando Daniel manter o equilíbrio entre sua alma e a de Marcos, depois o ensinou a usar seus novos poderes.

Passou os últimos três anos aprendendo e estudando sobre ser um Buscador. Foi nessa mesma época que descobriu sobre a Sociedade das Relíquias.

Descobriu que a Sociedade é um grupo de pouco mais de duas mil pessoas em todo o Brasil, que mantém o equilíbrio entre o mundo humano e o espiritual. Já que muitas não vão diretamente para o céu ou inferno, então é trabalho de um Buscador ajudá-las. Também é seu dever destruir todos os demônios que achar em seu caminho.

— Escutou o que falei? — Joshua perguntou sem paciência. Daniel sabia que seu amigo não possui sentimentos como humanos, então pode sentir um olhar gélido vindo dos olhos lilás.

— Poderia repetir? — Daniel quis saber ao sair dos seus pensamentos, mesmo sabendo que Joshua poderia não falar.

— Preciso que descubra o que está acontecendo na mansão dessa rua — disse e entregou a folha que estava lendo. — Tiveram várias queixas dizendo que alguns indivíduos entram nela para assustar as pessoas, mas não acho que seja isso!

Daniel pegou a folha ao sentir que Marcos estava ficando mais calmo, pois sentiu a presença do mesmo ao seu lado, no entanto, ainda não queria se mostrar. O jovem virou-se para saída e resolveu voltar para casa dormir um pouco e depois ir atrás da história da mansão.

Seu trabalho geralmente era feito na parte da noite ou madrugada, então teve que aprender a trocar seu horário de dormir. Daniel saiu novamente na rua, quando viu duas almas passando do outro lado da rua, um cachorro fantasmagórico passou correndo na sua frente. Mesmo com a luz do dia, o rapaz sabia que algumas almas conseguiam se manifestar com a claridade.

— Ainda está bravo comigo? — Daniel perguntou para Marcos. O rapaz pode sentir sua presença mais próxima do seu corpo.

— Vai parar de ter esses pensamentos em relação às almas? — Quis saber Marcos. Daniel percebeu que sua alma ainda estava um pouco irritada. — Sabia que elas também têm sentimentos?

— Marcos você tem que entender — iniciou Daniel, enquanto começou a caminhar, pois algumas pessoas perceberam o rapaz falando sozinho. — , que não posso ficar salvando todas as almas! Tenho que manter o equilíbrio entre os mundos, ou seja, as almas comuns não são a minha prioridade. Você tinha razão sobre a aquela menina da calçada, porém, não vou ficar usando meus poderes com todas as almas que você achar que devemos ajudar.

Daniel viu-o materializar-se bem a sua frente. Marcos tinha a pele negra, um rosto oval, cabelos crespos e quase não podendo distinguir o corpo, por causa de uma forte aura azul em sua volta, que hora ou outra tremeluzia, fazendo assim, surgir algumas mudanças em sua aparência etérea.

— Você só quer manter sua vida antiga! — exclamou Marcos ao seguir do lado do Daniel. — Entenda que agora tudo é diferente, então para de comportar-se com um normal! Você um Buscador de Relíquias e seu trabalho e ajudar as almas!

— Não quero mais saber desse assunto! Poderia ficar de boca fechada um pouco!? — exclamou e perguntou ao mesmo tempo.

Daniel continuou andando na rua. E, de vez em quando, encontrava com um espírito e apenas fingia que não o via. Fazendo Marcos ficar ainda mais irritado.


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Notas finais do capítulo

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