Eu estava com frio. Estava enjoado, queria muito vomitar. Estava abraçando alguém tão forte que achei que iria quebra-lo. Ele estava andando a passos lentos. Usava suas roupas sujas de sempre, pesadas com um cheio de perfume barato que eu gostava. Ele nunca me contou seu nome, eu apenas o conhecia como...

―Papai? ― O chamei com uma voz pesada e sonolenta, que quase não parecia com a minha. Ele passou a mão no meu cabelo.

―Volte a dormir. Ainda está muito cedo. ― Sua voz rouca era reconfortante, era cuidadosa.

―Pai... ― Ele grunhiu, o geralmente me fazia rir ― Eu te amo.

―Eu também Suri.

Então eu voltei para a escuridão do inconsciente.

~*~

Quando acordei, apenas podia ver um horizonte desfocado, um céu cinzento e grama escura e alta, não, tinha uma cidade bem longe, que não passava de um ponto escuro. Juntei coragem e sentei na cama improvisada a céu aberto. Percebi que abraçava Ludovico. O coiote mexia algo numa panelinha, me olhou com uma expressão seria.

―Resolveu acordar? Coma logo. ― Me deu a panelinha cheia de mingau frio. Eu comi sem reclamar.

―Qual o seu nome? ― Perguntei sem tirar os olhos da minha comida ― Você não disse.

―Daniel Spraggins. É bom você decorar. ― Assenti com a cabeça e abaixei as orelhas, tentando engolir aquela massa branca.

Depois de passarmos quase o dia inteiro caminhando pelo vale, chegamos a uma grande muralha que tinha um portão de aço e madeira, com vários soldados de diferentes espécies carregando armas. Aquela coisa com certeza havia sido criada para dar medo, e conseguiu. Eu estou quase molhando as calças!

Daniel... Digo, Mestre Daniel, foi até uma janelinha que havia no muro, uma onça parda de uniforme impecável nos atendeu. Mestre... Hm, seu um papel pra ela, então ela mandou um dos guardas abrirem uma portinha que ficava no portão e nós o atravessamos.

―Sejam bem-vindos à Chani.

 Então a porta foi fechada.