Minhas pernas doíam e eu estava morrendo de sono. Maître não quis parar nem pra dormir. E eu fiquei tendo uma conversa ''mental'' com Ludovico, esse guaxinimzinho adora caçoar do chapéu do Daniel. Depois de andar a noite e o dia todo, e ficar cogitando a ideia de me deitar na grama e morrer, finalmente chegamos numa cidade.

Era um aglomerado de quadrados empilhados um em cima do outro que alguém mentiu serem casas. Eram muito mais altas do que as casas do Tibith. As ruas eram estreitas e cheias de pessoas, de tantas espécies diferentes que eu nunca tinha visto: adultos, crianças, homens e mulheres. Vendedores gritavam alto para vender produtos duvidosos, tinha uma barraquinha de Alguma Coisa Frita o vendedor pegava aquilo com a mão e vendia numa folha de papel. Se eu não segurasse a roupa do Daniel eu seria levado por uma enxurrada de pessoas.

Por fim chegamos a um beco, onde tinha uma placa que eu não consegui ler. Daniel entrou sem rodeios e falou algo para uma gata de pelo laranja, que devia ser a atendente, e indicou um corredor.

―Subindo a escada, quando chegar ao ultimo andar vire a esquerda, é na primeira porta ― Daniel agradeceu com um resmungo, e me puxou. Subimos pelo menos três lances de escada, e fomos ao quarto que a gata indicou. Daniel bateu na porta, uma voz feminina permitiu a entrada.

O quarto não era tão pequeno e abafado quanto o resto do prédio, o que era realmente um alívio, era bem decorado com um sofá branco e tapetes felpudos, as paredes eram pintadas num tom de azul clarinho muito bonito. Mas toda a minha atenção foi para uma mulher sentada no sofá, o vestido vermelho combinava com o pelo marrom escuro, o cabelo era um pouco ondulado, estava solto e os cachos ao lado das orelhas estavam presos, nunca tinha visto um penteado assim.

―Ora, ora, quem temos aqui? ―A voz dela era ritmada, talvez fosse uma cantora ―Daniel, há quanto tempo.

―Uns dois anos eu diria... ― Daniel me tirou de trás dele― Merlin este pequeno aqui é o Suri, Suri esta é uma amiga minha Merlin Moroen.

―Bonjour ― A cumprimentei tímido. A gata colocou a mão nas minhas bochechas.

―Oh que coelhinho fofo ―Ela se levantou de novo, e indicou uma porta com a mão aveludada ―Pode esperar no meu quarto um pouquinho? Eu e o Daniel precisamos ter uma conversa de adultos. Pode comer os sanduiches se quiser.

Concordei e fui ao quarto. Era parecido com o outro, mas um pouco menor. Tinha uma mesa com vários sanduíches encima, eram de alface e alguma coisa fina e amarela bem gostosa. Eu comi três. Também tinha uma cama bem convidativa, tirei os sapatos e me deitei bem no cantinho. Ludovico achou confortável.