Caso encerrado escrita por Amanda


Capítulo 5
Capítulo quatro




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Fazia uma semana que nada acontecia.

Os ataques haviam cessado da mesma forma que iniciaram. Os civis sequer sabiam o que havia acontecido, já que Harry fizera de tudo para que as informações não caíssem nas mãos do Profeta Diário, McHearty ganhara exclusivamente uma página em sua homenagem, mas a causa da morte não fora citada em parágrafo algum. Não havia necessidade para alarde.

A vida começava a voltar ao normal.

Naquela noite, os aurors organizaram uma reunião em homenagem à McHearty no Pub Chifre de Unicórnio em Hogsmeade, o lugar era espaçoso e as lareiras acrescentavam um ar aconchegante ao local. Hermione não tinha boas lembranças dali, mas pela primeira vez ignorou seu “bom-senso”. Observava de longe os amigos mais íntimos de seu antigo parceiro brindando, não o conhecia tão bem para juntar-se ao grupo, seria intrusa. Sabia pouco sobre sua vida, apenas o que estava na ficha: ótimo auror e investigador dedicado. Tudo muito superficial.

Preferiu beber sozinha, homenageá-lo a sua maneira, sem ter de proferir palavras que jamais diriam como sentia-se em relação à morte do colega. A culpa a consumia um pouquinho a cada dia, lentamente.

— Por que não está com eles?

Sobressaltou-se com a frase sussurrada próxima a seu ouvido.

— O que te traz aqui? — Perguntou à Draco, deixando-o sem uma resposta.

— As mulheres, é claro!

Revirou os olhos e pediu ao balconista que enchesse seu copo novamente.

— Vou atrapalhá-lo se a sua intenção é sair daqui acompanhado...

— Não é, ao menos hoje não. — Disse com suavidade. — Beba comigo.

Não fora um convite, apesar de Hermione anuir com a cabeça sutilmente e elevar o copo, concordando silenciosamente com o pedido.

Conversar com Draco era muito agradável, não podia negar. O assunto nunca chegava ao fim, como se conhecessem-se há anos e assim mesmo, tivessem muito o que contar um ao outro. A conversa nutria muitas risadas e lembranças dos tempos de Hogwarts, como o soco que recebera de Hermione no terceiro ano.

— Fiquei furioso por ter apanhado de uma garota, mas impressionado com a sua habilidade. — Confessou. — Meu nariz levou horas para parar de sangrar!

— Nem foi tão forte. — Disse entre uma gargalhada e outra.

— Mais do que você imagina. — Exibia um sorriso lateral, e mantinha o olhar fixo no rosto de Hermione. — Naquele dia passei a gostar de você. Jamais admiti, mas não conseguia parar de olhá-la. Acho que seu punho causou muito mais que um nariz quebrado.

Apesar da piada Hermione já não ria, estava associando o que Draco acabara de contar. Palavra por palavra. E de repente, suas mãos apoiadas no balcão estavam próximas demais, assim como seus rostos, os olhares fixos nos lábios uns dos outros, ansiando pelo momento em que se encostariam. Draco tomou iniciativa e tocou o braço de Hermione, aproximando-a, e quando apenas um centímetro os separava um trovão forte e raivoso soou alto, fazendo o estabelecimento tremer e as luzes piscarem.

— Draco, eu preciso ir. — Disse com os olhos fechados, as bochechas coradas por conta do álcool e do desejo que emanava de seu corpo.

Respirou fundo e saltou do banco, deixando algumas moedas sobre o balcão para pagar aquilo que consumiu durante as horas que passou ali dentro. Os aurors já haviam partido há algum tempo.

— Vou acompanha-la! — Saiu do Pub ao lado de Hermione, mantendo uma distancia segura para que não houvesse contato de seus corpos.

A chuva caía raivosa do lado de fora. Hermione abraçou-se para proteger-se do vento frio que soprou seu corpo, levando embora o aconchego que sentia há poucos segundos. Virou-se para Draco, queria agradecê-lo pela noite, por ter conseguido distraí-la de tudo, mas quando abriu a boca para falar uma risada alta ecoou pela noite, ultrapassando inclusive o som da chuva.

— Merda! — Draco exclamou e seguiu Hermione que já corria com a varinha em riste em direção ao beco lateral ao Pub.

Não lembrava-se de nada referente à noite em que fora atacada, percebera tarde demais os três vultos, mas a risada malévola ficara gravada em sua memória. Não hesitou quando escutou-a novamente, correu para a rua do lado, escorregando nas poças de água e encharcando sua roupa, nada importava.

— Solte-o imediatamente! — Gritou com força.

Havia apenas um, o capuz cobria-lhe parte do rosto, o sorriso vil era um desafio. Segurava pela gola da camisa um rapaz esguio, o qual, Hermione reconheceu como um dos agentes de campo responsáveis pela prisão de um dos últimos Comensais da morte foragido. Havia terminado o curso de auror há pouco, jovem demais.

— Nos encontramos novamente, sangue-ruim. — Sua voz tinha um timbre ameaçador. — Veio salvar seu cãozinho assustado? Acredita que ele foi capaz de prender um dos meus melhores homens? Só estou retribuindo o favor!

— Solte-o! — Voltou a gritar, os pulmões ardendo em puro desespero.

Não demostrava, fora treinada para manter o rosto inexpressível, mas tremia por dentro. Seu sangue parecia não circular e sua garganta se fechar pouco a pouco.

— Ora, estou em desvantagem aqui. — Apontou para Draco que imitava-a na postura rígida e preparada para atacar se necessário. — Quem sabe uma troca mais interessante, seu namorado pelo garoto. Escolha rápido!

Hermione manteve-se firme na posição, mas sinalizou com a cabeça para que Draco avançasse alguns passos.

— Confie em mim. — Pediu num sussurro extremamente baixo quando ele passou do seu lado.

Draco avançou mais alguns passos e parou, baixando lentamente a varinha.

— Agora solte-o! — Pediu novamente, os dentes cerrados em verdadeira ameaça.

O comensal lançou mais um de seus sorrisos sinistros e empurrou o corpo frágil do auror. Dois passos foi tudo o que conseguiu dar antes de cambalear e parar a poucos centímetros de Draco que baixou a cabeça ao ouvir o feitiço lançado por Hermione passar próximo demais de sua orelha.

— Vai pagar por isso! — Rosnou. 

Com um movimento amplo e suave sacudiu a varinha, lançando um feitiço forte que varreu tudo o que permanecia de pé, jogando-os para longe. Hermione ajoelhou-se rapidamente, pronta para atacar, se necessário, mas paralisou com o que viu. O comensal da morte estava de pé ao lado do auror que olhava-a nos olhos, implorando por ajuda, a varinha apontada mortalmente para seu pescoço.

— Por favor, não... — Sua voz falhou, deixou transparecer tudo aquilo que não deveria.

— Olhe para ele, está vendo o desespero? O modo que os lábios tremem? Isso é medo! — Vociferou. — Saiba que é responsável pela morte dele.

Gritou com toda a força de seus pulmões. O brilho verde iluminou o beco por mais tempo do que parecia ser normal e depois o baque do corpo caindo no chão, tinha certeza de que jamais se esqueceria do som que ecoou pela noite silenciosa.

Não soube em que momento a chuva voltou a cair com força, não importava, apenas permaneceu ajoelhada, os olhos fixos no rapaz imóvel, sem vida. Draco tentava fazê-la reagir, podia vê-lo movendo os lábios, mas não ouvia absolutamente nada, ele ajoelhou-se em sua frente e segurou-a pelo rosto, tentando provocar algo, mas tudo o que conseguiu foi um olhar vazio.

Como se acordasse de um sono profundo saiu do transe no exato segundo em que ouviu diversos ruídos provocados por aparatação, levantou-se e alisou a roupa, empenhando seu papel de bruxa forte e inabalável. Em poucos segundos, Harry já estava do seu lado, perguntando-lhe sobre o acontecido, nos mínimos detalhes. Explicou, com muita dificuldade, sobre cada segundo do que passara naquele beco, pela segunda vez naquele mesmo mês. Manteve os ombros firmes e eretos durante todo o momento, sentindo o olhar penetrante de Draco e suas costas, queimando-a tamanha a intensidade.

Rony ajudava o restante dos aurors a organizarem a cena, inclusive isolando o local com feitiços e fitas coladas estrategicamente para que não se perdesse nada. Cada milímetro ali era importante, o máximo de cuidado e dedicação seria cobrado de todos.

— Ele queria Malfoy, para atingir você. — Rony franziu o cenho ao ouvir a constatação de Harry. — Parece algo pessoal.

— É pessoal, Potter!

— Vamos tirá-la daqui, Mione. Temos de pensar num plano de ação imediatamente! — Exclamou com a voz alguns decibéis mais alto que anteriormente.

Rony pigarreou.

— Seria bom avisá-la que passamos na sua casa antes, e as notícias não são boas. — Disse desconfortavelmente.

Hermione virou-se para o amigo.

— O que...

— Vamos explicar, apenas acal... — Hermione aparatou sem dar a chance de Harry prosseguir com sua fala. Odiava quando a tratavam com cuidado excessivo.

Draco foi o primeiro a desaparatar, seguido de Harry e Rony. Quando chegaram Hermione já estava dentro do imóvel destruído. Seus móveis estavam quebrados e atirados pelos cômodos, assim como roupas, livros, e todo o restante de seus pertences. A bruxa observava seu quarto, as cortinas haviam sido queimadas e o cheiro forte de fumaça preenchia o ambiente. As fotografias que mantinha no criado mudo jaziam no chão, rasgadas ao meio. Tudo aquilo que prezava, que construíra durante anos fora devastado.

Harry entrou no quarto, diferente dos outros dois homens que permanecerem na porta. Hermione sacudira a varinha e tudo o que restava começara a se alojar organizadamente dentro de um malão com suas iniciais desenhadas em tinta dourada.

— Você vai ficar conosco, não será um problema. — Tocou gentilmente o ombro da amiga.

— Não vou, Harry. — Respondeu, o olhar fixado na fotografia dos três em Hogwarts, a ponta chamuscada. — Atacaram minha casa e os meus homens. Não quero você e Gina metidos, já basta Malfoy estar em perigo por minha causa.

— Você não pode ficar aqui! — Rony entrou no cômodo. — Não vou insistir para que fique comigo, sei que não vai aceitar, mas não podemos deixa-la aqui. Ou em algum lugar óbvio. Eles vão voltar, Mione!

Hermione apertou a ponte do nariz, um sinal claro de que buscava paciência.

— Sei disso tudo, mas não vou arriscar vocês. — Pontuou.

Draco que apenas observava a discussão se manifestou.

— Minha casa é longe, fica em um povoado trouxa afastado de Londres. Ninguém conhece a localização além de poucas pessoas da minha confiança. — Falou para Hermione, sabia que ela seria quem decidiria, independente dos amigos aprovarem ou não. — É seguro!

Rony empertigou-se, da mesma forma que um animal se prepara para atacar.

— Você não pode estar falando sério, Malfoy. — Bufou ruidosamente. — Pessoas da sua confiança são comensais da morte!

Draco olhou para Rony ameaçadoramente.

— Aceito, Malfoy. — A resposta de Hermione quebrou o olhar de ódio que trocavam. Diante do silêncio, virou-se para os amigos e falou: — Irei com Draco até lá, verificar o local, e volto em alguns minutos para buscar as minhas coisas. Vejam se encontram algo que possa ser salvo...

Não esperou uma resposta dos amigos, apenas voltou-se para Draco, aproximando-se o necessário.

— Você conduz. — Draco lançou um sorriso de deboche para Rony, que rosnava furioso, e então, segurando a mão de Hermione aparatou, mas não sem antes puxá-la para perto de si e grudar a lateral de seus corpos.

***

A casa de Draco era surpreendentemente trouxa. Construída em pedra possuía um “quê” rústico e charmoso, era cercada por uma mureta também de pedras, mas estas, maiores e menos organizadas em sua composição. O bosque ao redor deixava-a reservada o bastante. Parecia inalcançável.

— É a última casa da rua, ninguém vem aqui. — Apontou a estrada estreita que seguia por entre as árvores e campos laterais. — Quer verificar o local?

O sarcasmo evidenciado na frase não passou despercebido por Hermione, que sacudiu a cabeça e apertou a varinha contra a palma da mão, não soltara o objeto desde que fora atacada. Sentia-se muito mais segura assim.

— Falei aquilo somente para acalmá-los. Confio em você! — Rebateu indiferente. — Vou buscar minhas coisas e trazê-los.

Virou-se para olhá-la no momento exato em que desapareceu na noite silenciosa.


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Notas finais do capítulo

E agora? O que será de Hermione Granger com mais uma morte nas costas e tendo que dividir a casa com Draco??
Até o próximo