Caso encerrado escrita por Amanda


Capítulo 3
Capítulo dois




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Não fora trabalhar no dia seguinte, não se daria ao infortúnio de sair de casa para voltar algumas horas depois. Se precisassem dela sabiam onde encontra-la. Então, resolveu que seria mais proveitoso continuar trabalhando em tudo aquilo que sabiam até ali. Fizera novas anotações, e ainda tinha muito que analisar.

A xícara de café descansava ao lado de uma pilha de pergaminhos enquanto a pena rabiscava um bloco de anotações freneticamente. Havia poucos detalhes de que não se lembrava, no entanto, diferente do que imaginava, nenhum deles parecia levar-lhe adiante em sua nova investigação.

O ataque que sofrera fora logo depois de encerrar o caso, além disso não tinha nada. Nenhum dos aurors que trabalhara no caso fora atacado ou sofrera alguma ameaça, checara duas vezes com todos eles. Não tinha informações. Já começava a pensar que as datas foram uma simples coincidência, mas algo gritava que estava se enganando.

Três batidas secas na porta fizeram-na saltar.

— Rony. — Saudou o amigo com surpresa, não esperava vê-lo ali. — Aconteceu algo?

Ele entrou e parou diante da bagunça de pergaminhos, imagens, penas e anotações.

— Perdi alguma coisa? — Perguntou.

Em defesa ao tom severo do amigo, cruzou os braços para parecer maior e mais ameaçadora. Aquela tática funcionava em poucos casos, Rony sempre baixava a guarda ao vê-la assim.

— Estou estudando o caso dos Comensais da Morte. — Disse. — Tem de ter algo que perdi!

— McHearty foi atacado noite passada, não sobreviveu. — Rony soltou rapidamente e esperou a reação da amiga.

— O quê? — Virou-se bruscamente, como se tivesse levado um empurrão.

— Foi encontrado na Travessa do Tranco e foi levado para o St. Mungos, não sobreviveu. — Relatou com mais calma, sabia o que aquilo significava. — Harry está lá, vim busca-la.

— Me dê dois minutos. — Correu para o quarto e trocou de roupa, a varinha encaixada no coldre em sua perna, como todo Auror usava.

Assim que pisaram no St. Mungos uma bruxa os levou para o quarto onde o corpo de McHearty jazia. No corredor Harry conversava com a esposa do homem que trabalhara fielmente ao lado e Hermione no caso dos Comensais da Morte. Suas suspeitas estavam certas, afinal.

— Harry, o que aconteceu? — O amigo dispensou a mulher chorosa e puxou Hermione para dentro do quarto.

— Veja com seus próprios olhos. — Apontou para o corpo.

Hermione aproximou-se do colega coberto por um lençol branco, mas foi interrompida por Draco que entrou apressado na sala fria.

— Não sei se vai querer vê-lo, Granger.

Hesitou por um breve momento, respirou fundo e puxou o tecido.

McHearty tinha o corpo coberto por arranhões, o rosto fora rasgado diagonalmente de ponta a ponta, os olhos arrancados do rosto em um gesto aterrador. E o peito fora usado para deixar um recado riscado na pele: “até o próximo”. Não pode conter o som abafado que escapou de seus lábios e nem o passo vacilante que a fez recuar, aquilo era crueldade na sua forma mais pura.

— Nada mais? — Perguntou, sem tirar os olhos das palavras rasgadas.

— Não. — Murmurou o amigo. — A Travessa do Tranco está limpa, achamos que não foi a cena principal.

Hermione assentiu.

— Os olhos foram retirados, ele teve tempo. — Falou mais para si, como uma anotação mental. — Quero uma reunião com todos os aurors envolvidos no meu caso, ninguém mais vai morrer!

Harry anuiu.

— Preciso de tudo que tiver desde o minuto que ele chegou aqui. — Virou-se para Draco que sinalizou para que o seguisse. Voltou-se rapidamente para Harry. — Encontro vocês no Ministério.

Seguiu o médibruxo pelo corredor, até que chegassem a um consultório, a placa na porta exibia em letras prateadas o nome “Dr. Malfoy”.

— Sorte a sua que assumi o caso. — Pegou de cima da escrivaninha o prontuário. — Está tudo aqui, detalhadamente, imaginei que ia precisar!

— Obrigada. — Percorreu os olhos pelo papel. — Não conseguiu detectar o que o atingiu? Nenhuma hipótese?

Sacudiu a cabeça.

— Me surpreendeu que estivesse vivo quando chegou, a tortura devia tê-lo matado, você viu o estado do corpo dele. — Escorou-se na mesa. — Nunca tinha visto algo parecido. Quem quer que seja, Granger, é muito perigoso.

— Tome cuidado, Malfoy. — Pediu com sinceridade. — Quando me salvou você grudou um alvo em suas costas, não quero ser responsável por mais uma morte.

Aproximou-se de Hermione vagarosamente, até que estivessem separados por apenas um palmo de distância.

— Mais uma morte. — Repetiu, testando as palavras. — Você sabe que não foi responsável pelo que aconteceu a ele, não é? Não é culpa sua.

— Diga isso à esposa dele que está chorando até agora, porque particularmente não consigo acreditar nisso nem por um segundo. — Respondeu, erguendo a cabeça para olhá-lo diretamente nos olhos. — Cuide-se.

Deu-lhe as costas e seguiu diretamente para o Ministério, tinha muito a resolver.

A reunião não começara até que Hermione estivesse presente, e assim que entrou conseguiu perceber a atmosfera densa que planava naquela sala. Seria uma longa e complicada conversa, não fazia ideia de como começar ou que medidas tomar. Pela primeira vez sentia-se impotente.

Depois de três quartos de hora a reunião terminou. Hermione foi a primeira a jogar-se na cadeira quando todos deixaram a sala. Suspirou longamente.

Frustrada.

— Não temos nenhuma pista. — Rony constatou. — O que faremos? Não podemos esperar que mais alguém morra. Hermione está na lista.

— Sei disso, Rony. — Engoliu em seco. — Temos de interrogar todos os Comensais que prendemos, perguntas concisas e diretas. Precisamos de respostas, e rápido!

Harry que permanecera em silêncio até o momento tirou a mão do rosto.

— Vou providenciar isso. — Fechou as pastas sobre a longa mesa de mogno. — Vamos para casa, precisamos descansar.

— Vou levar Hermione, tudo bem pra você? — Assentiu para Rony que imitou-a. — Mande lembranças à Gina.

Sabiam que ele levá-la era uma precaução inútil, mas que confortava a ambos. Aparataram na frente da casa, e depois de Hermione certificar-se com um feitiço rápido que não havia ninguém, despediram-se.

Não dormiu naquela noite.

Virou de um lado para o outro por horas, as imagens do corpo de McHearty em sua mente. A pele pálida e fria que destacava cada hematoma de defesa, as cicatrizes, a falta dos olhos no rosto e a mensagem clara, uma ameaça. Não podia descansar quando sabia que os culpados estavam do lado de fora, à espreita de uma nova oportunidade, de um bruxo a ser atacado.

A culpa consumia seu peito, deixando-o pesado, assim como a respiração que tinha certeza estar audível.

A madrugada já entrara em toda sua quietude e paz, podia escutar o vento sacolejando as árvores próximas e a chuva fina batendo contra o vidro da janela. Atenta, ouviu o som de aparatação e pôs-se de pé rapidamente, a varinha sobre o criado mudo foi capturada com agilidade. Desceu as escadas em completo silêncio, calculando cada passo na escuridão noturna, os pés descalços em contato com o chão frio causaram arrepios por todo o corpo, mas manteve-se com a postura rígida.

Duas longas batidas na porta.

Na ponta dos pés aproximou-se e olhou o visitante pelo olho-mágico. Draco ofegava e olhava para trás constantemente, enquanto continuava a bater na porta, parecia assustado. Abriu imediatamente a porta e puxou-o para dentro com um solavanco, quase o derrubando no processo. Antes de trancar-se colocou o corpo para fora da casa e apontou a varinha para a rua, apenas por precaução.

— Você está bem? — Sacudiu a varinha e as luzes se acenderam, iluminando a ambos. — Aconteceu alguma coisa?

Instintivamente agarrou-o pelos ombros para que a olhasse nos olhos, tocou o rosto do homem e segurou-o com mais delicadeza, havia uma marca no lábio superior. Um soco.

— Draco, preciso que fale comigo. — Pediu calmamente.

Ele, por sua vez, afastou gentilmente as mãos do rosto e aprumou-se como pôde, não estava disposto a manter a coluna ereta, ao menos até que seu coração parasse de saltar contra seu peito.

— Fui encurralado numa rua de Londres, não sei como me encontraram. — Massageou o queixo, seu orgulho nitidamente ferido. — Levei um soco e usei a varinha para afastá-lo, causei um ferimento profundo na coxa esquerda, mas foi só. Desaparatei assim que tinha chance!

— Certo. — Estava tão atordoada que levou alguns segundos para pensar. — Venha comigo.

Levou-o para a cozinha, onde pediu que se sentasse no banco de frente à bancada e de um dos armários altos pegou uma caixinha metálica, sobre a tampa os dizeres “Primeiros Socorros”. Não reparou no que fazia, era tão automático, e quando deu por si estava próxima demais do corpo de Draco, limpando o ferimento mínimo em seu lábio. Um corte daqueles sequer devia estar incomodando-o, mas assim mesmo, quando pressionou ele apoiou a mão em sua cintura, como se para afastá-la.

— Deixe de ser infantil, um corte desses não pode doer tanto. — Continuou limpando, tentando ignorar o calor que a mão de Draco causava em sua cintura.

— Já levou um cruzado de direita? — Questionou, produzindo uma careta quando ela continuou pressionando o local para estancar o sangue.

— Uma vez. — Surpreendeu-o com a resposta. — Derrubei Rony antes mesmo que ele entendesse que tinha me acertado pra valer.

— Weasley te acertou um soco? Não é possível! — Sorriu e sentiu o corte se abrir quando a pele esticou-se, assim como o tecido apertando seu lábio. — Aí! Droga, Granger.

— Estávamos treinando, o professor queria mais realismo. — Arqueou as sobrancelhas com a lembrança. — Rony me levou chocolates por uma semana inteira!

— Seus amigos não percebem que você não é frágil, estou certo? — Perguntou, apoiando agora a segunda mão no corpo de Hermione, puxando-a imperceptivelmente para mais perto.

Suspirou longamente e sacudiu o rosto.

— Eles sabem, só preferem não aceitar. — Deu de ombros e encontrou os olhos acinzentados de Draco, notando então que estava praticando em seus braços, e que vestia um pijama indecente para aquela situação. Pigarreou alto — Vou buscar uma toalha para você se secar e... Quer café?

Não esperou uma resposta, agitou-se para sair do contato e sacudiu a varinha. A cafeteira ligou e as xícaras voaram para a bancada, enquanto disparava para o segundo andar. Desceu alguns poucos minutos depois, envolta num roupão e carregando uma toalha felpuda, a qual entregou à Draco.

— O que faremos agora? — Quebrou o silêncio, observava-a beber lentamente o líquido amargo.

Levantou o olhar para encará-lo, mas não tinha uma resposta.

— Não sei. — Baixou a cabeça. — Realmente não sei!

O silêncio acompanhou-os por mais algum tempo, o tiquetaquear do relógio era o único som da madrugada.

— Preparei o quarto de hóspedes para você. Segundo andar, primeira porta à esquerda. — Saltou do banco e deixou a xícara sobre a pia. — Boa noite, Malfoy.


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Notas finais do capítulo

Atrasei, mas está aí. Espero que tenham gostado, me contem o que estão achando nos comentários!!