Caso encerrado escrita por Amanda
Não fora trabalhar no dia seguinte, não se daria ao infortúnio de sair de casa para voltar algumas horas depois. Se precisassem dela sabiam onde encontra-la. Então, resolveu que seria mais proveitoso continuar trabalhando em tudo aquilo que sabiam até ali. Fizera novas anotações, e ainda tinha muito que analisar.
A xícara de café descansava ao lado de uma pilha de pergaminhos enquanto a pena rabiscava um bloco de anotações freneticamente. Havia poucos detalhes de que não se lembrava, no entanto, diferente do que imaginava, nenhum deles parecia levar-lhe adiante em sua nova investigação.
O ataque que sofrera fora logo depois de encerrar o caso, além disso não tinha nada. Nenhum dos aurors que trabalhara no caso fora atacado ou sofrera alguma ameaça, checara duas vezes com todos eles. Não tinha informações. Já começava a pensar que as datas foram uma simples coincidência, mas algo gritava que estava se enganando.
Três batidas secas na porta fizeram-na saltar.
— Rony. — Saudou o amigo com surpresa, não esperava vê-lo ali. — Aconteceu algo?
Ele entrou e parou diante da bagunça de pergaminhos, imagens, penas e anotações.
— Perdi alguma coisa? — Perguntou.
Em defesa ao tom severo do amigo, cruzou os braços para parecer maior e mais ameaçadora. Aquela tática funcionava em poucos casos, Rony sempre baixava a guarda ao vê-la assim.
— Estou estudando o caso dos Comensais da Morte. — Disse. — Tem de ter algo que perdi!
— McHearty foi atacado noite passada, não sobreviveu. — Rony soltou rapidamente e esperou a reação da amiga.
— O quê? — Virou-se bruscamente, como se tivesse levado um empurrão.
— Foi encontrado na Travessa do Tranco e foi levado para o St. Mungos, não sobreviveu. — Relatou com mais calma, sabia o que aquilo significava. — Harry está lá, vim busca-la.
— Me dê dois minutos. — Correu para o quarto e trocou de roupa, a varinha encaixada no coldre em sua perna, como todo Auror usava.
Assim que pisaram no St. Mungos uma bruxa os levou para o quarto onde o corpo de McHearty jazia. No corredor Harry conversava com a esposa do homem que trabalhara fielmente ao lado e Hermione no caso dos Comensais da Morte. Suas suspeitas estavam certas, afinal.
— Harry, o que aconteceu? — O amigo dispensou a mulher chorosa e puxou Hermione para dentro do quarto.
— Veja com seus próprios olhos. — Apontou para o corpo.
Hermione aproximou-se do colega coberto por um lençol branco, mas foi interrompida por Draco que entrou apressado na sala fria.
— Não sei se vai querer vê-lo, Granger.
Hesitou por um breve momento, respirou fundo e puxou o tecido.
McHearty tinha o corpo coberto por arranhões, o rosto fora rasgado diagonalmente de ponta a ponta, os olhos arrancados do rosto em um gesto aterrador. E o peito fora usado para deixar um recado riscado na pele: “até o próximo”. Não pode conter o som abafado que escapou de seus lábios e nem o passo vacilante que a fez recuar, aquilo era crueldade na sua forma mais pura.
— Nada mais? — Perguntou, sem tirar os olhos das palavras rasgadas.
— Não. — Murmurou o amigo. — A Travessa do Tranco está limpa, achamos que não foi a cena principal.
Hermione assentiu.
— Os olhos foram retirados, ele teve tempo. — Falou mais para si, como uma anotação mental. — Quero uma reunião com todos os aurors envolvidos no meu caso, ninguém mais vai morrer!
Harry anuiu.
— Preciso de tudo que tiver desde o minuto que ele chegou aqui. — Virou-se para Draco que sinalizou para que o seguisse. Voltou-se rapidamente para Harry. — Encontro vocês no Ministério.
Seguiu o médibruxo pelo corredor, até que chegassem a um consultório, a placa na porta exibia em letras prateadas o nome “Dr. Malfoy”.
— Sorte a sua que assumi o caso. — Pegou de cima da escrivaninha o prontuário. — Está tudo aqui, detalhadamente, imaginei que ia precisar!
— Obrigada. — Percorreu os olhos pelo papel. — Não conseguiu detectar o que o atingiu? Nenhuma hipótese?
Sacudiu a cabeça.
— Me surpreendeu que estivesse vivo quando chegou, a tortura devia tê-lo matado, você viu o estado do corpo dele. — Escorou-se na mesa. — Nunca tinha visto algo parecido. Quem quer que seja, Granger, é muito perigoso.
— Tome cuidado, Malfoy. — Pediu com sinceridade. — Quando me salvou você grudou um alvo em suas costas, não quero ser responsável por mais uma morte.
Aproximou-se de Hermione vagarosamente, até que estivessem separados por apenas um palmo de distância.
— Mais uma morte. — Repetiu, testando as palavras. — Você sabe que não foi responsável pelo que aconteceu a ele, não é? Não é culpa sua.
— Diga isso à esposa dele que está chorando até agora, porque particularmente não consigo acreditar nisso nem por um segundo. — Respondeu, erguendo a cabeça para olhá-lo diretamente nos olhos. — Cuide-se.
Deu-lhe as costas e seguiu diretamente para o Ministério, tinha muito a resolver.
A reunião não começara até que Hermione estivesse presente, e assim que entrou conseguiu perceber a atmosfera densa que planava naquela sala. Seria uma longa e complicada conversa, não fazia ideia de como começar ou que medidas tomar. Pela primeira vez sentia-se impotente.
Depois de três quartos de hora a reunião terminou. Hermione foi a primeira a jogar-se na cadeira quando todos deixaram a sala. Suspirou longamente.
Frustrada.
— Não temos nenhuma pista. — Rony constatou. — O que faremos? Não podemos esperar que mais alguém morra. Hermione está na lista.
— Sei disso, Rony. — Engoliu em seco. — Temos de interrogar todos os Comensais que prendemos, perguntas concisas e diretas. Precisamos de respostas, e rápido!
Harry que permanecera em silêncio até o momento tirou a mão do rosto.
— Vou providenciar isso. — Fechou as pastas sobre a longa mesa de mogno. — Vamos para casa, precisamos descansar.
— Vou levar Hermione, tudo bem pra você? — Assentiu para Rony que imitou-a. — Mande lembranças à Gina.
Sabiam que ele levá-la era uma precaução inútil, mas que confortava a ambos. Aparataram na frente da casa, e depois de Hermione certificar-se com um feitiço rápido que não havia ninguém, despediram-se.
Não dormiu naquela noite.
Virou de um lado para o outro por horas, as imagens do corpo de McHearty em sua mente. A pele pálida e fria que destacava cada hematoma de defesa, as cicatrizes, a falta dos olhos no rosto e a mensagem clara, uma ameaça. Não podia descansar quando sabia que os culpados estavam do lado de fora, à espreita de uma nova oportunidade, de um bruxo a ser atacado.
A culpa consumia seu peito, deixando-o pesado, assim como a respiração que tinha certeza estar audível.
A madrugada já entrara em toda sua quietude e paz, podia escutar o vento sacolejando as árvores próximas e a chuva fina batendo contra o vidro da janela. Atenta, ouviu o som de aparatação e pôs-se de pé rapidamente, a varinha sobre o criado mudo foi capturada com agilidade. Desceu as escadas em completo silêncio, calculando cada passo na escuridão noturna, os pés descalços em contato com o chão frio causaram arrepios por todo o corpo, mas manteve-se com a postura rígida.
Duas longas batidas na porta.
Na ponta dos pés aproximou-se e olhou o visitante pelo olho-mágico. Draco ofegava e olhava para trás constantemente, enquanto continuava a bater na porta, parecia assustado. Abriu imediatamente a porta e puxou-o para dentro com um solavanco, quase o derrubando no processo. Antes de trancar-se colocou o corpo para fora da casa e apontou a varinha para a rua, apenas por precaução.
— Você está bem? — Sacudiu a varinha e as luzes se acenderam, iluminando a ambos. — Aconteceu alguma coisa?
Instintivamente agarrou-o pelos ombros para que a olhasse nos olhos, tocou o rosto do homem e segurou-o com mais delicadeza, havia uma marca no lábio superior. Um soco.
— Draco, preciso que fale comigo. — Pediu calmamente.
Ele, por sua vez, afastou gentilmente as mãos do rosto e aprumou-se como pôde, não estava disposto a manter a coluna ereta, ao menos até que seu coração parasse de saltar contra seu peito.
— Fui encurralado numa rua de Londres, não sei como me encontraram. — Massageou o queixo, seu orgulho nitidamente ferido. — Levei um soco e usei a varinha para afastá-lo, causei um ferimento profundo na coxa esquerda, mas foi só. Desaparatei assim que tinha chance!
— Certo. — Estava tão atordoada que levou alguns segundos para pensar. — Venha comigo.
Levou-o para a cozinha, onde pediu que se sentasse no banco de frente à bancada e de um dos armários altos pegou uma caixinha metálica, sobre a tampa os dizeres “Primeiros Socorros”. Não reparou no que fazia, era tão automático, e quando deu por si estava próxima demais do corpo de Draco, limpando o ferimento mínimo em seu lábio. Um corte daqueles sequer devia estar incomodando-o, mas assim mesmo, quando pressionou ele apoiou a mão em sua cintura, como se para afastá-la.
— Deixe de ser infantil, um corte desses não pode doer tanto. — Continuou limpando, tentando ignorar o calor que a mão de Draco causava em sua cintura.
— Já levou um cruzado de direita? — Questionou, produzindo uma careta quando ela continuou pressionando o local para estancar o sangue.
— Uma vez. — Surpreendeu-o com a resposta. — Derrubei Rony antes mesmo que ele entendesse que tinha me acertado pra valer.
— Weasley te acertou um soco? Não é possível! — Sorriu e sentiu o corte se abrir quando a pele esticou-se, assim como o tecido apertando seu lábio. — Aí! Droga, Granger.
— Estávamos treinando, o professor queria mais realismo. — Arqueou as sobrancelhas com a lembrança. — Rony me levou chocolates por uma semana inteira!
— Seus amigos não percebem que você não é frágil, estou certo? — Perguntou, apoiando agora a segunda mão no corpo de Hermione, puxando-a imperceptivelmente para mais perto.
Suspirou longamente e sacudiu o rosto.
— Eles sabem, só preferem não aceitar. — Deu de ombros e encontrou os olhos acinzentados de Draco, notando então que estava praticando em seus braços, e que vestia um pijama indecente para aquela situação. Pigarreou alto — Vou buscar uma toalha para você se secar e... Quer café?
Não esperou uma resposta, agitou-se para sair do contato e sacudiu a varinha. A cafeteira ligou e as xícaras voaram para a bancada, enquanto disparava para o segundo andar. Desceu alguns poucos minutos depois, envolta num roupão e carregando uma toalha felpuda, a qual entregou à Draco.
— O que faremos agora? — Quebrou o silêncio, observava-a beber lentamente o líquido amargo.
Levantou o olhar para encará-lo, mas não tinha uma resposta.
— Não sei. — Baixou a cabeça. — Realmente não sei!
O silêncio acompanhou-os por mais algum tempo, o tiquetaquear do relógio era o único som da madrugada.
— Preparei o quarto de hóspedes para você. Segundo andar, primeira porta à esquerda. — Saltou do banco e deixou a xícara sobre a pia. — Boa noite, Malfoy.
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Atrasei, mas está aí. Espero que tenham gostado, me contem o que estão achando nos comentários!!