Caso encerrado escrita por Amanda


Capítulo 21
Epílogo




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O calendário tornou-se uma espécie de amigo para Hermione, mentalmente anotava alguns fatos importantes e conseguia citá-los toda a noite para si mesma, acrescentando algum novo acontecimento: Fazia três semanas e meia desde que o caso fora dado como encerrado e o Ministério voltara a funcionar normalmente; Três semanas desde que o Profeta Diário extinguira seu material sobre o Evento que resultara em prisões e alguns feridos; Duas semanas e meia desde que Hermione se mudara para sua nova casa, numa cidade vizinha à Londres, pacifica o suficiente para manter a vida dupla sem perigo; Uma semana desde que se encontrara com Blásio para tomar um café e jogar conversa fora, nada referente ao sumiço de Draco; Cinco dias desde que conseguira acabar com a última caixa da mudança; Dois desde que decidira esquecer Draco e seguir com sua vida de onde parara.

Estava em uma missão que, de acordo com o relatório, seria bastante simples. Nível 4 significava que bruxos encrenqueiros haviam resolvido brincar com suas varinhas, não era um caso para Hermione, que normalmente atendia ocorrências de nível 1 e 2 de periculosidade, mas era a única livre no Quartel general.

E lá estava, no Beco Diagonal seguiu até o endereço do bar localizado no fim da Travessa do Tranco, uma região não muito segura e confiável. O distintivo em seu peito trazia certa imponência, e todos afastavam-se para que seguisse seu trajeto sem maiores problemas.

Pouco depois chegou na viela onde dois grandes homens seguravam um bruxo menor, e machucado, pela gola das vestes.

— Soltem-no! — Disse e seu timbre firme ecoou pela viela.

Os bruxos a olharam, o brilho do distintivo não os incomodou, e depois de trocarem um olhar, seguiram o que faziam. Contudo, um dos grandalhões aproximou-se de Hermione, enquanto o outro continuava suas ameaças ao bruxo quase inconsciente.

— Sinto muito docinho, mas gostaria que não se metesse nos nossos negócios! — Disse, a varinha dançando em seus dedos enquanto falava baixo e ameaçadoramente. — Por que não dá meia volta e corre de volta para seu canil?

— Não me chame de docinho! — A varinha escorregou por seu antebraço e o feitiço não-verbal derrubou o homem, que ao cair, levou consigo algumas caixas de papelão escoradas na parede do prédio.

O segundo bruxo soltou sua vítima, que caiu sentada no chão, e encarou-a depois de olhar para o amigo desacordado.

— Sua vadiazinha, vai querer nunca ter se aproximado quando eu terminar com você! — Sacudiu a varinha num movimento amplo acima da cabeça, grande erro, Hermione veloz e muitos centímetros menos que o homem atacou-o com um feitiço estuporante.

O bruxo rolou até os pés de seu amigo e ficou por ali.

— Auror Granger? — Um rapaz alto de ombros largos aproximou-se, carregava o distintivo no peito, e Hermione baixou a varinha para que se aproximasse. — Fui enviado como reforço, caso precisasse.

— Claro, obrigada. — Apontou para os dois bruxos apagados no canto da viela. — Amarre-os por precaução.

Enquanto seu parceiro juntava os bruxos para encantá-los, Hermione aproximou-se do homem caído e soltou um longo suspiro frustrado ao enxerga-lo.

— Só pode ser brincadeira! — Draco escorado na parede tinha um longo corte no supercílio e abriu um sorrisinho fraco e ensanguentado pelo lábio cortado. Estava prestes a perder a consciência. Hermione olhou para o auror que a ajudava. — Poderia levá-los? Vou acompanhar esse aqui até o St. Mungos.

— Claro, auror Granger! — Bateu continência.

Hermione passou o braço de Draco sobre seu ombro e ergueu-o do chão.

— Deixe os relatórios para mim, e vá para casa depois. — Deu as últimas ordens e começou a andar pelo longo corredor de paralelepípedos.

Draco mal mantinha-se sobre os próprios pés, tropeçava nas pedras do calçamento e deixava quase que seu peso inteiro para Hermione.

— Concentre-se, Malfoy! — Rosnou quando ele quase os levou para o chão em frente a vários bruxos mal-encarados que observavam a cena.

— Agora eu sou Malfoy? — Perguntou descoordenadamente, tropeçando entre as palavras e seus pés.

Hermione aparatou assim que sentiu-se firme para isso. Quando entrou no St. Mungos Draco estava desacordado, talvez pela pressão da desaparatação, ou em decorrência da bebida alcóolica, já que exalava um forte cheiro de Uísque de Fogo.

— Srta. Granger? — O mesmo médibruxo que a atendera após o baile no Ministério a cumprimentou. — Pelas barbas de Mérlin, o que aconteceu com ele?

Draco já estava deitado em uma maca que flutuava, seu rosto bastante machucado foi analisado pelo olhar clínico do médibruxo.

— Vou adorar saber assim que ele acordar. — Respondeu com frieza. — Preciso fazer algumas perguntas, posso aguardá-lo?

— Claro. — Respondeu já empurrando a maca pelo corredor. — Pode esperar em frente ao quarto, me acompanhe!

***

Sequer sentou-se, ficou escorada na parede esperando para falar com Draco, apesar da exaustão de um longo dia de trabalho, tinha de continuar ali, aguardando para pegar o testemunho e descobrir o que ele fazia naquela parte do Beco Diagonal.

Quarenta e poucos minutos depois o médibruxo saiu do quarto e sinalizou com a cabeça, dando-lhe livre acesso para que entrasse e conversasse com seu paciente.

Entrou no quarto para fazer seu trabalho, Draco já a aguardava sentado na maca, com os devidos curativos espalhados pelo rosto, estes não cobriam os hematomas ao redor dos olhos. Olhou-a com um misto de curiosidade e desafio.

— O que estava fazendo naquele lugar? — Foi direta, um bloco foi tirado do seu bolso e rapidamente começou afazer anotações no papel. — Se puder responder...

— Estava bebendo! — Disse, analisando-a meticulosamente.

Os olhos cinza não passaram despercebidos por Hermione, que tossiu desconfortável e continuou a fazer-lhe as perguntas.

— Por que se meteu em briga? — Levantou o olhar do bloquinho. — Está me deixando desconfortável, Malfoy.

Voltou a encarar o bloquinho, relendo os tópicos que anotara ali, torcendo para que não precisasse continuar ali por muito mais tempo. Não sabia o que estava acontecendo, somente entendia que estava perdendo o controle da situação e não podia deixar que ele percebesse.

— Derrubei a bebida do grandalhão número um. — Deu de ombros. — Digamos que ele não gostou muito do que eu disse depois, nada que eu não conseguisse dar conta.

Hermione riu com escárnio.

— Claro, quando cheguei você realmente estava em vantagem. — Guardou o grafite e o bloco de notas no bolso da veste negra e cruzou os braços. — Foi bom te ver, mesmo que não nas melhores circunstâncias.  Adeus, Malfoy!

Virou-se para abrir a porta, mas seus dedos não chegaram a tocar na maçaneta.

— Como você está? — A pergunta deixou-a surpresa. — Não tive mais notícias.

— Você não me procurou, é completamente diferente. — Virou-se para encará-lo, os braços cruzados sobre o peito como um escudo.

Touché. — Sorriu dolorido ao mexer-se na cama. — Pensei que não quisesse me ver depois de tudo, resolvi que seria melhor me afastar!

Hermione sacudiu a cabeça em negativa.

— Você sequer me deu a chance de decidir. — Passou a mão pelo cabelo, furiosa. — Pensei que me procuraria, mas quando fui buscar minhas coisas no Chalé das Conchas você já havia esvaziado as gavetas e partido. Por quê?

Draco continuou em silêncio, mas lançou as pernas para fora da maca e saltou, apoiando-se no colchão.

— Você não deu notícias por quase um mês inteiro, minha coruja voltou com a carta no bico porque não o encontrou em lugar algum. Onde esteve? — Deixou a frieza de lado e deixou as perguntas transcorrerem.

— Precisei de um tempo longe. — Explicou. — As coisas aconteceram de um jeito desenfreado e eu precisava entender. Me afastar foi a única opção em que consegui pensar. Me desculpe por não ter dado notícias!

— Agradeço sua sinceridade, mas não há nada a ser desculpado. — Disse com indiferença, um modo de proteger-se de algo que não queria admitir. — Você ficou do meu lado até o fim, como disse que faria, apenas não pensei que seria tão literal!

Draco bagunçou os cabelos.

— É aí que você se engana, Granger. — Aproximou-se um pouco, atento às reações de Hermione. — Antes do baile você disse que não me conhecia, que não sabia o que eu sentia. Tentei me explicar durante a nossa dança, mas fui interrompido por aquele idiota filho da p... E não tive outra oportunidade até agora. Portanto, quero que me escute com atenção, porque não tive o trabalho de persuadir Henry à trancá-la aqui à toa.

A mão de Hermione grudou-se habilmente na maçaneta, e depois de virá-la com força e insistentemente de um lado par ao outro concluiu que estava presa naquele quarto.

— Está bonita, Hermione. — Disse enquanto buscava sua mão caída ao lado do corpo. — Senti sua falta!

— Seja breve, Malfoy. — Pediu, o mais calma que seu autocontrole permitia.

Apesar de toda a bebedeira da noite e da briga em que se metera, nunca esteve tão sóbrio em toda a sua vida, dependia de sua sanidade como nunca imaginou ser possível. Sorriu com a ordem, e seguiu em frente.

— Durante nossa dança, quando estávamos perto um do outro, dessa forma — Aproximou-se de Hermione e a segurou do mesmo jeito que fez enquanto dançavam, e somente quando ela enfim olhou-o, passou a embalar seus corpos numa dança lenta, ritmada pelo silêncio do quarto hospitalar. — Senti medo por ter interpretado o andamento do nosso relacionamento errado, e ter me precipitado para algo platônico. Mas depois de tudo o que aconteceu, tive algumas certezas, mas queria que você também me explicasse algumas coisas do seu ponto de vista. Então, para você, o quão envolvidos nós estávamos?

Hermione apertou-lhe o ombro, assustada com a pergunta tão direta.

— Nós fizemos sexo algumas vezes, compartilhamos uma casa por causa de um Comensal da Morte, irritávamos um ao outro quando tínhamos a chance somente por diversão... — Contabilizou em sua cabeça.

— Não é sobre isso que estou falando, apesar de serem ótimos exemplos. — Girou-a no ritmo da música que batia em seu peito. — Falo de sentimentos, e você sabe disso.

— Draco, não sei se quero... — Girou-a novamente, impedindo-a de prosseguir.

— Vou começar então, mas quero que preste atenção em cada palavra que eu disser, elas são muito importantes! — Disse suavemente no ouvido de Hermione, e depois depositou um beijo em sua mandíbula.

A dança terminou, mas Draco não afastou-se.

— Nós começamos com sexo, porque era algo que precisávamos fisiologicamente. Somos muito bons juntos e você sabe disso, mas nos perdemos em meio a isso! — Segurou-a com pouco mais de força quando ela tentou desvencilhar-se do abraço. — Nós dividimos muito mais que a cama, foram dias de baixo daquele teto convivendo com as manias um do outro, e eu ficaria surpreso se outra pessoa não se apaixonasse por você como eu fiz.

Hermione abriu os lábios como se não tivesse entendido aquela frase.

— Por mais que eu negasse não consegui impedir que, lentamente, meu peito começasse a bater por você, para você. — Fechou os olhos e sacudiu a cabeça, um sorriso incrédulo despontava em seu rosto. — Por Mérlin, você era tão teimosa que não conseguia negar nada que me pedisse. Queria fazê-la rir, senti-la em meus braços exatamente como agora, protege-la daqueles seus amigos cabeças-ocas que queriam usá-la como isca.

“Desejei que me ouvisse e desistisse daquela loucura, quis que conseguisse ver em meus olhos o quanto aquilo me assustava, a possibilidade de perdê-la ou que se ferisse era insuportável. Fiquei furioso quando o plano foi alterado e assim mesmo você aceitou correr o risco. Quando fui até seu quarto foi para dizer que não participaria do seu plano suicida, estava prestes a ir embora e deixa-la. Mas lá estava você, terminando de passar o batom vestindo nada mais que uma lingerie, me senti tão idiota a ponto de pensar que conseguiria deixa-la.”

“Adorei quando aquela jornalista perguntou sobre nosso envolvimento, queria responder que estávamos namorando, mas você ficou tão tensa sob minha mão que imaginei ter entendido tudo tão errado.”

“Você se feriu, e eu quis xingá-la por ser tão inconsequente, mas só conseguia vê-la indefesa. Escapei das enfermeiras para observá-la dormir, mas me mantinha longe, não sabia se gostaria de me ver quando acordasse.”

“E aqui estou, depois de quatro longas e tortuosas semanas, esperando que me dê uma resposta. Ainda quero fazê-la rir, protege-la, abraça-la e ouvi-la gritar meu nome enquanto eu digo o seu, dia após dia. Aceita entrar em um relacionamento comigo onde iremos irritar um ao outro, compartilhar uma casa pelos motivos certos e fazer sexo por todos os cômodos?”

Hermione afastou-se, a mão na testa como se conseguisse filtrar os pensamentos turbulentos que passavam por sua cabeça. Havia tanto a considerar... Exceto que sentia-se da mesma forma que há quatro semanas, ele ainda mexia com sua cabeça e corpo.

Depois de rir sozinha da decisão que tomara, voltou-se para Draco com um sorriso nos lábios.

— Eu teria respondido que sim se você tivesse começado o discurso a partir das "quatro longas semanas!" — Sorriu ainda mais e abraçou-o. — Aceito entrar em um relacionamento com você, porque sinto tanto que não cabe em palavras. Um sorriso seu me faz desistir de estrangulá-lo, e claro, somos muito bons juntos!

Draco não quis ouvi-la, não quando podia simplesmente beijá-la, e mesmo que seu lábio cortado doesse assim como o pé que torcera, tê-la nos braços era mais importante. Tocá-la depois de dias fazia com que seu corpo se reacendesse, sei peito voltara a bater no momento em que a encontrara empunhando a varinha naquela viela imunda.

Teria ido muito mais longe se Henry não tivesse aberto a porta, preocupado com o silêncio.

— Desculpe atrapalhá-los. — Hermione grudou a testa no peito de Draco que olhava o amigo com um amplo sorriso. — Pensei que ela pudesse tê-lo apagado ou algo parecido. Ah, parabéns!

Henry saiu rapidamente, e Hermione que ria envergonhada, voltou a posicionar-se na ponta dos pés para beijá-lo uma vez mais.

***

De baixo de uma grande árvore, Hermione observava o interessante jogo de Quadribol no quintal da Toca. Fazia algumas semanas que começara a namorar com Draco, e resolvera que aquele domingo ensolarado era perfeito para levá-lo até a casa dos Weasley, queria que o conhecessem o mais breve possível.

Diferente do que imaginou, Draco se saiu maravilhosamente bem com todos os ruivos, apesar de seu nervosismo, conseguiu convencê-los de que mudara e realmente amava Hermione. Depois do almoço, aceitou participar da partida de Quadribol.

— Acabe com eles! — Hermione lhe desejou sorte com um rápido beijo nos lábios.

O jogo foi de longe o mais divertido que assistira, Draco e Harry travavam uma batalha sobre suas vassouras para tentar apanhar o pomo de ouro, muito educados não se empurravam ou batiam-se agressivamente como costumavam fazer em Hogwarts. Todos riam e divertiam-se, analisando a cena sentiu seu peito inflar-se de felicidade.

Parecia tudo tão simples.

Fazia três semanas que haviam entrado naquele relacionamento, mas já conversavam sobre um título mais sério. Harry e Rony aceitaram facilmente o namoro, com votos de felicidades e ameaças longe dos ouvidos de Hermione, mas nada que a garota não imaginasse. Draco transformara a vida de Hermione, fazendo-a dar um salto de trezentos e sessenta graus em poucos dias, mas nada que a fizesse se arrepender, pelo contrário, amava-o cada dia mais.

— Hey, Granger! — Draco pousou a vassoura próximo a árvore que estava escorada.

Agachou-se na frente dela e beijou-a, segurando-lhe delicadamente pelo rosto.

— Por que isso? — Riu quando separaram-se, sem afastar seus corpos mais que o necessário.

No ar, o jogo de quadribol seguia seu curso.

— Porque eu te amo! — Beijou-a novamente, com calma e extrema delicadeza, demorando-se um pouco mais.

— Hey, Malfoy, volte ao jogo! — Gina berrou, tirando-os do beijo.

Hermione gargalhou enquanto Draco revirava os olhos e montava na vassoura novamente, pronto para voltar ao jogo.

— Hey, doninha. — Gritou Hermione quando Draco já tirara os pés do chão. — Te amo!

O sorriso que recebeu em resposta era a prova perfeita que precisava para dar o veredito de que seu coração, era caso encerrado!


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Notas finais do capítulo

E aí está, o tão aguardado epílogo.
Obrigada por terem dado uma chance à essa minha ideia, por todos os comentários e incentivos. Nos vemos numa próxima!!