Caso encerrado escrita por Amanda


Capítulo 1
Prólogo




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Podia sentir seu rosto úmido, algo escorria por sua têmpora — não tinha forças para abrir os olhos. Levantou a mão alguns centímetros e logo sentiu-a cair fraca e dormente. Seus músculos não obedeciam aos comandos, por mais que insistisse.

— Accio toalhas!

Não reconheceu a voz, mas sentiu a cabeça latejar quando o que deveria ser uma toalha, pressionou com firmeza sua testa. Quis reclamar, mas tudo o que conseguiu produzir foi um breve e abafado grunhido, depois disso, sentiu o corpo pesado e foi tomada pela inconsciência.

Abriu os olhos e distingui apenas vultos, as formas estavam embaçadas o suficiente para que levasse longos minutos até que conseguisse reconhecer um amontoado de toalhas sujas jogadas no chão. Ergueu o corpo para ver melhor a silhueta que aproximava-se mexendo as mãos, ou limpando-as — não tinha certeza. Mas a cabeça voltou a latejar, dessa vez forte o bastante para que soltasse um grito agudo e desabasse inconsciente novamente.

Despertou algumas horas mais tarde, abriu os olhos e deixou que se acostumassem com a pouco claridade para só então começar a movimentar-se. Quando levantou a cabeça não reconheceu o quarto e não lembrava-se de como havia ido parar ali. Sua cabeça doía menos, mas as pontadas incômodas lembravam-na constantemente de que tinha de descobrir o que acontecera. Logo!

— Se eu fosse você ficaria deitada um pouco mais.

Seguiu a voz com o olhar até descobri-lo de pé no batente da porta. Os braços cruzados e a postura altiva não lhe deixavam dúvidas.

— Malfoy? O que... Onde estou?

— Está segura! — Disse sério, dobrando as mangas da camisa até os cotovelos. — Fique deitada, você levou uma pancada e tanto.

Sem dar-lhe ouvidos levantou-se, e por pouco não desabou. A tontura veio forte e deixou-a momentaneamente cega, rapidamente escorou-se na parede e esperou que o torpor parasse.

— Lembra-se do que aconteceu?

Piscando freneticamente em busca do foco buscou memórias do que havia acontecido, mas as lembranças não passavam de flashes confusos.

— Estamos em um motel perto do centro de Londres. — Aproximou-se e entregou a Hermione um copo de água. — Você foi atacada por comensais da morte quando saiu daquele Pub em Hogsmeade, eu estava lá, vi quando te seguiram.

Saíra para beber com Gina depois do trabalho, mas a amiga não ficara muito tempo, tinha que voltar para casa, para Harry. Resolvera ficar um pouco mais, a semana tinha sido estressante e o Uísque de Fogo estava começando a ficar agradável.

— Minha varinha? — Perguntou, tateando a calça jeans surrada.

Draco apontou para o criado-mudo ao lado da cama onde a varinha repousava solenemente em toda sua gama de detalhes delicados e cores claras.

— O que aconteceu comigo?

Pela primeira vez desde que acordara encarou Draco, olhou-o nos olhos.

— Eles te encurralaram no beco atrás do Três Vassouras, quando cheguei você já estava desacordada, derrubei os três e peguei você. — Explicou com calma. — O corte na sua cabeça era fundo, consegui limpar e estancar o sangramento, provavelmente ficará uma cicatriz. Tentei deixa-la o menor possível.

Hermione sacudia a cabeça.

— Acho que me lembro de alguma coisa... — Fechou os olhos e respirou fundo. — Preciso ir para casa.

— Você é mais burra do que eu pensava, Granger.

— Do que está falando, Malfoy? — Rebateu, aproximando-se do homem com passos menos firmes do que gostaria.

Draco sustentou o olhar castanho por mais alguns segundos antes de virar-se e pegar o exemplar do Profeta Diário do dia anterior e jogá-lo para Hermione que o capturou no ar. Fez um breve sinal com a cabeça, indicando que devia ler.

— O caso que fechamos ontem. — Passou os olhos pela capa do jornal e jogou-o sobre a cama. — Não foi aleatório.

Trabalhara por meses naquele caso. Acreditava-se que os últimos Comensais da Morte foragidos haviam sido capturados e seriam sentenciados em breve, graças ao longo trabalho dos aurors. Mas fora atacada. Estava completamente errada quanto ao fechamento daquele arquivo.

— É lógico. — Revirou os olhos. — Vou fingir que a sua demora em compreender o que está acontecendo é por causa da pancada.

— Harry! — Exclamou enquanto sacudia sua jaqueta, ignorando completamente o comentário de Draco. — Preciso falar com Harry e você vai comigo.

Seus ombros doíam, provavelmente por causa do impacto contra o chão ou qualquer outra coisa, talvez uma parede. Não se lembrava com exatidão, desmaiara antes do impacto.

— Não posso fazer muito por você, Granger. — Ajudou-a com a jaqueta. — Não sou um auror, despistei três comensais da morte pela Londres trouxa e tratei seus ferimentos. É só o que posso fazer.

Segurou o pulso de Draco para chamar-lhe atenção.

— Preciso que vá comigo até o Ministério, depois eu prometo que nunca mais terá de ver a minha cara. — Ajustou a varinha na manga da jaqueta, ali seria fácil sacá-la se fosse necessário. — Além do mais, você e eu sabemos que não vou muito longe.

Draco analisou o rosto de Hermione, parecia exausta. A pele estava pálida, os olhos levemente avermelhados e a macha de sangue em seu couro cabeludo acentuava o estrago da noite passada. Parecia-lhe frágil.

— Precisamos ter cuidado, eles nos seguiram por metade de Londres e eu não aconselharia uma aparatação! — Disse, levantando a mão e tocando a cabeça de Hermione com suavidade. — Se estiver doendo...

Seus olhos encontraram-se por breves segundos.

— Não está. — Desviou sutilmente do toque de Draco, desconfortável com o alívio que sentiu na pressão imposta pelos dedos longos sobre o ferimento. — Se eles te seguiram por Londres é possível que tentem interceptar as passagens: Ministério da Magia, St. Mungos e Beco Diagnoal.

Draco entregou à Hermione um chapéu.

— Estava no quarto quando entrei, vai servir para cobrir seu rosto. — Disse com calma, analisando-a.

— Seu cabelo é muito chamativo! — Enfatizou, devolvendo o chapéu. — Me dê o seu cachecol. Posso dar um jeito no cabelo!

Não podia contestá-la, não quando Hermione prendeu o cabelo lateralmente e enrolou o cachecol até o inicio do nariz, escondendo-o toda a vez que baixava o rosto.

— O penteado cobre um lado, então fique na minha esquerda! — Explicou.

Draco assentiu obedientemente.

***

Teriam que caminhar algumas quadras até chegar à cabine telefônica mais próxima, a qual, muito provavelmente, estaria sendo vigiada por algum comensal da morte. Isso se a teoria de Draco estivesse correta.

As duas primeiras quadras foram tranquilas, apesar de Hermione estar caminhando com dificuldade e com a respiração a cada passo mais entrecortada.

— À esquerda. — Draco disse, mantendo a cabeça abaixada, de forma que a aba do chapéu cobria parte do seu rosto. — Preciso que você caminhe um pouco mais rápido, Granger.

— Não consigo, minhas costelas estão doendo. — Arfou.

Com agilidade circundou a cintura de Hermione com o seu braço e a aproximou de seu corpo, apoiando-a.

— Continue caminhando, finja que está feliz, ria! — Disse no ouvido de Hermione, aproveitando para observar os perseguidores. — Não sei em que tipo de coisa você se meteu, Granger, mas da próxima vez tenha certeza que pode lidar com tudo sozinha!

Hermione empinou o nariz, quase tocando o rosto de Draco, um claro desafio de que a subestimasse novamente.

— Tive uma ideia! — Exclamou assim que passaram por uma vitrine e enxergou o reflexo do Comensal seguindo-os de perto. — Apenas faça o que eu fizer...

***

Entrar no Ministério fora simples, o problema estava no escritório que dividia com os amigos. Irromperam com brusquidão para dentro, Hermione com o braço por cima dos ombros de Draco que apoiava-a pela cintura. Harry e Rony, assustados com a situação levaram alguns segundos para agir. Harry foi o primeiro a mover-se em direção à Hermione e puxá-la para longe, enquanto Rony sacava a varinha e apontava para Draco.

— O que fez com ela, Malfoy? — Esbravejou com fúria.

Hermione que apoiava-se em Harry, atrás de Rony, cambaleou até Draco que mantinha uma expressão impassível e posicionou-se em sua frente, baixou a varinha do amigo lentamente.

— Ele me salvou! — Disse com calma e firmeza, curvando o corpo para o lado, ao passo que Draco amparou-a. — Vou explicar.

— Preciso olhar suas costelas antes. Disse que estava sentindo dor, pode haver alguma fratura. — Olhou para Hermione que negou com a cabeça. — Granger...

— Depois! — Arfou.

Virou-se para Harry e Rony que observavam a discussão com estranhamento e começou a contar tudo o que se lembrava, com ajuda de Draco em alguns detalhes, ressaltando os pontos mais importantes do que havia passado até chegar ali. Pouco conseguia se lembrar do que acontecera, provavelmente por conta do álcool que ingerira naquele pub. A última coisa de que se lembrava era de ter pago as bebidas e saída pela rua lateral, a iluminação fraca fez com que notasse os homens mascarados tarde demais, sequer havia conseguido pegar a varinha.

— Se eles os seguiram significa que não é apenas uma ameaça, você é um alvo! — Harry enfatizou a gravidade olhando para Hermione. — Você também, Malfoy.

Draco que há tempo apenas escutava o debate do trio levantou a cabeça em confusão.

— No momento em que ajudou Hermione você passou a ser um alvo tanto quanto ela, precisa de cuidado dobrado, vocês dois precisam! — Harry explicou. — Rony, veja as escalações de Aurors para essa semana, faremos algumas mudanças.

Rony mexeu-se, mas foi interrompido por Hermione.

— Não preciso de guarda-costas, posso tomar conta de mim mesma. — Ergue a mão, calando Rony que sequer conseguiu pronunciar uma palavra. — Vocês me conhecem melhor que ninguém, ontem, tenho certeza, que foi por conta do álcool, não se repetirá.

— Tampouco quero um brutamonte me seguindo para todos os lados, ficarei bem sem ajuda do Ministério. — Draco disse com escárnio.

— Certo. — Ninguém insistiu. — Rony e eu vamos informar o que aconteceu, se puderem nos esperar.

Hermione assentiu e esperou que ambos tivessem saído da sala para se jogar na cadeira.

— Desculpe-me por tê-lo metido nessa confusão. — Afundou o rosto nas mãos, cansada. — Disse que se me ajudasse não teria de me ver novamente, mas nas atuais circunstancias, acho que terei que quebrar minha promessa.

— Não pense que eu não sabia onde estava me metendo. Podia tê-la deixado caída naquele beco depois de apagar os comensais da morte, mas não o fiz. — Disse com indiferença.

Hermione levantou a cabeça e encarou-o com curiosidade aparente.

— Por que me salvou?

— Por que omitiu a forma como conseguimos despistar os Comensais? — Encarou-a fixamente.

Draco não esperava por uma resposta, tampouco queria responder a pergunta de Hermione. Ainda não entendia o porquê de ter se metido naquele briga. Estava no mesmo pub, havia inclusive passado algum tempo analisando Hermione e seus modos ímpares, assim como a simplicidade com que recusava os flertes de alguns bruxos. Saíra do pub e ficara do lado de fora algum tempo, respirando a brisa gélida da noite, até que ouviu as vozes agressivas no beco ao lado.

— Peguem suas coisas, vamos para a minha casa. — Harry entrou distribuindo ordens, já Rony olhou de Draco para a amiga. — Vamos usar a lareira do Ministro, você não parece em condições de aparatar.

Hermione seguiu os amigos ao lado de Draco, muito lentamente, de modo que seu corpo inteiro começava a latejar. Cabeça, ombros e costelas. Devia ter levado uma pancada e tanto, sequer lembrava-se do feitiço que a atingira.

— Assim que chegarmos preciso de um lugar para examinar sua amiga, ela esta arfando. — Disse com seriedade e um pouco de escárnio.

— Irei providenciar! — Harry olhou de canto para Rony que retribuiu o olhar, o desconforto pairava em ambos. — Vou com Hermione, Rony vai com você, Malfoy. Sem brincadeiras, estamos sob alerta.

Gina cantarolava enquanto mexia o molho quando a luz verde chegou até a cozinha e assustou-a. A lareira não era usada com frequência. Mexeu a varinha com suavidade e deixou o jantar se preparando sozinho enquanto corria até a sala, onde Harry sustentava Hermione pela cintura enquanto Draco Malfoy saía das chamas ao lado de seu irmão.

— O que está acontecendo, Harry? — Perguntou ao marido, observando de longe a situação. — Hermione está bem? O que Malfoy faz aqui?

— Granger foi atacada mais cedo. — Disse à Gina. — Preciso examiná-la agora, Potter!

— Vou levá-los ao quarto de hóspedes. — Fez menção de pegar a amiga no colo, já que Hermione parecia arfar cada segundo mais, contudo, ela negou.

Subiu as escadas na frente de Hermione e de Malfoy, o qual ouviu cochichar:

— Devia parar de ser tão teimosa.

E pela primeira vez, teve de concordar com o rapaz.

Hermione entrou no quarto e sentou-se na cama, tentava esconder o quanto a falta de ar lhe afetava. Fingiu até mesmo que não reparara no olhar angustiado que Harry lançou antes de deixar o quarto.

— Não devia ser tão dura com seus amigos, não trocou nenhuma palavra com o Weasley desde que ele apontou a varinha para a minha cara. — Draco comentou, despindo-se do casaco.

— E você se importa com isso? — Questionou-o.

— De maneira alguma. — Comentou, puxando lentamente as mangas da camisa até os cotovelos. — Tire a blusa, preciso examiná-la.

Diferente do que Draco imaginou, Hermione não assustou-se com o pedido. Apenas despiu-se com lentidão e suavidade, como se cada centímetro movimentado custasse muito. Quando terminou, levantou o olhar para encará-lo e esperou.

Aproximou-se com cautela e examinou-a com muita precisão. Havia uma contusão nas costelas que causou a falta de ar, de modo que os pulmões não podiam inflar-se completamente. O feitiço para aquele problema foi fácil, um gemido de dor e tudo estava perfeito novamente. O ombro voltaria ao normal em alguns dias. A cabeça no entanto...


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!!



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