Conspiração Divina. escrita por Julia Brito


Capítulo 4
III. She Makes Me A Killer.


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aqui está!
Se tudo correr como planejado, nos vemos amanhã!
Boa leitura ♥



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"How can a angel break my heart? Life's hard! I'm just trying to play my part." ( She Makes Me A Killer - Die Antwoord.)


A casa estava praticamente lotada e a cada segundo chegavam mais e mais pessoas. Não era como as outras reuniões que aconteciam após um funeral, boa parte das pessoas que estavam ali não se importavam com Amber. E eu não as culpava.

Amber não era o tipo de pessoa que todos morriam de amor, muito pelo contrário. Minha irmã era conhecida pelo seu egocentrismo e se você não a conhecesse há muito tempo, diria que era até mesmo cruel. Amber sempre se destacou mais do que eu, talvez por não ter medo de dizer ou fazer tudo o que queria. Gostava de atenção, era bonita e tinha todo o direito de exigir que os holofotes ficassem sempre grudados nela. Mas por dentro, quem a conhecia bem, sabia que era só uma garota boba, que bloqueava seus sentimentos com medo de sofrer.

No ano passado, recebi uma carta sua, me contando sobre como seu ano estava sendo. Ela gostava de se gabar e fazia questão que suas palavras demonstrassem o quão maravilhosa sua vida era. Em uma, das diversas cartas que chegaram nos últimos três anos, Amber relatava sobre seu romance com Evan. Havia contado que mantinha um relacionamento ás escuras com ele e que queria a todo custo contar para a namorada dele, para poder exibir para todos o quão apaixonados eles estavam. Daniel deveria saber desse "romance proibido", como ela mesma chamava, visto que ele parecia ter motivos fortes para acusar Evan de assassinato.

Mas eu não queria pensar naquilo, não era o momento certo. Aquele era apenas o momento de me focar para que tudo corresse bem. Pela primeira vez, em muito tempo, eu estava participando de algo que tinha haver com Amber. Não era por remorso de não ter participado com deveria de sua vida, era apenas por querer que ela aprovasse o meu ato. Sempre tive a estranha necessidade de saber que Amber me aceitava, como se qualquer coisa que comprovasse o contrário, pudesse me destruir. Isso me fazia pensar em como a vida é engraçada. Você passa os seus dias brigando e arrumando encrencas com as pessoas, as fazendo chorar, e quando a pessoa deixa esse mundo é como se uma onda de culpa invadisse o seu corpo. Essa era uma das sensações que eu carregaria comigo pelo resto da minha vida.

Daniel caminhava em silencio do meu lado, acenando com a cabeça para algumas pessoas e trocando olhares silenciosos com outras, ao contrário de mim que preferi o completo e confortável, silêncio, congelando um sorriso fraco por entre meus lábios.

Tio John estava cercado de alguns amigos e quando nos viu, se afastou deles acenando com a cabeça. Seus olhos estavam pacíficos ao contrário de seus ombros que estavam rígidos, numa tentativa frágil de acalmar os ânimos na casa.

— Está tudo bem? - perguntou depositando um leve beijo em minha testa.

Não foi preciso que eu respondesse, Daniel o vez por mim.

— Não, não está. Quem convidou o Walker?

Era explicito o nervoso contido em sua voz, que tremia em variados tons. Minhas mãos suaram ao ouvir o sobrenome que eu presumi ser de Evan, sem que eu ao menos encarasse os olhos de Daniel. Tio John manteve a calma, calculando calmamente cada palavra que deixaria sua boca, sabendo exatamente como o filho reagiria ao ouvi-las.

— A lista não foi feita por mim, Daniel.

— Foi feita por quem então? Não acho que Amber gostaria de ver seu assassino em seu funeral. - grunhiu, bufando alto antes de prosseguir. - Ele já foi ao enterro, John, não foi o bastante?

— Não... - John elevou sua voz, porém notando que atraía atenção para nós, voltou ao seu tom paciente. - Não temos provas de que foi ele quem... assassinou sua prima. Não posso impedi-lo de vir no funeral de sua própria namorada.

— Se ele vai ficar, então eu saio. - Daniel murmurou, deixando a sala com pisadas fortes no chão e atravessando a porta da entrada em seguida.

Tio John soltou um suspiro cansado, incentivando-me a tocar levemente seu ombro tensionado, tentando lhe confortar de alguma forma.

— O senhor acha melhor que eu vá falar com ele?

— Não. - ele negou, soltando um suspiro. - Daniel é um garoto mimado, acostumado a ter o que quer, quando quer. - assenti, lhe dando a chance de continuar. - Prefiro que fique aqui e me ajude a passar por isso da melhor forma possível.

Dizendo isso ele se afastou, com um suspiro leve. Encarei o chão, tomando o máximo de folego que meus pulmões aguentavam e dei o fora dali, me dirigindo para as escadas, em uma fuga, um tanto clássica, da realidade.

Quando finalmente estava no corredor, deixei que minhas costas encontrassem a parede, enquanto tentava encontrar dentro de mim alguma força para encarar aquilo tudo. 
Passos no corredor me trouxeram de volta á realidade e novamente foram os olhos negros de Evan que eu encontrei ao subir os meus.

Ele deu um sorriso leve, antes de passar por mim, se preparando para descer as escadas. 
Eu sabia que não deveria falar nada, sabia que não deveria nem ao menos, dirigir minha voz á ele, mas não me contive. Eu tinha que saber, precisava mais do que tudo saber a versão de mais alguém sobre essa história.

E foi em um ato de coragem, desconhecido por mim, que eu entreabri meus lábios e proferi as palavras que tanto infernizavam minha mente.

— Foi você...  - minha voz não saiu mais alta do que um sussurro, mas ele fora completamente capaz de ouvi-la com nitidez, congelando seus passos. - Foi você quem matou a Amber? - suas costas enrijeceram e eu podia apostar que seu rosto demonstrava surpresa. – Só... responda. - continuei, me desencostando da parede, seguindo em passos incertos para perto dele.

— Não importa o que eu diga, nada vai mudar. - pela primeira vez naquela noite, ele se dirigia á mim. Sua voz estava calma, sua respiração tranquila, quase como se ele não tivesse ao que temer. - Ninguém acreditou.

Absorvi suas palavras, abrindo minha mente para analisar cada coisa que ele dissesse, tentando não julga-lo antes que terminasse.

— Amber me contou que vocês estavam tendo um caso. - pausei, me aproximando mais dele. Alguma coisa me dizia que aquele interrogatório só me levaria á mais perguntas sem respostas. - Daniel também sabia disso? Eu ouvi vocês falando no corredor mais cedo, quantas pessoas sabiam sobre isso, Evan?

Ao contrário do que eu imaginei, sua voz continuou calma, mesmo depois de todas as acusações que eu despejei sobre ele. Lentamente, ele se virou para ficar de frente para mim, seus olhos procuraram os meus e alguma coisa neles não deixou que eu quebrasse o contato.

— Não é porque eu e sua irmã tínhamos um relacionamento escondido, que eu a mataria, Melanie.

Meu corpo enrijeceu quando ele falou meu nome e uma sensação desconhecida de frenesi tomou conta de mim. Minhas pernas tremeram e minhas mãos suaram ainda mais, porém, tentei me manter o mais firme que a situação permitisse e não perdi minha chance de continuar a balbuciar todas as coisas que passavam pela minha mente.

— A mataria se ela tivesse contado para sua namorada.

O silêncio dominou o lugar; Evan ainda mantinha seus olhos colados nos meus. Aproveitei a deixa para encontrar algum pingo de incerteza ou de medo neles. Mas estavam vazios. Não demonstravam nada, assim como sua face, que permanecia pacífica.

Esperei por uma resposta que não veio, ao invés disso ele apenas baixou os olhos e me desejou uma boa noite, descendo as escadas calmamente em seguida. E eu nem tive forças para segui-lo e continuar com o que eu considerava ser um plano.

Alguma coisa dentro de mim tinha acreditado que suas palavras eram verdadeiras. Mas se realmente eram, porque todos os olhavam daquela forma? Como se ele tivesse matado minha irmã?

As dúvidas não deixavam minha mente. E por mais que eu tentasse dar uma respostas as diversas perguntas que me cercavam, eu só acabava com mais e mais perguntas, que nunca teriam uma resposta clara o suficiente.

Deixei que meu corpo se arrastasse para perto da parede e desabasse nela novamente, exatamente como eu tinha feito minutos antes. Se uma parte de mim acreditava em sua inocência, porque haviam tantas perguntas? Porque existiam tantas dúvidas?

Talvez a parte de mim que queria acreditar em Evan, fosse a parte semelhante a Amber. Como se cada pedaço de mim, se esforçasse para ver o que ela dizia ver. E mais uma vez, eu só queria agradá-la.


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