AS VOZES escrita por OITO


Capítulo 2
A Voz DA Borboleta


Notas iniciais do capítulo

Bem, chegamos ao final do capítulo um!
Espero que gostem! :D



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A voz chamou-o naquela mesma semana mais duas vezes; dois momentos distintos. Primeiro, ele dormia e foi despertado pelo sussurro que flutuou-o para fora do sonho; depois, após conseguir dormir novamente, mas ainda naquele momento de vacilação entre o mundo dos sonhos e dos despertos, escutou novamente, muito mais próximo, dessa vez, como se aquilo o estivesse chamando de dentro do próprio quarto. Escancarou os olhos com sobressalto, sem reconhecer o teto da própria masmorra. Lá em cima, o Prédio Central estava adormecido, mas a Fortaleza como um todo se movia, viva e vibrante.

Um tipo novo de recorde sinistro e indesejado, que o despertou com suores tenebrosos e batidas profundas do coração – acelerando, acelerando, acelerando – e um zumbido estranho na orelha direita. Se ele mesmo, Ropinke Yoliva, fosse um dos corações pulsantes das árvores, azuis e poderosos como os ruídos distantes de trovões, não bateria, por si mesmo, tão forte quanto o próprio coração, batendo insistente na caixa torácica, em vãs tentativas de escape. Ele já estava desperto em meio à escuridão pastosa do quarto – que quase podia sentir nas palmas das próprias mãos e contornando-lhe o corpo como espectros sinistros –, quando a voz voltou a chamá-lo uma terceira vez; ele virou-se para os lados, todos os lados, torcendo o pescoço e revirando a cabeça, onde estava?, onde estava?

Ropinke Yoliva.

Dessa vez, o som veio acompanhado por sons de animais cantando em meio às florestas abertas e com o som leve de um riacho próximo; não era o som de um lago, no entanto. Era o som característico de uma cascata, com enormes volumes de águas caindo sobre rochas lisas e moldadas por anos e anos de erosão natural pela força da água. Ali dentro, nos domínios da comunidade, não havia uma única cascata, mas havia a água que corria sob a terra. De vez em quando, nas épocas de grande fluxo, ele escutava a água correndo lá embaixo, como o sangue da terra, vivo, mas essa não era uma dessas temporadas.

O quarto estava extremamente escuro. Ele acendeu mais duas velas para melhor iluminar o ambiente e conseguir se enxergar ali dentro – muito do que conhecia como vida havia se passado no escuro, mas acredito que Ropinke nunca se acostumou de verdade com a escuridão total.

Viu os livros sobre o criado-mudo, muito próximos às velas. Os livros, sempre os livros; dias e noites de uma infância escura e, que coisa interessante pensar, entre os livros. O que se pode fazer quando o universo é um conspirador em si mesmo; perguntou-se ele. Como poderia ser a vida no escuro, mas com livros, pilhas de livros, universos inteiros de livros?

Eu ainda não consigo reconhecer algumas coisas a respeito de Ropinke como eu deveria fazer, mas o tempo me dirá muita coisa sobre ele; eu tenho pensado principalmente sobre a escuridão com os livros. Para muitos dos que conheci em minha vida, os livros sempre estiveram respirando com a luz, respirando a própria luz; mas quando pensava em palavras, Ropinke Yoliva conseguia encontrar apenas a penumbra maciça das masmorras, fossem as salas de estudo onde era confinado, fossem as salas onde dormiam. As Mãos Vivas seguravam os livros, mas estavam completamente imersos na escuridão do subsolo.

Ele respirou fundo pôs os pés sobre o chão. Não conseguirei voltar a dormir, ele pensou.

Então percebeu, ali à frente, um tanto longe, mas talvez nem tanto, uma coisinha diminuta se movendo lentamente. Estava parada sobre a parede, pousada calmamente como se não tivesse nada melhor para fazer e, fatigada com uma longa viagem, precisasse descansar. O que é aquilo?, ele se perguntou. Ele nunca vira algo como aquilo antes: uma criaturinha diminuta, com asas finas como folhas e tinha certeza de que poderia ver pelo outro lado quando as asas batiam. Ela lhe trazia um leve asco, mas não sabia dizer exatamente o motivo; podia dizer apenas que aquela coisa, tão bela, com suas cores vibrantes em amarelo e um preto tão belo que só poderia ser ônix – fino, finíssimo, o mais fino ônix de todos –, era tão fascinante quanto asquerosa. Ele caminhou até ela e, quando já estava muito próximo, segurando a vela de modo a iluminar muito bem o lugar – se um dia tivesse dinheiro o suficiente para comprar uma flor solar! ah, seria ótimo, nada mais de luzes de velas, apenas a flor solar – foi tomado por grande pânico, imenso pânico, pois a coisinha içou da parede e voou pelo quarto como fazia o Prédio Central.

Horror profundo e puro asco.

Ele pulou para trás e apressou-se para trás da cama, mantendo, enquanto pôde, os olhos sobre a coisa. Ela voou de um lado par ao outro no quarto fechado e mal iluminado, tão mal iluminado que com dificuldade percebeu – foi por muito pouco, mas conseguiu perceber bem, conseguiu, sim –, a pequena criatura deixando cair atrás de si uma leve camada de pó brilhante, arroxeado, que desparecia na escuridão como os pirilampos do verão.

Ropinke observava fascinado. Não queria tocar aquilo, é claro, mas podia olhar à distância e, sim, sim, ele queria olhar, ele precisava observar a leveza flutuante daquela coisinha ínfima, mas de beleza como nunca vira antes. Percebeu-se por duas vezes estendendo a mão em direção à coisa, mas logo a razão retornava e pronto. Não precisava tocar. Não tocaria.

O que vou fazer com uma monstruosidade dessas dentro de meu qua

Ropinke Yoliva!

rto, perguntou-se ele.

Estava ali dentro! Estava lá, estava ali dentro, estava dentro do quarto! Estava dentro do quarto e falando por ele e com ele, de dentro de sua mente e por dentro de seus poros, um miasma! Ropinke Yoliva, Ropinke Yoliva, Ropinke Yoliva! A coisinha desceu em sua direção e, por muito pouco não tocou levemente a orelha vermelhíssima de Ropinke (Ropinke! Ropinke! Ropinke Yoliva!) – ele guinchou, guinchou como guincham os condenados a execução, e atirou-se ao chão –, enquanto a voz continuava falando e continuava chamando e continuava sussurrando fora dele e dentro dele. Vai me enlouquecer, pensou ele. Mas logo cessou, pois no exato instante em que a criatura assentou sobre a porta de madeira que levava ao corredor, as vozes cessaram e… Ropinke Yoliva. Foi uma última vez. Tinha o cessar da última vez; como o expirar; sobre a porta; sobre a porta; sobre a porta.

Ele levantou-se e caminhou devagar até lá; as asas batendo lentamente. De vez em quando, alguma coisa no fundo, bem no fundo, nos diz para fazer ou dizer determinadas coisas – e isso não precisa ser explicado por motivos como isso é uma questão de instinto ou é um sentimento pungente que o direciona, mas eu gosto de dizer apenas que este movimento foi, na verdade, a fermentação dos ingredientes que compunham o destino. Não é algo que precisa se pensar muito, pois a explicação, se vier, é tardia e talvez não faça muito sentido. Quantas vezes eu já não sussurrei para mim mesmo que aquela fora uma ação espontânea e que nada além disso poderia explicar?

Ele girou a chave e destrancou a porta. Ela se escancarou para o corredor dos dormitórios de Mãos Vivas, sem que precisasse tocá-la, lentamente e até o limite, mostrando para ele a porta em frente. A criatura escapou porta afora e desapareceu na escuridão do corredor. Mas os pés, estavam ali também os pés de Ropinke que, como seres de vida própria, davam passos, passos em frente de passos, correndo pelo corredor, subindo em direção à porta do dormitório, seguindo o que ele imaginou ser, muito à frente, as asas batendo na escuridão e deixando o rastro brilhante atrás de si. Ele atravessou o longo corredor, subiu as escadas, as pernas seguindo em frente e sem parar sequer uma vez, caminhando e caminhando e caminhando, as vestes noturnas farfalhando sobre os tornozelos e os pés seguindo.

Quando deu por si – como as coisas aconteciam curiosas naquela noite! – viu-se no pátio aberto, quando as próprias pernas finalmente pararam de seguir em frente por si mesmas, estava sob as patas repousadas do grande Prédio Central, adormecido como na maior parte do tempo. Lá em cima as luzes acesas e as vozes vibrantes das pessoas, assim como nos prédios em redor, na cidade que ele podia ver além da Fortaleza, lá embaixo, brilhavam e ecoavam, o mundo vivo além dos subsolos. Via apenas o que era possível através dos grandes muros. Era mesmo uma bela noite; a Maior das Luas estava muito próxima dessa vez e ele disse a si mesmo que nada era tão incrível como aquela lua e o Prédio Central sob ela.

“Em que você está pensando?” escutou a Voz perguntar-lhe.

Ele olhou ao redor e, sentada sob uma castanheira antiga, viu uma mulher o observando com atenção e silenciosamente. Estava sentada sobre uma fonte e muito perto das grandes patas do Prédio Central, no centro aberto que ligava todos os prédios da Fortaleza; ali, sobre o grande pátio, as luas podiam ser vistas apenas por trás dos altos prédios em redor, que encurvavam-se em direção ao centro, uma espécie de casulo ovalado, formado por diversas janelas e construções irregulares. As histórias diziam que, no passado, antes mesmo da chegada do grande Prédio Central, ali havia apenas uma montanha, uma imponente estrutura rochosa de formato semelhante àquele que hoje tomara a Fortaleza. Foram os habitantes; os habitantes cavaram os caminhos até o mais fundo ponto daquela montanha e hoje, após todos os séculos passados, após a extinção de criaturas antigas e novas, após a queda de muitos reis e rainhas antigos, a Fortaleza seguia bombeando aquela comunidade. Isso tudo ele sabia e, de certa maneira, ela também sabia; a mulher sobre a fonte. Ela sabia sobre a Fortaleza, sobre o passado e talvez sobre o futuro; sabia sobre o presente dele e sabia sobre muitas coisas, que nasciam – talvez, mas só talvez – a partir dela e ramificassem para todo resto do mundo, da ponta de seus dedos finos e longos. Era ela a Voz, então? Ela era dona da Voz – ou das Vozes – que ele costumava escutar e que não conseguia mais ignorar?

“Sabe, eu não consigo compreender o por quê de você nunca responder. Nunca foi tão difícil fazer alguém realmente responder a mim,” disse ela, os olhos grandes na noite brilhavam multicoloridos; cores que, talvez, Ropinke Yoliva jamais tivesse visto. Ao seu redor, uma grossa camada de pó brilhante e púrpura; as vestes estavam salpicadas pelo pó, as pontas de seus dedos e os ombros à mostra para a luz das luas. Ela sorriu; os dentes eram brancos e brilhantes. “E, veja bem, eu já me encontrei com todo tipo de pessoa.”

Ropinke manteve uma distância segura entre ele a ela. Como havia conseguido passar pela segurança? Alguém, com certeza, a havia ajudado a entrar, ou, talvez, pudesse mesmo ser um tipo inesperado de espírito; como os fantasmas do passado que ainda rondavam o mundo, ou mesmo algum dos espíritos de elementos. Os elementais costumam ser assim, ter o próprio modo de atravessar os mundos e as fronteiras entre eles. Não demorou muito até que Ropinke se lembrasse da criaturinha que seguira até ali em cima.

“Como você conseguiu entrar?” perguntou ele. Era uma pergunta consideravelmente estúpida, pensou logo – e eu preciso concordar com ele. De que importava como? Ropinke sabia que o mais importante era o fato de ela estar ali. Dificilmente os desconhecidos conseguiam chegar até lá.

“Era nisso que estava pensando? Não me parece uma coisa muito interessante. Sabe, de vez em quando, se nos encontramos com alguma coisa ou alguém que nos parece estranho… bem, não acredito ser essa a primeira, ou melhor, coisa a se pensar.”

“Eu não estava pensando nisso.”

“Então me diga em que estava pensando. Vamos. Isso é importante para o começo. Precisamos começar com o pé certo, caso contrário as coisas ficarão bastante indevidas.”

“O que era aquela coisa que me trouxe aqui em cima contra minha vontade? Eu estava pensando sobre ela.”

“Ah, sim, sim, esse é um bom começo. Pelo menos me parece; não senti nenhuma dificuldade em continuar aqui,” ela esticou a mão até um dos montinhos de pó ao seu redor, pegou um montante com a mão e soltou-o, farelando entre os dedos. O pó foi levado pelo vento noturno – há quanto tempo Ropinke não sentia aquilo? “Você precisa começar com as perguntas certas, sabe? As coisas que são mais estranhas para você, talvez; ou as coisas que lhe parecem mais diferentes. A noção do eu só é formada de fato quando começamos a observar as divergências e, bem, você pode ser você mesmo, independente de onde está. Isso é uma coisa mais complexa, é claro. Respondendo à sua pergunta: aquilo era Eu. Eu mesma. De certa forma era eu, mas não era eu, como eu estou aqui agora. Eu precisava entrar aqui e, sabe, é muito difícil. Eu precisava dar alguma coisa em troca; é um princípio alquímico muito comum. Aí eu consegui entrar.”

“Temos boa segurança,” sugeriu ele. Como você conseguiu passar por nossa segurança imbatível?, era o que Ropinke queria perguntar.

“Ah, não, não, não falo daqui. Falo do lugar em si. Falo aqui de dentro,” ela disse, e apontou para o próprio peito. Ropinke se viu imitando o gesto. “Aquilo era uma borboleta e eu sou A Borboleta. Não é um título, ou algo assim; é apenas um nome que gosto. Aprendi que é o mais belo que já deram a mim e decidi mantê-lo. Ma me chamo Hopa. Você é Ropinke.”

“O que é ‘borboleta’?” em sua pergunta, Ropinke não parecia tão confuso quanto realmente estava.

“Ah, sim, claro, vocês não têm borboletas aqui, não é? A pessoa não gostava muito de borboletas. Aquilo era uma borboleta. Como um inseto, sabe?” disse Hopa, e pareceu um pouco triste consigo mesma. Não consigo, de fato, mas em seu íntimo. Como poderia haver um mundo como aquele, sem borboletas?

“Nunca vi um como aquele. Conheço muito os fumacentos.”

“Ah, muito bons, os fumacentos. É uma pena serem tão difíceis de manter o lugar limpo se você cria fumacentos.”

“Então você é… um inseto?” perguntou Ropinke.

Recebeu a resposta para a própria gafe na expressão exagerada de Hopa.

“Ora, mas como ousa! Me chamando de inseto?!”

“Perdoe-me. Eu apenas segui o raciocínio do que você acabou de me dizer…”

“Não sou um inseto. Não somos insetos. Eu sou como você, de certa forma. Apenas tenho algumas vantagens. Veja bem, Ropinke, eu estou aqui porque preciso de sua ajuda, mas estou aqui apenas porque você e esse seu mundo existem. Foi um tipo de Pacto, um acordo selado entre os elementos formadores dos universos. Bem, de certa maneira, estamos todos ligados numa grande teia de acontecimentos; o problema é perceber essa teia e como ela está traçada. Eu existo pelo mesmo motivo de você existir – e só existo porque muitas coisas que você conhece não deveriam existir. Os fios que nos unem, bem, estão diretamente ligados. Foi um problema sério quando isso aconteceu e a Existência precisou balancear as coisas. Aqui estou eu.”

“Isso não responde a nada.”

“Vai responder. Tudo a seu tempo. Para algo que não deveria existir, você já tem informações suficientes sobre muita coisa,” disse Hopa. Estavam todos em processo de construção, na verdade; todos eles, em eterna construção e mutabilidade; é estranho pensar como as pessoas insistem na imutabilidade das coisas quando veem o mundo se transformar bem diante dos próprios olhos; formando e reformando.

“E o que você está fazendo aqui, então?”

“Eu vim atrás de você. Assim como você terá de encontrar outras pessoas. Veja bem, todos eles já estão a sua procura. Basta apenas que os encontre. Não posso dizer mais sobre isso.”

“E o que eu preciso fazer?”

“Antes de tudo, você precisa enxergar onde está e como sair daqui. Como eu disse instantes atrás, nós precisamos encontrar o caminho correto por nós mesmos. Caso contrário, como poderíamos fazer diferente? Quando você se encontrar com os outros, nós nos encontraremos novamente e vocês virão até mim. Eu já sei que virão, mas precisamos fazer as coisas acontecer. Os passos, pequenos passos; quando menos perceber, terá chegado onde deveria chegar.”

“Eu não compreendo. Como devo começar?”

Hopa olhou para cima. Sobre suas cabeças, as pessoas continuavam existindo em todos os prédios, completamente alheios aquela fagulha quase imperceptível de dedilhar acontecendo ali embaixo; Hopa estava tocando em algumas das linhas retesadas das teias, estava procurando o modo correto de fazê-la vibrar. Aquela teia precisava vibrar o quanto antes e emitir uma nota própria.

Não sei dizer que tipo de festa estava acontecendo naquela noite; o Prédio Central, por sua vez, estava muito, muito silencioso, talvez na tentativa de compensar os sons estridentes e os bandolins, os cravos e as gaitas. Alguém ainda estava dedilhando uma harpa; a música, em meio a toda aquela confusão, se destacava quase inacreditavelmente, doce e suave. Hopa, A Borboleta, fechou os olhos e inspirou profundamente.

Ela se voltou para Ropinke.

“Você já subiu lá em cima?” perguntou, indicando o Prédio Central. “No Besouro?”

“Sim, eu já entrei no Prédio Central. Eu já fui até uma das salas mais importantes quando precisei apresentar os problemas sobre um manuscrito muito antigo acerca de venenos…” respondeu Ropinke, mas, a todo momento, Hopa balançou a cabeça negativamente.

“Não é disso que eu estou falando.”

“Você falou do Prédio Central. Eu já entrei nele, claro que entrei.”

“Eu perguntei se você já subiu no Besouro.”

“Bem, aparentemente, não, nunca subi no Besouro, o que quer que isso signifique. Você não está sendo clara o suficiente, ou não pode estar falando sobre o que eu estou pensando.”

“Significa que você precisa olhar as coisas lá de cima. Suba no Besouro, Ropinke. Vá até o topo do que você ama chamar de Prédio Central, vá até o topo do prédio, não importa como, e olhe para o mundo. Você compreenderá o que quero dizer,” disse Hopa. Ropinke, nesse momento, percebeu que havia algo errado com ela. A forma física de Hopa estava se desintegrando em meio ao pátio aberto. Ela cumprimentou-o uma vez com a cabeça.

Primeiro, as belíssimas vestes de Hopa dissolveram como o pó púrpura. Ela estava sendo levada pelo vendo, desaparecendo em frente aos olhos de Ropinke, enquanto suas palavras rodeavam em sua mente. Ele precisava, então, fazer algo?

“Você precisa encontrar os outros, Ropinke. Encontre os outros para nos encontrarmos novamente,” disse ela, e acenou sua despedida não dita, “eu preciso de você e, bem, se eu o escolhi, as coisas podem ser feitas. Você precisa sair daqui e encontrar os outros; não importa como faça, compreende? Encontre os outros. E me encontre depois.”

Hopa estendeu-lhe a mão, deixou-a suspensa no ar, enquanto ele se aproximava devagar. Aos poucos, cada vez mais, ela desaparecia, ela se desfazia e desfazia. Ele caminhou mais rápido; eram as pernas novamente, as pernas agindo, o corpo respondendo, enquanto a mente nebulosa imergia naquela sombra distante mais uma vez. Ele segurou-lhe a mão.

“Temos um acordo?”

“Sim, temos um acordo.”

“Muito obrigada,” respondeu, e, enfim, dissolveu completamente, deixando apenas o espaço vacante onde estava segundos antes.

Eu o encontrei, disse a voz de Hopa, como um incenso na mente de Ropinke Yoliva.

Muito bom, disse uma segunda voz, que ele ainda não havia escutado.

Compreendi, disse uma terceira voz, que ele também não conhecia.

Nós estamos esperando por você, Ropinke, disse uma quarta voz, igualmente desconhecida.

A surpresa que fraquejou-lhe os pés veio apenas em seguida.

Eu sabia que não poderia fazer uma escolha errada, disse, então, uma quinta voz. Uma voz que ele conhecia muito bem e muito mais do que jamais conheceria todas as outras.

Era a própria voz.

 


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Notas finais do capítulo

Bom, bom, bom!
Tudo direitinho? Que tal deixar um comentário para mim, hein?
Obrigado por ler! Até a próxima! ;D



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