A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 49
Não Pire, Ok?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745941/chapter/49

Maxon me olhou como se eu fosse louca, mas eu não me importava. Se ele não queria acreditar, nada – e nem ninguém – iria me fazer mudar de ideia. Pensei nas possibilidades da imagem aparecer para mim e para Aaron, pensei no motivo para elas, pensei no jogo e em cada fase dele e era cada vez mais óbvio que era um aviso, tanto para mim como para Aaron que estaríamos lá, nossa história online. Nossa morte online. Me vesti o mais rápido que pude e sai do quarto ignorando Maxon, indo até a sala encontrando Louis e Jake frente a dois notebooks, Jake jogava enquanto Louis digitava algo.

— Jordan. – os dois ergueram os olhares. – Qual fase você está? – perguntei me aproximando tão cheia de coragem que me assustou.

— Quinta. – Jordan respondeu voltando a encarar a tela parcialmente escura, Louis ainda me observava e joguei para longe qualquer pensamento dele ter, provavelmente, escutado a mim ou Maxon e me foquei no jogo.

Apenas no jogo.

— Sobre o que é?

— Estou indo a uma academia, procuramos uma mochila de ouro.

— Você e quem? – perguntei intrigada, aquilo estava fora do que eu havia pensado.

— Ainda não apareceu o rosto do outro jogador ou qualquer semelhança com alguém que conhecemos. – ele respondeu frustrado.

— Estamos esperando justamente isso. – Louis falou. – Mas estou começando a achar que só aparece quando o acidente acontece. Quer dizer, só deve mostrar a morte quando acontecer na vida real.

— Onde Aaron está? – era a voz do Maxon atrás de mim me deixando rígida, tensa, mas não iria me virar, não iria arriscar dissipar meus pensamentos agora.

— Saiu. – Louis respondeu desviando seu olhar para o chão, voltando a mim e finalmente seu notebook.

— Você é tão idiota. – falei a ele com um sorriso maldoso que eu não sabia que ainda o tinha.

Os três homens se viraram para mim como se incertos com quem eu estava falando.

— Eu sei quando você está mentindo, Louis. Onde Aaron foi?

Louis bufou irritado e Jordan voltou ao notebook, eu não poderia virar para ver a reação do Maxon.

— Ele disse que iria na academia do pai. – Louis respondeu de má vontade e eu já havia entendido, Aaron foi checar a fase do jogo, foi saber se seria lá na academia de luta que a família tinha, mas e se for provavelmente a sua vez? E se for ele o próximo?

Meu coração acelerou e eu não sabia como fingir ou como reagir aquilo. Dei um passo para trás esbarrando em Maxon, senti suas mãos em meus ombros, mas não poderia – não ainda – encará-lo, minha mente rodava em círculos tentando achar uma solução, tentando achar uma forma de ajudar Aaron e pensei em correr até a academia – mas eu não sabia onde – pensei em chamar a polícia e dá o endereço para checarem se estava tudo bem, pensei em falar com Sebastian. Pensava e pensava e pensava até Maxon apertar meus ombros e me virar para ele, encontrando-o com o rosto rígido, provavelmente irritado, os olhos que iriam além da tensão, brilhando para mim revelando memórias de minutos atrás e mesmo que eu desejasse beijá-lo, abraçá-lo, eu não poderia. “Fique aqui. Eu vou atrás dele” foi o que disse a mim fazendo o mundo parar e todo o resto sair de foco. Balancei a cabeça freneticamente negando e negando e negando porque aquilo não estava certo, eu não poderia deixá-lo desprotegido – de alguma forma, sem mim. “Estou falando sério Karlla” mas eu continuava balançando a cabeça, ignorando as mãos, ignorando seu olhar, ignorando o tom de voz. “Eu vou.” Foi o que falei fazendo-o enrijecer, respirar fundo e me olhar com raiva. Me pergunto se Louis falou algo que eu não ouvi e que o deixou irritado, me perguntou se Jake fez alguma piada sem graça que eu não escutei porque estava distraída demais em Maxon arriscando sua vida. “Você não vai sair daqui!” ele rosnou me fazendo despertar, trazendo a sala de volta ao foco e a presença de Louis ali.

— Eu vou!

— Eu já falei. – Maxon disse voltando ao corredor, indo até seu quarto me fazendo segui-lo porque eu não iria desistir, não quando se tratava da vida de uma pessoa, de um Maddox.

— Você não vai me impedir, Maxon. – falei parando na ombreira da porta, observando-o pegar chaves e procurar algo em sua cômoda ao lado da cama. – Eu vou e... – parei quando ele trouxe a mão de volta me deixando travada, um gelo profundo subiu em minha espinha e os olhos tão assustados ao ver aquela arma em sua mão.

— Você não entende que vai ficar mais segura aqui? – ele disse levantando a blusa nas costas, colocando a arma presa na calça. – Eu vou sozinho porque eu sei agir nessas situações. Você só vai piorar as coisas, só vai me deixar distraído. – falou passando por mim, lançando um olhar que eu nunca poderei entender, um olhar que parecia mais arrependimento e despedida. Maxon apressou os passos no corredor e bateu a porta da frente ao passar.

Eu não poderia ficar na sala com Louis ali, não poderia deixar de pensar em Aaron e agora em Maxon. Não iria aceitar se algo acontecesse aos dois, não era capaz de superar se algo acontecesse. Fechei a porta do quarto e cai na cama, me enrolei com cobertor e abracei o travesseiro dele, rezando e pedindo ao céu um milagre, uma ajuda para que voltassem sã e salvos. Pedi um pouco de coragem, um pouco de determinação e um pouco de destemor.

Abri os olhos em um quarto completamente escuro com uma só janela aberta deixando passar a brisa fria da noite. Me virei e estava sozinha na cama, o quarto e o apartamento mais silenciosos o possível e eu não sabia se Maxon e Aaron já teriam voltado. Levantei e corri para a sala esperando vê-lo no sofá conversando sobre algo que não seja o jogo, brincando ou discutindo como os irmãos fazem, esperava vê-los tranquilos em uma noite normal, de uma vida normal.

Mas nada estava normal.

Não havia ninguém no sofá e na sala, antes que pudesse me virar para a cozinha, uma voz conhecida falou atrás de mim, uma voz feminina e calma – mesmo levando o sobrenome – mas eu sabia quem era. Mari estava frente a porta do quarto de Aaron, me analisando dos pés a cabeça com as sobrancelhas unidas.

— Mari? – perguntei nervosa, engolindo o nó que se formava em minha garganta, desejando, suplicando, implorando que nada tenha acontecido aos irmãos. A ninguém.

— Achei que não fosse acordar agora. – ela disse fechando a porta atrás de si. – Os meninos tiveram que sair.

— Sair? Para onde? – perguntei me aproximando cada vez mais. Ela me olhou nos olhos, desviou o olhar e suspirou, estava escondendo algo. Eu sabia. – Mari, para onde foram? Onde está Maxon?

— Não pire, ok? Por favor. – ela pediu unindo as mãos em sua frente, como se rezando, implorando. – Está tudo bem. Todos estamos bem. Mas...

— MAS?

— Tiveram que ir ao porão. – ela disse e parou esperando minha reação, esperando que eu entendesse mas eu não havia entendido.

Mari suspirou e se virou para abrir a porta do quarto, ela pôs a cabeça para dentro e eu queria gritar o que estava acontecendo. Jordan apareceu na porta e foi o que me assustou, me fez dá um passo para trás.

— Mas o que é isso? – perguntei elevando a voz em um agudo, nervosa demais.

Os dois se entreolharam e Mari deu de ombros, Jordan deu um passo para o corredor e respirou fundo antes de jogar a bomba, antes de falar.

— Karlla, Maxon pediu que você ficasse aqui apesar de qualquer coisa. Apesar do que acontecer e ele pediu, me obrigou para ficar aqui e te manter segura. Então, não me dê trabalho ok? – balancei a cabeça concordando, sabia bem que aquilo não era bom, que para Maxon deixar Jordan, o cara duas vezes mais alto do que eu e quatro vezes mais forte, como segurança é porque havia algo de errado. – Ele precisou sair, resolver uma coisa e Aaron foi junto com ele.

— E Louis? – me ouvi perguntar e não fazia ideia de como aquelas palavras passaram tão rapidamente em meus lábios.

— Louis está por perto.

— E onde eles foram? – perguntei tão inocente porque realmente eu não fazia ideia do que significava ir a um porão, tão ingênua e Jordan percebeu, baixou a guarda e sorriu.

— Porão da faculdade, para uma luta idiota sobre o tal jogo demoníaco.

Dei um passo para trás tendo a certeza de que aquilo não estava realmente certo, Maxon estava se arriscando por minha vida? Tinha que ser o contrário, afinal eu havia aparecido no jogo, eu morta, eu eu eu eu. Me virei em direção a sala, estava pronta para correr até a faculdade, estava pronta para proteger Maxon e Jordan percebeu, ele olhou para a porta da sala e olhou para mim, puxou meu braços para ele me segurando forte enquanto gritava algo para Mari, algo como “não deixe que ela saia” e o meu nervosismo se elevou a outro patamar, virou desespero e angustia.

Eu não poderia ficar esperando a notícia de que Maxon morreu, sofreu um acidente estranho ou foi ferido. Jordan me ergueu do chão tentando de todas as formas me levar para o quarto de onde eu havia saído e eu estava chutando o ar tentando me libertar, forçando meus braços e meu corpo. Em um segundo de deslize, ele afrouxou seu aperto e meu corpo estava tão nervoso que, antes mesmo do próximo segundo, já estava solto e eu corri o mais rápido que pude até a porta, fechando-a atrás de mim ignorando as vozes exaltadas chamando meu nome.

Eu não sabia se chegaria a tempo, não sabia se algo iria acontecer esta noite, não sabia como estava correndo tão rápido. Ignorei sinais abertos passando por carros que buzinavam ao ver a louca atravessando a rua, ignorei o vento cortante em meu rosto, ignorei a roupa fina demais para o frio da noite, ignorei as lágrimas que ameaçavam cair e quando finalmente cheguei ao campus, pude respirar pela primeira vez de alívio, de felicidade por ter chegado.

Ainda havia pessoas correndo pelas sombras, sussurrando algo sobre a luta e eu tinha medo que não fosse apenas isso. Voltei a correr em direção ao prédio das salas lembrando dá primeira vez em que eu e minhas amigas achamos o porão, na primeira vez que havia visto Aaron e na quarta – quinta – vez que havia visto Maxon.

— Karlla? O que está fazendo aqui? – Camila gritou da porta do porão, ela estava como aqueles seguranças de festa que precisam olhar se o convite é mesmo original e enxotar quem mostrava os falsificados. – Com quem você veio? – ela perguntou segurando meus ombros.

— Onde ele está? – foi a única coisa que consegui perguntar, era tudo o que eu conseguia pensar.

— Não acho que você deva...

Mas antes que ela pudesse terminar eu já havia me livrado de suas mãos e entrava no porão porque já sabia que ela iria tentar me convencer a não entrar, sabia que ela não iria falar qualquer coisa sobre o que estava acontecendo, sabia que Camila era boa em guardar segredos.

O porão estava duas vezes mais lotado e dessa vez não houve desespero da minha parte, não houve falta de ar ou claustrofobia porque meu corpo estava ciente do que fomos fazer ali, minha mente estava em seu escudo de guerra, pela primeira vez lutando ao meu lado.

Encontrei o homem mais alto que todos e não hesitei ao correr até ele, empurrando quem estivesse em meu caminho e perguntando – gritando – onde Maxon estava. O homem, em cima de uma cadeira, apontou para uma porta marrom no lado direito do porão e corri sem esperar, talvez objeções em passar pelo círculo, talvez objeções por passar por tantas pessoas já espremidas por não ter nenhum lugar vago. Mas eu não me importava e sorria a cada passo que me aproximava da porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Promessa" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.