O milagre de uma lágrima escrita por NanyBecks


Capítulo 9
Sentidos.


Notas iniciais do capítulo

Por quê achamos que tudo tem que fazer sentido?



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No capítulo anterior: Carlos disse à Érika que ela não tinha uma família e isso a chateou.

Érika: É. Talvez nem você seja a minha. -Levantou-se-
Carlos: Érika vem cá. -Chamou-
Érika: Tudo bem Carlos. Eu já entendi. A casa é minha mas a família é sua. -Saiu-
Carlos: Érika? -Chamou-a ao vê-la fechar a porta-

     Carlos chateou-se. Não deveria ter falado com Érika daquela forma. Sabe como lhe dói saber que não tem mais uma família com quem possa contar. A morte de sua mãe ainda é para ela muito dolorida, mas ele não conseguiu se conter com sua negativa em não acolher Lavinha. A casa era grande e qual seria o problema em aceitá-la por alguns meses em sua casa? Tem quarto de sobra e dinheiro não seria um problema. Extremamente triste por ter ofendido a mulher que ama deitou-se na cama. Sua atitude impulsiva mais uma vez trouxe problemas em seu relacionamento. 
     Érika desceu as escadas chorando. Enquanto caminhava até o jardim pensou em todas as palavras duras de Carlos.  Carlos nunca tinha pegado tão pesado com ela em todos esses anos. Ele deveria estar realmente muito irritado com o seu distanciamento para ter lhe dito palavras tão duras. Será que ele não se deu conta ainda do quanto esse assunto à faz sofrer? Nunca conheci seu pai, nem qualquer parente próximo, nunca teve irmãos para poder partilhar momentos juntos ou conversar. Nunca foi fácil para Érika ser filha única, ela só tinha sua mãe e ela à Érika. Carlos ao dizer isso desconsiderou que fazia parte de sua família. É como se sua opinião sobre trazer sua sobrinha pra cá não o importasse. Érika sempre desejou ter uma família e sinte que deixou tudo isso se perder. No que ela se tornou depois de ter perdido sua minha mãe e no que transformou sua vida depois de ter terminado com Ventura. Ela o amava. Ter desistido desse amor foi o seu maior erro. Agora sente sua vida ir embora como que em um passe de mágica. Não tem mais qualquer brilho e qualquer sentido. Carlos não mentiu ao dizer que ela não tinha família, realmente sente-se como se não tivesse. Ela os abandonou à 8 anos atrás quando tudo veio à tona. Quando eu teve que carregar sozinha o fardo de sua escolha desesperada. Érika não é uma pessoa apegada à Deus mas se ele existir de fato só pede que à perdoe por tudo que tem causado aos dois e as pessoas próximas. Se pudesse desistir de tudo com certeza desistia mas é arrogante demais para se deixar abalar dessa forma. Suicídio é um ato de pessoas covardes e ela era suficiente forte para pensar em tal coisa. No momento, ela tem que ter forças para continuar vivendo mesmo que ninguém à compreenda. Se tudo fosse como antes não teria tomado as decisões que tomou. Não teria se separado do Ventura por mais insegura que estivesse em relação à sua maternidade que de nada adiantou. Ela acabou engravidando e tendo que se responsabilizar por uma vida que jamais quisera que existisse. Érika não pode dizer que não ama Clara, ela a ama muito mas não posso se aproximar dela e muito menos de Carlos. Não sabe se conseguiria continuar guardando esse segredo. Sem ter com quem dividí-lo a vida fica um fardo bem pesado de carregar. Como pode ter jogado todos os seus sonhos para o alto por causa daquele fatídico dia. Érika sentou-se no banco do jardim e ficou à pensar. Ela que só tentou dar uma família para Clara estava acabando por destruir tudo isso.

Angélica após ter saído da sua aula de alemão foi à casa de Victor conforme o combinado. Ela estava bem contente em poder vê-lo novamente. Não conseguiu deixar de pensar um minuto sequer nele durante todo o dia e nunca fui assim. O que será que está acontecendo comigo? Pensou apreensiva. Ela já ficou com outros meninos e chegou inclusive a se sentir atraída por alguns deles mas com Victor era diferente. Não sabe explicar o que é, mas só sabe que não consegue deixar de pensar nele. Inclusive foi até merecedor de uma poesia. Victor era tão doce, tão gentil e tão inteligente. Nunca havia encontrado qualquer garoto como ele. E o André? O que fará com ele? Reconhece que é um chato e pegajoso mas gosta dela e mesmo que não tenha dado qualquer segurança de relacionamento sério ele deveria saber o que está acontecendo. Já mandou varias mensagens e ela sequer respondi qualquer uma. Angélica não sabe se acontecerá alguma coisa entre ela e Victor mas sabe que André precisa de uma explicação. Talvez seja precipitado falar ainda sobre isso, Victor e ela somos só amigos. Como é esquisita essa sensação, nunca me senti assim.  A forma como ele me olha e me toca é mágica e me deixa encantada. É como se eu tivesse revivendo todo o afeto que tinha com meu pai. Ele era como Victor, atencioso e calmo.  O Victor é um amigo que eu quero ter para sempre. Pensou enquanto abriu o portão da casa do colega.
     Victor estava ansioso pela chegada da amiga, também sentiu-se mexido com ela desde que a viu pela primeira vez segurando aquele capuchino no La Porte. Ao abrir a porta para a amiga ele apresentou-a à sua mãe e a Lucas como uma colega de condomínio e a convidou para jogar vídeo-game em seu quarto. Ela havia dito que era fã de Resident Evil e já jogara todos os jogos com 100% de aproveitamento. Victor aproveitou e  deixou tudo preparado para a chegada da amiga. Sem dúvida ela iria gostar de jogar o jogo que ele e Cléris estão à algum tempo tentando passar de nível.

Casa da família Grégis

     Angélica e Victor estão sentados no chão do quarto jogando seu play 4. Eles não tem o mesmo vídeo-game. Angélica tem preferência pela microsoft e Victor pela Sony. Enquanto jogavam eles ficaram à discutir longamente sobre os prós e os contras de cada uma das fabricantes. Angélica sabia mais de tecnologia do que ele. Admirou Victor! Envolvidos em toda a conversa eles acabaram chegando ao primeiro chefe do Resident Evil. Cléris e Victor já haviam tentado passar por ele antes sem sucesso. Cléris alegou que Victor era muito ruim nos comandos mesmo assistindo aos vídeos de como passar no youtube. Angélica não teve a mesma impressão, ela apenas acha que Victor não tem um bom tempo de reação para executar os comandos com exatidão. Na verdade, ela nem precisa que ele faça qualquer coisa, com sua autossuficiência consegue realizar todos os comandos sem sua ajuda. Até em um jogo cooperativo ela tem dificuldade em compartilhar situações corriqueiras. Se pudesse, já teria passado daquele boss sozinha. Enquanto explica para Victor os procedimentos que deve adotar ele grita desesperado. Já é a 3 vez que não consegue executar o movimento.

Victor: Me ajuda! -Exclamou olhando para à tela-
Angélica: Você pega a shotgun. -Trocou a arma de seu personagem- E mira bem na cabeça. -Mirou- Assim. -Atirou-
Victor: Caraca! -Admirou-se ao ver Angélica dar o tiro certeiro na criatura que enfrentavam no jogo- Eu nunca ia conseguir fazer isso.
Angélica: Já zerei esse jogo 3 vezes. -Envaideceu-se-

     Angélica colocou o joystick à seu lado enquanto viram a continuação da história no vídeo-game que os levarão para o outro level.

Victor: Eu nunca pensei que poderia ter algo tão em comum com uma garota.

     Victor estava realmente admirado com toda a habilidade de Angélica no vídeo-game. Só vira meninos jogar tão bem quanto ela. 

Angélica: E nem eu com um garoto. -Sorriu-

     Angélica também estava admirada por poder desfrutar algo que ela sempre gostou com um garoto de sua idade. Victor também sorriu para a amiga. Seus olhares se cruzaram por alguns segundos até que foram interrompidos por Cléris que havia combinado de passar na casa de Victor para vê-lo mais à noite.

Cléris: Victor? -Entrou no quarto- Oi Angélica! -Cumprimentou-a- Atrapalhei alguma coisa? -Perguntou curioso-

     Deparar com Angélica na casa de Victor foi deveras curioso. Será que o amigo estava tentando algum tipo de aproximação com a companheira e ele acabou chegando em uma hora inadequada?

Victor: Não. Nós estávamos jogando. -Levantou-se- Acredita que a Angélica matou aquele boss que ficamos horas?

     Cléris olhou Angélica que nem sequer fitou-o, aproximou-se e em um sussurro sedutor disse em seus ouvidos.

Cléris: Quer dizer que além de gata ainda tem habilidades no vídeo-game?

  Angélica que mostrou-se incomodada com sua presença levantou-se e aproximou de Cléris com todo o seu encanto. 

Angélica: E em muitas outras coisas. -Olhou fixamente mordiscando seus lábios- Meu tapa é bem potente. Fiz 3 anos de defesa pessoal. Se quiser, te dou uma amostra grátis. -Intimidou-
Cléris: Calma gatinha! -Recuou com um passo para trás- Eu só estava brincando. -Disse amedrontado-

     Victor deu um sorriso discreto. Foi a primeira vez que Cléris sentiu-se intimidado por uma garota. Angélica que até o momento encarava Cléris com um olhar sério, ao perceber seu medo afastou-se e olhou para Victor no outro canto do quarto. 

Angélica: Victor eu já vou.
Victor: Eu te acompanho até a porta. -Lançou um olhar irritadiço para Cléris-

     Obviamente Angélica estava indo embora por conta da cantada do amigo. Cléris havia passado dos limites em assediar Angélica em sua casa. Ela tinha todo o direito em ter se irritado daquela forma. Cléris ao vê-los sair pegou o joystick e começou a preparar para o próximo nível  assim que Victor retornasse. Victor abriu a porta da sala para Angélica. Olga e Lucas estão lanchando na cozinha e por isso a casa está tão silenciosa. 

 Me desculpa novamente pelo meu amigo. -Envergonhado- É uma mania dele dar em cima de todas as meninas.
Angélica: Tudo bem.
Victor: Está combinado nossa saída amanhã?
Angélica: Claro! Amanhã eu saio meio dia da escola e como o museu é um pouco longe a gente pode ir direto. Eu te espero na Lagoa onde fomos aquele dia.
Victor: Legal!
Angélica: E seu irmão?
Victor: Ele vai para a nova escola amanhã. Está de boa.
Angélica: Então tá.
Victor: Amanhã ao meio dia eu te espero.
Angélica: Ok.
Victor: Tchau! -Despediu-se-
Angélica: Tchau! -Sorriu-

     Angélica saiu e abriu o portão dirigindo-se à sua casa, sua mãe deve estar esperando-a já que disse que não ia demorar. Victor fechou a porta ao vê-la sair e ao chegar em seu quarto pegou o joystick para jogar com Cléris. Ele não deixou de dar no amigo uma repreensão por ter dado em cima de Angélica. Sem dúvida Victor ficou incomodado com a investida de Cléris na amiga que ele estava gostando. Cléris, por sua vez, não deixou de questionar o quanto Angélica era brava e encrenqueira e que inclusive, Victor tinha que tomar cuidado já que Cibele havia dito à ele que ela é famosa por arrumar brigas na escola. Victor obviamente não acreditou. Como aquela menina tão delicada poderia ser famosa por brigar alguém?

       Amanhece. Carlos levantou-se para trabalhar. Érika não dormiu em seu quarto, possivelmente deve ter dormido no quarto de hospedes como sempre faz quando tem algum desentendimento. Ele abriu a porta e não a encontrou, sem dúvida, ela saiu mais cedo do que de costume para evitar sua companhia na mesa do café. Clara ainda está dormindo, é cedo para que se levante para a escola. Culpado por ter mais uma vez se excedido com Érika, ele tomou seu café silenciosamente e seguiu para a Engequim. Mesmo triste, seu trabalho tinha que continuar. 
     Cristina também se levantou-se cedo. Assim que Mariane saiu para a escola ela deixou Anabela com Rogério dizendo que precisaria ir ao mercado para comprar algumas coisas mas mentiu. A verdade é que desde ontem ela estava pensando em procurar o diretor da escola de Rogério para explicar toda a situação e pedir que ele o readmita. Tem muito medo dos rumos que poderá tomar a sua vida caso Rogério continue desempregado e impedindo-a de trabalhar. Se conseguisse retornar a sua função de secretária em qualquer lugar que fosse já seria para ela um grande alivio. Claro que teria que baixar seu padrão de vida pois, o salario não daria para manter todos os gastos em um condomínio de classe média alta, mas daria ao menos para dar uma ajuda até que Rogério consiga se estabilizar novamente. Cristina não se preocupa com a pobreza, ela nunca sequer foi rica até se casar. Sempre trabalhou sua vida inteira. Tinha o sonho de um dia poder ser professora de geografia mas foi impedida por Rogério até de começar uma faculdade. Se tivesse insistido um pouco mais naquela época talvez hoje não estaria preocupada em como manter as  filhas. Elas irão sofrer muito em ter que sair do condomínio onde foram criadas e da escola que estudam desde pequenas. Anabela e Mariane são uma das poucas do condomínio que não levam uma vida luxuosa como a de suas amigas. Elas nunca puderam esbanjar qualquer coisa que fosse. Mesmo com Rogério ganhando um bom salário, ainda assim, eles poderiam dizer que esbanjavam dinheiro. Ao menos, suas filhas nunca se importaram com isso. Seu maior medo agora é que não consiga dar conta de tudo. Rogério não trabalhou nos últimos anos de carteira assinada e o que tem para se manterem é apenas to FGTS do tempo que em que trabalhou como celetista à algum tempo atrás e um pouco do dinheiro que dava á ela para cuida da casa e das meninas.  Ir ao colégio e pedir novamente uma chance para o diretor era a sua cartada final para que saia desse medo que e é ficar sem condições de manter suas duas filhas caso Rogério não arrume outro emprego.

Colégio Senador Fernandes

    Cristina chegou ao colégio de Rogério. Alguns alunos estão entrando para as aulas e ela ficou à esperar na praça em frente ao portão principal. O Colégio Senador Fernandes é um colégio tradicional biligue e de tempo integral onde só estudam os mais afortunados da cidade. Ele e o CVM são os mais conhecidos nesse quesito. Rogério lecionou matemática para o ensino médio e fundamental por 20 anos, mas com seu problema com alcoolismo, acabou perdendo seu regime de contrato ficando apenas como diarista. Por ser um funcionário de longa data e eficiente naquilo em que se propunha à fazer quando não estava sob o uso de álcool, o colégio deu à ele todo o apoio financeiro necessário para que se tratasse. Como não obteve nenhum resultado com o tratamento, a direção da escola para não demiti-lo resolveu deixá-lo como diarista, assim, não comprometeria tanto o quadro de professores e nem seu salário no final do mês. 
     Após todos os alunos terem entrado, Cristina dirigiu-se á portaria e pediu para falar com Bruno, diretor da escola. Joaquim, recepcionista direcionou-a educadamente até à sala da direção onde ela ficou e esperar. Joaquim bateu na porta e entrou. Bruno estava em sua sala assinando alguns protocolos que precisam ser despachados ainda pela manhã

Joaquim: Bruno? Tem uma senhora que quer falar com você.
Bruno: Sabe quem é?
Joaquim: Não. Só disse que era urgente.
Bruno: Mande entrar.

     Joaquim abriu a porta e solicitou que Cristina entrasse.

Cristina: Oi! -Cumprimentou-a-
Bruno: A senhora quem é...?

     Bruno nunca havia visto Cristina antes. Nem nos eventos festivos da escola ela havia comparecido.

Cristina: Eu sou Cristina. Esposa do Rogério.
Bruno: Ahh sim! -Descontente-

     Bruno não se sentiu à vontade com a presença de Cristina em sua sala. De jeito nenhum ele quer readmitir Rogério nessas condições. Já havia tido problemas diversos com os alunos e os pais de alunos que reclamavam constantemente das condições em que ele ia trabalhar. Rogério estava sendo um mau exemplo para seus filhos diziam os pais.

Cristina: Eu soube que ele foi demitido por ter faltado ao trabalho.
Bruno: Não apenas por isso, mas também por muitas vezes ter vindo trabalhar embriagado
Cristina: Eu sei. Você sabe que tentamos tratar mas até hoje não conseguimos um em que ele de adaptasse.
Bruno: E no que posso ajudar a senhora?
Cristina: Eu vim pedir para que de uma segunda chance ao meu marido. Ele não é uma pessoa ruim e o trabalho é a única coisa que ainda o motiva. Quando soube da demissão ficou tão mal que foi hospitalizado por estar embriagado.
Bruno: Cristina, nós fizemos de tudo para ajudar o Rogério, conversamos, sugerimos diversos tratamentos, mas de uns tempos para cá ele só piorou. Foi pêgo dormindo no banheiro várias vezes. Muitas delas não conseguia nem dar aula. Os pais dos alunos começaram a reclamar sobre sua condição e os alunos o viam como um mal exemplo. Nós tentamos fazer com que seu marido procurasse uma ajuda mas ele mesmo disse que não precisava.
Cristina: Eu entendo tudo isso e não tiro a razão de vocês. Minha filha fará 15 anos nesse sábado e por conta do vício do pai não o convidou para a festa e isso também o ajudou se enfiar mais na bebida.
Bruno: Eu sei senhora, mas entenda que enquanto instituição nós fizemos de tudo para que esta situação extrema não ocorresse. Nós tentamos evitar o quanto podíamos, mas infelizmente tivemos que demiti-lo.
Cristina: Nós temos uma filha pequena juntos. Tenho medo de como ficará nossa situação financeira. Eu não trabalho.
Bruno: Compreendo sua preocupação, mas peço também que compreenda a minha. Não posso admitir o Rogério nestas condições. Ele precisa primeiro se cuidar para então voltar à dar aulas.
Cristina: Ele não precisa voltar para a sala de aula. Pode dar à ele um cargo menor que seja possível no momento. -Insistiu-

     Cristina sabe que a falta de atividade para seu marido pode piorar o seu quadro. Pelo menos fazendo alguma coisa ele podia manter a cabeça ocupada e nao teria tempo para beber com tanta frequência. Agora sem emprego e deprimido, Cristina teme que seu quadro se  agrave.

Bruno: Cristina entenda, o Rogério não tem condições funcionais neste momento. Ele está tão doente que não consegue mais dar conta de suas responsabilidades mesmo que sua função não seja de grande responsabilidade.
Cristina: Ele gosta de jardinagem...

     Bruno interrompeu sua fala. Não quer dar qualquer possibilidade à Cristina, ele entende toda a situação e se compadece com ela, mas como diretor tinha que tomar uma decisão em prol de seus alunos e demiti-lo foi a melhor escolha que poderia ter tomado no momento.

Bruno: Cristina, não há possibilidade do Rogério nestas condições trabalhar conosco com qualquer função que seja. Quando ele se tratar e estiver em condições, teremos o maior prazer em readmiti-lo. No momento, não podemos fazer isto. Eu lamento! -Fitou-a com tristeza-

Bruno realmente nao podia dar outra chance à Rogério após ter tentado de todas as formas ajudá-lo. Cristina tinha que se conformar e tentar ajudá-lo agora por si própria.

Cristina: Tudo bem. Eu que agradeço por ter me ouvido. -Disse tímida-
Bruno: Desejo mesmo que ele consiga se recuperar. Basta ele querer.
Cristina: Obrigada! -Retirou-se-

     Bruno ficou chateado. Conhece a situação complicada em que Cristina está tendo que assumir sozinha duas filhas e um marido bêbado, mas não podia dar à ele mais uma chance. Sabe que Rogério não iria dar conta de qualquer responsabilidade nesse momento. Mesmo que baixasse seu cargo, o salário ainda não seria suficiente para manter o mesmo padrão de vida que estavam acostumados quando ele recebia como professor. 
     Cristina cruzou o portão do colégio aos prantos. Tentar argumentar com Bruno era sua última opção para tentar amenizar sue problema financeiro. Com sua negativa não sabe o que vai fazer. Ela pode até continuar à fazer cabelos escondida do marido mas o dinheiro que receberá não chegará aos pés do que ganhavam quando Rogério trabalhava. Nem que ela trabalhasse 24 horas por dia. Sem uma faculdade, também não receberia tão bem assim em qualquer trabalho que conseguisse. O que irá fazer se Rogério não conseguir outro emprego? Terá que sair de sua casa que tão bem planejou e lutou para construí-la. A casa dos seus sonhos onde quis constituir uma família. Agora tudo estava indo por água abaixo, seus sonhos, seus planos, sua vida. Trocar as meninas de escola, de bairro não é certo, elas não merecem isso. Como poderá resolver essa situação? Terá que arrumar qualquer emprego ao menos para garantir um dinheiro até que Rogério consiga se recuperar.

     Angélica acabou de sair do CVM  e caminha apressada pela calçada. Sua aula atrasou em 10 minutos e tinha marcado que Victor a esperasse na Lagoa ao meio dia. São meio dia e meia e ela está esbaforida tentando chegar o mais rápido que pode. Por ele não ter celular nao foi possível qualquer comunicação sobre seu atraso. No momento ela só pode torcer para que ele ainda esteja esperando-a. Angélica passou metade da noite procurando museus em que pudessem ir e acabou escolhendo o que sempre ia com seu pai. Está imensamente feliz por poder voltar lá depois de tanto tempo. A última vez que fôra nele, Ventura tinha acabado de entrar para o doutorado, à 4 anos atrás.

Lagoa

     Victor está sentado na areia conforme o combinado feito com Angélica. Apreensivo ele olhou no relógio. Angélica está atrasada e ele teme ter acontecido alguma coisa. Será que desistiu de encontrá-lo? Pensou enquanto olhou novamente no relógio. Angélica que passava pela calçada ao vê-lo sentado na areia suspirou aliviada. Ele ainda estava esperando-a. Com uma alegria contida ela apertou o passo e aproximou-se dele.

Angélica: Oi! -Sentou-se ao lado de Victor- Desculpa ter feito você esperar, mas a aula atrasou um pouco. -Disse ofegante-
Victor: Nem foi tanto assim. -Quis ser gentil- 

     Victor também suspirou aliviado ao perceber que a colega nao tinha faltado ao compromisso.

Angélica: Então... A gente pode ir no Museu de Arte Moderna. Você havia me dito que tinha feito curso e eu achei que talvez você gostasse de ir.
Victor: Eu vou adorar! -Sorriu- É aqui perto?
Angélica: Não. É um pouco longe. Esse é um problema no Rio de Janeiro, algumas coisas ficam bem longe uma das outras, mas a gente pode ir de táxi.
Victor: Se não for problema para você.
Angélica: Imagina. Eu chamo pelo celular.  -Retirou seu celular do bolso- É rápido. -Ligou a tela-

     Angélica procurou por um aplicativo de táxi em seu celular.

Victor: Você não é muito de ficar com as meninas do condomínio né?
Angélica: Até fico, mas elas não curtem as mesmas coisas que eu e eu também nem tenho tanto tempo. Eu estudo quase que a semana inteira. -Respondeu ainda olhando para o celular-
Victor: Além de violino, alemão e pintura você estuda mais o quê?
Angélica: Faço conversação de inglês avançada e treino handebol com as meninas no colégio. Fazia aula de expressão dramática também mas eu saí.
Victor: Por quê?
Angélica: O professor não era muito bom. -Desligou a tela do celular-

     Angélica já havia solicitado o táxi através do aplicativo e agora era só esperar.

Victor: Sério? -Admirou-se-

     Como Angélica com tão pouca idade poderia julgar a capacidade de um professor? Que conhecimento ela tinha à respeito desse assunto?

Angélica: Ele andou falando algumas coisas sobre dramatização que não eram corretas.
Victor: E como você sabe que não eram corretas? -Questionou-
Angélica: Porque ele não conhecia o princípio da dramatização. Dizia que a graça da dramatização era ser falso.
Victor: Falso? Como assim?
Angélica: Que deveríamos fingir sentimentos para dramatizar qualquer coisa.
Victor: E não é isso?
Angélica: Claro que não! Se expressar dramaticamente consiste em buscar dentro de você todas as expressões de sentimentos humanos. A gente sempre parte da ideia de que todo mundo já vivenciou situações de tristeza, raiva, medo e todas essas expressões sentimentais. Você não tem que fingir sentir medo se você não está sentindo de fato. Você tem que sentir de verdade. É isso que torna rica a dramatização.

     Victor admirou-se. Não esperava que Angélica pudesse entender tanto de arte dramática. Ela realmente tinha bagagem para dizer que seu professor era de fato muito ruim. 

Victor: Sempre que eu converso com você eu fico pensando em quantos anos eu levaria para aprender tudo isso.

     Angélica riu do comentário do colega. Para ela é um conhecimento o conhecimento artístico é mais do que natural. Angélica cresceu envolvida com arte por conta de seu pai. Tudo que aprendeu sobre dramatização foram em suas idas ao teatro com seu pai. Angélica ligou novamente a tela do celular. Por estarem um pouco distantes da rua precisava saber à que altura estava o táxi que chamaram e ao vê-lo se aproximar pelo aplicativo chamou:

Angélica: Vamos? Olhou para Victor- O táxi já está vindo. -Levantou-se-
Victor: Vamos. -Levantou-se-

     Angélica pegou sua mochila que estava jogada na areia e dirigiu-se com Victor para a calçada para esperar o táxi.

    O Vitte está movimentado. Há muitas pessoas aguardando atendimento na recepção que dá direto para a porta de vidro da administração. Marlene não conseguiu parar ainda para almoçar, tem muito trabalho. No momento ela termina de passar algumas faturas para o computador enquanto Julinha e Nilze ficam à conferir alguns papéis em suas respectivas mesas. Érika saiu para almoçar  à quase 1 hora e ainda nao retornou, Marlene só está esperando-a que volte para que consiga ir. Érika nunca se ausentara do trabalho por tanto tempo, seu horário de almoço nunca durou mais do que meia hora. Desde que chegou não trocou 1 palavra com suas colegas de trabalho e estava mais séria do que de costume. Algumas vezes, Marlene percebeu a companheira  bastante distante da realidade. Preocupada com a demora da amiga, ela levantou-se de sua mesa e saiu à sua procura.

Hospital Vitte

     O Vitte possui um jardim na entrada da recepção. Algumas pessoas costumam ficar por ali enquanto aguardam atendimento ou o horário de visitas. Por ser um lugar tranquilo, Érika sempre vai para lá quando quer pensar sobre alguma coisa. Não tem sido fácil sua convivência com os profissionais do seu setor. Julinha mais uma vez havia acusado-a de abuso de poder por não ter entregado uma documentação à tempo. Érika excedeu-se e mais uma vez ameaçou demiti-la. Reconhece que tem se tornado uma pessoa bem intransigente nos últimos anos, mas não consegue controlar. Novamente relembrou das palavras de Carlos e chorou em silêncio. Não quer que ninguém perceba sua fragilidade. Ele deixou diversas mensagens em seu celular mas ela está chateada demais para responder qualquer coisa. Prefere ficar com seus pensamentos à deixar que a raiva e a mágoa falem por si próprias. Marlene saiu pela recepção, tinha procurado por Érika por todo o primeiro andar e ir até no jardim foi sua última tentativa para encontrar aquela que sumiu por quase 1 hora. Ao avistá-la em um dos bancos aproximou-se. O que Érika estaria fazendo ali ao invés de estar em seu setor trabalhando freneticamente como sempre?

Marlene: Érika? -Chamou-a por trás-
Érika: Oi Lene! -Secou as lágrimas-

     Mesmo de costas Marlene percebeu que Érika havia secado suas lágrimas para que não percebesse-a chorando.

Marlene: Você está chorando?
Érika: Não. -Disse com seriedade sem olhar para Marlene-
Marlene: O que houve Érika? -Sentou-se à seu lado- Passou o dia todo mais séria do que de costume. Teve problemas com o Carlos?
Érika: O Carlos não é mais o mesmo. -Lamentou-
Marlene: Você também não é.
Érika: É verdade. Eu também não sou. -Concluiu-

     A fala de Érika causou um silêncio desconcertante. Marlene já conhece bem a amiga e percebeu que sua fala foi na tentativa de evitar um confronto com seus próprios sentimentos. Aconteceu alguma coisa séria e Érika não queria contar.

Marlene: Érika eu sou sua amiga e quero te ajudar. O que aconteceu?

     Érika olhou Marlene chateada. Precisava desabafar com alguém todo o incômodo provocado pela fala de Carlos ou iria explodir de dor.

Érika: A sobrinha de 15 anos do Carlos vai ficar lá em casa por 3 meses. Os pais vão viajar para a França e eu fui contra. Como vou cuidar de outra adolescente? É muita responsabilidade e o Carlos jogou na minha cara que não tenho família. Ele não podia ter me feito sentir pior e ele tem razão. Não tenho ninguém além de mim mesma. -Chorou-
Marlene: Não diz isso amiga. Você tem uma família linda! -Olhou-a com carinho-
Érika: Já não somos uma família à muito tempo Lene. -Secou novamente as lágrimas que escorriam por seu rosto- Se eu pudesse voltar no tempo. -Suspirou-

     O suspiro de Érika trouxe um ar nostálgico. Marlene não deixou de remeter sua fala à algo relacionado à Ventura. Sem dúvida sua amiga apesar de não admitir, sente falta dos momentos que vivenciou com ele e pode até estar arrependida por ter rompido com tudo sem motivo.

Marlene: Voltaria à ficar com o Ventura?
Érika: Meu problema não é o Ventura. Sou eu mesma. Tudo que fiz, que deixei de fazer, mas não consigo ser diferente e nem posso. -Lamentou mais uma vez-
Marlene: Quer sair para conversar depois do trabalho? Podemos ir lá pra casa. Comprei um vinho ótimo. A gente bebe e dá boas risadas como nos velhos tempos.
Érika: Vinho? -Olhou para Marlene curiosa-

     Érika lembrou-se dos momentos que tinha com a amiga. Sempre que tinham algum problema ou algum assunto sério para conversar elas se embriagavam de vinho na república e ficavam conversando por horas à fio sobre seus problemas. Esse era o único momento em que Érika podia falar sobre tudo que sentia sem ressalvas. Muitas vezes, Marlene só conseguiu tomar conhecimento de todos os problemas existenciais que a amiga vivenciava porque estava embriagada. O convite de Marlene para tomar um vinho em sua casa com certeza era uma arapuca para ela pudesse falar sobre tudo que estava incomodando-a.

Marlene: De primeira qualidade. -Sorriu-
Érika: Vou pensar e te falo.
Marlene: Vai pensar nada. Está combinado.  -Disse com firmeza- Às 18 você vai comigo. Vou entrar. -Levantou-se-

     Enquanto Marlene adentrou a recepção. Érika ficou à pensar se essa não seria a oportunidade de contar tudo o que esconde à Marlene. Ela sempre foi boa amiga e sua fiel confidente. Sem dúvida saberia guardar segredo à respeito do que esconde sobre sua família. 

     Elisa estacionou o carro em frente ao CVM. Ela foi com Olga deixar Lucas em seu primeiro dia de aula. Ele saiu de casa animado com seu material recém comprado, mas ao aproximar-se da escola foi ficando apreensivo e Olga conseguiu perceber a apreensão do filho. Mesmo tendo sido acolhida pela diretora da escola, tem medo de que Lucas não consiga acostumar-se à nova escola e mais uma vez cause problemas fazendo com que ela deixe de trabalhar para ficar com ele durante o horário de aulas. Rômulo não fez qualquer exigência em relação ao seu trabalho, deu à ela o tempo que fosse necessário para que resolvesse toda a sua situação com tranquilidade, mas não queria abusar, afinal, eles estavam sendo muito gentis com ela.

Colégio Vicente Marques (CVM)

     Olga abriu a porta do carro para que Lucas saísse. Ele realmente está apreensivo em ter que ficar sozinho na escola. Seus olhos arregalados fitaram toda aquela enorme escola e todas aquelas crianças entrando o deixou desesperado. Teme que algo aconteça à sua mãe em sua ausência. Muitas vezes chegou em casa e não a encontrou porque precisou ser retirada de casa por conta das ameaças que recebeu. Lucas sabe que nada poderá fazer se algo acontecer novamente, mas quer estar próximo pois sente-se seguro com sua presença. Ao despedir-se com um beijo em sua mãe Lucas a chamou choroso.

Lucas: Manhê! -Abraçou-a amedrontado-
Olga: Filho você veio aqui ontem. Viu que é um lugar legal. -Disse serena-
Lucas: Não quero ficar longe de você. -Chorou-

     Firmino que via a cena em frente ao portão chamou Camille que estava conversando com algumas crianças no jardim externo. Ele já havia sido avisado sobre o aluno novo e Camille só estava esperando-o chegar para recebê-lo.

Camille: Oi Lucas! -Aproximou-se com seu jeito doce-

     Camile é uma mulher com um pouco mais de 45 anos. Loira, com seus olhos azuis como o oceano e uma docilidade em seu jeito de ser, não há quem nao se encante com seu jeito tão delicado. Ela é a tia Mille, a favorita de todas as crianças que ali estudam.  Olga conversou com ela no dia anterior e deixou-a à par de todo o problema emocional do filho e inclusive, sobre a forma em que tiveram que vir para o Rio de Janeiro. Lucas havia vivenciado muitas coisas e estava extremamente traumatizado. Camille com toda sua sensibilidade e ternura acalentou Olga e garantiu fazer o que pudesse para que Lucas consiga dar conta de suas questões emocionais e aprender. Como já era praticamente o último bimestre, não havia mais tempo de se pensar em uma programa educacional adequado às necessidades de Lucas, mas prometeu fazer isso assim que entrasse o próximo ano. Carinhosa ela continua:

 Vem comigo para eu te apresentar à seus amiguinhos. -Esticou a mão para Lucas-
Lucas: Eu não quero ficar sem minha mãe! -Abraçou Olga choroso-

     Era um momento difícil para Olga. Ela também que tem muita dificuldade em deixar Lucas aos prantos na escola. Tomar esse tipo de conduta é muito sofrido para ela. Camille percebendo toda a angústia gerada em ambos tentou amenizar toda a situação.

Camille: Mas será por pouco tempo. -Agachou-se e olhou em seus olhos- Eu prometo que ela virá te buscar. -Olhou para Olga com segurança-

     Anabela que acabara de despedir de sua mãe com um beijo no rosto, ao dirigir-se ao portão encontrou Lucas.

Anabela: Oi Lucas! Você vai estudar aqui também? -Perguntou ao vê-lo segurando sua mochila-
Camille: Olha, vejo que já tem uma amiguinha Lucas. -Olhou para Anabela e deu um sorriso-
Anabela: Ele mora no mesmo condomínio que eu tia. A gente se conheceu no play.
Camille: Então você vai me ajudar Ana. O Lucas não quer entrar porque não conhece direito a escola e tem medo da mãe dele nunca mais voltar. Você também já passou por isso e como já estuda aqui à mais tempo pode ajudá-lo à ficar melhor. Por que não o leva para conhecer a sala?
Anabela: Vem Lucas. Lá na sala tem um monte de coisas legais. -Chamou-o-

     Lucas sentiu-se mais confiante com a presença da colega. Ao menos, não se sentiria sozinho naquela gigantesca escola com tantas crianças desconhecidas.

Lucas: Mãe? Você promete que vai voltar? -Olhou-a com apreensão-
Olga: Claro! Eu nunca vou abandonar você! -Sorriu-

     Lucas devolveu o sorriso e entrou para o jardim externo junto com Anabela que começou a contar sobre todas as coisas interessantes que havia na escola. Olga olhou para Camille com aflição. Está muito preocupada em deixar Lucas sozinho depois de tudo que aconteceu.

— Se acontecer qualquer coisa promete que vai me ligar?
Camille: Sem dúvida! Não é a proposta da escola deixar as crianças aqui quando não desejam ou não se sintam confortáveis. Fique tranquila! O Lucas ficará bem. -Sorriu em um acalento-
Olga: Você acha que ele ainda pode aprender a ler?
Camille: Não acho que deva se preocupar com isso no momento Olga. O mais importante é permitir que o Lucas se sinta seguro. Depois a aprendizagem acontece naturalmente.
Olga: Muito obrigada.
Camille: Não tem de quê. -Sorriu gentil-

     Olga entrou no carro de Elisa. Mesmo com toda a segurança passada por Camille ainda sentia-se incomodada em ter que deixar Lucas em uma escola que ela sequer conhecia. Tudo era muito novo para ela e que dirá para uma criança de apenas 7 anos de idade? Camille adentrou ao jardim externo e com um sorriso alegre cumprimentou Anabela e Lucas que começaram à brincar no jardim. Ele havia encontrado uma amiga que muito o ajudaria no processo de socialização.

     Após terem almoçado, Angélica e Victor seguiram para o Museu de Arte Moderna. Ela estava sentindo muito feliz por poder estar fazendo novamente uma atividade que sempre gostou e com uma pessoa que segundo ela, era digna de sua companhia. Victor ficou encantado com a aula que a companheira deu à respeito da arte  como um todo e ficou se perguntando se haveria algo sobre esse tema que ela não soubesse. Angélica era de fato uma profunda conhecedora do mundo artístico. Ela são sabia apenas de música e literatura, sabia também de dança e pintura. Angélica sentiu-se contente por finalmente conseguir conversar daquilo que ela sempre gostou com alguém que pudesse acompanhar seu raciocínio acelerado. Victor muitas vezes sentiu-se perdido em meio ao falatório travado pela amiga, mas ela estava tão empolgada que nem sequer percebeu que passava de um assunto para o outro em questão de segundos. Ela conseguia falar de Van Gogh e Clarice Lispector unindo suas obras totalmente dispares que ele muitas se perguntava qual parte da associação da conversa ele perdeu. 

Museu de Arte Moderna

Angélica que toma seu Milk-shake caminha junto à Victor pela galeria de arte. Eles estão no museu à quase 2 horas e não pretendem ir embora tão cedo. Enquanto vêem as obras expostas eles vão conversando sobre tudo que conhecem à respeito delas. Victor estudou arte moderna e Angélica faz curso de pintura, por isso eles tem muito conhecimento para trocar.

Victor: Eu adoro essa obra de arte. -Apontou para um quadro- Sabia que ela foi criada no meio de uma rebelião?
Angélica: Claro! Olha essa. -Mostrou- A forma como o pintor expressou seu mundo. -Passou seus dedos sobre a pintura na tela- Ele usou cores que refletiram um momento histórico difícil.
Victor: Mas essa pintura é contemporânea né? -Constatou-
Angélica: É.
Victor: Eu não gosto muito de arte contemporânea.
Angélica: Por quê?
Victor: Porque rompe com a noção do que é belo e tudo que é padronizado.
Angélica: Mas é justamente isso que é legal na arte contemporânea. Ela não dizer como a arte deve ser.
Victor: Eu não acho que tenha que ser assim senão a gente vai chamar qualquer coisa de arte.
Angélica: E qual é o problema nisso?
Victor: A arte tem uma técnica e uma norma. -Continuou à caminhar pelas galerias-
Angélica: Então quer dizer que se eu olhar para um quadro e disser que é uma arte, se não estiver dentro das normas não é arte?
Victor: Não.
Angélica: A gente não pode desconsiderar a subjetividade das pessoas . É sempre o olhar do outro que torna ou não aquilo arte Victor.
Victor: Então você levanta a bandeira de que a arte é para ser livre?
Angélica: Claro. Não acho que tenha que padronizar a arte. É assim com a música também. Quem define o que é arte ou o que é música é sempre o sujeito. Já somos limitados em tantas coisas. Acho mais do que justo deixar a arte ser como ela pode ser, livre.

     Victor parou em meio ao corredor da galeria e fitou Angélica em um repente.

Victor: Então eu  posso te considerar uma obra de arte? 
Angélica: O que eu tenho à ver com isso? -Desentendida-

     Angélica realmente não compreendeu o que o colega queria dizer ao fazer aquele  tipo de pergunta.

Victor: Ué, se a arte é subjetiva conforme você diz, ou seja, não segue padrões, eu posso considerar você como uma perfeita obra de arte porque é assim que eu vejo você, uma perfeita obra de arte. -Sorriu-

     Angélica fitou-o tímida, já percebera qual era a intenção do amigo com aquela cantada pra lá de brega. Victor aproximou-se e tocou o rosto da companheira. Enquanto entreolharam-se ouviu-se um chamado no celular. Era André à procura de Angélica. Eles haviam combinado de fazer um trabalho para o módulo de Ciências Espaciais que cursam juntos no CVM para o dia seguinte e André precisava de algumas informações à respeito do trabalho antes de chegarem na escola.

Angélica: Desculpa. -Retirou o celular do bolso da calça- É um colega de escola. -Disse ao abrir a mensagem de André-

Mensagem de celular:

Oi princesinha! Antes de mais nada quero dizer que estou com muitas saudades suas. Quando vamos sair novamente? Quando tiver um tempo me liga para combinarmos o trabalho amanhã na escola. Um beijo com todo o meu amor.

André.

     Victor cresceu o olho sobre a mensagem deixada no celular de Angélica. Conseguira ler parte dela e não deixou de se sentir incomodado ao ver o nome de André referindo-se à ela como princesinha. Angélica não era de falar em pessoas, mas ocasionalmente citava algumas de suas amigas em algumas conversas. Já André, ela sequer mencionou. Quem seria esse garoto? Talvez um ficante? Angélica percebeu o incômodo de Victor assim que abriu a mensagem e sem responder ela desligou a tela do celular.

Victor: Não vai responder? -Curioso-
Angélica: Depois. -Guardou o celular novamente no bolso- A gente ficou de fazer um trabalho para a escola juntos. Sabe como é isso.
Victor: Sei. -Concordou em um tom rude-
Angélica: Vem. Vou te mostrar outro quadro legal. -Puxou Victor para a próxima galeria-

     Victor nao deixou de sentir-se enciumado com a mensagem deixada por André. Muitas vezes pensou em perguntar a companheira se ele era apenas um amigo dela. Alguns amigos utilizam-se termos carinhosos uns com os outros, mas se Angélica tivesse qualquer vínculo afetivo com ele teria falado. Será que se enganou achando que ela estava na sua e acabou investindo em uma garota comprometida? Pensou Victor, mas agora já estava envolvido demais para desistir. Por quê Angélica nunca falou desse garoto?  Se ele tem seu número de celular, possivelmente é alguém próximo. Talvez nao signifique nada para ela realmente, mas pelo pouco que Victor pôde ler não pareceu ser uma conversa apenas de amigos. Não deve perguntar sobre isso no momento já que não tem qualquer direito sobre Angélica e nem quer mostrar como alguém que vigia suas mensagens no celular, afinal, são apenas amigos.

     Carlos saiu da empresa mais cedo do que de costume, ainda são 4 da tarde mas como teve que resolver algumas coisas da Engequim fora de lá acabou por ir pra casa ao invés de cumprir o restante das horas afinal, já ficou diversas vezes até depois do horário resolvendo pendências da empresa e merecia um descanso. Ainda está chateado com tudo que aconteceu na noite anterior. Tentou por diversas vezes contato com Érika mas ela nem sequer respondeu suas mensagens deixadas no whatsapp e nem retornou suas ligações no celular. Ele mais uma vez culpa-se por ter falado com a esposa da forma em que falou. Ter jogado em sua cara que não tinha uma família como se isso tivesse sido uma escolha dela, foi a pior coisa que poderia ter feito. Ninguém escolhe perder uma família e sem dúvida havia cutucado em uma ferida que ainda não tinha cicatrizado. Erika sofre até hoje com a morte de sua mãe. Sente-se um estúpido insensível por agredi-la daquela forma simplesmente por não ter concordado que Lavinha viesse para sua casa, mas deveria ele respeitar sua decisão? Mesmo que Érika tenha regras rígidas na forma como conduz a casa sempre houve democracia em qualquer decisão que tomassem. Carlos acabou sendo rude com ela em prol de seus desejos e também, porque já não aguentava mais sua hostilidade e sua dominação em como tudo deve funcionar, tudo não passou na verdade, de um mero desabafo. Ainda assim, ele não podia reclamar, a casa sempre funcionou muito bem com todas as ordens dadas por Érika. O jeito será esperar que toda essa raiva passe e que ela aceite conversar com ele assim que chegar do Vitte. No momento Carlos deve dar a notícia à Clara, ela sem dúvida ficara super feliz ao saber que a prima virá passar uma temporada com ela.

Casa da família Guimarães Diáz

     Clara está em seu quarto procurando algo para assistir na televisão. Acabara de voltar do seu curso de Italiano e como não tem dever de casa e nem prova na escola, pode assistir à um filme na tv. Depois de ter tomado um banho, Clara deitou-se na cama e ficou à passar pelas inúmeras opções de filmes existentes no Netflix. Série ela definitivamente não acompanha mais. A última que assistiu por indução de Mariane deixou-a completamente viciada e não quer ter que passar por isso novamente. Séries deve ter algum tipo de feitiço, pensou ela. Ouve-se uma batida na porta.

Carlos: Posso entrar? -Perguntou com a porta entreaberta-
Clara: Claro pai. 

     Carlos entrou e sentou-se ao lado da cama da filha- 

 Já em casa tão cedo?
Carlos: Eu precisei resolver algumas coisas fora da empresa. Fazendo o quê? -Olhou para a TV-
Clara: Procurando alguma coisa para assistir que não seja nenhuma dessas séries altamente viciantes.
Carlos: Como foi sua aula hoje?
Clara: Foi boa, mas confesso que estou cansada. -Recostou-se na cabeceira da cama-
Carlos: Todos nós filha. Eu tenho uma notícia para te dar. -Disse contente-
Clara: Qual? -Entusiasmou-se-
Carlos: Sua prima vem ficar 3 messes com a gente. Os pais dela vão viajar à trabalho e não podem deixá-la sozinha.
Clara: Que legal pai! -Comemorou- Eu vejo a Lavinha só nas férias, mas e a escola?
Carlos: Amanhã vou ao CVM e ver com a Camille se ela consegue terminar o ano letivo lá.
Clara: Não acho que terá problemas. Talvez a Lavinha que não se adapte ao formato do CVM.
Carlos: Ela veio de um colégio tradicional né. Vamos ver.
Clara: Minha mãe já sabe?
Carlos: Já.
Clara: E aí?
Carlos: Não gostou muito da ideia. Disse que é responsabilidade demais, essas coisas. Você conhece a sua mãe.
Clara: E quando a Lavi vem?
Carlos: No domingo à tarde. Vamos buscá-la no aeroporto?
Clara: Claro pai! Vou adorar ter a Lavinha comigo aqui. -Alegrou-se-
Carlos: Então está combinado! Domingo vamos nós dois. Até lá espero já ter conseguido arrumar uma vaga no CVM para ela começar à estudar o quanto antes.
Clara: Vou mandar uma mensagem para ela dizendo que já estou sabendo das novidades.
Carlos: Ela vai ficar super feliz. Sua mãe ligou?
Clara: Não que eu saiba.
Carlos: Obrigado. -Levantou-se-

     Carlos que dirigia-se até a porta deu meia volta e concluiu:

 Ahh! Estão falando muito bem de Sense8. Deveria assistir. -Brincou-

     Carlos sabe que Clara não quer mais qualquer envolvimento com esse tipo de coisa.

Clara: Deus me livre! Estou fora dessas coisas! -Riu-

     Carlos fechou a porta, Clara pegou o celular e mandou mensagem. As duas ficaram por horas conversando no whatsapp. Lavinha também está muito feliz em poder ficar tão próxima da prima. As duas são completamente diferentes. Lavinha é mais liberal enquanto Clara tem alguns ideais moralistas mas nada disso é impeditivo para que elas se divirtam juntas.

     Anoitece, Olga foi com Elisa buscar Lucas na escola. Ela passou a tarde toda preocupada em ele como ficaria sem ela e nao desgrudou do celular por um só segundo. Camille poderia ligar à qualquer momento, por isso, nem conseguiu se concentrar no trabalho por conta de todos esses sentimentos atribulados. Acredita que demorará um pouco ate que retome à tranqulidade de sempre se é que isso será possível depois de tudo que passaram. Ás vezes sente que voltar a ser feliz é mera utopia. Nesse situação, a única coisa que espera é que ao menos os seus filhos consigam se recuperar de tudo que passaram e possam alcançar a tao sonhada tranquilidade que ela parece não conseguir jamais

Casa da família Grégis

     Olga abriu a porta de casa e Lucas entrou entusiasmado contando todas as novidades à mãe e à Elisa. Ele gostou muito do seu primeiro dia de aula. Olga sentiu-se tranquila, foi a primeira vez que Lucas ficou as 4 horas dentro de uma escola sem que a diretora ligasse para ela informando que o filho estava aos prantos. Camille e Anabela sem dúvida foram as pessoas que deram a maior força para que ele conseguisse se adaptar ao seu primeiro dia. Ao dirigir-se para a cozinha com Olga e Elisa ele vai contando alegremente tudo que tinha na nova escola.

Lucas: Eu adorei a minha escola mãe.
Olga: Que bom filho! O que eu mais quero é que se sinta bem.
Lucas: Depois daquele corre-corre a gente merece né mãe? -Sentou-se à mesa-
Elisa: Mas agora se tranquilize Lucas porque não vão mais correr.
Lucas: Tomara né tia? 
Olga: Elisa você toma um café?
Elisa: Imagina! Eu vou dar um pulo no apartamento e ver como está tudo porque lá no outro está uma zona.
Olga: Você mora lá desde que se casou e deve ter acumulado muita coisa. Eu nem tive tempo para isso.
Lucas: Mãe o Victor não está em casa? -Perguntou ao perceber a casa silenciosa-
Olga: O Victor agora deu de ficar saindo. -Encostou na mesa com um semblante preocupado- Fico tão preocupada.
Elisa: Não vai conseguir segurá-lo para sempre em casa Olga. Ele não pode é se perder. Sem celular fica difícil se estiver sozinho.
Olga: Acho que ele não foi sozinho não. Ontem veio uma menina aqui, Angélica é o nome dela, mora aqui no condomínio. Eles saíram juntos ontem e acho que podem estar juntos hoje.
Elisa: Isso é uma ótima notícia Olga! Acho que uma namoradinha para o Victor vai fazer muito bem à ele.
Lucas: Ela é linda tia! Parece uma bonequinha. Eu vi. -Intrometeu-se-
Olga: Eu acho você muito novo para estar achando uma garota bonita. -Repreendeu-
Lucas: Eu sou homem. -Defendeu-se-
Olga: Vai jogar vídeo-game antes que seu irmão chegue.
Lucas: É mesmo. Depois aquele chato nao vai querer me deixar chegar perto.
Olga: Então vai.

     Lucas saiu em direção à seu quarto. Ele não poderia perder a chance de jogar vídeo-game já que Victor nao estava em casa.

Elisa: Eu já vou Olga. -Despediu-se com um beijo em seu rosto-
Olga: Amanhã já vou trabalhar  no horário normal novamente. -Disse enquanto acompanhava Elisa até a porta-
Elisa: Não se preocupe com isso. Tem o tempo que quiser.
Olga: Obrigada.
Elisa: Qualquer coisa é só me ligar.

     Olga fechou a porta assim que Elisa despediu-se dela. Não deixa de sentir-se preocupada com a ausência de Victor. Onde terá se metido esse garoto? Será que está com Angélica? Ela percebeu ontem como se olharam. Victor não conseguiu esconder seu interesse pela colega e Angélica também se mostrou bem receptiva, ela veio ate jogar vídeo-game com ele. Olga precisa mesmo pensar em uma maneira de manter uma comunicação mais próxima com o filho. Ele terá que voltar a usar o celular nem que ela seja a única a conhecer o seu numero, Victor precisa manter contato, Depois de tudo que passaram qualquer sumiço é motivo de muita preocupação. Olga sentou-se no sofá,. Só lhe resta esperar por Victor.

     Isabel, CIbele, Thaís e Emília estão conversando na praça. Cibele está contando que acabara de voltar do shopping para comprar o vestido para festa da amiga que acontecerá no próximo sábado. Isabel comentou que estava ansiosa para que esse dia chegasse por adorar festas de 15 anos já que não tem o costume de ir à baladas com frequência. Cibele reclamou que não tem muita graça já que essas festas sempre são familiares e nao tem ninguém do sexo oposto para que possa dar uns beijos. Ela nem poderá levar Cléris. Thaís e Emília estão mais à fim de se divertirem comendo tudo que Mariane disse que teria do que arrumar algum tipo de envolvimento afetivo. Animadas elas continuam à conversar sobre o que terá de bom na festa tão comentada do condomínio.

Praça dos Amores

     Angélica e Victor adentraram a portaria. Eles se divertiram muito no museu e trocaram diversas informações. Angélica até o levou para conhecer alguns lugares próximos ao museu apenas para ficarem mais um tempo juntos. Em uma conversa alegre eles caminham até a casa de Angélica. Isabel que vira os dois entrando comentou:

Isabel: Olha quem vem ali. -Mostrou-
Cibele: Victor e Angélica. -Comentou ao vê-los entrar-
Isabel: Angélica não dá chance para o azar.
Thaís: Ela não está saindo com o André?
Cibele: E daí querida? Sair não é assumir compromisso.
Thaís: Dá para ver que o Victor é mais um dos mil garotos que suspiram pela Angélica. Que sorte ela tem. -Suspirou-
Emília: Verdade! Não é qualquer uma que sai com um dos meninos mais ricos da escola.

     Continuaram à observar enquanto Angélica parou no portão de sua casa. Mesmo não querendo, eles tinham que se despedir. Já passaram uma tarde toda juntos. 

Victor: A gente pode se ver amanhã?
Angélica: Pode. Passa aqui em casa. Vou estar aqui o dia inteiro.
Victor: Está bom. Obrigado pelo passeio. Foi bem legal. -Sorriu-
Angélica: Eu também gostei. -Disse em um tom doce-
Victor: Então até amanhã! -Despediu-se com um sorriso tímido-
Angélica: Tchau! -Sorriu-

     Angélica abriu o portão de sua casa e dirigiu-se à porta. Ao vê-la entrar Victor seguiu caminhando até a praça onde encontrou com as meninas.

Victor: Oi meninas! -Cumprimentou-as-
Cibele: Oi Victor! Já vi que você já foi fisgado pela Angélica. -Provocou-
Victor: O quê? 
Cibele: Olha, longe de mim fazer fofoca, mas a Angélica não é garota para você se apaixonar. Ela nunca se envolve com ninguém sério. Vários garotos lá da escola já sofreram muito por causa dela.
Isabel: Você é ridícula Cibele. -Intrometeu-se-

     Não havia dúvida de que Cibele estava querendo queimar o lance que poderia existir entre Victor e Angélica.

Cibele: Eu falei alguma mentira?
Victor: Eu não faço a mínima ideia do que você está falando.

     Emília que percebeu o comentário maldoso de Cibele desconversou já que Victor não entendeu.

Emília: Estamos indo para o La Porte. Está à fim?
Victor: Agradeço, mas eu preciso ir para casa. Tem ainda muita coisa para arrumar.
Cibele: Depois chama a gente para um churrasco.
Victor: Se você bancar. -Fitou-a com severidade- 

     Victor não gostou de Cibele desde o primeiro momento em que a viu por isso sua intolerância aos seus comentários repletos de malícia.

 Tchau gente. -Despediu-se-
Isabel: Falow. 

     Victor seguiu para sua casa deixando Cibele enraivecida que começou a comentar com as amigas o quanto Victor era esquisito. Ele fazia o par perfeito com Angélica, ambos eram igualmente escrotos.

     Passam-se as horas. São 10 da noite, Érika chegou da casa de Marlene à quase meia hora. Ao estacionar o carro ela sentou-se no balanço do jardim. bebera demais na casa da amiga e ainda está sob o efeito do álcool. Marlene conseguiu com aquele vinho fazer com quela desabafasse toda a dor que trazia consigo desde a sua primeira briga com Carlos. Em um momento chegou até a assumir que se arrepende por ter jogado seu relacionamento com Ventura para o ar. Ele sim era o homem que podia fazê-la feliz. Marlene como boa amiga que é, consolou-a e a incentivou à seguir a vida conforme tem feito até o momento, afinal, Ventura também já tinha uma família bem consolidada. Sobre sue grande segredo Erika nao estava bêbada o suficiente para deixar que isso escapasse. 

Casa da família Guimarães Diáz

  Carlos que ouvira o barulho do portão ficou à esperar por Érika que até o momento não subiu. Ao olhar pela janela de seu quarto que dá para os fundos do jardim, a viu sentada no balanço. Ela só tem esse tipo de atitude quando está muito chateada. Eles precisam conversar e resolver toda essa situação. Érika parece conseguir suportar um ambiente hostil melhor do que ele. Ela consegue passar uma semana sem dirigir-lhe qualquer palavra, já Carlos, necessita que suas desavenças sejam resolvidas o mais breve possível. Ele a ama demais para ignorar qualquer contato. Com docilidade, ele passou pelo corredor e seguiu para o jardim. Está uma noite muito bonita e Érika está à refletir sobre sua vida olhando aquele céu estrelado. Carlos aproximou-se dela por suas costas.

Érika: O que você quer Carlos? -Perguntou sem olha-o ao sentir sua aproximação-
Carlos: Me perdoa! -Sentou-se à seu lado- Eu não devia ter falado que você não tinha família. Olhou-a- Sei como isso te dói.
Érika: Você falou a verdade. -Respondeu sem encará-lo- Não tenho ninguém além de mim mesma. -Olhou-o-
Carlos: Claro que tem! Tem eu, a Clara. Somos sua família. Estava no Vitte até agora?
Érika: Não. Eu fui na Marlene tomar um vinho e conversar.
Carlos: Eu pensei e talvez seja melhor que a Lavinha não venha pra cá.
Érika: Por que acha isso?
Carlos: Porque eu não quero te distanciar mais de mim. -Tocou seu rosto- Eu amo você Érika e tudo que eu tenho feito esse tempo todo é tentar me reaproximar de você como antes.
Érika: Não precisa pedir para a Lavinha não vir pra cá. A casa é grande e a Clara vai adorar ter a única prima por perto. Elas só se falam por internet.
Carlos: Você não se importa mesmo?
Érika: Ainda acho que é uma imensa responsabilidade mas é sua sobrinha e precisa ficar em algum lugar. Que lugar seria melhor que a casa do tio? -Sorriu-
Carlos: Obrigado pela sua compreensão meu amor. 

     Carlos abraçou Érika que deitou em seu tórax. Como sentiu aconchego naquele abraço. 

Érika: Obrigada você por me entender e estar sempre comigo mesmo que eu esteja tão fria e ausente.
Carlos: Eu sempre respeitei seu tempo meu amor. Ás vezes eu sou rude mas é porque te amo e preciso de você. Clara também. Todos nós precisamos porque somos uma família.
Érika: Desculpa por não poder fazer mais por nós.
Carlos: Não estou te cobrando nada, ao menos não agora.  -Segurou sua mão- Nesse momento eu só quero ficar abraçado à você apreciando essa noite linda. -Olhou para o seu estrelado-
Érika: E quente.
Carlos: Nem me fale. -Riu-

Continua...


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Notas finais do capítulo

Quedarte puedes
por que la vida duele
duele demasiado aquí sin tí.
aquí sin tí.

Tardes negras.



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