A Fortaleza das Feras - Livro 01 (Caos e Ruína) escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 4
Capítulo 3 - Sora




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― Que merda está fazendo?! ― Sora verbalizou, em um sussurro irritado quando o jovem a puxou para o corredor vazio. ― Bart, o que aconteceu?

― O Mercador sumiu. ― Os olhos azuis esverdeados do guerreiro percorreram as arquibancadas, agora ocupadas somente por alguns guardas ― Ele estava ali, mas simplesmente sumiu.

Então ficaram em silêncio no corredor vazio, esperando.

A calmaria conservou-se até o momento em que duas figuras surgiram entre as sombras. O guarda brutamontes que arrastara Sora, e junto dele outro que ela havia visto antes. Estavam cercados. Provavelmente não seria uma ideia muito inteligente, naquele momento, sair socando todo mundo, estava tudo quieto demais para tal coisa.

― Venham, agora. ― O brutamontes apontou uma espada em direção aos dois guerreiros, Bart imediatamente apontou o arco na direção dos dois guardas.

Olho por olho.

Embora não fosse muito inteligente ameaçar alguém com uma espada, ainda mais quando o adversário estava há uma distância relativa, e com o arco apontado para a sua cabeça.

― Você prefere por bem ou por mal? ― Questionou o guerreiro loiro, Sora observou-o satisfeita, com orgulho. Bart era esperto, fazia as melhores observações e os melhores comentários. O homem deu um passo para atrás, a guerreira ainda estava armada com a faca ensanguentada que sobrara, e a espada que pegara do lutador morto. ― Levem-nos até o Mercador, agora.

Ameaçador e objetivo, bom. Muito bom.

Nas instruções para a missão não havia ficado explicito se precisariam entregar a cabeça do Mercador, se deixariam vivo ou morto. Embora, os fatos os levavam a concluir que um cadáver seria muito bem-vindo.

― Não será necessário. ― Quem respondeu foi Ropher, a guerreira reconheceu. Rápido como o vento, o guarda desembainhou uma adaga e atacou o brutamontes.

Para o espanto dos dois guerreiros.

Bart manteve-se em posição, a flecha agora apontada para a cabeça do homem moreno. Sora aprontou-se para atacar.

Mas eles esperaram os próximos movimentos.

No momento em que o brutamontes cambaleou e preparou-se para revidar, o guarda desviou rapidamente e mirou na rua garganta, um movimento rápido e sangrento, bem parecido com o que Sora fizera ao abater o outro moribundo mais cedo.

― Lorde Darthurin mandou-me. ― Enquanto limpava a adaga, ele observou os dois guerreiros. ― Creio que vocês sejam os dois guerreiros que a fortaleza mandou. ― Eles quase suspiraram aliviados. Um aliado, aparentemente. Eles tinham um aliado. ― Meu nome é Ropher Caveblack, trabalho com o Mercador. Eu que passei para Darthurin a suspeita sobre o tráfico de escravos. Diga-me, vocês podem confirmar essa hipótese?

― Sim. ― Sora soltou um suspiro. Bart não pareceu surpreso com a resposta. O que confirmava que ele e Asher haviam feito as próprias investigações enquanto a guerreira se aventurava pelas docas sombrias do cais do Forte da Caveira. ― Vasculhei as entranhas do porto hoje mais cedo, estão traficando escravos, e aparentemente, utilizando alguns deles nesses ringues. ― Ropher assentiu, como se já soubesse, mas agora, com total certeza. ― Meu nome é Sora Hill. Este é meu parceiro, Bartolomeu. Há mais um, Asher, mas não sei sua localização agora.

― Enquanto você estava nas docas, nós também fizemos o trabalho de casa. ― Bart sorriu. ― Localizamos os senhores de escravos. Me encarreguei de acertar cada um deles. ― Sora piscou para o loiro, satisfeita. Eles foram mais rápidos do que ela. ― Asher encarregou-se de encontrar o Mercador.

Ropher assentiu e preparou-se para continuar, porém, uma voz gutural chamou a atenção

― Apareçam prostitutas temesianas. ― Rugiu um dos homens no centro da arena, Sora e Bart rapidamente apressaram-se para espiar. ― Ou o amiguinho de vocês vai perder a cabeça.

Um barulho de corpo batendo no chão, Sora observou do outro lado quando Asher rolou na terra seca e suja de sangue.

Com o arco mirando os homens reunidos no centro da arena, Bart surgiu das sombras, seguido por Sora. O guarda que os ajudara fora para outro lado, e eles não se importaram em verificar. Cuidadosamente desceram as arquibancadas até o centro do ringue, o guerreiro loiro não ousou abaixar o arco enquanto mantinha a mira. Sora ao seu lado era uma sombra cinzenta de olhos verdes ferozes, como de um felino.

Mais homens surgiram na arena, desta vez com o Mercador a frente. Sora percorreu todos os rostos ali, e percebeu que Bart tinha a mesmo pensamento que ela. Onde diabos Asher havia se metido? Como conseguira ser pego daquela maneira? Era vergonhoso ver o guerreiro de cabelos pretos jogado no chão e ela não esqueceria tão facilmente daquela cena. Era cômico, para não dizer, vergonhoso.

Um gesto do Mercador foi suficiente para que arcos surgissem apontando para os dois guerreiros armados. Eles entenderam, imediatamente, abaixaram as armas e as colocaram no chão, as mãos erguidas em sinal de rendição.

― Mataram todos os Senhores dos Escravos. Todos. Em segundos. ― O Mercador cruzou os braços, deveria ter em torno de cinquenta anos, para mais ou para menos, barba por fazer e alguns fios grisalhos. Tinha um olhar cruel, e exalava raiva ― Quem seria o próximo desta lista?

Oh, estava extremamente furioso, ainda mais com o negócio arruinado.

É claro que ele sabia, fizera aquela pergunta por puro deboche.

Sora não pensou em responder, e Bart também não. No entanto, quando Ropher surgiu entre os guardas, a guerreira imediatamente o reconheceu. Na luz conseguiu ver melhor os traços do guarda, claramente vinha do Sul, das terras áridas de Alaros, talvez do Deserto Silencioso, ou quem sabe viera até mesmo da grande capital, Sollarya. Cabelos negros, olhos castanhos e pele morena. E assim como tantos outros guardas que estavam ali, pelo menos uns dez, entre os vinte que estavam armados, ou apontando flechas para a cabeça de Sora e Bart. Ela não percebera, até aquele momento, que havia tantos homens das terras de Alaros ali. Alarianos na fronteira de Edésia, era no mínimo interessante. 

Mas, levando em conta que o Mercado Nebuloso abrigava todo o tipo de coisa, o Forte da Caveira era formado por todos os tipos de pessoas. Lembrava um pouco a Fortaleza das Feras, só que mais comercial e menos disciplinado.

― O que vamos fazer com eles? ― Questionou outro homem, que estava ao lado do Mercador, ele claramente não era do Sul, assim como os outros que completavam o resto do grupo.

― Jogue-os com os outros escravos, vamos vendê-los também. ― O Mercador por fim concluiu, quando se preparou para ir embora. Os guardas seguraram Sora e Bart, com mais força, como se eles fossem tolos o suficiente para sair correndo. ― Você tem uma aparência interessante, mulher, vamos ver quanto vale essa beldade.

Sora trincou os dentes, o guarda que a prendia empurrou-a para frente, ela cambaleou, percebendo que Bart também. Agir, precisavam agir rápido. Com um impulso a guerreira deu uma cabeçada no homem que a segurava, ele cambaleou e acabou a soltando, tempo suficiente para que pegasse a faca escondida e o atacasse.

Sangue jorrou e o homem que segurava Bart recebeu uma cotovelada no nariz, do guerreiro. Um giro rápido e um soco que o apagou e levou ao chão. Sora correu para pegar a espada que largara, Bart já estava de pé com o arco apontando para cabeça do Mercador.

― Solte-o, agora. ― O jovem loiro disse, apontando para o companheiro ajoelhado no chão. O Mercador sorriu.

― Não soltarei.

― Ótimo. ― Quem respondeu foi Sora, a guerreira então lançou a faca no guarda que mantinha Asher. A lâmina cortou o ar e cravou a garganta, o guerreiro rapidamente ergueu-se e desembainhou sua espada.

― Se é luta que vocês querem, então é o que terão. ― Um aceno, um movimento discreto, mas suficiente para os demais guardas saltarem em direção aos três guerreiros.

Um de costas para o outro, eles revidaram cada investida. Com sincronia, cada movimento foi perfeitamente executado. Bart mirando nos guardas que desciam correndo na direção deles, Sora e Asher atacando aqueles que desviavam das flechas, protegendo o guerreiro loiro que mirava. Pouco a pouco, os ataques foram diminuindo, o número de corpos aumentando, até que sobrasse apenas o Mercador e seus dois guardas de pé, e Ropher, próximo o suficiente para que não suspeitassem que estava conspirando contra o seu próprio chefe.

Um movimento rápido, o Mercador sinalizou para que fugissem.

Nem Sora, nem Bart e nem Asher saíram do lugar.

O guerreiro de cabelos pretos, no entanto, falou:

― Bart, agora.

Um aceno positivo, o loiro deslizou os dedos no arco.

Então o Mercador caiu no chão, de bruços.

Uma flecha precisa atravessara suas costas, perfurando o pulmão.

― Você já pode se revelar ― Sora exclamou para o guarda moreno próximo aos outros dois, parados e confusos, se entreolharam e tentaram atacar Ropher.

Houve outro disparo rápido, duas flechas perfuraram as pernas dos guardas, que caíram no chão gemendo.

De pé, o homem os observou e então encarou os guerreiros.

― Eu realmente achei que vocês não viriam. ― Proferiu Ropher calmamente, quando caminhou até o corpo do Mercador, o homem ainda estava vivo, embora estivesse gemendo de dor. O guarda sacou uma faca, chutou o corpo caído no chão para que virasse para frente, e então enterrou profundamente a lâmina no coração.

Por fim, Ropher limpou a própria lâmina suavemente.

Então fora ele quem os contratara, que agora matava o próprio chefe, pegava o anel de caveira prateado e colocava no dedo, silenciosamente se autoproclamando o novo Mercador, dono do Mercado Nebuloso. Mais um líder integrante daquela organização excêntrica e perigosa que dominava o comércio em boa parte do território.

Sora nunca iria imaginar que aquilo ocorreria.

Ropher virou-se para os guerreiros que encaravam tudo incrédulos, só então explicou:

― Eu e meus homens não toleramos a venda de escravos, e normalmente o Mercado Nebuloso não serve para isso. Mas o Mercador resolveu começar a negociar com os mercadores de escravos, e então compraram navios de escravos, homens e mulheres que vindos de uma terra distante. ― Soltou um suspiro, levemente irritado, ou desapontado. ― Não toleramos isso, o Lorde Darthurin também não. Eu teria encontrado uma maneira de lidar com isso, mas ele preferiu chamar vocês e espalhar os boatos sobre o ópio.

Não era a primeira vez que Sora trabalhava para aquele homem, Darthurin, a figura emblemática que agora comandava o Forte da Caveira. Ela sempre tivera a sensação que em um momento ou outro iria esbarrar naquela criatura novamente.

― Por que não nos contatou diretamente? ― Asher deu um passo à frente, aproximando-se ainda com cautela, já havia baixado as armas.

― Porque precisava parecer real. Imagina a dor de cabeça que eu teria se descobrissem que isso foi um motim? Muitos dos mercadores que vem até aqui não gostam do Lorde Darthurin, e nós sabemos que o Mercado Nebuloso nada mais é do que parte do Forte da Caveira, não poderíamos arriscar causar alvoroços. Mas também precisamos manter um bom relacionamento. Negócios. ― Fazia sentido, e fora uma ideia muito inteligente. ― Vocês estão dispensados, o ouro prometido está no barraco em que passaram os últimos dois dias. Sugiro que corram até lá, o mais rápido possível, antes que algum ladrãozinho encontre. ― Lançou um olhar para Sora, ele com toda a certeza sabia o que ela havia feito, mesmo que ela tivesse falhado em passar a notícia para seus companheiros, mas eles eram espertos e também arranjaram informações. Precisos e mais rápidos do que ela.

Um ponto para Bart e Asher.

E o Mercador estava morto, como haviam contratado. E não pelas mãos dela, nem da de seus companheiros, mas do próprio subordinado. 

― Bem que eu queria que essa missão terminasse rápido mesmo. ― Articulou Sora quando virou as costas e saiu caminhando pela arena. Conhecia a saída e iria direto para o ouro prometido. Ela estava ansiosa por aquela quantia, iria guardar mais da metade no banco, junto com o resto que mantinha.

― Realmente, eu espero que isso não seja uma armadilha. ― Asher falou.

― Podem confiar, o ouro está esperando por vocês. Não se preocupem em libertar os homens presos, nós mesmos faremos isso ― Sora jurou que o novo Mercador sorria quando falou, e ele tinha todo o direito de comemorar. ― Só espero que não fiquem irritados, pois a culpa claramente será de vocês, embora, todos os senhores dos escravos já estejam mortos. Podem ficar tranquilos.

Nenhum dos dois guerreiros respondeu quando saíram, em silêncio, acompanhando Sora. Os três também não contestaram quando chegaram ao barraco podre que estavam hospedados, e o ouro estava lá. A quantia fora devidamente separada, uma sacola para cada um. E havia até mais do que o prometido. Sora fizera questão de contar cada moeda antes de ir dormir. Os cavalos ainda estavam presos nos fundos da casa velha, da mesma forma que haviam deixado. Então, no dia seguinte, ao amanhecer partiriam para Temesia, finalmente.

No entanto, a notícia dos escravos libertados correu rapidamente no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

E eaiii? Curiosos para a chegada de Ethan?



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