Julie e eu nos conhecemos no último ano do colégio, tivemos aula de literatura juntas e a partir daí surgiu a aproximação. Nunca tinha namorado, ficava com muitos garotos e garotas, confesso que eu era bem piranha e a última coisa que eu e meu amigos imaginávamos era ver, Melanie Foster namorando, era tipo uma piada quando pensávamos nessa possibilidade. Mas o jeitinho tímido, meigo e fofo de Julie foi me cativando a cada dia, e quando me dei conta estava completamente apaixonada, aquele cabelo castanho claro ondulado, aqueles olhos azuis, aquelas pequenas sardas me enlouquecem. Foi quando tive uma crise de rejeição, não queria estar apaixonada, não podia estar apaixonada. Não me imaginava sendo apenas de uma pessoa.

Foi quando me afastei dela, o que a deixou bastante magoada, mas isso durou uma semana, já não conseguia mais tentar enganar a mim mesma tentando ficar longe dela. Já estamos há um ano juntas, até que consegui esconder por bastante tempo da minha família, uma hora eles iam ter que ficar sabendo.

Antes de conhecer Julie fiquei com uma garota chamada Ashley, ela era linda, ruiva com cabelo para baixo da cintura, olhos cor de mel, rosto angelical (só o rosto mesmo, porque aquela garota é uma "demônia"), todos no colégio admiravam sua beleza, os garotos faziam de tudo para ter sua atenção.

Me apeguei muito a ela e pensei que era recíproco, conversamos e resolvemos não ficar com mais ninguém, ou seja, ali era um possível início de um namoro, até descobrir que ela me traía com várias outras pessoas. Tudo isso durou cerca de um mês e meio, depois que isso aconteceu prometi pra mim mesma que não ia mais cair nessa história de que amor existe, pois fiquei realmente muito mal, mas isso passou e logo voltei para minha tão amada "piranhagem" e em questão de pouco tempo lá estava eu, acreditando no amor mais uma vez. Foi aí que só conseguia pensar: "porra Melanie".

Julie sabe de tudo isso, e sei também que ela nunca se sentiu atraída por nenhum garoto e que nunca namorou e nunca foi de ficar com muitas garotas. O oposto de mim.

Sua família é bem tranquila em relação a sua orientação sexual e ela nunca escondeu isso deles. É filha única, sua mãe é médica cardiologista, seu pai psicologo, sua família é bem equilibrada, totalmente diferente da minha chega até ser irônico.

 Conheço meus sogros e estou frequentemente na casa de Julie, acho que eles me amam, afinal quem não ama né?! (Não sou nada convencida). Olha só que irônico, a resposta pra essa pergunta é minha própria família, a família Foster.   

Já Julie nunca foi em casa, nunca viu minha mãe pessoalmente e ela grita aos quatro ventos que não faz questão nenhuma de conhecê-la. É infelizmente a vida tem dessas né...

Julie e eu temos a mesma idade, 18 anos, estudamos na mesma universidade, faço direito e ela psicologia vai seguir os passos do pai. Geralmente vamos juntas, quando eu tinha carro revezávamos um dia de cada. 

***

7:00 AM

Todos os dias o celular desperta no mesmo horário. Abri os olhos com dificuldade, olhei para o visor e me virei de bruços puxando o edredom até a cabeça. Cinco minutos depois levantei contra minha vontade.

Abri as cortinas, a porta e apoiei meus braços no gradil da minha sacada, gosto de fazer isso toda manhã, sentir aquela brisa logo cedo batendo em meu rosto faz com que me sinta renovada. A vista do meu quarto é um enorme jardim, com um amplo gramado verde e vários tipos de flores, à direita a piscina. No centro do jardim, assim que abre o portão há uma enorme fonte decorativa com o brasão da família.

Finalmente tomei um banho e coloquei uma roupa qualquer, um casaco de moletom, peguei minha mochila e desci.

Na cozinha dei de cara com meu padrasto sentado à mesa de cara no jornal, e minha mãe na outra ponta da mesa.

Bati palmas e disse ironicamente:

— Mas olha só que família feliz, poderíamos fazer comercial de margarina o que acham?

Ele abaixou um pouco o jornal e me olhou por cima do óculos, mas não disse nada.

Já minha mãe ainda vestida em sua camisola de seda, segurava uma caneca de chá e seu tablet, ela não podia ficar quieta.

— Você consegue ser inconveniente desde o momento em que acorda né Melanie?! - Disse sem ao menos olhar para mim.

— Esse é o meu dom mãe - Disse, sorrindo com deboche dando de costas, indo em direção a porta.

Passei no starbucks na esquina de casa e peguei o de sempre, dois latte macchiato, com açúcar pra mim e adoçante para Julie.

Assim que saí ela já estava me esperando. Deu aquele sorriso largo, o sol começava a surgir, batendo em seu rosto fazendo com que seus olhos ficassem ainda mais claros e suas sardas ainda mais evidentes.

— Bom dia meu amor! 

— Bom dia! - Disse dando-lhe um selinho e entregando seu copo.

Fomos o caminho todo ouvindo nossas músicas preferida principalmente Ed Sheeran, era cerca de 25 minutos de distância. Quando chegamos no estacionamento da universidade, saímos do carro, sentei no capô e ela ficou de frente pra mim. Uma enorme árvore centenária fazia sombra sobre nós e derrubava algumas folhas também, com um balanço suave. 

Desabafei, contei sobre a discussão que havia tido com a minha mãe na noite anterior.

— Amor, eu realmente não sei o que fazer, sua mãe não me dá nem a chance de me apresentar a ela.

Abaixei a cabeça em silêncio ainda atormentada com tudo isso.

Ela segurou meu queixo erguendo-o delicadamente.

— Ei, olha aqui... Vai ficar tudo bem, eu prometo pra você.

Aquela voz suave me acalmava de uma forma que nem conseguia explicar.

— Eu sei que vai! Obrigada - Disse abraçando-a com força enquanto ela acariciava meus cabelos.

— Ora, ora se não é o casal mais lindo de toda essa universidade - Gritou Charlie um pouco distante, segurando uns livros. Ele é meu melhor amigo desde o ensino fundamental e graças a mim, agora ele é amigo da Julie também, ele estuda direito e estamos na mesma turma.

Ergui a cabeça e lá estava ele, vestido com uma jaqueta jeans que chamava atenção por seus detalhes em glitter roxo.

— E essa jaqueta aí Charlie, adorei! - Elogiou Julie.

— Gostou amore?! Eu mesmo que customizei, porque se não for pra causar vocês sabem que eu nem venho - Disse jogando seu cabelo imaginário.

Caímos na gargalhada até percebermos o quão atrasados estávamos para primeira aula.