Desabafos escrita por Yurie


Capítulo 29
Epílogo (ou um novo começo)




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Fiquei com saudade de Desabafar.

Confesso que minha intenção não era deixar isso aqui largado às moscas desse jeito, mas aí depois acabou que eu não tinha mais muita coisa para postar, a minha vida foi estabilizando, aí depois eu acabei ficando sem tempo...

E convenhamos, ficou meio poético deixar uma história abandonada cujo último capítulo se chama fim - o final do Ensino Médio leva ao final de grande parte dos meus problemas, o que leva ao final da necessidade de Desabafar, o que leva ao final dos Desabafos. Uma cadeia simples e fechada, sem pontas soltas, nada além de lógica, sem problema algum.

Mas eu sinto falta de escrever coisas como aqueles meus antigos textos - coisas que realmente importam, que realmente me movem e me levam a algum lugar.

Não que eu tenha parado de produzi-las - eu tenho uma hora de ônibus toda noite, quando está escuro demais para ler, e então gravam-se áudios de meia hora ou mais que conseguem ser mais esquisitos e sem sentido do que estes Desabafos largados aqui, abandonados por seu autor e por qualquer um que um dia os leu.

Então, eu vim aqui escrever não sei o quê.

Talvez eu pudesse falar de como eu ainda estou incrivelmente fodido pelo que aconteceu durante o Ensino Médio inteiro. De como eu vivo com medo de conversar com qualquer pessoa na faculdade, ou com medo de chamar qualquer um de "amigo", ou constantemente esperando pelo momento em que eles vão se cansar de mim. Constantemente com a impressão de que estou falando a coisa errada, da forma errada, na hora errada. Esperando o momento em que vou falar merda e fazer todo mundo se afastar de mim.

Ou talvez - e isso foi um assunto que cheguei até a rabiscar no meu caderno sobre - como as paredes da UNIFESP são incríveis, com todas as frases grafitadas nos banheiros e nas escadas, os protestos políticos, as discussões filsóficas e sociológicas, os pequenos poemas que não têm título ou autor. Todas esses milhares pequenos pedaços de humanidade aqui e ali, mais crus e mais humanos do que qualquer coisa que já encontrei na escola.

Podia reclamar sobre o fim do semestre e como eu estou morrendo de estresse e de medo de pegar DP. Podia falar que acho que perdoei a Helô, apesar de a cicatriz ainda estar lá. Podia falar do meu livro, de como estou com medo de a Mel se mudar, de como eu finalmente saí do armário para toda a minha família e não tenho mais que ficar me escondendo atrás de um nome e de rótulos que não são meus. De como eu sei que os pais da mamãe nunca vão me chamar pelo meu nome de verdade, de como a faculdade é tudo o que eu sonhei e mais, de como eu tenho medo de mim mesmo de vez em quando, de como eu odeio andar de ônibus, de como a gente vai viajar para os Sete Povos das Missões e eu vou para a Argentina, de como eu estou a isso aqui de criar coragem e mandar o link dessa história para a Marina.

De como eu sinto uma puta falta da Muri, de como o Arthur não me chamou para o aniversário dele no ano passado e isso doeu, de como eu não tenho falado com quase ninguém na escola e do quão fundo isso corta.

Eu podia falar de mil coisas, mas parece que nada é o certo. Nada pesa o suficiente, se é que isso faz sentido.

E agora esse Desabafo também não tem nem necessidade de existir, não é, mas ele existe.

Então, eu vou só deixar ele aqui. Só pra dizer que eu não abandonei, que eu ainda não desisti do meu diário secreto. Quem sabe, talvez daqui a uns meses eu volte. Talvez nunca mais.

Mas só para constar que ainda não é o fim.

Ainda.


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