Desabafos escrita por Yurie


Capítulo 16
Uma conclusão, uma promessa e algumas desculpas




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Talvez eu devesse dizer que sinto muito pelo título gigante...

...

Cheguei à conclusão de que tem alguma coisa muito errada comigo. 

Venho aqui reclamar da minha solidão, da minha dor e que ninguém ouve o meu silêncio, mas a Mari sempre nota. Que eu estou muito calado, que não tô bem, que tem algo na minha cabeça. Na quinta, o Lucas notou, também. E os dois perguntaram se tava tudo bem, e eu respondi que sim. Que só estava com sono. Tinha tido Química e ia ter Física. Meu gato não me deixou dormir. Tá tudo bem. 

E foi aí que eu notei que não só não tá tudo bem como tá pior do que eu achei. 

Por quê? 

Por que eu não posso simplesmente dizer?

Por que não consigo simplesmente verbalizar toda aquela resposta que se passou na minha cabeça?

"Que olhar é esse, Yui?"

Olhar de desânimo. De tédio. Olhar de medo, de incerteza, de estresse. Olhar de angústia, fracasso, desespero, solidão. Olhar de Yurie. 

Sento aqui na frente do pc e escrevo esses Desabafos completos e honestos para completos desconhecidos aleatórios, mas sou incapaz de dizer a verdade para os meus melhores amigos. Talvez eu seja um covarde e só consiga ser eu mesmo atrás de um teclado. Talvez eu tenha medo de que eles só tenham perguntado por educação. Talvez eu só queira ter certeza de que meus pais não vão ficar sabendo de nada. Talvez eu não queira deixar ninguém preocupado. 

Talvez eu tenha me acostumado tanto a deixar essa porta trancada que nem sei mais como abri-la em público. É como andar nu por aí. Se você está sozinho em casa, não tem problema nenhum. Mas não dá para sair assim.

Houve uma época em que eu não tinha que fazer isso. Em que eu dei a chave para uma pessoa a deixava entrar de tempos em tempos. Uma época em que eu não era tão solitário. 

Mas então alguma coisa quebrou, e quando eu ofereci a chave de novo, ela não quis. 

[e agora ela vai embora também, e eu acho que nem vai sentir minha falta, apesar de saber que eu vou; mas não deveria]

E mais uma vez me pergunto como foi que cheguei aqui. Quando foi que fiquei tão solitário, quando foi que perdi minhas amigas, quando foi que o mundo ficou cinza. 

Quando foi que eu parei de contar tudo pra Mari?

Eu me sinto caindo. Despencando. Em direção a algo que eu não sei o que é, mas que talvez seja o Tártaro. Ou o Elísio. Que importa? Eu só quero que essa queda acabe. Só quero chegar a algum lugar, saber onde é que eu tô. 

Sabe, eu pensei em mandar o link desses Desabafos para ela, ou postar no Face. Para divulgar, para ter um ombro amigo que me conhecesse mais próximo, para ter alguém próximo que saiba o que tá acontecendo. 

Mas aí eu lembrei do meu Desabafo nº... 14? 13? Um desses. E eu não quero que ela leia, porque eu não quero que ela saiba que eu ainda não superei. Não quero que ela saiba o que ela ainda faz com o meu coração, porque ela talvez se afaste, e eu não quero que ela se afaste. 

É irônico, não? Criei isso daqui para poder falar sobre qualquer coisa para que qualquer um pudesse ler e saber o que se passa na minha cabeça, para os meus amigos talvez lerem e entenderem porque eu tô assim ou assado. E é exatamente por isso que eu não quero que eles leiam, ou que eu não posso falar qualquer coisa. 

A melhor válvula de escape do mundo não é uma válvula de escape boa o suficiente. 

Eu queria que ela lesse porque eu quero que ela saiba, não quero segredos. Quero que ele leia porque eu quero meu melhor amigo de volta, sem segredos, também. E não quero que nenhum deles leia porque não quero me machucar de novo. 

E eu saí da linha mais uma vez. Desculpe. Deixe-me voltar. 

Tudo está simplesmente fora do lugar, percebe? Tudo parece evaporar sob meu toque. Toda a confiança que eu tinha na minha melhor amiga/quase irmã parece ter desaparecido. O meu melhor amigo para quem eu sempre contei tudo não é mais tão confiável. Minha melhor amiga é o atual amor da minha vida e eu não quero que ela saiba demais, até porque não quero encher a vida dela com mais problemas. 

E agora tenho medo do que vou escrever no meu próprio diário. 

Eu nem sei se vou conseguir postar esse Desabafo, ou se vou desistir no meio, apagar tudo e ir para a cama logo de uma vez. 

Bom, se você estiver lendo isso, quer dizer que eu não desisti. 

Mas eu desisti, ainda assim. 

Desisti de ir no aniversário da Bea, porque eu não acho que ela vai se importar se eu não for. Desisti de tentar contar as coisas pra Mari, porque eu sei que eu não vou conseguir. Desisti de tentar corrigir minha mãe, porque eu sei que ela não vai me chamar de "filho". Desisti de tentar entender porque eu não vou mais ficar com o Lucas, porque não sei se tem como entender. Desisti de superar esse... Amor [?], porque eu não acho que consiga.

Estou quase desistindo dos meus sonhos, também, porque eu acho que sou fraco demais para [per]segui-los. 

Ah, se você está lendo isso e me conhece pessoalmente, por favor, não se preocupe. Eu estou bem. Eu vou ficar bem. 

Eu sou só um pouquinho covarde. Nada demais. 

Se você é ela ou ele, bem... Agora você sabe a verdade, não é? Quer dizer, você já sabe há alguns Desabafos, mas enfim. Você sabe o que eu sinto, o que eu penso, o que você significa. Acho que sabe que não tenho mais o que lhe dizer, também, e que você não tem que dizer nada. 

A realidade é uma só, e não adianta nada tentar mudá-la. 

Se você for a Mari ou o Lucas... Bom, talvez você saiba que estou falando de você. E sinto muito pelo modo como você soube. De tudo. Mas saiba que está tudo bem. Eu vou ficar bem. Eu nunca vou te dizer o que realmente está acontecendo e, por favor, finja que nunca leu nada disso, ok? Minta, sim, mas me mantenha seguro. Não comente, não acompanhe. Só... Leia, se você faz tanta questão. 

Sim, tem alguma coisa muito errada comigo. 

Mas eu não sei se dá para corrigir, e eu não quero tentar, porque pode machucar. E se não funcionar, então eu acho que só vou cair mais fundo.

E eu não quero mais cair. 

Sinto muito por não ter te dito nada na escola. Sinto muito por não ser tão próximo quanto deveria. Sinto muito não conseguir ser uma pessoa melhor. Sinto muito por ser egoísta e chato e por ficar atrás de vocês como um cachorrinho carente. 

Sinto muito por ter te atrapalhado de qualquer jeito e te deixado preocupada(o). 

Não precisa. 

Eu vou ficar bem.

Eventualmente. 

Prometo.

...

... mas então, eu teria que me desculpar por ser tão patético.


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