Desabafos escrita por Yurie


Capítulo 14
Sobre ser um Fracasso (com F maiúsculo)




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Honestamente? Nem sei mais porque tô aqui...

...

Minha irmã é um gênio. 

Passou o ensino médio todo (na verdade, a vida toda) sem estudar, mas ainda assim entrou na USP com 16 anos sem nem fazer cursinho. Aí dropou, entrou na Anhemb Morumbi sem cursinho nem nada (após seis meses sem estudar) e agora é a primeira da turma. 

Ah, e publicou dois contos com 16 anos, também. 

E eu? Bom, eu me mato de estudar todos os dias e ainda assim vou super mal em Física, não sei nada de Química e não faço a menor ideia do que cai na minha prova de Matemática. Tenho certeza absoluta de que vou falhar na Fuvest e me sinto o maior fracasso do mundo. 

Eu sou a minha própria maior decepção. 

Não sei dizer exatamente o que foi o gatilho desse Desabafo. 

Talvez o fato de que eu não vou poder sair sábado que vem porque vou ter um simulado. Talvez a percepção de que peguei três recuperações. Talvez o fato de que perdi aquele concurso. Talvez o fato de que tudo - absolutamente tudo - o que posto aqui no Nyah! ou em qualquer outro lugar flopa terrivelmente. 

Fui reler uns contos meus. Ontem, ainda. 

E só tem um deles que eu leio e digo "pô, isso tá bom de verdade". O resto é meramente "é, ok, vai". Todo mundo diz que eu escrevo mó bem, e eu imagino que talvez algum de vocês vá correr para o comentário e me certificar de que eu escrevo bem, sim, para eu parar de pensar assim. 

[ou talvez não e vocês concordem comigo, e eu só esteja sendo demasiadamente esperançoso]

Bem, nem adianta tentar. 

O fato é que eu sinto que ninguém nunca vai gostar de verdade do que eu escrevo porque nem eu mesmo gosto. Porque meus contos nunca têm um final bom o suficiente, porque nunca tem gente o suficiente que se interesse em lê-los. Porque talvez eu nem escreva tão bem assim e só tenha mentido para mim mesmo todo esse tempo. 

Eu me sinto um fracasso. 

O tempo todo, continuo pensando naquele conto que eu não terminei. Naquela história que eu fiquei de desenvolver. Naquele exercício que eu não fiz, na nota baixa que eu tirei, em como não cheguei nem perto da nota de corte no simulado, em como meus resultados foram ridículos no Enem. 

E a Melissa? Ah, ela é incrível. É a primeira aluna da sala, é inteligente, é bonita, faz três mil cosplays, os contos dela são incríveis, é, como a gente brinca aqui em casa, um prodígio. 

De repente, não é só uma brincadeira. 

Eu sei que eu nunca deveria me comparar a ela, que somos pessoas diferentes e tudo o mais, mas eu simplesmente não consigo evitar o pensamento de que eu sou uma decepção total e completa. Para mim mesmo, para meus pais, para todo mundo que me conhece. 

Eu jamais seria meu próprio amigo. Eu jamais me interessaria por mim. Eu sou complicado demais, temeroso demais, ridículo demais. Sou meu pior inimigo, meu crítico mais acirrado, minha maior decepção. 

Talvez eu devesse ter estudado mais. Talvez eu nunca devesse nem ter me inscrito naquele concurso, porque eu não tinha chances. Talvez eu nunca devesse ter tentado escrever nada, porque simplesmente nada presta. 

E a única coisa que me impede de apagar todos os meus arquivos e toda a minha conta do Nyah!, Sweek, Wattpad e sei-lá-onde-mais é o medo de me arrepender depois. 

Porque, além de tudo, eu sou um tremendo covarde. 

Não, não acho que há algo a ser dito para me fazer sentir melhor. Não há muita coisa a se fazer para mudar isso. 

Talvez eu tenha sonhado alto demais. Talvez eu não tenha trabalhado duro o suficiente. Talvez eu esteja realmente quebrado em mais jeitos do que eu tinha imaginado. 

Porque se tem uma certeza que me parece muito clara, agora, é que eu nunca vou chegar a lugar nenhum. 

É isso, não é? Esse que é, sempre foi, meu maior medo, meu maior problema. Todo mundo sabe aonde vai. Todo mundo consegue chegar a algum lugar, parece. Todo mundo conseguiu uma faculdade, ou está em um trabalho legal, ou lembra da porra da fórmula na hora de prova. 

Eu? Eu tive que parar de estudar, porque estava me sentindo fracassado demais e não consegui focar em nada. Tenho sido um péssimo amigo. Sinto que vou falhar em tudo antes mesmo de começar a tentar. Sou complicado demais para qualquer um, até para mim, não consigo fazer nada, minhas notas são uma merda, eu não consigo fazer nada que preste. 

E agora estou até sendo repetitivo. 

Confesso que a vida já perdeu um pouco do sentido. Não que ela jamais tivesse algum, não acredito nessas "missões de vida", ou "destino", ou qualquer merda dessa tipo, mas pelo menos eu achava que teria alguma coisa, em um futuro próximo ou distante, pelo qual valeria a pena continuar aqui. 

Alguma coisa que me desse algum tipo de sentido. 

Mas acho que essa foi mais uma daquelas ilusões que a gente cria para fazer de venda, né? Mais uma daquelas coisas que a gente repete feito um mantra, para ver se acredita, tentar fazer a vida mais confortável. 

Bom, não funcionou. 

Meu nome é Yurie. Tenho 18 anos. 

E sou uma decepção. 

...

... nem se vale a pena continuar.


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