Quando Marina e Miguel chegaram na ponte, ele lembrou imediatamente do lugar e perguntou:
-Porque você me trouxe aqui?
-Você conhece esse lugar?
Ele preferiu não responder.
Marina continuou:
-A verdade é que aconteceu algo comigo aqui há algum tempo e eu preciso falar com alguém...
-Porque você não falou para seus amigos?- falou Miguel referindo-se às fotos do mural.
Os olhos de Marina lacrimejaram e ela disse:
-Eu não tenho nenhum amigo de confiança e acho que eles não iam acreditar em mim...
Miguel tocou o rosto de sua amiga delicadamente e perguntou:
-E você confia em mim?
Marina olhou no fundo dos olhos castanhos claros do garoto e como se estivesse hipnotizada com a sua beleza disse:
-Não sei o porque mas, você me passa segurança. Quando te olho...
Miguel aproximou seu rosto e sentiu que ia beijá-la, mesmo nunca tendo feito isso, mesmo não sabendo o porquê, mas Marina o encantava...

Os dois perceberam o que estavam prestes a fazer e se afastaram repentinamente vermelhos de vergonha.
-Então, o que você ia me falar mesmo?- Perguntou Miguel tentando disfarçar.
-Ah! É verdade -falou Marina- Mas você não pode contar para ninguém!
-Tudo bem!
-E nem rir de mim.
-Eu não vou rir - Disse Miguel já rindo.

Marina olhou para o vazio do mar e começou a falar:
-Sabe, há algum tempo o meu melhor amigo, Lucas, morreu. Eu fiquei muito mal e vim até essa ponte decidida a me jogar, e assim o fiz.
Miguel apenas ouvia calado enquanto aquela cena voltava a sua mente.

Marina continuou:
-Talvez isso pareça loucura mas... Eu não caí. Eu fui salva por um anjo. O "LUCAS" voltou pra me salvar.

Os olhos de Miguel se arregalaram o máximo possível:
-LUCAS???
-Sim. Quem mais viria do além pra me salvar? Logo eu, uma simples mortal.

Miguel baixou a cabeça e disse num tom de decepção:
-Talvez você não reconheça seu valor.
-O que você quer dizer com isso?
-Nada não. Esquece!
-Você acredita em mim Miguel?

-Acredito. Mas não penso que tenha sido seu amigo.
-Não estou te entendendo. Mas... Agora me fala, O que você sabe sobre anjos? Eles devem ser muito felizes não é mesmo?

Nem tanto! -Falou Miguel, parecendo ser outra pessoa.
-Porque não?
-Pensa comigo; Você vive para sempre, mas na verdade você não vive para você mesmo, e sim para os outros (humanos) porque você parar de ajudá-los muita coisa ruim pode acontecer. Sabe... Os seres humanos não sabem que ainda estão no paraíso.

Marina ficou perplexa com aquelas sabias palavras vindo de um garoto de 16 anos:
-Nossa, você fala como se conhecesse algum anjo.
-Talvez eu conheça, ironizou o garoto.

-Você já viu algum anjo?
-Marina eu também tenho uma coisa pra te contar, a verdade é que eu sou...
Uma forte dor de cabeça tomou conta de Miguel, seus olhos ficaram amarelos (essa era a cor original de seus olhos). Ele caiu no chão, pondo as mãos na cabeça e gemendo.

-Miguel você está bem??? -Gritou Marina aflita-.
-Es... Es... Acho que estou! Foi só uma dor em minha cabeça, respondeu ele contando com as mãos de Marina para se por de pé.

-Vamos pra casa.
-Para sua???
-É afinal você não tem casa, não é mesmo? -falou ela usando um tom sarcástico para das ênfase a mentira de seu amigo.

No momento do que os olhos de Miguel mudaram de cor Marina não percebeu, por isso não desconfiou de nada.

Quando estavam no ônibus, voltando para casa, Miguel estava encostado no ombro de Marina, um gesto muito carinhoso. Parecia estranho, mas a garota não reclamava da aproximação do garoto, até porque ela também sentia uma coisa especial por ele.

O anjo percebeu que dentro do ônibus havia um rapaz, alto, pele branca como a neve, cabelos escuros, olhos azuis que não parava de olhar pra ele. O rapaz vestia uma roupa preta e tinha uma aparência estranha apesar de ser extremamente bonito. Miguel não conseguia encará-lo pois quando fazia isso, sentia uma leve dor de cabeça. Ele tentou evitá-lo mas todas as vezes que direcionava seu olhar em direção para ele, lá estava, encarando-o friamente. Mas algo totalmente estranho aconteceu:
Depois de alguns minutos sem olhar para o estranho, quando o buscou novamente não o encontrou em nenhuma parte do ônibus. Ele não havia descido pois o ônibus não tinha parado em nenhum momento, ele simplesmente havia desaparecido.

-Você viu aquele rapaz de preto? -Perguntou Miguel a Marina.
-Que rapaz? Não me lembro de nenhum rapaz de preto nesse ônibus.
-Deixa pra lá. -Falou Miguel voltando a se encostar no ombro da jovem.

"Eu conheço ele de algum lugar", pensou Miguel.