Miguel escolheu uma sexta-feira para vir a Terra. Moisés o ajudou a escolher o corpo que o anjo assumiria entre os humanos: Ele se transformaria em um garoto de 16 anos, bonito, cabelos lisos e castanhos que desciam até o queixo, olhos verdes, pele natural. Moisés disse que seria mais fácil se aproximar da jovem se ele fosse mais novo. Miguel não sabia, mas Moisés tinha certeza: o que seu amigo sentia era amor. Não seria a primeira vez que um anjo se apaixonaria por um humano(a). Ele não quis comentar com o amigo para não confundir sua mente. Moisés queria que Miguel descobrisse sozinho a beleza que é se apaixonar, mesmo isso sendo errado entre os anjos, mesmo ele correndo o risco de perder seus dons divinos. Ele queria deixar o amigo viver aquilo. A verdade é que ele também já amara um humano antes, mas não teve coragem de abandonar a vida eterna pelo amor.

Eram exatamente onze da noite quando Miguel desceu do céu. Estava vestido com roupas normais e carregava uma mochila com coisas misteriosas dentro. Entre elas, um apito de ouro que serviria de comunicação entre ele e o mundo dos anjos.
Ele começou a caminhar, como um barco a deriva, não sabia para onde ir. Foi quando teve a ideia: Voltaria ao lugar onde havia conhecido a moça e salvado sua vida, de lá seguiria sua energia até encontrá-la. Era uma noite escura e sombria, a neblina espessa impedia a visualização do que estava longe e fazia muito frio. Todas aquelas sensações eram novas para Miguel, como era a primeira vez que sentia tudo aquilo, não sabia distinguir se era bom ou ruim. Depois de caminhar por uns dez minutos, percebeu pela brisa do mar, que já estava próximo de seu destino. As ruas estavam vazias, ou melhor, quase vazias... Um grupo de gangsters avistou aquele 'projeto de gente' caminhando sozinho. Aproximaram-se, um cara forte que parecia ser o líder da turma perguntou:
-Ei garoto! O que você tá fazendo sozinho, essa hora, no meio da rua?
Miguel não respondeu, logo percebeu que estava cercado.
-O que tem na mochila?- falou um deles tentando tomá-la dos braços do garoto.
Ele se recusou a entregá-la e disse:
-Vocês são Dark Angels??
O líder do grupo deu um soco no abdômen de Miguel que largou a mochila e caiu no chão sentindo uma dor horrível.
Os gangsters pegaram a mochila e saíram correndo, o último a se afastar ainda deu um chute nas costas do garoto que começou a chorar, gemendo de dor (lembrem-se que é a primeira vez que ele sentiu dor em toda sua existência).
***

Marina ficou quase uma hora observando o mar daquela ponte, pensativa, ela relembrava Lucas. Nem havia se tocado que já era quase meia noite. Foi então que apressou-se a ir embora, seus pais achavam que ela estava dormindo, mas ela precisava pegar um ônibus para chegar em casa, e certamente, haviam poucos circulando naquele horário.
A garota caminhou uns 200 metros, ela então avistou de longe um vulto caído no chão, a primeira impressão que teve é que deveria ser um mendigo mas quando se aproximou ouviu o choro do garoto.
Ela tratou de fazê-lo sentar-se, ele estava frio, Marina tirou seu cachecol e pôs nele.
-Garoto o que aconteceu?- perguntou ela.
Ele não respondeu, parecia estar inconsciente apesar de ter os olhos abertos. Marina o levantou com dificuldades.
-Sua casa fica longe daqui?
-Muito, respondeu ele tremendo de frio.
Ela então o abraçou docemente, caminhou junto com ele até o ponto de ônibus mais próximo. Esperou uns 7 minutos, sentada ao lado do garoto, que não dava sinal de estar se sentindo melhor. O ônibus veio, os dois subiram, o garoto amparado por ela. O ônibus estava praticamente vazio de passageiros e o motorista não perguntou nada. 8 minutos depois, Marina estava entrando em casa, acompanhada de um desconhecido que achara na rua. O garoto era magro, o que facilitou que ela o ajudasse. Silenciosamente Marina o levou para seu quarto. Ele simplesmente desabou sobre a cama confortável e espaçosa da Garota e em menos de 3 minutos caiu em sono profundo.

Ela se cansou, apesar do tamanho pequeno dele, foi muito difícil conduzí-lo em todo trajeto. Ela foi ao banheiro trocar de roupa, quando voltou -já de pijama- observou o garoto que dormia como um anjinho. Marina sorriu. Pegou um cobertor e jogou sobre ele, ajeitou o travesseiro e deitou-se em um colchão que tinha preparado ao lado da cama. Também caiu em sono profundo.