A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 146
146. A noite




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A noite

— Você está confortável?

Regulus olhou para Rachel. Ela estava deitada com a cabeça sobre suas pernas, o corpo sobre a grama cada dia mais verde. O sol começava a arder, então aquele pequeno refúgio sob a sombra daquela pequena árvore próxima à beira do Lago Negro era tudo que podiam desejar. Ventava levemente, de modo que os dois podiam conversar sem medo de que suas palavras fossem inadvertidamente compartilhadas pelo vento com outros ouvidos.

— Sim, eu estou. E você? – ela respondeu sorrindo suavemente.

— Estou muito confortável – mentiu, sorrindo de volta. O tronco da árvore que usava para apoiar as costas era particularmente cheio de ranhuras que lhe cutucavam as costas.– Você demorou para vir...

— McGonagall. Ela me encontrou depois do almoço no corredor do terceiro andar e resolveu ter uma conversa “daquelas”. Sabe, daquelas que começam com “moças de família...” e terminam com “eu esperava mais de você”. Chatice. – Rachel sacudiu os ombros, fazendo pouco caso da conversa com McGonagall.

— Bem, a professora pode estar certa... Talvez a gente tenha mesmo se excedido durante a aula dela.

— Mas aquilo era só teatro para podermos conversar sobre o seu encontro! – exclamou ela, exasperada.

— Os pelos de seu braço também ficaram em pé só para disfarçar, né? – respondeu ele, maliocioso, acariciando a orelha dela com a ponta dos dedos, fazendo os pelos do braço dela se arrepiarem.

Rachel afastou a mão dele de sua orelha.

— Seu bobo! – e caiu na gargalhada.

Regulus abaixou sua cabeça e a beijou levemente os lábios.

— Posso começar? – perguntou, roçando os lábios nos lábios dela em cada palavra.

— Pode.

Rachel beijou-o novamente e sorriu para ele. O olhar cheio de expectativas.

Regulus olhou ao redor. Haviam outros alunos aproveitando a brisa úmida que vinha do lago e calor do sol. Mas ninguém estava perto o bastante para que os ouvissem, ou parecia interessado em ouvir juras de amor dos namorados. Regulus tornou a olhar nos olhos de Rachel e, sem parar de acariciar-lhe o contorno do irretocável rosto, falou:

— Depois que o grandalhão entrou nós fomos convidados a entrar também, não demorou muito. Conforme íamos entrando na casa, os cômodos ficavam cada vez mais escuros, dava a impressão de entrar numa caverna, embora eu sabia que estávamos numa casa. Seguimos por um corredor comprido, realmente comprido para uma casa. Só paramos de andar quando pouca coisa podia ser vista: algumas cadeiras de espaldar alto em torno de uma mesa grande. Obviamente estávamos numa sala de jantar. Estava cheia de gente lá. A maioria mascarada. As máscaras metálicas faiscavam multicoloridas. Achei aquilo estranho, até que percebi que o brilho vinha de uma varinha colocada em pé sobre a mesa e iluminava o lustre cheio de cristais que pendia do teto. Havia dois homens parados em pé em cada canto da sala, como sentinelas. O Lord das Trevas estava sentado ao centro da mesa, bem em frente da porta pela qual entramos. Todos, exceto ele, usavam aquelas máscaras. Alguns eram reconhecíveis pelo andar ou pela voz. Assim que todos entramos, o Lord nos saudou bastante educadamente e indicou algumas cadeiras encostadas na parede. Sentamos lá.

— Até agora não vi nada de excepcional...

— É, até agora, nada aconteceu mesmo. Talvez a noite toda pareça um tédio para você. Quer que pare de contar? – ameaçou o garoto, erguendo uma sombrancelha. Ele duvidava que ela estivesse mesmo se desinteressando pela história.

— Claro que não! Vá em frente. – respondeu Rachel, jogando-lhe um beijo. Regulus acenou com a cabeça e sorriu maliciosamente. Ele gostava de ver o quanto ele a tinha sob controle em algumas situações.

— No começo foi bastante chato mesmo. Ele acenou a varinha e imediatamente sua mesa se curvou em um arco em que ele era o centro. Com outro movimento de varinha, afastou as cadeiras do outro lado da mesa de modo que se formassem duas fileiras de cadeiras, onde se sentaram os comensais mais velhos.

— Como você sabia que eram mais velhos se estavam mascarados e usavam capuzes?

— Eu não disse que usavam capuzes... – Regulus fez uma breve pausa para aumentar o suspense e  depois continuou seu relato. – Mas eles usavam, sim. Só achei que eram mais velhos por conta do modo como agiam, não sei explicar. Era mais formal que os outros. Se você estivesse lá também notaria. Então ele pediu para que os que já estavam há mais tempo passando pelo treino da Bella fizessem demonstrações de habilidades em feitiços, pontaria e outras coisas. Eu tive que ficar só olhando, mas tive certeza que se pudesse participar não teria feito feio.

— Eu sei que não - ela sorriu.

— Por fim ele elogiou a todos pelo esforço, depois Bella mandou que eu me aproximasse dele, então pude ver melhor como ele é. O olhar dele parou frio no meu olhar, embora suas palavras fossem positivas, pois ele elogiou meu trabalho como mensageiro. Fiquei muito contente. Então ele bateu as mãos e se levantou. Todos os mascarados fizeram o mesmo. Aí ele disse que iriam iniciar a cerimônia de iniciação e convidou que todos nós o seguíssemos. Nós fomos, é claro. Ele tomou um outro corredor que levava para os fundos da casa, e abriu a porta ao final. Parecia que era dia, de tão iluminado por velas flutuantes que estava o quintal da casa. Nos foi ordenado que sentássemos em cadeiras semelhantes às que estávamos no interior da casa. Me sentei entre Ami e Mulciber, não porque escolhi, mas por ser o lugar que havia sobrado para mim. Foi aí que notei que a casa ficava no topo de uma colina e devia ser um tanto afastada de qualquer cidade, pois do lado de fora dos limites do terreno era só escuridão. Havia um caldeirão imenso a um canto. O fogo aceso fazia borbulhar a poção. Não sei o que tinha dentro, pois só vimos o preparo final da poção. Ventava um pouco, mas as velas não se mexiam. Havia um forte cheiro de canela no ar. Acho que vinha do caldeirão, mas parecia, na verdade, que estava em todo lugar. Eu estava bem próximo do caldeirão. Voldemort aproximou-se dele... – Regulus lembrou que quando viu Voldemort vindo em sua direção um misto de medo e excitamento tomou conta dele. Ele havia achado que o mestre iria falar com ele, mas no íltimo minuto ele percebeu que não era ele, e sim o caldeirão, que interessava a Voldemort. Obviamente ele omitiu esse detalhe de seu relato. Rachel não precisava saber.

— E então, Reg, o que aconteceu? – ela perguntou, curiosa. Era a primeira vez que o chamava pelo apelido que todos usavam.

Sua pergunta lhe resgatou de suas lembranças e ele sorriu, deliciando-se em ver o quanto Rachel estava interessada.

— Bem, então ele falou algumas palavras que não vou lembrar, depois mexeu o caldeirão, falou outras coisas em língua de cobra, eu acho. Depois jogou um crânio humano lá dentro. Uma fumaça muito negra subiu e parece que era isso que ele queria, porque parecia estar satisfeito – embora não tenha falado nada e não tenho certeza se o tremor na boca dele era um sorriso ou não. Então ele virou-se e deixou o caldeirão fervendo. Ele ordenou que um grupo que havia ficado na casa entrasse. Eu não havia entendido porque “entrar”, pois eles é que estavam dentro da casa e nós do lado de fora, então vi que havia um imenso pentagrama no chão. O Lord das Trevas caminhou lentamente para o centro do pentagrama e aguardou que as pessoas que saíram da casa ocupassem cada um uma ponta da estrela. Estavam todos encapuzados e de cabeça baixa. Então ele acenou a varinha e suas capas caíram no chão. Estavam todos nus, três homens e duas mulheres. Ele fez perguntas diversas a eles, cujas respostas sempre terminavam com uma reverência ou um agradecimento a ele. Então as pessoas andaram sobre as linhas do pentagrama e assim que fizeram uma volta completa, ele apontou a varinha para o céu e fez chover sobre suas cabeças. Apenas os cinco ficaram molhados...

— Interessante...

— O quê?

— Obviamente ele estava fazendo um ritual com os elementos mais essenciais da natureza, para aumentar a conexão entre ele e os iniciados... Ele estava descalço, suponho?

— Ah, sim. Estava descalço. – Regulus arregalou os olhos, impressionado.

— E não havia grama no chão, ou calçamento, não é? Ele pisava na terra, certo?

— Sim.

— E estava no centro do pentagrama, certo?

— Sim.

— Bem, a canela potencializa o efeito do elemento fogo. O Fogo é o elemento da mudança, vontade e paixão. Eles tinham que declarar sua vontade de se conectar ao seu mestre, ao mesmo tempo que mostrar-se rendidos e submissos em relação a ele. Ficar nu é a forma mais simples de se apresentar vulnerável a outra pessoa ou à sua magia – ela fez uma breve pausa, olhando para ele, pensativa – A terra que pisam descalços no pentagrama os une ao seu mestre durante o ritual. A água que ele fez chover sobre eles é para aumentar sua receptividade em relação ao mestre. É ela que garante que eles não vão poder negar a um chamado dele, no futuro. Mas continue, tá muito interessante...

— Bem, então ele ordenou que todos virassem para uma certa direção. Eu olhei para o céu, era o norte.

— Você sabe porque viraram para o norte?

— Não. Não faço a mínima ideia, mas tenho certeza que você vai me contar.

Rachel sorriu satisfeita. Ela estava adorando poder mostrar seu conhecimento a Regulus.

— O norte é de onde vem a maior das trevas. Para concentrar a magia... Continue.

Regulus tomou fôlego e continuou:

— Ele então falou coisas em uma língua que não consegui entender. Mas deu para sentir como se uma onda passasse por todos nós. Não era vento, nem nada, só uma sensação fria que pesava enquanto transpassava nossos corpos. Passados alguns instantes de silêncio, tudo pareceu mais claro e era como se meus olhos estivessem muito mais acostumados à escuridão que antes. Olhei para o lado. Os olhos de Mulciber brilhavam como se saísse luz deles. O mesmo acontecia com os outros. Então ele nos ordenou que virássemos para leste e, o mais incrível, é que ele falou sem abrir a boca. Suas palavras simplesmente soaram em nossas cabeças. Todos viraram ao mesmo tempo e então um vento passou sobre nós, como que apagando nossos olhos. Após uma cegueira momentânea, eu pude ver que aquele vento havia apagado nossos olhos e não havia mais nada especial além do brilho ordinário a que já estamos acostumados. Não entendi muito bem – ele completou, já esperando que ela lhe explicasse o que havia acontecido.

— Bem, magicamente falando, o ar tem a ver com a visão, que é uma poderosa ferramenta de mudança. Ele é quem indica a direção dessa mudança, do movimento, faz com que nosso impulso siga na direção que o vento mandar. Aposto que o Lord das Trevas estava na direção do vento, não?

— Sim. É isso. Vem, depois voltamos às posições iniciais. Os cinco no pentagrama e nós para as nossas cadeiras. Então ele acenou a varinha e as linhas do pentagrama pegaram fogo e cada ponta soltava uma fumaça de cor diferente. Ele fez um a um passarem pela fumaça e depois se dirigirem a ele. Quando todos estavam no centro com ele, ele ergueu as mãos e elas sugaram o fogo para si, reduzindo o fogaréu todo a uma simples chama que ele segurava na palma da mão.

— Tá vendo? Ele usou o fogo. De alguma forma, o fogo contém dentro dele todos os tipos de magia. A pessoa que maneja o fogo tem que ser muito poderosa, pois o fogo não é um elemento para os fracos.

— Posso continuar? – perguntou ele, um pouco irritado com a interrupção, por sentir uma pontada de ciúme ao ver a namorada tão fascinada com o poder de Voldemort. Ela assentiu e ele continuou. – Então todos estenderam os braços para ele. Acho que ou eles já sabiam o que deveriam fazer ou as palavras dele ecoavam só na cabeça daqueles poucos...

— Provavelmente.

Regulus franziu a testa.

— Ele conjurou uma adaga de cristal e furou o antebraço esquerdo deles, sujando a adaga com o sangue deles. Depois os outros Comensais da Morte se aproximaram em fila e ele repetiu o gesto, pegando uma gota do sangue de cada um. Aí caminhou até o caldeirão e jogou a adaga dentro. Depois fechou a mão sobre o caldeirão e apertou tão forte que uma gota de sangue escorreu lá. Aí ele conjurou uma cobra e a colocou dentro do caldeirão borbulhante. Houve uma explosão e o crânio saltou lá de dentro, pairou no ar e abriu a mandíbula. Um grito horrendo saiu daquela caveira, que brilhou intensamente na cor verde, enquanto o grito se tornou a cobra e aquela imagem subiu aos céus.

Regulus parou seu relato por alguns instantes e ficou olhando para o céu, como que se lembrando da gigantesca marca negra que Voldemort havia produzido.

— E então, Reg? O que aconteceu?

Regulus voltou à realidade.

— Bem, ele mergulhou cinco penas branca no caldeirão, elas ficaram negras e ele as segurou com as duas mãos e as apontou para o céu. A marca negra que lá estava brilhou intensamente. Então ele pegou sua varinha e a acenou novamente. Foi como se um chicote derrubasse os cinco no chão. Ele fez perguntas a eles novamente, confirmando sua submissão. Então ordenou que esticassem os braços esquerdos e ele cravou a pena em cada um deles, que se dissolveu em uma enorme mancha negra sob a pele. Aos poucos a mancha foi tomando forma até que houvesse uma marca negra idêntica a que vemos no céu. – Regulus aguardou que ela fizesse algum comentário, mas ela permaneceu calada. Então ele continuou - Ele caminhou em círculo em torno do pentagrama e então apontou a varinha para o rosto de cada um. Foi só então que notei que Rockwood estava entre eles. Os outros eu não conhecia. Um jorro de metal líquido saiu da varinha do mestre, moldando-se ao rosto deles. Deve ter doído, pois eles gritaram e gemeram. Ele ordenou que se levantassem e capas com capuz preto caíram do céu sobre eles, cobrindo seus corpos nus. Então todos os mascarados se aproximaram e uniram os pulsos em direção ao mestre. A marca em seus braços brilhou e moveu-se. Depois eles se ajoelharam no chão em sinal de submissão e ficaram assim por alguns instantes.

— E?

— E aí tudo havia acabado e fomos trazidos de volta.

— Agora entendi por que não são todos que recebem a marca negra... – ela disse, pensativa.

— Eu também.

Após o relato fez-se um vazio. Regulus olhou para o Lago Negro com ar pensativo, mas não havia nada em sua mente, apenas uma mistura de sensações e sentimentos.


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