A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 140
140. Alice MacMillan ou meninos não choram




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Alice MacMillan ou meninos não choram

Duas semanas se passaram desde que Regulus e Alice haviam brigado. Ele sentia um enorme vazio no peito, mas não ousava nem olhar para ela diretamente. Só durante as aulas de Herbologia é que eram obrigados a permanecer no mesmo recinto. E durante essas aulas ele fingia estar em ótimo humor, exagerava gargalhadas e elogios para as outras garotas. Nos outros momentos ele evitava comer no mesmo horário que ela e sempre que podia mudava de caminho para não cruzar com ela no corredor.

Alice, que a princípio estava se sentindo arrependida de ter sido grosseira com Regulus, na maior parte do tempo tinha certeza que ele era um completo imbecil e sentia desprezo por si mesma por ter sido tão ingênua a ponto de acreditar em suas mentiras.

Mas este sentimento, assim como o dele, era inconstante. Às vezes ela o avistava sozinho, com um olhar perdido no horizonte, parecendo realmente triste, o que a deixava confusa. Então ela culpava “as más companhias” pelo comportamento ridículo de Regulus, não conseguia acreditar que de uma hora para outra ele havia se tornado grosseiro e preconceituoso. Ela acreditava que se tivesse a oportunidade de voltarem a conversar, ele se arrependeria de tudo o que havia dito e lhe pediria desculpas, voltando a ser o garoto por quem era apaixonada.

Sentia muita falta de Regulus e não raramente começava a chorar aparentemente sem motivo. O que foi rapidamente notado por Frank, o galante chefe dos monitores, que há tempos estava de olho em Alice e costumava aproveitar as ocasiões para lhe oferecer um “ombro amigo” em que ela pudesse derramar suas lágrimas.

À noitinha, Regulus foi até a biblioteca e estava a procura de um livro para terminar sua lição de Feitiços, quando a voz doce e trêmula de Alice chegou ao seus ouvidos. Regulus puxou um livro cuidadosamente para não fazer barulho e através do pequeno espaço deixado pelo livro viu uma cena que preferia não ter visto. Sentados lado a lado, as cabeças quase se tocando e debruçados sobre um livro grosso, estavam Alice e Frank Longbottom conversavam aos sussurros. A bibliotecária aproximou-se do casal e ele fingiu ensinar a ela um complexo feitiço, acenando com a varinha no ar, espalhando faíscas cor de laranja.

— Não é permitido praticar feitiços na biblioteca senhor Longbottom. Como monitor-chefe, o senhor deveria saber...

— Me desculpe, madame. Não vai voltar a acontecer. – ele disse, guardando a varinha.

A bibliotecária sorriu e Regulus olhou feio para ela e a questionou em seus pensamentos: “como assim? A senhora não vai expulsá-lo da biblioteca?”

Tão logo a bibliotecária se afastou, Alice tornou a falar:

— Eu não entendo, Frank. Ele era tão especial, conseguíamos conversar sobre tudo, assim como nós dois conversamos. – Regulus sorriu para si mesmo, embora saber que ela o estava trocando sua amizade pela de Frank o irritava. Ela continuou a falar. – Ele nunca falava essas coisas para mim, mas de uma hora para outra ele começou a arrotar o seu preconceito idiota, como se o mundo fosse dividido entre pessoas de sangue-puro e os outros! Eu não aguento isso! De uma hora para outra as pessoas perderam o valor para ele...

Alice não viu, mas Regulus arregalou os olhos, ultrajado.

— Alice, pelo pouco que Sirius fala do irmão, ele sempre foi assim. A família dele é inteira assim, foi por isso que Sirius saiu de casa...

 

Grrrrrrrrr. Frank! Frank! Por que ele não a deixava em paz? E desde quando a opinião de Sirius valia alguma coisa? Instintivamente, Regulus agarrou sua varinha, seu corpo tenso doía na vontade de lançar uma azaração sobre o rival.

— Você viu o que ele fez ontem quando o professor Flitwick nos colocou frente a frente para duelar? Ele olhou para mim com nojo e disse que não ia lutar contra uma menina, o covarde! Como se as meninas não fossem tão boas ou ainda melhor que os garotos. Muito arrogante!

— Ele é um idiota, você deveria esquecer isso. Nem todos os garotos são assim.

— Mas dói muito, sabia? Ele era diferente, ele sempre me encorajava, nós estudávamos juntos... Eu não sei o que está acontecendo, acho que é tudo culpa daqueles bobalhões metidos a Comensal que ele tem como amigos. Eu queria falar com ele, mostrar que ele está errado...

— Não vale o sacrifício... Ele não vai mudar, não vai te ouvir, você sabe disso.

— Sei. E eu não vou mudar. Nunca me associaria a alguém que dá mais valor para a herança sanguínea do que ao caráter das pessoas. Não vou voltar atrás, mesmo que isso custe minha felicidade. – Alice começou a chorar em soluços.

— Isso vai passar, querida. Nós não podemos depositar em outras pessoas a nossa felicidade, ela tem que vir de nós mesmos. Eu vou ajudar você a reencontrar toda a força que existe em você. Conte comigo sempre. Agora acho melhor a gente sair daqui e respirar um pouco lá fora, tomar um ar... Vamos?

Alice concordou com a cabeça e Frank a conduziu para fora da biblioteca, confortando-a, com o braço cuidadosamente colocado sobre os ombros dela. Ao passarem por Regulus, ele se enconlheu nas sombras para não ser notado e abaixou a cabeça, acompanhando pelo canto do olho a movimentação do casal. Para sua grande decepção, ele conseguira passar desapercebido. Aguardou alguns minutos e também deixou a biblioteca e foi para a sala comunal da Sonserina, sentindo-se muito amargurado.

Regulus lamentou que em seu caminho não houvesse nada ou ninguém que ele pudesse amaldiçoar ou azarar, que não havia sequer uma pedra para poder chutar para longe. Tudo naquele momento o incomodava, até mesmo o frescor da noite estrelada.

Ele entrou na sala comunal e olhou para os lados. A sala, como sempre, estava abarrotada de alunos, em sua maioria estudando, com exceção de Mulciber e Crouch, que se debruçavam sobre o Profeta Diário.

 - Não entendo como uma família que desde a origem se mantém puro-sangue se atreve a fazer uma campanha como esta – disse Crouch, apontando para a foto da capa do jornal. Regulus espiou a foto e engoliu em seco. Lá estava ela, Alice e sua família. Seu pai, Arnold estava em cima de um tablado, onde discursava. Ao fundo uma faixa com os dizeres “Não importam suas habilidades, a raça humana é uma só! Junte-se a nós!”

— Posso ver, Bartô? – perguntou, querendo checar de perto aquilo que seus olhos teimavam em não acreditar.

Barto lhe estendeu o jornal. Ele olhou a foto e passou rapidamente os olhos pelas notícias:

— Você viu quem está na capa, Black? Sua Alice. – havia um tom provocativo e zombeteiro na voz de Crouch.

— Quem disse que ela é puro-sangue? – perguntou Regulus ao invés das palavras que estavam na ponta de sua língua: “Agora que namorar ela é vergonhoso, ela é minha Alice... mas todo mundo sabe que quem estava apaixonado por ela uns meses atrás era você...

— O jornal. Mas só poderia ser, é da família MacMillan.

— MacMillan? Como minha vó Melania?

— É, deve ser... – respondeu Crouch, desinteressado.

Regulus devolveu o jornal sem dizer mais nenhuma palavra. Como assim, puro-sangue? Ele jurava que tinha ouvido ela falar algo como “nasci trouxa e tenho orgulho da bruxa que me tornei”, ou algo assim... Então ela não falava de si mesmo? Como ele fora tolo em tirar conclusões apressadas. Mas agora de nada adiantava saber disso, não adiantava pedir desculpas nem de joelhos. Cristal quebrado só se concerta com magia, já lhe falava sua avó. Ele olhou para Mulciber. Já fazia meses que o amigo mantinha Mary sob a maldição Imperio e ambos pareciam estar bastante felizes com isso. Regulus tateou suas vestes para sentir sua varinha e então a soltou, junto com um longo suspiro. Ele não iria enfeitiçar Alice. Estranhamente, Crouch ainda olhava para ele de um modo incômodo.

— Acho que esqueci algo na biblioteca. Já volto. – disse ele, saindo apressado na sala comunal.

O ar do corredor parecia bem mais respirável, subiu as escadarias correndo e parou no meio do saguão em frente ao salão principal, olhando, por alguns instantes,  o caminho que levava para o andar abaixo, a cozinha e a sala comunal da Lufa-lufa. Então subiu as escadarias apressado e entrou na biblioteca onde escreveu uma carta que nunca foi entregue à Alice:

“Eu diria que estou arrependido se eu achasse que isso fosse mudar sua cabeça. Mas eu sei que eu falei demais e fui muito indelicado. Eu tentei rir e fazer piadas do assunto, inventar algumas mentiras que justificassem o que eu havia feito, mas sobretudo rir disso tudo para esconder as lágrimas dos meus olhos – porque meninos não choram. Eu diria que te amo se tivesse certeza que você voltaria atrás, mas eu sei que isso não adianta e que você já está em outra. Tudo, tudo o que eu queria era ter você de volta, mas eu continuo fazendo piadas e rindo alto, fazendo de conta que não me importo mais com você, tudo para esconder de você o quanto eu sofro, o quanto eu choro. Você sabe, meninos não choram.”

Ele leu a carta, as lágrimas enchendo seus olhos. Aquilo realmente não levaria a nada, ela mesma já tinha dito que não voltaria atrás, mesmo que isso lhe custasse a felicidade. Ela não era mestiça ou nascida-trouxa, mas em sua mente circulavam pensamentos tão sujos quanto a lama que corriam nas veias dos seres não mágicos. Realmente não valia a pena rastejar por ela, não mais. Amassou o pergaminho com raiva e jogou em direção ao lixo. Virando as costas e deixando a biblioteca em seguida. Ele não percebeu, mas havia errado o alvo e sim acertado um garoto sextanista da Corvinal chamado Robert Smith na cabeça, que estudava em uma mesa mal iluminada. Robert tateou a cabeça e pegou o papel amassado que atingira seus os longos e desgrenhados cabelos negros, olhou para trás  e já estava indo atrás de Regulus para tomar satisfações quando resolveu abrir o pergaminho. Após ler a carta, ele a enfiou no bolso e mudou de ideia, saiu assobiando pelo corredor uma melodia divertida.

 


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Notas finais do capítulo

Nota da autora: capítulo dedicado a Robert James Smith, vocalista do The Cure, uma banda de Inglesa que eu tenho escutado desde que eu era uma adolescente. Ele é o verdadeiro autor da letra "Boys don't cry" que eu adaptei para ser a carta de Regulus.

Eu também gostaria de dedicar este capítulo para todas as vítimas do terror que temos vivido, para todos eles que perderam suas vidas, que perderam seus entes queridos, sua casa e sua paz. Como o Sr. MacMillan teria dito ao Profeta Diário: "Não importa o que você pensa, a raça humana não pode ser dividida ou classificada! Todos nós temos os mesmos direitos! Viva e Deixe Viver! Não importa quem você seja; não importa qual é a sua religião, a sua cor da pele, seu gênero, sua nacionalidade, quanto dinheiro que você tem: somos seres humanos e temos os mesmos direitos e deveres (para com outras pessoas, o planeta e todos os seres vivos no universo) ."



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