A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 120
120. As cartas




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As cartas

Antes mesmo de sair da lareira para a cozinha deserta, Regulus já sabia que Sirius não havia voltado, pois sua mãe gritava insultos para as paredes como se elas fossem responsáveis pela insensibilidade do irmão, que obviamente não mandara notícias. Haviam se passado cinco longos dias e não fosse pelo trabalho no Ministério, Regulus tinha certeza de que teria enlouquecido.

Ele limpou a fuligem de sua capa e estava deixando a cozinha quando duas corujas entraram batendo as asas ruidosamente pela janela estreita. A coruja marrom trouxe uma carta de Severus, que ele abriu rapidamente. Era muito bom ter notícias do amigo. Severus contava que sua vida estava entediante como sempre e gostaria de saber se ele não gostaria de ir à sua casa para treinarem “aquela habilidade”, que Regulus sabia muito bem que se tratava de Legilimência e Oclumência. Sem tirar os olhos da carta, procurou no bolso de sua capa, ao lado da varinha tinha uma pena. Regulus deitou o papel sobre a mesa com pressa:

— Amanhã à noite. Para mim parece ótimo. – Ele disse para si mesmo, enquanto escrevia a resposta na mesma carta. Devolveu a carta para a coruja marrom, que imediatamente voou para fora da cozinha.

Raios de sol entravam pela janela ofuscantes, anunciando que o sol parecia relutar a se pôr naquele dia. O verão com seus intermináveis dias o aborrecia. Ele piscou várias vezes para espantar o lusco-fusco e então olhou para a outra coruja, de plumagem cinza-escura, que estava sobre a mesa, segurando firmemente uma carta em papel branco. Ele estranhou a cor do papel, aquilo lhe lembrava coisas de trouxas, pois papeis brancos não eram comuns entre os bruxos. Ele tentou pegar a carta, mas a coruja recuou. Após alguns instantes de hesitação, ela se aproximou e o olhou fixamente em seus olhos de um modo constrangedor. Regulus, porém, não desviou o olhar. Não se deixaria intimidar por uma coruja. Então ela pareceu mudar de ideia e lhe entregou a carta, deixando a cozinha em seguida. Estava endereçada ao seu pai e no remetente se lia “Lince”. Ele colocou o envelope no bolso e subiu as escadas, agora um pouco animado com a perspectiva de encontrar Severus e fazer algo útil em suas férias.

Os gritos de sua mãe tinham dado lugar para um choro conuvulsivo. Com muita cautela, Regulus terminou de subir as escadas e foi até a sala de estar onde seus pais conversavam. Eles estavam sentados lado a lado no sofá, Orion com o braço por cima dos ombros de Walburga, confortando-a. Quando ela notou a presença do filho, abriu os braços pedindo com seu gesto que ele ocupasse aquele espaço vazio. Regulus esboçou um sorriso, aproximou-se e ajoelhou-se aos pés de sua mãe, deixando-se abraçar.

— Estive em Godrics Hollow agora há pouco... – começou a dizer Orion quando foi interrompido pela esposa.

— Ele disse para seu pai que não vai voltar. Meu Sirius disse que nunca mais há de pisar nessa casa! Meu Sirius! – ela dizia, em meio a soluços – Ele disse que sentia vergonha de nós, que queria ser adotado pelos Potter, aqueles malditos amantes dos sangue-ruins! Como eu não pude ver que estava perdendo meu Sirius? Meu lindo menino! Meu menino! Meu menino!

— Tenha calma, Burga... Sirius é como você, teimoso, mas inteligente... Ele vai voltar atrás tão logo perceber o que está fazendo... Você também certo dia me disse que nunca se casaria comigo nem que eu fosse o último sangue puro entre os bruxos... E se casou e temos uma linda família. Ele vai voltar, Burga... – Orion beijou o rosto da mulher carinhosamente. Ela olhou para ele e depois para o filho.

— Pelo menos você ainda está aqui, filho!

— Sim, mãe. Eu estou e não vou deixá-la. Fique tranquila. Ficarei sempre com a senhora.

— Burga, venha se deitar. Você está cansada. Amanhã é um novo dia ... – disse Orion.

— Vamos, mãe. – disse Regulus, levantando-se e puxando a mãe pela mão. Ele já não aguentava mais ver a mãe chorar sem parar. Quando ela perceberia que não valia a pena chorar por Sirius?

Meia hora mais tarde Orion o procurou em seu quarto. Regulus estava sentado em sua cama, lendo Guia de Leis para o Uso Correto da Magia; o pesado livro sobre suas pernas. Orion entrou no quarto sem bater, fazendo pouco ruído.

— Finalmente sua mãe dormiu. É mais difícil para ela, sabe? As mulheres cuidam de seus filhos como se nunca fossem deixar o lar... Não que eu quisesse que fosse desta maneira, mas cedo ou tarde eu sabia que meus filhos iriam deixar esta casa para se tornarem homens, exatamente como eu fiz na casa dos meus pais – e depois acabei voltando, não? – Orion riu ao se dar conta que falava “da casa dos pais” sendo que fisicamente, aquela era a casa de seus pais, a casa de sua infância que lhe fora dada de presente de casamento.

Regulus abriu a boca, mas desistiu de comentar. Seu pai tinha essa mania de colocar panos quentes em tudo que Sirius fazia, de diminuir a gravidade dos fatos, não valia a pena discutir. Sirius não iria voltar e isso era fato, eles apenas precisavam seguir em frente. E, para seguir com seus planos a presença ou ausência de Sirius não influenciavam em nada.

— Estudando a essa hora em plenas férias, filho?

— Ah, mais ou menos. É para o trabalho, preciso fazer uma resenha para o senhor Perkins sobre o mau uso da magia em artefatos trouxas. Ele quer fazer um folheto para distribuir entre os alunos de Hogwarts para ver se nos conscientizamos sobre o mal que algumas brincadeiras causam...

Orion franziu a testa:

— E o que você pensa sobre isso?

— Tem algumas coisas bem engraçadas, pai. A cara dos trouxas quando são confrontados com a magia é impagável! Mas não passam de brincadeiras... Não é isso que eu quero para minha vida. Quero mais, quero poder viver livremente sem que minha magia assuste ninguém. E isso está mudando, logo sairemos da clandestinidade. E eu vou ajudar!

— Não tenho dúvidas disso, meu filho... – disse, sorrindo, enquanto examinava o rosto do filho. - Eu acho que você recebeu uma carta que estava endereçada a mim.... – comentou Orion.

— Ah, sim. Está aqui. Com a confusão acabei esquecendo de entregar... – disse o garoto, puxando o envelope branco de cima da mesa de cabeceira.

Orion sorriu ao ver a carta e estendeu a mão.

— Você não a abriu, não é mesmo?

— Não, claro que não pai.

— Muito bem. Eu estava esperando esta carta desde o início do mês. – Disse o homem, enquanto abria o envelope – ahn... que pena...

— O que foi, pai?

— Eles me deram permissão para levar Sirius, agora que ele tem 15 anos... mas... Sirius já fez sua escolha.

— Levar onde?

— Um grupo ao qual eu faço parte...

— Que grupo, pai?

— Não deveria contar a você antes dos quinze anos...

— Posso guardar um segredo muito melhor do que Sirius! – disse Regulus, aprumando-se na beirada da cama. Orion se aproximou e olhou fixadamente nos olhos do filho. Por um momento Regulus sentiu-se mergulhar no poço infinito das pupilas do pai e tudo ao seu redor pareceu sumir. A voz grave do pai lhe transportava para um lugar úmido e escuro, onde tudo o que se via eram vultos em capas coloridas.

— Existem algumas habilidades entre nós bruxos que precisam ser lapidadas com o tempo para que atinjam a perfeição...

— Sim... e? – ele perguntou, sem certeza de que seria ouvido.

— Praticá-las em grupos costuma fornecer os requisitos básicos e necessários para isso. Eu faço parte de um grupo milenar fundado por Merlin...

— A Ordem de Merlin? – ao dizer isso, seus olhos o trouxeram de volta ao seu quarto, e o rosto de seu pai, sua barba e capa zul-marinha se tornaram nítidas mais uma vez.

— Não, filho. Isso é uma bobagem do Ministério... Estou falando de um grupo ainda mais seleto... Chama-se Lince. Fui levado a ele por seu avô.

— E o que fazem neste grupo? Praticam feitiços avançados das trevas?

— Não.

Regulus desanimou um pouco.

— E quem faz parte do grupo?

Orion riu e balançou a cabeça para os lados.

— Não sei. Quando a identidade de um membro é descoberta, imediatamente ele é expulso do grupo. Apenas o ancião sabe o nome dos outros membros, mas todos são chamados por apelidos e assumem uma nova identidade durante o encontro.

Regulus começou a desconfiar que aquele era um grupo do qual ele não iria fazer a mínima questão de participar.

— Tá certo, pai. E vocês brincam do que lá? – disse sem esconder a impaciência em sua voz.

— Oclumência.

Os olhos de Regulus se iluminaram. Um clube secreto de Oclumência! Era tudo o que ele e Severus precisavam!

— E como é?

— Bem, não fazemos muitas coisas, conversamos assuntos diversos, jogamos... Como você diz, brincamos... e nos desafiamos a contar segredos sem realmente contar... É excitante, como um duelo de Oclumência...

— Eu vou! – disse Regulus animadamente.

— Não sei se essa é uma boa ideia, filho... Talvez seja melhor mesmo esperar...

— Mas pai, se eu for, posso testar minha Oclumência, fazê-los acreditar que sou mais velho do que realmente sou... AH, me deixa tentar!

Orion examinou o filho por alguns momentos.

— Não, dessa vez não.

— Mas pai! Eles estão esperando por Sirius, não estão? Eu vou no lugar dele e ninguém vai saber.

Orion colocou sua mão sobre o ombro do filho e disse:

— Imagine que eu o leve e você não consiga esconder sua identidade. Você vai ser expulso antes mesmo de ser aceito... E minha situação vai se complicar também...

— Então me ensina?

Orion soltou uma gargalhada.

— Claro filho... acho que vou me arrepender disso, mas ensino. Limpe sua mente de qualquer pensamento...

— Como? Agora? – Regulus entrou em pânico.

— Sim, agora. Um bom Oclumente está sempre preparado, ninguém avisa quando vai invadir sua mente, meu filho. Limpe sua mente de pensamentos e sentimentos. Experimente o vazio... Legilimens!

Orion sacou sua varinha e a apontou para o filho tão rapidamente que ele mal teve oportunidade de ver o vulto da varinha se mexendo. Uma pequena infinidade de rostos e situações apareceram em sua mente e uma força muito forte o conectava aos olhos de seu pai. Por alguns instantes parecia impossível bloquear o feitiço do pai e ele se desesperava ao perceber escapar de si tantos segredos. Então Orion abaixou a varinha e Regulus caiu de costas na cama, exausto.

— Bonita a garota...

— Que garota? – ele respondeu, ainda atordoado, seus olhos fixos no teto e o coração parecendo querer romper suas costelas.

— A garota loira do Quadribol... Corvinal, suponho... Já a vi antes...

— Ah, ela é bonita... mas insuportável. Mas não vem ao caso agora, pai! Você disse que iria me ensinar, não que iria me torturar...

— Torturar? Ho, ho, ho! Primeira lição: eu não preciso usar a varinha para Legilimência. Isso apenas aumenta meu poder. Assim como você não deve ser dependente da varinha para fechar sua mente em Oclumência. O uso da varinha apenas concentra o poder. Você pode usá-la para aprender.

Regulus tateou pela varinha e seu pai riu.

— Muito bem, vamos ver se agora você consegue me bloquear. Legilimens! – Orion não precisou erguer sua varinha e pela segunda vez mergulhou nas lembranças do filho sem dificuldade. O viu beijar Alice, o viu conversar com os Comensais da Morte no cemitério. – Vejo que você tem se divertido muito em Hogwarts, meu filho... e que a escola está o está preparando mais do que ela imagina... Muito bom.

— Pai, como faço para bloquear minha mente?

— Você precisa querer, meu filho. Precisa focar no vazio... Pensei que você soubesse.

— Como assim?

Orion o olhou por uns instantes para o filho e balançou a cabeça para os lados, sorrindo.

— Bem, está tarde, melhor irmos dormir. Como eu pensava, ainda teremos que aguardar mais alguns anos para lhe a presentar aos olhos de lince. Tenha uma boa noite, filho.

— Mas pai... – Regulus tentou conversar, mas o pai já deixava seu quarto. Nunca tinha sido tão difícil fechar a mente para o pai. Ele já tinha conseguido isso diversas vezes antes, disfarçar seu pensamento, oferecer imagens diversas até mesmo para Dumbledore. Por que desta vez isso parecia impossível? Ele não conseguia compreender.

Bastante aborrecido e temendo fazer vexame na frente de Severus, ele deitou-se em sua cama e apagou o lampião da parede com um aceno de varinha. Seu sono foi bastante agitado, sonhou com o irmão, com Floffy e Alice e o professor Kettleburn. Acordou diversas vezes angustiado. O que seu pai teria feito com ele? Regulus demorou a compreender que sua angústia nada tinha a ver com seu pai. Já era quase cinco horas da manhã quando ele acordou sobressaltado, demorou alguns segundos para perceber que estava em seu quarto e sozinho. Sirius, cuja presença era tão forte em seu sonho, não estava ali. Então ele compreendeu porque não havia conseguido se defender do pai: saber que Sirius havia falado com todas as letras que não voltaria para casa o desestruturava. Era impossível concentrar-se quando a varinha de seu pai apontava para ele canalizando toda a magia, toda a atenção que antes era dividida entre os dois irmãos. E mais uma vez se fazia claro que era ele quem agora tinha a necessidade urgente de honrar a família Black, de assinar seu nome nos livros de história. Ele sozinho teria que fazer isso enquanto Sirius podia seguir livre seu caminho, namorar quem quisesse, fazer o que quisesse agora que ele não era mais um Black... Aos poucos o desamparo que sentia foi sendo substituído por inveja e raiva pelo irmão e ele desejou que Sirius nunca mais voltasse. Esse novo sentimento amargava em sua boca.

— Kreacher! Traga meu café da manhã!


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