A Breve História de Regulus Black escrita por Mrs Borgin


Capítulo 119
119. Perkins




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Perkins

O vazio que o engoliu era como um eco do que havia em seu peito. Sentia-se muito triste por não ficar para cuidar da mãe ou dar uma atenção ao elfo quando ambos precisavam dele. Ele sabia que no íntimo sua mãe também sabia que Sirius não voltaria e isso a corroía por dentro. Também sabia que parecesse não se importar, Kreacher deveria estar sofrendo com a falta de sua mãe. Não havia o que fazer se não trabalhar e seguir sua vida adiante; ele tinha seus deveres e não podia se mostrar mais fraco do que um elfo, afinal, Kreacher não havia deixado de fazer suas obrigações. E foi com esse pensamento que chegou ao escritório do senhor Crouch.

Crouch Jr havia ganhado uma confortável cadeira e uma escrivaninha, onde agora apoiava os pés enquanto lia o Semanário dos Bruxos, uma publicação voltada para o público feminino com fofocas e fotos da alta sociedade. Regulus ergueu uma sobrancelha:

— Eu esperava qualquer coisa de você, menos isso... Essa revista é um lixo! Achei que só minha prima Narcissa lesse isso.

— Ah, não costumo ler, mas saiu uma foto da minha família. Olhe aqui minha mãe como está bonita. Foi durante uma recepção do ministro, no final de semana passado.

Regulus tomou a revista em suas mãos e olhou, mas realmente não estava interessado. Era uma foto de vários bruxos no que parecia ser um baile, Crouch e seus pais em roupas de gala erguiam taças, oferecendo um brinde aos que olhassem a foto. Crouch tirou a revista da mão de Regulus, visivelmente decepcionado com a falta de interesse do colega.

— Tem uma foto que acho que é do seu avô. – Ele folheou rapidamente a revista – Está aqui: Arcturus Black, recebendo a Ordem de Merlin.

Regulus sentou-se sobre a escrivaninha e olhou novamente para a revista. Lá estava o avô e a avó, cercados por um bando de anciãos vestidos com longas capas que arrastavam pelo chão, dando-lhe a impressão de que os bruxos fossem de cera e estivessem, de alguma forma, derretendo de baixo para cima.

— É meu avô... – ele franziu a testa. Seus pais não haviam comentado nada sobre aquilo e ele não lembrava de nada que o avô tivesse feito que merecesse a Ordem de Merlin. Talvez a tivesse obtido por outros meios... Vantagens de se ser um Black. Mas vangloriar-se de ser um Black não iria diminuir sua pena, nem o livrar da companhia de “Grouchy” que de uma hora para outra resolveu ser simpático com ele. Aquilo era muito suspeito. – Seu pai vai demorar? Estou curioso para saber o que ele vai mandar eu fazer hoje. Até agora não entendi porque chamou de “trabalhos comunitários” o que estou fazendo, não vi nada de útil até agora.

— Meu pai vai demorar. Foi a um julgamento na Suprema Corte dos Bruxos....

— Julgamento? Algum... – ele abaixou a voz – algum dos nossos?

— Não, óbvio que não. Parece que é de um cara que foi pego gritando para os quatro ventos que o Ministério estava tomado e que aqui só tinham corruptos e bruxos das trevas...

— Bem, me parece que ele não tem motivos para pensar isso... Aqui é um tédio. Tomado de amantes de trouxas por todos os lados...

— Não é mesmo? Também tenho essa impressão, não vejo a hora disso mudar... Imagina o que seria um mundo dominado por bruxos...

— Voar em vassouras para todo canto...

— Fazer feitiços sob a luz do dia...

— Em qualquer lugar... – Regulus deu um longo suspiro.

— Senhor Black?

Regulus se virou. Era Perkins.

— Venha comigo. Estamos indo dar uma batida no centro da cidade. Temos alguma confusão com latões de lixo cantantes na Hanway Place...

Regulus franziu a testa.

— Próximo a Tottemham Court Road. – Completou Perkins.

Regulus escorregou de cima da escrivaninha e pos-se de pé. Perkins não era má pessoa, falava pouco, mas qualquer coisa seria melhor do que passar o dia no Ministério. Era verão, seria bom ver alguns raios de sol, só para variar.

Sr. Perkins levou-o para um pequeno vestiário atrás da mesa de Arthur Weasley.

—Bom dia, senhor.

— Bom dia. – 'Mr Weasley respondeu erguendo levemente a cabeça de suas anotações, olhando para o menino por cima dos óculos.

— Temos que nos trocar, eu não sei se você percebeu, mas os trouxas costumam vestir roupas estranhas. Felizmente, temos um vestiário aqui com algumas das roupas de trouxas. Arthur, eu quero dizer, o Sr. Weasley e eu estamos acostumados a usá-las e temos nossa própria coleção de camisas ...  - ele levantou a capa e mostrou suas calças boca-de-sino cor de laranja e uma camisa verde muito brilhante.

Regulus engoliu em seco; com sorte ele teria roupas menos chamativas para colocar. Perkins percebeu o desconforto do garoto:

— Você pode ficar aqui. Eu sei, vestir roupas trouxas pode ser muito vergonhoso para alguns bruxos ...

— Não, não. Está tudo bem. Eu também costumo vestir algumas roupas trouxas para passear com o meu irmão ...

— Verdade? - Arthur virou-se para olhar para o menino. Regulus sorriu para ele com tristeza. Ele não tinha certeza se algum dia ele passearia com seu irmão novamente.

— Você pode colocar esse, eu acho que serve ... - Perkins entregou-lhe um jeans e uma camisa branca.

Ele entrou no quartinho e se trocou. A roupa ficou levemente grande em Regulus, o que lhe fez lembrar de Sirius e suas piadas quando uma roupa não servia, dizia que “o morto era maior”. Aquilo lhe deu um nó na garganta que se desfez assim que ele notou Perkins apontando e agitando a varinha em sua direção. Imediatamente a roupa encolheu até se ajustar perfeitamente ao seu corpo. Ele olhou com interesse para Perkins, precisava aprender aquele feitiço. Ele estava prestes a perguntar qual era o feitiço quando o homem lhe disse:

— Vamos, não há tempo a perder. Quanto mais cedo, menos trouxas curiosos vamos ter para como testemunhas.  – E então puxou o garoto pelo braço, guiando-o entre a pequena multidão que ia e vinha apressada pelos corredores até chegar no elevador disfarçado em cabine telefônica que havia no meio do átrio e dava acesso direto à rua.

Os olhos do garoto se arregalaram ao se perceber em Whitehall, ele nunca tinha estado lá antes. Perkins olhou para ele com interesse por algum tempo. O menino parecia olhar estarrecido para os prédios em torno deles. Então o homem se perguntou se algum dia aquele bruxinho tinha usado transporte de trouxa e sorriu marotamente:

— O que você prefere? Podemos ir de metrô ou taxi. É perto daqui, estaremos lá em 15 minutos no máximo. Não é seguro aparatar no meio da multidão quando eles já estão tão assustados.

— Podemos ir de metrô... e voltar de carro?

Perkins sorriu.

— Claro.

Os dois caminharam até a estação, pegaram um trem e desceram na Tottenham Court, que já estava cheia de gente.

O problema com as latas de lixo cantantes não foi difícil de resolver. Embora Regulus tivesse a impressão de que Perkins tivesse demorado um pouco, ouvindo a música, antes de sacar sua varinha e silenciá-las. Enquanto alguns funcionários do ministério apagavam o fato da memória dos transeuntes, Perkins e Regulus examinaram as latas de lixo a procura de algum indício de quem poderia estar fazendo aquilo.

— Era uma música bonita, não? E bem cantada... – disse Regulus, devolvendo a tampa para o latão.

— De fato era. O que nos diz um pouco sobre o bruxo que as enfeitiçou. Não deve ser um adolescente, embora aumente consideravelmente nosso trabalho nas férias de Hogwarts, nenhum aluno iria escolher tal música...

— Ora, eu escolheria... – desafiou Regulus.

— Foi você?

— Não, infelizmente não... Gostaria de ter feito algo assim, mas acho que não ficaria tão bom...– ele admitiu, coçando o queixo.

Perkins olhou para ele. Gostava do garoto. Era inteligente e fazia comentários supreendentes.

— Fico pensando que é uma pena os bruxos não poderem brincar livremente como fazem os trouxas…

— Bem, os jovens bruxos têm que zelar pelo nosso mundo, não? Admito que lixeiras que cantam tão afinadas não fazem mal algum e até poderiam divertir multidões… Mas nem tudo são lixeiras inocentes… Muitas vezes brincadeiras como essas acabam machucando pessoas. – Sugeriu o bruxo, olhando desafiadoramente com o canto do olho para Regulus.

— Se quer saber mina opinião, eu diría que se algumas pessoas fazem brincadeiras de mau-gosto contra os trouxas é por causa de toda essa segregação a que somos forçados... Isso não existiria se não existisse essa lei... E além disso, o que de tão ruim o pessoal anda fazendo?

Perkins ergueu uma sobrancelha.

— Nada justifica atacar os trouxas... Não foram eles que fazem nossas leis... Bem, terminamos por aqui.  Vamos voltar de carro, então?

— Podemos voltar a pé?

— Temos cerca de uma milha e meia de caminhada... Podemos voltar a pé, então. Almoçaremos pelo caminho.

Regulus voltou ouvindo Perkins contar histórias sobre litros de leite que rodopiavam e faziam manteiga, caixas de rapé que mordiam, sapatos que encolhiam quando a pessoa os tentava calçar. Aquilo tudo poderia ser muito engraçado se ele conseguisse realmente prestar atenção, Sirius também acaharia engraçado pregar peças nos trouxas... Sirius não saía de deu pensamento, sentia tristeza misturada com revolta. Tinha esperanças de que o irmão pudesse mudar de ideia, de que eles pudessem novamente vagar juntos por aquelas ruas e conversar como nos velhos tempos, mas quanto mais pensava no irmão, mais a esperança dava lugar a um peso que lhe subia os ombros.

O tempo passou mais rapidamente do que ele desejava. Quando Perkins o avisou que estava na hora de ir para casa, Regulus abaixou a cabeça, apertando os olhos e engoliu em seco.... Casa... Voltar para casa, entrar no hall e encontrar a cabeça de Floffy, encarar Kreacher, o pai, a mãe e a ausência de Sirius era algo que ele não se sentia pronto para fazer. Mas e se Sirius tivesse voltado? Uma chama de esperança reacendeu subitamente, dando-lhe a energia necessária para ir até a lareira e voltar ao Largo Grimauld.

Sirius não voltou naquela noite e nem nas noites que se seguiram. Sirius se fora para sempre. Regulus agora sabia que a responsabilidade de honrar pai e mãe, de mostrar ao mundo o que um Black era capaz era toda sua. E assim ele o faria, seria o mais dedicado Comensal da Morte e todos o conheceriam por ter sido ele quem, ao lado de lord Voldemort, havia garantido o direito dos bruxos de saírem da clandestinidade e restabelecer a paz.


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