Os dias foram se passando, um mês se transformou em outro e depois outro, e agora Hermione participava de todas as reuniões dos Comensais.

 As primeiras noites foram as mais difíceis, não importava quantas vezes tivesse dito a si mesma que estava bem e que poderia fazer isso, era terrível estar entre aquelas pessoas sabendo o que eram, o que fariam e era horrível ouvir Riddle falando sobre as Artes das Trevas com tanta paixão e encantamento que enfeitiçava todos os outros, ela sempre saía de lá com o estômago embrulhado de uma forma que nunca sentiu antes, se sentindo suja, como se milhares de criaturas invisíveis estivessem passeando por sua pele.

 Depois de abandonar as reuniões, Hermione sempre se trancava em um dos banheiros e esfregava a pele até sentir que ela fosse abandonar seu corpo, mesmo assim não parecia suficiente, nunca era suficiente.

 E ela nem era uma Comensal de verdade! Claro, Riddle a tinha deixado participar das reuniões e dito que ela era um deles, mas existia um rito de passagem antes de poder se declarar verdadeiramente uma Comensal da Morte, era uma situação diferente para cada pessoa, se lembrava do que Draco precisava fazer para ser aceito e também sabia que todos os outros estavam infelizes porque ela ainda não fora colocada à prova, entretanto ela sabia o porquê, aquilo era só mais um teste de Tom, ele a observava todas as vezes, parecia querer encontrar algo que Hermione tinha medo de que encontrasse, ela protegia sua mente mais do que qualquer pessoa e temia ser pega desprevenida em algum momento.

 Riddle queria conhecê-la antes de aplicar seu teste, tinha deixado bem claro que não confiava nela, e seja o que fosse que ele estivesse planejando para ela, sabia que seria algo terrível que poderia até colocar sua identidade e suas intenções em risco.

***

— Você não parece muito bem, Thatcher — disse Riddle se aproximando sorrateiramente de Hermione quando entravam na sala de Slughorn.

— Não tenho dormido bem, sabe como é, reuniões no meio da noite, dezenas de pergaminhos para escrever, uma garota fica ocupada desse jeito.

— Não sei porque, mas não acredito em você, talvez seja porque eu te veja em aula e tudo parece muito fácil para você, como se já tivesse estudado isso.

— Sou uma pessoa curiosa Tom, não gosto de ficar para trás e considerando como fui afastada de tudo isso quando mais nova, gosto de saber que me recuperei muito bem.

— Você não fala muito dos seus pais.

— E você também não.

— Bem, você me pegou nessa Thatcher, me pegou mesmo.

— Você quer alguma coisa de mim em especial ou só é outro dos momentos que você tenta descobrir todos os meus segredos? Porque o professor já começou a falar e não quero perder nada.

— Na verdade, sim, tem algo que quero falar com você, embora talvez ainda esteja tentando descobrir os seus segredos. Por que tem que ser um ou outro?

— Por que, não é mesmo? O que você quer?

— Sabe, acho fascinante que você fez o possível para se juntar a mim e à… meus amigos e mesmo assim parece fazer questão de demonstrar que não me suporte.

— Talvez não suporte mesmo Riddle, não suporto que sua pose de bom moço é tão bem engolida pelas outras pessoas quando é claro que por baixo você é alguém muito pior e mais frio, por que ninguém enxerga você?

— Eles não enxergam porque não querem enxergar, é mais fácil ver um garoto abandonado por todos e que nem sabia seu potencial até entrar em Hogwarts, é mais fácil pensar que ele está dando seu melhor porque talvez consiga se tornar um professor e assim nunca precisar abandonar essas paredes de pedras e talvez, o garoto tenha pensado assim quando pisou aqui pela primeira vez, mas porque, me diga por que eu deveria me contentar em ser um simples professor se posso ser muito mais? Se posso ser maior que todos eles e talvez ter meu próprio castelo? A ambição é uma ponte inacabada e a sabedoria são as pedras. Estou construindo minha ponte Thatcher e, em breve, começarei o castelo.

— Sr Riddle, srta Thatcher há algo que gostariam de acrescentar? — perguntou o professor Slughorn parecendo encabulado de chamar a atenção de seus melhores alunos.

— Não, professor — disse Tom dando um de seus sorrisos que encantava a todos — Thatcher e eu só estávamos comentando como essa aula está fascinante, não é Thatcher? 

 Hermione lançou um olhar emburrado para o rapaz e o restante da sala que os encarava com diversas expressões de divertimento.

— Claro, e como essa poção é… Certamente muito útil — comentou ela.

— Claro, claro, é bom ver nossos alunos trocando informações, mas não se esqueçam de anotar os ingredientes, será seu dever de casa.

 Os dois assentiram e todos voltaram a encarar o professor que retomou seu discurso maçante sobre a melhor forma de começar a preparar a poção.

— O que você precisa de mim? — perguntou Hermione quando todos tiraram a atenção deles.

— Temos outra reunião hoje, algo em cima da hora, não seremos todos, mas quero você lá, meia-noite na orla da floresta.

A garota resmungou sozinha, pensando se teria algo mais óbvio do que um encontro à meia-noite na Floresta Proibida, se aquilo não gritava “eles estão aprontando!" não sabia o que faria.

— Claro, estarei lá.