No primeiro e segundo ano, era indiferença.
Na primeira vez que o viu, todos os primeiranistas aguardavam seus nomes serem chamados para o chapéu seletor decidir em qual casa eles passariam seus longos sete anos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Assim como Lily, todos pareciam ansiosos e tímidos com os olhares de toda a escola sobre eles, menos o garoto de cabelos rebeldes e óculos redondos. No meio da inquietação e dos cochichos entre os alunos, ela escutava sua risada alta e despreocupada junto a de um garoto de cabelos negros e olhos cinzentos, totalmente alheio ao seu redor. Mas Lily não prestou muita atenção nele depois desse momento, nem quando ele foi selecionado para a mesma casa que ela, e nem pelo resto daquele ano, ou no próximo. Extasiada com o novo mundo que acabara de entrar, tão diferente de tudo que estava acostumada, ela se sentia “atrasada” em relação aos outros alunos que cresceram em meio à magia e, por isso, sentia que tinha que dar o seu melhor. E ela deu. Estudava bastante, tirava sempre as maiores notas da turma e passava seu tempo livre com Severus Snape, seu melhor amigo de infância, ou Marlene McKinnon, Dorcas Meadowes e Alice Prewett, suas colegas de quarto cuja amizade surgiu logo no primeiro dia de aula. Essa era sua rotina e assim ela passou os seus primeiros dois anos, alheia à presença do garoto com a risada contagiante.
No terceiro ano, era curiosidade.
Começou com olhares. No salão principal, ao se esbarrarem pelos corredores, no salão comunal enquanto ela ficava com suas amigas e ele com seus amigos, algumas raras vezes durante as aulas. Lily não sabia o que era, mas alguma coisa naquele garoto, James Potter, agora ela sabia, a fazia querer observá-lo. O jeito que ele sempre parecia animado; seu sorriso brilhante e maroto; o jeito dele sempre parecer estar planejando alguma coisa, o que na realidade era bem provável, já que ele e seus amigos eram responsáveis por deixar a professora McGonagall maluca com suas pegadinhas pela escola; o jeito que ele sempre bagunçava mais seus cabelos naturalmente revoltados. Tudo isso ela observava e, muitas vezes, ele a observava de volta. Mas era só isso: olhares. Lily ainda mantinha sua rotina, e ele ainda era apenas o garoto do seu ano que gostava de se aventurar com seus amigos.
No quarto ano, era implicância.
Potter já era conhecido como um dos garotos mais bonitos do seu ano, se não de toda a escola. Além da fama entre as garotas, ele também tinha fama entre os professores. De fato, ele e seu grupo, os marotos, eram os garotos mais encrenqueiros da escola. Remus Lupin e Peter Pettigrew eram mais quietos, porém, ele e Sirius Black eram a dupla com mais detenções do que todos os alunos da escola, sempre por trás de alguma pegadinha envolvendo, em sua maioria, sonserinos. E, no meio disso tudo, ele simplesmente não conseguia parar de chama-la para sair. Começou aos poucos, um convite para Hogsmeade que, para a surpresa do moreno, um dos garotos mais cobiçados de Hogwarts, com a população feminina aos seus pés, foi negado pela ruiva. E então, começou. Lily já havia perdido as contas de quantas vezes ouvira um “Hey Evans, quer sair comigo?” ao passar pelo Potter nos corredores. Para ela, era puro orgulho ferido da parte dele, o que acabou tornando-se para ela um jogo divertido cada vez que bolava uma resposta diferente para dizer não ao garoto. “Não Potter, eu não sairia com você nem se o próprio Merlin viesse aqui e me implorasse”. Era apenas divertido demais vê-lo não conseguir algo que tanto insistia.