Naruhina: Quando os mortos amam escrita por Arysson96


Capítulo 5
A história do vampiro


Notas iniciais do capítulo

Yoooo leitores!! Aqui estou eu de volta com um capítulo grande kkkk' espero que satisfaça aqueles que estão acompanhando desde o início e os que conhecerão a história ainda agora! Muito obrigado a todos, de verdade! ♥



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“Eu estou aqui a mais tempo do que você pode imaginar. Com esses olhos, eu pude ver gerações nascerem e envelhecerem. Eu acompanhei de perto diversos processos que hoje são considerados históricos. Vi ascensões e quedas meteóricas, reinados, tiranias, guerras. Sou o único da minha linhagem, e a imortalidade é o preço que pago. Tu não podes sabe o que é ver definharem, uma a uma, as pessoas que você ama, e ver que aqueles que um dia estavam ao seu redor, agora estão sob a terra, sob morada tão injusta, sendo devorados pelo passar dos anos. E tudo o que eu busco é experimentar novamente deste amor que outrora sempre me fora oferecido, deste sentimento que liberta, sentimento que diminuiria o meu fardo; é tudo o que eu preciso para aliviar minha maledicência de viver enquanto estou morto.

Não posso te precisar datas; já estou aqui a tanto tempo que esqueci até mesmo o dia do meu nascimento. Mas ainda tenho memórias do tempo distante, do tempo onde eu era semelhante a você e a qualquer outro.

Eu era um criador de cavalos, um jovem apenas, como você pode ver agora, pois não mudei nada desde então. Eu vivi na miséria com minha família, e por anos e anos fomos vítimas das políticas feudais e também da ganância dos monarcas daquela época. Enfrentávamos situações adversas, passávamos fome, e eu era o único homem da família. Todas as responsabilidades caíam em cima de mim, já que o meu pai havia sucumbido anos antes, perante uma emboscada feita por gatunos sorrateiros. Minha mãe já não tinha forças para trabalhar e sustentar a mim e meus irmãos, que eram, na época, muito novos. O que restava para um camponês, marginalizado e incapacitado como eu, era trabalhar para senhores de imensurável riqueza, mas que em troca, não me davam mais que algumas moedas de prata, que não garantia nem mesmo uma refeição digna. Alguns, raramente, demonstravam alguma bondade, e davam-me também algum alimento junto ao salário. Nesses dias, eu podia comer junto da minha família, já que quase sempre deixei que eles se alimentassem dos poucos suprimentos que eu podia comprar. Lembro-me que um senhor, chamado Chikako, me ofereceu uma das suas melhores vacas leiteiras, e eu aceitei de muito bom grado. Ela nos ajudou bastante, e eu não tinha de gastar dinheiro comprando tal artigo. Eu a deixava pastando à vontade durante as manhãs, quando eu saia empunhando as minhas ferramentas, em busca de serviço. Felizmente, nunca tentaram roubá-la, ou estaríamos em lençóis ainda piores.

Mas serei sincero ao dizer que naquela época, eu era muito mais feliz do que era hoje. Pois ali eu tinha pessoas que me amavam, e mesmo que eu não as pudesse oferecer nenhum luxo, eu dava o meu melhor para que elas pudessem, ao menos, viver um dia após o outro. Eu tinha uma família, e eu era o pilar que a sustentava.

Eu lembro-me das festas de Natal, das comemorações de páscoa. Sempre haviam procissões perto de onde eu vivia, e em todas elas, eu acabava indo para conseguir doces para meus irmãos. Eles compartilhavam comigo, e eram doces de um sabor tão refinado... é uma pena que eu não consiga mais imaginá-los. Meu paladar também fora modificado.

Minha mãe, Kushina Uzumaki, era ainda muito jovem, com idade um pouco acima dos 30, não lembro ao certo se 33 ou 34. A morte do meu pai a afetou muito. Vivia constantemente doente; várias vezes eu chegava e percebia que ela estava febril, andando descalça sobre um chão gelado e mantendo o casebre em que vivíamos na mais plena ordem. Diversas vezes a repreendi, e ela sempre chorava pela própria teimosia. Mas havia dias em que a febre a fazia delirar. Eu era obrigado a levá-la para a cama improvisada que tínhamos, e durante o percurso ela tentava bater em meus irmãos sem nenhum motivo, e me respondia com xingamentos e injúrias. Ela chamava por nomes desconhecidos, e de repente, adormecia. Ela já não era mais uma mulher necessariamente forte, e estava nitidamente perdendo muito peso. O cabelo dela, outrora volumoso e belo, agora era ralo e a coloração ruiva agora dava lugar a uma palidez que acompanhava os poucos fios de cabelo que ainda brotavam da raiz. Ela já não queria mais tomar leite, e pedia para que eu a deixasse só. Obviamente nunca obedeci tais ordens, e muitas vezes, tive de usar da força para que ela colocasse algum alimento na boca. Ao passar de alguns meses, ela também já não falava. Não sei se por vontade, ou por incapacidade, mas ela não articulava uma palavra, um mero som não saia mais de sua boca. Mas o que me lembro dessa época, era a expressão triste da sua face, que não mudava. Os olhos dela brilhavam, e eram tão lânguidos... Era como se quisessem dizer alguma coisa, um desabafo, ou mesmo um grito de dor. Mas ela não conseguia. E em mais alguns meses, ela faleceu.

Tivemos de improvisar um funeral, pois não tínhamos dinheiro para pagar uma gaveta no cemitério mais próximo. Eu sabia algumas orações devido ao contato que tive com cristãos ao longo do tempo, e não deixei que minha mãe partisse para o outro lado sem a benção de Deus. E a partir daí, não sei se as coisas melhoraram ou pioraram. Para mim, pelo menos, pioraram. E bastante.

Os meus dois irmãos, Torui e Akira, cresciam bastante. Tornaram-se dois rapazes trabalhadores, como eu era antigamente, e me auxiliavam com os serviços, indo aos estábulos das casas dos nobres para cuidar dos cavalos. Com isso, cada um deles conseguia sua renda e a situação melhorou, mesmo que não tivéssemos mais a mamãe ao nosso lado. Não irei me aprofundar muito sobre eles, pois nunca fui dono de suas vidas e delas, infelizmente, não sei muitos detalhes. Torui, o mais velho, acabou morrendo de forma semelhante ao meu pai; entretanto, ele ainda conseguiu matar, com uma pancada instintiva de enxada na cabeça, àquele que o feriu mortalmente. Restamos apenas eu e Akira, que viveu por mais de 60 anos, até onde me lembro. Ele sempre me perguntava como eu consegui ficar tão jovem mesmo depois de tanto tempo. Em seu leito de morte, ele até me perguntou qual era o segredo, mas não tive tempo de lhe revelar qualquer coisa.

— Você não o contou como se transformou em vampiro? – Hinata o interrompeu, fascinada com a história.

— Não. Você será a primeira a saber disso, anos depois.

— Você tem ideia de quanto tempo?

— Como eu já te disse, não posso precisar uma data. Mas habito esse castelo há mais de dois séculos.

Hinata não podia acreditar que estava mesmo, em frente a um vampiro, em frente a alguém que era mais velho que suas tataravós.

— Deixe-me continuar. Bem, vejamos, onde eu parei...

— O teu irmão havia falecido.

— Sim. Depois que a minha mãe faleceu, minha personalidade começou a mudar bastante. Eu sempre havia sido um rapaz calmo. Nunca havia bebido nada alcóolico até então, mas tornou-se um hábito frequente. E eu abusava daquilo. Não achava que era justo minha mãe ter morrido tão jovem, e eu tentava superar a angústia com esse sedativo. Gastava todo o dinheiro que eu tinha em tabernas, e eu poderia beber, por dia, duas garrafas de absinto. Mas é óbvio que esse tipo de vida não me levaria a nenhum caminho. Eu só ia trabalhar devido a insistência dos meus irmãos, e mesmo assim, diversas vezes, eu desviava do caminho para ir beber novamente. Tornou-se um ciclo.

O problema é que, quando embriagado, eu possuía uma forte tendência a me tornar alguém violento. Não era raro que eu fosse expulso das tabernas por sempre arranjar confusões, e por quebrar toda a mobília desses estabelecimentos enfrentando pessoas mais fortes do que eu. Eu vivia machucado por causa disso. Frequentemente me cortava com vidro de garrafas que eu mesmo quebrava. Havia chegado ao fundo do poço. Mas eu não imaginava que poderia piorar.

Um dia, que, apesar de eu não ter alguma certeza, minha memória insiste em dizer que estava nublado, eu avisei a Akira e Torui que iria trabalhar, mas, outra vez, eu desviei meu caminho direto para a taberna, e lá fiquei por quase a noite inteira. Pedi meu absinto e sentei-me em frente ao balcão. Horas depois, ao lado, notei que havia um homem, cujo qual ainda lembro perfeitamente das feições: ele era alto, careca, e parecia muito musculoso; ele usava um cavanhaque grosso, e roupas inteiramente pretas. Não se podia ver outra parte de seu corpo além do rosto e das mãos. Parando para pensar, era alguém que parecia assustador, apesar de estar sempre com um sorriso no rosto, enquanto falava em tom amigável com o taberneiro. Sua presença ali me incomodava, e eu não sei explicar o porquê. Pedi-lhe que se sentasse em outro lugar. Óbvio que ele não acataria algo tão estúpido, e continuou ali.

Levantei-me e quebrei a garrafa em sua cabeça, mas o golpe não surtiu o efeito que eu esperava. Na verdade, não surtiu algum efeito. O homem se levantou, e sendo muito maior que eu, esmurrou-me. O taberneiro, temendo que eu quebrasse tudo por ali, empunhou um bastão longo de madeira e me expulsou. Mas, ao sair, eu acabei ferindo a honra do meu adversário com um insulto, e ele me desafiou para um duelo. Aceitei, e nos enfrentaríamos na madrugada seguinte. O vencedor deveria enterrar o corpo do derrotado, como sinal de respeito. Mas do jeito que eu era, se eu fosse o vencedor, o deixaria apodrecendo ali mesmo.

No dia seguinte eu também me embriaguei. Para ser franco, não dei a mínima se eu morreria ou não em algumas horas; nada disso me era importante. Ao badalar da meia noite, eu já me dirigia ao local combinado.

Era uma estrada distante do vilarejo. Tudo era cercado por árvores, e a iluminação que havia era por conta do luar, que estava admiravelmente lindo naquela hora. Eu lembro dos mochos grasnando entre as folhagens, agourando o perdedor. O maldito, que iria ao inferno por ter o braço mais leve que o outro. Lembro-me também de alguns sons, porém não posso defini-los aqui.

Sentei-me numa pedra para esperar. Eu sacava meu punhal a todo momento, para checar se estava realmente afiado. O tempo passava, e o homem não chegava. Havia ele desistido? Naquela época, antes morrer que desonrar um compromisso a base de sangue. Mas havia muito que o horário marcado tinha passado. Resolvi ir embora.

Pouco caminhei, até escutar duas vozes. Consegui avistar meu oponente falando com um homem muitíssimo malvestido, careca como ele, entretanto, muito mais magro, e tão pálido quanto um morto. Eles não conversavam como se fossem conhecidos, e eu poderia dizer que estavam discutindo por alguma coisa. Eu fui chegando cada vez mais perto de ambos, quando, de repente, o maltrapilho saltou em direção ao pescoço do outro homem, mordendo-o. Em instantes, ele estava no chão, e o outro o largou, com a boca ainda escorrendo de sangue. Era um vampiro. Eu fiquei claramente assustado, e quis fugir dali. Entretanto, tropecei, e com o barulho do tombo, ele percebeu que havia mais alguém ali. Creio que ele também sentiu o cheiro do meu sangue, pois em questão de segundos ele estava em cima de mim, também. Tentei me defender, mas, apesar de magro, aquele homem era incrivelmente forte e me imobilizou. Senti uma pequena pontada no pescoço, que não durou muito. Sem mais nem menos, o indivíduo levantou-se e saiu correndo. Comecei a sentir uma dor muito forte, ainda mais forte que a de vários ossos se quebrando. A última coisa que lembro é de ter visto o sol nascendo, pois acabei não resistindo, e desmaiei.

Quando acordei, pude perceber que todo o meu corpo formigava. A luz do sol me incomodava, pois já ia alta; senti ardência nos locais onde minha pele estava descoberta. O corpo do meu oponente estava ao meu lado, inerte, da mesma forma como caiu, na hora em que foi atacado. Se eu fosse visto ali, pensariam que eu o havia matado, e por isso, resolvi correr. Levei 3 quedas antes de conseguir tomar controle de mim mesmo. As ardências iam, aos poucos, aumentando. Eu consegui perceber a pele das minhas mãos se avermelharem, como se estivessem sendo cozidas aos poucos, e por isso, tentei passar pelo maior número de sombras que houvesse. Dessa maneira, consegui chegar em casa, e não me pergunte o que aconteceu com o cadáver, pois não sei. Creio que alguém o achou. Não houve repercussão alguma, e também, a partir daquele dia, deixei de ir a qualquer taberna.

Estranhei o fato de eu não ter sentido fome alguma. Já era mais de meio dia, Torui e Akira já deviam, há muito, terem saído para trabalhar. Eu adorava queijo. Na verdade, ainda adoro, e vos digo, é o único alimento que eu ainda posso lembrar o sabor. A nossa vaca leiteira era muito produtiva, logo, laticínios não nos faltavam. Eu tirei uma fatia e comi, acompanhado de pão. Mas, assim que engoli, senti-me nauseado. Vomitei tudo ali, na sala do casebre, mesmo. E o vômito... ele saiu com uma textura vermelha bastante forte. Na verdade, era sangue puro. O meu sangue. Eu estava pondo para fora todos os meus fluídos. Ao urinar, acontecia a mesma coisa, e eu expelia apenas sangue. Eu não entendia. O que estava acontecendo? Eu sentia calafrios, não conseguia mais salivar. Não conseguia comer nada, e sentia-me fraco. Eu não precisava de alimentos comuns. Eu percebi que meus sentidos estavam melhorando bastante, também. Minha visão, que sempre foi um tanto prejudicada devido ao fato das lamparinas que eu tinha de acender todos os dias enquanto observava minha mãe, agora estava completamente nítida. Eu conseguia ouvir os ruídos dos ratos escondidos, e sempre que alguém passava em frente ao casebre, eu sentia um cheiro, digamos, apetitoso. Sangue humano.

Não irei te dizer o que fiz para poder me alimentar, pois você já presenciou isso, ao estar naquele calabouço. Nunca quis matar ou transformar inocentes, e desde sempre, fui atrás de criminosos, gatunos, igual àqueles que mataram meu pai. Aquele cadáver que você viu, é o de um homem perigosíssimo, que não possuía pena de seus semelhantes. Logo, eu não tive pena dele também. ”

Hinata estava perplexa. Estava em frente a um demônio, a um morto, e ouvindo suas confissões. Como poderia ele a inspirar emoções? Já não havia mais medo. A fala dele era dócil, e a tranquilizava. Ele parecia incomodar-se um pouco com o cheiro dela, mas se controlava. Do tanto que ele insistiu, ela acabou comendo algumas frutas da bandeja enquanto escutava. A curiosidade da morena a respeito daquela história era tanta, que ela tomou a liberdade de perguntar-lhe outras coisas.

— Mas como você ficou rico? Você encontrou o vampiro que o transformou? Quem é esse seu servo, e como ele veio parar aqui?

— Eu encontrei o vampiro que me transformou por acaso. Não posso te dizer muito sobre ele, pois até hoje não sei de onde ele era. Ele era um vampiro andarilho, que se alimentava das pessoas que encontrava na estrada. Por isso, ele havia cruzado o meu caminho. Não sei quantos ele matou, e não sei também a idade que ele possuía. Mas um dia, resolvi tomar um pouco de ar fresco, e pus-me a caminhar. Não era muito tarde; mas provavelmente era aquele o horário em que ele iniciava sua caçada.

“Pude escutar alguns passos sobre a grama, e observei o que estava acontecendo. Ele estava espreitado atrás de uma árvore e não havia me visto. Estava, talvez, esperando algum infortunado passar. O reconheci pelos trejeitos e pelo rosto; ele estava utilizando roupas diferentes, talvez roubadas. Não perdi tempo e o ataquei de supetão; ele não teve tempo de reagir; meu punhal de prata já estava cravado em seu peito. Ele articulou algumas palavras em seus lábios, mas não lembro de ter ouvido algum som sair. Seu corpo foi, aos poucos, se transformando em pó. Não era absolutamente minha intenção conseguir alguma vingança; fiz isso apenas para que ele não arruinasse a vida de outrem, assim como ele arruinou a minha.

Sobre ficar rico. Eu fiquei rico trabalhando. Jamais roubei nada de ninguém. E três séculos de economia é bastante, não acha? Estou a te contar anedotas. Claro que minhas economias, ao longo de todo esse tempo, me ajudaram. Mas, logo após Akira falecer, eu passei a frequentar cassinos, passei a apostar em corridas clandestinas de cavalos. Me aproveitei um pouco dos meus sentidos apurados para observar as pessoas que possuíam esses hábitos, no início. Era algo realmente lucrativo. Ao debutar, perdi mais do que ganhei. Mas, com algum esforço, tornei-me um às do pôquer; sabia em quais cavalos apostar nas corridas. Jamais trapaceei, e sempre repreendi àqueles que o faziam.

Juntei uma pequena fortuna e resolvi investir em terras, agricultura. Ainda hoje, essa é a forma mais comum de se tornar alguém realmente rico. Aprendi o que precisava para mergulhar de cabeça nesse ramo, e tudo aconteceu como o esperado. Em algumas décadas, eu havia triplicado o meu patrimônio e empreguei diversas pessoas; lógico que a minha vida pessoal chamava a atenção daqueles que estavam próximos. Eu só aceitava visitas durante a noite, nunca fui casado e quase sempre vivi recluso, muitas vezes pedindo a terceiros para que conduzissem meus empregados. Jamais fui à missa alguma, apesar de sempre pagar os impostos concernentes ao clero. Talvez isso tenha me prejudicado um pouco e criado um certo mito ao redor do meu nome. Não vem ao caso discutir isso agora. Eu poderia ter monopolizado tudo. Ao final daquele século, além da igreja, claramente, eu era o maior proprietário de terras da região, até a chegada de Bento Hyuuga.”

— B-Bento Hy-Hyuuga?

— Sim.

— Ele é o avô do meu pai!!

— Sim, eu sei disso. Já imaginava que vocês possuíssem algum parentesco. Ele era um homem que partilhava dos mesmos hábitos que eu; era alguém solitário, costumava ir aos cassinos durante a noite e jogava pôquer como ninguém. Aquele desgraçado foi o único que conseguiu me vencer. Perdi rios de dinheiro tentando disputar com alguém tão inteligente.

“Mas ele tinha algo que sempre me chamou atenção.

Ele era alguém bondoso, Hinata. E mesmo o vampiro mais vil conseguiria perceber, em seus olhos, o quanto àquele homem possuía pureza e inocência de espírito. Ele vivia sorrindo, e estendia as mãos aos necessitados. Me ajudou a construir esse castelo, fornecendo-me trabalhadores fortes. Perdoava as dívidas daqueles que não possuíam meios para pagar. Era humano e fino com seus subordinados; era alguém querido por todos. Não me surpreendo que ele tenha conseguido me superar. A sua família é hoje tão respeitada graças a ele. E você, minha cara, também me chamou atenção. Teus olhos são idênticos aos dele. E é por isso que eu não posso encostar esses meus dedos maledicentes em alguém tão imaculada. Eu não seria capaz de cometer tal petulância, jamais.”

Hinata, mais uma vez surpreendeu-se. Ele havia visto sua família, hoje tão grande, nascer e se desenvolver! Ele conhecia as origens dela, ele conheceu aquele senhor, seu bisavô, que ela sabia quem era apenas por um retrato, que ficava em frente as escadas do casarão da família principal. Ela o olhava sem parar enquanto criança.

— E sobre o meu servo, ele está aqui a relativamente pouco tempo. O encontrei há alguns anos. Ele havia sobrevivido a um acidente grave com uma carruagem, acabou entrando desesperado, ensanguentado e com um braço bastante machucado, dentro desse castelo. Eu o recebi, e me assustei com o estado deplorável que ele estava. Por pouco não morreu; consegui transformá-lo antes disso. Ele se identificou como Sasuke Uchiha, um lavrador oriundo de um clã já extinto. Jurou sua fidelidade após ser salvo por minhas mãos. Depois que lhe contei que ele havia se tornado um vampiro e todas as consequências pelas quais ele haveria de passar, ele se atordoou bastante. Mas manteve sua palavra para comigo. Ele é o responsável pelos próprios atos, embora siga exatamente todos os meus passos. Não o permito que mate ninguém aqui dentro. O encarreguei da função de ir atrás dos criminosos de que nos alimentamos. Naquela noite, quando você chegou aqui, ele suspendeu a tocha no muro para iluminar o caminho que iria seguir; uma forma de não se perder naquela noite chuvosa. Se você não houvesse aparecido, ele passaria uma madrugada fora para encontrar delinquentes; entretanto, ele achou que você era uma ladra, que iria furtar meus bens, e por isso, se encaixava nos padrões. ”

— Milorde, solicito falar-te. Já está na hora do teu descanso.

Sasuke abriu de leve a porta do quarto. Naruto reiterou que Hinata deveria se alimentar, e levantou-se.

— Irás a sua cama, também?

— Não. Ao meu caixão.

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Tsunade permanecia em sua sala desde a noite do desaparecimento de uma de suas noviças. Não conseguia dormir; assim que fechava os olhos, o rosto de Hinata aparecia. Aparentava ter muito cansaço e estresse acumulado, com seus olhos fundos e vermelhos por chorar pelos seus pecados e pelo castigo que recebeu de Shizune, que queimava suas costas. Ela estava realmente preocupada; não que tivesse algum tipo de favoritismo pela Hyuuga, mas certamente seu sumiço lhe traria graves problemas, tanto com a família da jovem, quanto com a igreja.

A madre estava com um dos cotovelos na mesa apoiando a própria cabeça, que, a propósito, ardia de enxaqueca pela falta de dormir e comer. Observava a ficha de Hinata, tentando encontrar a verdade através dos olhos inocentes que a fitavam atrás do retrato em seu perfil. Não era do tipo que acreditava em intuições, mas algo a dizia que ela não fazia o tipo que foge de responsabilidades; ela vinha de uma família muito rígida e com muitas regras. Lembrava que quando Hinata chegou não demorou muito para se adaptar, e inclusive a jovem nunca foi de causar problemas, portanto, essa possibilidade era quase descartável. Rezava para que não tivesse sido sequestrada, mas quem seria tão cruel a ponto de sequestrar uma serva de Deus? O pecado da vaidade é corrigido severamente neste convento, portanto, principalmente em passeios, Tsunade exigia que todas as noviças estivessem o mais decente possível, para não despertar o desejo de nenhum homem.

— Madre Tsunade? – Uma voz feminina abafada soou por trás da porta, após leves batidas.

— Entre.

Uma jovem noviça entrou pela porta timidamente; parecia estar morrendo de medo, mal conseguia olhar nos olhos de Tsunade, que ficara surpresa em vê-la.

— O que faz aqui Sakura? Deveria estar no castigo. – Mesmo cansada, reassumiu sua postura rígida.

— Bom, eu estava a caminho do templo, e pensei que talvez a senhora pudesse me dar notícias sobre a irmã Hinata.

Tsunade gelou no mesmo instante; os cochichos sobre o caso já estavam em andamento e era uma questão de tempo para que se espalhasse; precisava de uma solução rápida.

— M-madre? – A chamou, notando sua expressão aflita, e Tsunade a fitou seriamente nos olhos.

— Você foi a última pessoa que a viu, certo?

— A-acredito que sim.

— Pois bem. – Se levantou e caminhou até ficar de frente a ela. – Sakura, às vezes precisamos fazer algo “fora dos padrões” da igreja para ajudar uma irmã necessitada.

— Eu não estou entendendo.

— A irmã Hinata está oficialmente desaparecida. Precisamos encontrá-la o quanto antes. Mas, não quero preocupar a família dela, portanto terei que tomar medidas um tanto secretas.

— O que quer dizer Madre? – Sakura não compreendia essas entrelinhas.

— Sakura, – Tsunade olhava ainda mais profundamente – eu preciso que faça algo. Isso irá te ajudar a conquistar minha confiança, e te livrarás do castigo no qual a coloquei. – A jovem a olhou esperançosa. – Achar a irmã Hinata. Te darei um mapa das cidades mais próximas, e mandarei alguns encarregados para acompanhá-la.

— M-mas Madre, eu não sei ao certo qual direção…

— Escute. - A interrompeu, baixando o tom e a olhando com seus olhos fundos. – Esta busca é a minha única esperança, você estará segura durante todo o caminho, e se conseguir, terá mais privilégios do que as outras noviças. É minha garantia.

Os olhos verdes da jovem brilharam, o que foi mais do que o suficiente para uma resposta positiva, na opinião de Tsunade.

— Agora vá. – Retornou para sua mesa. – Cubra-se por inteira, deixe apenas os olhos para fora. Chamarei os encarregados agora mesmo. Esteja pronta em meia hora, e os aguarde na entrada do convento.

— Sim, senhora Madre.

— E seja discreta. Não quero que corram mais boatos sobre minhas noviças.

Sakura assentiu positivamente e saiu. A jovem caminhava feliz em direção ao seu quarto, não por estar indo resgatar uma irmã, mas sim por que a tempos tentava achar uma oportunidade para obter privilégios. A vida no convento era muito difícil, portanto, se fosse livrada de castigos, ou pudesse comer mais de um pão pela manhã, já estava de bom tamanho, afinal, lá se aprende por bem ou por mal a não ser ambiciosa.

Enquanto isso, Tsunade conversava com os dois homens que seriam encarregados pela segurança de Sakura e Hinata. Não queria chamar a atenção, por isso preferiu não mandar muitas pessoas com a jovem.

Após meia hora em ponto, Sakura e os encarregados, armados com espadas, finalizavam os detalhes na entrada do convento.

— Se não a acharem em no máximo 5 horas voltem para cá, não precisamos de mais desaparecidos. Tentem encontra-la o quanto antes, estarei rezando por vocês.

Assim, eles partiram em busca da irmã Hinata. Sakura foi a frente, guiando os homens, mas se confundia diversas vezes; nunca prestava muita atenção em caminhos, principalmente naquela noite de tempestade. Mas, após 2 horas cansativas procurando sem obter nenhum rastro, Sakura reconheceu o lugar onde tinha quase certeza que a viu pela última vez.

— Está certa de que é por aqui, irmã Sakura? – Questionou um dos homens, já cansado das intuições erradas da jovem.

Sakura forçou sua memória ao máximo, mas suas visões eram embaçadas, afinal naquela tempestade, era difícil prestar atenção em detalhes, já que o foco era encontrar um local seguro.

— Temos que tentar. – Declarou, continuando a andar.

— Por que uma serva de Deus escolheria um caminho tão sombrio? – Perguntou o outro encarregado, observando o local.

— Nenhuma de nós estava em condições de observar direito por onde andávamos. Precisávamos de um lugar seguro, independente de como ou onde fosse.

Após essa breve conversa, todos permaneceram em silêncio, entretanto, as expressões assustadas eram nítidas. Quanto mais caminhavam, menos cidadãos eram vistos, e mais sombrio o caminho se tornava, até que chegaram ao ponto em que não viam mais ninguém pelas ruas. Só assim perceberam o quão escura estava aquela noite, e quão as árvores extremamente altas ficavam aterrorizantes ao fraco luar que as iluminava. Durante o trajeto, a presença de corvos intimidadores, com seus ruídos estranhos, estava se tornando comum, e apavorando quem passava por ali.

— Irmã Sakura, tem certeza que quer continuar nesse caminho? – O homem olhava para o muro de pedra, com suas esculturas de criaturas esquisitas.

— Sim, este lugar é horrível, eu sei, mas tenho 90% de certeza de que ela fez este caminho.

Pouco tempo depois chegaram à um grande portão de entrada para um gigantesco castelo sombrio. Os três se entreolharam, sem saber o que fazer.

— O que faremos? - Perguntou um dos homens.

— Vamos conversar com os donos desse lugar. Se não conseguirmos informações, daremos um jeito de vasculhar o castelo.

Os homens concordaram, então Sakura, com as mãos trêmulas, esticou a mão para tentar abrir o portão. No mesmo instante em que tocou um dedo no aço gelado, uma voz grossa ecoou.

— Por que estão tentando invadir o castelo de milorde?

Sakura correu para trás, assustada à ponto de quase tropeçar. Os homens se colocaram à frente dela, já sacando suas armas e procurando o dono daquela voz, sem obterem sucesso.

— Quem é você? Apareça!

— Vão embora e ficarão vivos.

— Só vamos embora depois que devolverem a irmã Hinata.

Um breve silêncio se instalou e uma brisa gelada atingiu os encarregados.

— Eu avisei. – Disse Sasuke aparecendo atrás de um dos homens.

     

Continua...


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