Bishounen Senshi Sailor Moon escrita por Bella P


Capítulo 15
Capítulo 15




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A risada ecoou pela taberna, seguida de um “shh”. O causador do som estridente tinha um dedo indicador sobre os lábios, pedindo silêncio para o barulho que ele mesmo causou.

Você não é muito de beber, não é mesmo? – Endymion comentou, tirando a caneca de barro na mão de Selene que tentava terminar de beber um vinho que não estava mais lá.

Eu só bebo socialmente. – Selene resmungou e ergueu a mão para chamar o taberneiro que logo surgiu na mesa deles com outra jarra da bebida. Endymion surpreenderia-se com a agilidade do homem para o atendimento, mas como Selene e ele eram os únicos no estabelecimento, àquela hora da tarde, não era de se estranhar por estarem sendo tão bem servidos.

O quê? Água com mel? – Endymion provocou, tirando a jarra de entre os dedos de Selene. O rapaz estava surpreendentemente eloquente para um bêbado, mas o controle motor dele já estava começando a vacilar, assim como a sua inibição estava saindo janela afora.

Nãããão. – Selene tentou tirar a jarra da mão de Endymion, mas ao invés disto agarrou somente o ar quando o príncipe escondeu a mesma as suas costas. – Você não é divertido. – ele protestou, fazendo um bico adorável, um bico que Endymion queria tomar com os seus lábios mas não podia. Primeiro porque estavam em público e a fofoca logo correria e chegaria aos ouvidos de sua mãe que ultimamente estava insistindo mais do que o normal em seu enlace com Beryl. Segundo porque Selene estava claramente bêbado e ele não era cretino desta maneira para tirar vantagem de alguém em estado vulnerável.

Acho que é hora de verdadeiramente colocar alguma água dentro de você. – Endymion acenou para o taberneiro que veio o mais rápido que a sua perna manca permitiu até a mesa deles. – Troque esta jarra de vinho por água fresca, por favor.

Sim, alteza. – o homem fez uma reverência polida e afastou-se com a jarra de vinho.

Alteza? – Selene, que estava quase adormecido sobre a mesa, empertigou-se por completo ao ouvir o que o taberneiro havia dito.

Endymion franziu as sobrancelhas diante da reação curiosa de Selene. A sua presença nas ruas da capital era rotineira. Endymion costumava passear pela cidade, flertar com as damas, brincar com os seus soldados e generais a noite nas tabernas, percorrer o mercado em busca de novidades trazidas além do oceano, por isso que as pessoas não reagiam com a pompa usual diante de sua presença. Muitos viram Endymion correr por aquelas ruas desde que era moleque, mas o respeito permanecia ali. Os títulos e as reverências eram algo entranhado no corpo e na mente de seus súditos, que os empregava mesmo quando Endymion dizia que tamanha formalidade não era necessária.

Mas, ainda sim, ele era um príncipe e como tal todos conheciam a sua posição, assim como o seu rosto. A surpresa que Selene demonstrou indicava que, até aquele momento, ele não fazia ideia de quem Endymion era.

Me diga a verdade, Selene. – o príncipe disse sério, mirando em olhos que pareciam bem mais focados e sóbrios do que antes. – Quem é você?

Selene abriu a boca, a fechou, franziu as sobrancelhas, desviou o olhar do rosto de Endymion e então saiu da mesa em um pulo.

Está anoitecendo! – o rapaz disse com aflição e os olhos fixos na janela às costas de Endymion.

Sim, estava anoitecendo, Endymion percebera isto quando o ambiente começou a ficar mais escurecido ao seu redor e o taberneiro passou a rodar o salão acendendo velas e lamparinas a óleo, mas manteve-se quieto pois o anoitecer era sempre o momento em que Selene desaparecia e ele não entendia o por quê. Esta noite ele esperou descobrir ao enrolar o rapaz o suficiente para ele ficar até depois de o sol se pôr.

Eu preciso ir! – havia um tom de desespero na voz de Selene. Um tom que intrigou e preocupou Endymion.

De onde Selene era? Quem o esperava para onde ele voltava? Como essa pessoa era? Do que ela era capaz de fazer para deixar o jovem tão transtornado?

Selene! – Endymion segurou-o pelo pulso, impedindo a fuga sempre agitada dele. – Eu posso te ajudar.

O quê?

Se alguém está te ameaçando, te maltratando... – Selene piscou repetidamente e então riu.

Você é um doce. Um verdadeiro príncipe. – declarou com divertimento, não parecendo mais abalado com a revelação do status de Endymion e pegou o mesmo de surpresa quando estalou um beijo nos lábios dele e deixou a taberna rindo, pois com o choque do beijo surpresa, Endymion o soltara.

Alteza? – o taberneiro o chamou quando passou um minuto e Endymion não reagiu, até que ele piscou, inspirou para recuperar o fôlego que perdera com o beijo surpresa e de dentro do casaco retirou um saco de moedas de ouro, que colocou sobre a mesa.

Pela bebida, e o seu silêncio. – declarou, deixando a taberna com mais dúvidas do que respostas.

Quem era Selene?

Mamoru piscou. Desde que o Cristal de Prata revelara-se, desde que o príncipe da Lua despertara, as memórias voltavam mais e mais, causando-lhe um novo tipo de insônia. Antes Mamoru não conseguia dormir por causa dos pesadelos, agora era por causa das lembranças e o fato de que as últimas horas ainda estavam fazendo um choque de adrenalina pulsar intensamente pelas suas veias. A maioria das lembranças que vinham em sua mente era de Endymion e Selene, o que para Mamoru era ótimo, pois era uma maneira de conhecer Usagi sem conhecer Usagi, porque ele desconfiava que o adolescente e príncipe não eram tão diferentes assim. Mamoru via grandes semelhanças entre Endymion e ele, mesmo que houvessem séculos entre os dois.

Mas mesmo que ele estivesse adorando esta visita ao passado, a mesma não lhe dava a informação mais importante que ele precisava: onde estava o Cristal Dourado?

 

oOo

 

Ikuko inspirou profundamente, tentando recuperar o fôlego depois da subida exaustiva das escadarias do Templo Hikawa. Os seus olhos, vermelhos e doloridos de tanto chorar, também tinham um brilho de determinação neles. Faziam doze horas desde sua briga com Usagi, desde que ele disse aquelas palavras que foram uma facada em seu coração, desde que ele pegou a bicicleta do pai, desapareceu por uma esquina e não mais voltou, ou deu notícias.

Ikuko esperou pelo filho até altas horas da madrugada, até que o cansaço a venceu e ela acabou adormecendo no sofá. Quando acordou, com os primeiros raios de sol no rosto e correu para o quarto de Usagi, para ver que este permanecia inalterado, que ele não retornara, o desespero tomou conta dela.

Ikuko procurou por Usagi nos pontos usuais que ele costumava frequentar. Quando um vizinho lhe disse que viu o menino quase ser atropelado no centro do distrito de Juuban, o coração dela foi a boca e voltou e então ela correu para os hospitais mais próximos, mas em nenhum deles deu entrada na Emergência um garoto com o nome ou as características de Usagi. Outro conhecido disse que vira Mamoru Chiba socorrendo o filho dela e Ikuko correu atrás do paradeiro deste homem, a procura de notícias, mas o porteiro do prédio dissera que sim, vira Mamoru subir com Usagi e depois Usagi partir sozinho e as pressas, como se tivesse lembrado de um compromisso muito importante. Mamoru saíra minutos depois de Usagi e não retornara desde então. Ikuko não queria nem pensar no que estava acontecendo ali.

Um rapaz de vinte anos e um garoto de quinze sozinhos no apartamento do primeiro e então, tempos depois Usagi foge do prédio as pressas e Mamoru o segue? Ao menos Ikuko presumia que Mamoru o seguia porque era muita coincidência ele sair minutos depois de Usagi. E se ele fizera alguma coisa com o seu filho, alguma coisa contra a vontade de Usagi? Ikuko arrancaria as bolas do homem e faria brincos com elas.

A informação do porteiro acalmara Ikuko um pouco. Usagi ao menos estava bem, mesmo depois do dito atropelamento, mas ainda sim estava desaparecido e ela sabia que ir na polícia seria perda de tempo. Não dera vinte e quatro horas ainda e ela sabia o que os policiais diriam quando ela contasse à eles as circunstâncias por detrás da partida de Usagi. Eles tiveram uma briga, trocaram palavras duras, Usagi era um adolescente de cabeça quente que não pensou antes de agir e fugiu de casa para punir os pais e agora deveria estar abrigado na casa de um amigo. O problema era que Usagi sempre pedia socorro, nessas situações, a Naru. E com Naru ele não estava e Ikuko não sabia os telefones ou endereços de Makoto e Ami, até que ela se lembrou que já vira Rei, vestido de sacerdote, no Templo Hikawa. O mesmo templo em que ela encontrava-se agora.

O lugar estava praticamente vazio, normal para o horário. A cidade mal terminava de acordar quando Ikuko saiu de casa com determinação movida pelo desespero. Um senhor varria as folhas que estavam espalhadas pelo chão do Templo e sorriu pra ela e lhe deu um bom dia.

— Bom dia. – ela respondeu com a voz rouca de tanto chorar noite passada. – Eu estou procurando Rei Hino. Eu já o vi aqui, como sacerdote. O senhor saberia dizer onde posso encontrá-lo? – o homem arqueou uma sobrancelha, mas não olhou para Ikuko com desconfiança, como normalmente um adulto olharia para outro que estivesse atrás de um adolescente ao invés de falar com os responsáveis deste. Quantas visitas de mulheres mais velhas Rei costumava receber?

— Rei está no salão de chá. – o senhor apontou na direção do tal salão e Ikuko o agradeceu com uma reverência polida, tomando o caminho indicado.

— Nós nem sabemos onde é a base deles, como esperamos resgatá-lo? – Ikuko ouviu ao aproximar-se do salão. A porta de correr estava entreaberta, o que facilitava bisbilhotar a conversa.

— Eu suponho que a base não tenha mudado com os séculos. – uma voz feminina respondeu e ela era estranhamente familiar. Ikuko aproximou-se da entrada com extrema cautela e pela fresta pôde ver Makoto, Rei, Ami e, surpreendentemente, Minako Aino, reunidos ao redor de uma mesa de café abarrotada de xícaras vazias, pratos com sanduíches mal comidos, um laptop e perto da perna de Rei, dois gatos, um preto e um branco, dormiam a sono solto.

Ikuko prendeu a respiração. O gato preto ela conhecia. Era o gato de Usagi. O gato com que seu filho tinha aparecido meses atrás e implorado com grandes olhos azuis para que os pais deixassem ele ficar com o bichano. Ikuko sempre considerou o animal estranho. Ele não agia como um gato e na maioria das vezes tinha um olhar extremamente inteligente e, muitas outras vezes, ela flagrara Usagi conversando com o animal. E não a conversa típica que um dono tinha com um pet, mas sim como se o garoto estivesse conversando com uma pessoa.

— E onde era exatamente a base deles? – Makoto perguntou para Minako.

— Aqui. – a cantora apontou para um ponto no que Ikuko viu ser um mapa entre a bagunça que estava sobre a mesa.

— Isto é no meio da Europa! Como vamos chegar lá, pode nos dizer? – Rei resmungou.

— Da mesma maneira que a Lua conseguia chegar na Terra e vice-versa. Por isso precisamos do Cristal Dourado. – Minako respondeu.

— E Chiba já deu sinal de vida sobre o Cristal? – Rei foi quem falou e havia um ar cansado nele. Havia um ar cansado em todos eles. Os olhos deles estavam vermelhos, os ombros arriados, olheiras marcavam as suas peles pálidas e Ikuko suspeitava que não foi bem chá que foi servido naquelas xícaras, mas café, que foi misturado com energético, se as latas perdidas entre a bagunça indicavam alguma coisa.

— Temos absoluta certeza de que ele está vivo? – Makoto apoiou os cotovelos na mesa e o queixo sobre os punhos fechados, tentando reprimir um bocejo, mas fracassando. O coração de Ikuko parou no peito, porque ela tinha a certeza de que eles falavam de Usagi.

Como assim certeza de que Usagi ainda estava vivo? Onde estava o seu filho?!

— Seríamos os primeiros a saber se ele não estivesse. Chiba – havia um tom de desprezo na voz de Minako ao mencionar o nome. – saberia de imediato caso ele não estivesse. A conexão entre eles é tão forte que foi capaz de perdurar depois de tanto tempo. Você viu a reação dele no Zepp Tokyo. O choque foi o suficiente para despertá-lo.

O Zepp Tokyo. A casa de shows era notícia de primeira página dos jornais daquela manhã. Houve um ataque durante o show de Minako Aino, o local apresentava grandes sinais de destruição, o público que não conseguiu fugir a tempo foi encontrado desacordado entre fileiras de cadeiras e ainda permanecia inconsciente no hospital, em um coma que os médicos não tinham previsão de quando iria terminar. Sangue foi encontrado no palco da casa, mas nenhuma das vítimas retiradas do local tinha um ferimento que fosse compatível com a quantidade de sangue encontrado.

Ikuko empalideceu e sentiu-se tonta. Pontos pretos surgiram em frente aos seus olhos e por um instante ela achou que iria desmaiar.

Os quatro adolescentes ao redor da mesa questionavam se Usagi ainda estava vivo, sangue em abundância foi encontrado no Zepp Tokyo e não era preciso ser um gênio para somar dois mais dois e chegar a quatro.

Seu filho era um dos feridos que não foi levado para o hospital e que, aparentemente, estava desaparecido.

— Por que... – Rei calou-se. – Espera. – completou e Ikuko pulou de susto quando a porta de correr foi aberta abruptamente, a revelando para os olhos de todos naquela sala. Estava tão ocupada perdida em seus pensamentos macabros e desesperados que não vira o jovem Hino mover-se. – Sra. Tsukino. – Rei soltou em um tom gélido. Sinceramente, não estava disposto a lidar com mães preocupadas e enxeridas no momento, não quando tinham um peixe maior para pescar.

— Onde está o meu filho? – Ikuko exigiu, rapidamente recuperando-se do choque e empertigando-se para parecer mais imponente, mas Rei Hino era mais alto do que ela e a olhava como se ela fosse uma criança desobediente e ele o adulto desapontado.

Ao percorrer os olhos pela sala, Ikuko percebeu que apenas Ami tinha um ar culpado e contrito. Makoto e Minako eram puro desagrado, como se a presença dela ali fosse um enorme incoveniente. As mães desses garotos não ensinaram à eles nenhuma educação e respeito aos mais velhos?

— E não mintam para mim. Eu ouvi a conversa de vocês, eu sei que alguma coisa ruim aconteceu com Usagi. Eu exijo saber a verdade. – Rei crispou os lábios diante do tom de Ikuko e trocou olhares com os seus companheiros.

— Talvez nós devêssemos... – Ami sugeriu, mas foi cortada bruscamente por Minako.

— Não. – a cantora disse de forma seca. – Isto não é problema dela.

— Na verdade será problema dela se Metalia conseguir o que quer. – Makoto argumentou, embora o seu rosto mostrasse que ele também não apoiava qualquer que fosse a ideia que Ami iria sugerir.

— E em que ela irá nos ajudar, me diz? – Minako pontuou e, neste caso, ela tinha razão. Ikuko não ajudaria em nada, mas ficar na escuridão era pior do que saber a verdade.

— Por favor. – ela implorou para aquele grupo que tinha a dureza e a firmeza de pessoas que viram muitas coisas nesta vida, embora a mesma ainda nem tenha começado direito para eles. Como a estranha gata de Usagi, esses meninos e meninas também eram cheios de mistérios e segredos.

— Devemos contar. – a voz masculina era nova, mais adulta, e não viera de nenhum lugar visível, até que Ikuko viu o gato branco desperto e era ele quem estava falando.

Sinceramente? Ikuko sabia que deveria estar chocada, achar que estava alucinando, mas sua mente estava tão dormente que nem mesmo um gato falante a surpreendia.

Rei suspirou, derrotado, deu um passo para o lado e permitiu que a mulher entrasse na sala, fechando a porta com mais força que o necessário quando ela passou por ele, demonstrando o seu óbvio desagrado com a situação.

Ikuko sentou ao lado de Ami, a presença menos hostil naquele ambiente, e a menina sorriu fracamente para ela, fechando discretamente a tampa do laptop antes que Ikuko pudesse ver o que estava neste.

— Deixe-me te contar uma história, sra. Tsukino. – Minako começou, olhando dentro dos olhos da mulher. – Uma história que depois de muitos anos, para a humanidade, virou lenda, um mito, alterado e moldado ao seu bel prazer mas que, para nós, todos nós, foi bem real, porque nós vivemos este mito.

E ela começou a contar a história de Selene e Endymion. A história de como o príncipe da Lua apaixonou-se pelo da Terra e como este amor, no fim, terminou em tragédia.


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