Bishounen Senshi Sailor Moon escrita por Bella P


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/745298/chapter/1

 

O ponteiro do relógio moveu mais um centímetro, mostrando que agora eram sete e vinte e cinco da manhã, e Ikuko suspirou, contou um, dois, três mentalmente e nem ao menos se abalou quando o grito veio do andar superior.

— AHHHHHHHHHHHHHHHH! VOU ME ATRASAR! – mais um suspiro da mulher quando o som de coisas caindo, e ela torcia para que não estivessem quebrando, mais gritos e então o barulho de passos pesados no corredor ecoou pela casa inteira.

Um adolescente desceu as escadas aos tropeços. Com uma mão ele terminava de abotoar a camisa do uniforme, com a outra vestia a jaqueta do mesmo. Quando chegou ao térreo, ao pular o último degrau, quase escorregou no chão polido. Ikuko encolheu os ombros, esperando pela queda que com certeza seria dolorosa mas esta, por algum milagre divino, não aconteceu.

Usagi Tsukino era o pequeno milagre de Ikuko. Um menino que veio depois de anos e anos tentando engravidar. Ikuko se casou jovem, sempre visualizou o seu futuro como a esposa fiel, a mãe de família, a dona de casa perfeita. Sempre teve gostos simplórios e pouca ambição. E quando conheceu Kenji Tsukino, encontrou no homem o par perfeito para concretizar os seus planos. E então se casaram, depois de mais ou menos um ano de namoro, e um bebê era tudo o que faltava para Ikuko sentir-se completa. Mas os anos foram passando e nada da esperada criança vir. Ikuko tentou simpatias, tentou vários tratamentos de fertilidade, fez exames atrás de exames, Kenji também, mas nada explicava a razão do por quê o seu esperado filho não vir.

— Tente na lua cheia! – a velha senhora Tsubame sugeriu quando viu Ikuko pela nonagésima vez no Templo Hikawa, acendendo velas para Inari, a deusa da fertilidade. Era óbvio para a senhora a razão da jovem estar ali, por isso não pôde deixar de opinar.

— Lua cheia? – Ikuko havia piscado repetidamente para Tsubame que sorriu um sorriso de poucos dentes para ela.

— Nos tempos antigos a lua cheia era considerada uma grande influência na fertilidade feminina. Tente conceber sob a luz da lua cheia. Literalmente sob a luz da lua cheia. – Ikuko corou. Kenji e ela moravam em um apartamento de um quarto, sala, cozinha e banheiro, no subúrbio de Tóquio. O sol mal entrava pela janela da sala pela manhã, quem dirá a luz da lua a noite. Tentar a sugestão da senhora Tsubame implicava levar a sua intimidade matrimonial para espaços mais abertos.

Mas Ikuko estava desesperada e depois de muito negociar conseguiu convencer Kenji a tentar a simpatia da velha senhora.

Dois meses depois de uma noite de lua cheia, Ikuko descobriu-se grávida.

Sete meses depois nasceu o menino mais lindo que ela já tinha posto os olhos.

Usagi parecia ser, literalmente, uma benção da lua.

A sua pele era pálida como alabastro, os seus olhos eram enormes e azuis e, mesmo quando bebê, eram tão expressivos quanto eram nos dias de hoje. O seu cabelo ralo era de um loiro belíssimo, com reflexos que variavam do dourado ao prata e quando Ikuko o segurou pela primeira vez, o primeiro nome que lhe veio à cabeça foi este: Usagi, em homenagem a velha lenda japonesa sobre coelhos estarem fazendo bolinhos de arroz na lua. Em homenagem a lua.

Usagi foi um bebê bonito, uma criança igualmente fofa, estava se tornando um homem belo, mas ditas qualidades infelizmente eram abafadas pela lista longa de defeitos.

Usagi era inteligente, mas extremamente preguiçoso para os estudos. Acordar cedo era uma coisa que ele não conseguia fazer. Usagi lembrava um príncipe de mangás para meninas; bonito, de rosto com traços suaves, corpo esguio e sorriso largo, pena que lhe faltava a graciosidade de ditos príncipes, porque ele era o desastre em pessoa.

— Estou atrasado! – Usagi gritou mais uma vez, entrando na cozinha aos pulos, pois tentava andar e colocar as meias ao mesmo tempo. Assim que conseguiu, aproximou-se correndo de Ikuko que somente estendeu para o filho a marmita do almoço e ignorou o fato de que ele colocou uma torrada inteira na boca e a mastigava com esta aberta.

— Se não ignorasse o seu relógio... – Ikuko começou o discurso de praxe em vão, pois Usagi já tinha saído como um furacão pela porta.

 

oOo

 

Usagi não ignorava o seu relógio. Não. O simples fato era que o dito cujo nunca tocava.

A sua mãe resmungava falando que ele não tocava porque Usagi esquecia de programá-lo. Shingo, o seu irritante irmão mais novo, que achava ser alguma coisa de útil neste mundo no auge dos seus dez anos, sempre caçoava de Usagi quando este acordava aos tropeços, carregando cobertas e travesseiros consigo, e tinha que praticamente esmurrar a porta do banheiro para tirar Shingo de lá de dentro.

Porque a culpa nunca era de Usagi, a culpa era do mundo que conspirava contra ele.

E o mundo conspirou mais uma vez quando, ao dobrar uma esquina, algo caiu sobre a sua cabeça e cobriu a sua visão, o que o fez girar como um pião no lugar e dar de cara no poste mais próximo.

O choque deslocou o que quer que estivesse cobrindo o seu rosto e o fez ver estrelas. Um miado fez Usagi piscar repetidamente para só então, depois que as estrelas sumiram da sua frente, ver o gato preto parado perto dos seus pés.

Era um gato estranho, pois tinha olhos castanhos enormes e dois esparadrapos cruzados na testa. O gato miou mais uma vez, um miado tão miserável que fez Usagi apiedar-se dele, ignorar o latejar em sua testa por causa da trombada, e ajoelhar-se em frente ao bichano que mais uma vez miou e com uma das patas roçou o esparadrapo em um gesto claro de que aquilo o incomodava.

— Pobrezinho. – Usagi murmurou e com delicadeza ergueu o gato no colo e levou a mão a uma ponta frouxa do esparadrapo, o puxando de uma vez só.

O gato ganiu de dor e como agradecimento arranhou a bochecha de Usagi antes de subir na cabeça dele com um pulo e com outro ir para o muro ao seu lado.

— De nada. – Usagi resmungou, levando a mão a bochecha arranhada e em um pulo pôs-se de pé quando o sino do Colégio Juuban soou no quarterão. – ATRASADO! – berrou e disparou em uma corrida frenética, deixando o gato esquisito para trás.

— Quase heim Usagi? – o porteiro falou com um tom de risada na voz assim que Usagi cruzou os portões de entrada da escola. Ele virou sobre os pés e deu um sorriso misturado com uma careta para o senhor, e um aceno também. Talvez tenha sido por isso que ele não viu quem estava atravessando o caminho naquele instante.

A trombada foi inevitável, assim como a queda dolorosa. Usagi foi de cara no chão e os seus dentes tremeram quando o seu queixo bateu no pavimento. Alguém gritou as suas costas e entre a visão embaçada Usagi viu o porteiro vir correndo em sua direção.

— Usagi! – alguém o chamou e mãos logo estavam em seus braços, o ajudando a se levantar. Assim que ficou de pé, viu que quem o socorria era a sua melhor amiga desde o jardim de infância: Naru Osaka.

Provavelmente metade da razão de Usagi ser zoado na escola fosse por causa de Naru. Que garoto de quinze anos tinha como melhor, e única amiga, uma menina?

Mas Usagi sabia que boa parte deste bullying era porque os meninos o invejavam. Naru era uma menina bonita com o seu cabelo castanho descendo em ondas até os seus ombros, o rosto arredondado e os grandes olhos claros, de um verde pálido e extremamente belos.

Naru era doce e educada com todos e a principal defensora de Usagi. Era ridículo ele precisar de um defensor, ainda mais na adolescência, mas foi assim que eles se conheceram. Naru o defendeu de alguns meninos no jardim de infância, que caçoavam dele dizendo que ele parecia com uma garota, e desde este dia ela não parou mais de defendê–lo.

— Você está sangrando. – Usagi levou as pontas dos dedos ao queixo que agora, além de latejar de dor, ardia. Mas estar sangrando, no momento, era o de menos. O importante era ver quem foi o pobre coitado vítima do seu sem jeito nato.

Usagi olhou por cima do ombro de Naru para o porteiro que conversava com uma menina da mesma idade deles. Ela era da altura de Naru e com o cabelo curto tão preto que sob a luz do sol da manhã ele parecia azul. Seus olhos eram de um azul escuro e estavam escondidos atrás das lentes grandes de seus óculos. Ela tinha um rosto delicado, um físico delicado, e Usagi estava surpreso por ela não ter simplesmente desmontado com a trombada.

— Vamos, eu vou te levar para a enfermaria. – Naru falou, já o puxando pelo braço antes que ele pudesse dizer alguma coisa, ao menos pedir desculpas a menina que lhe era estranhamente familiar.

Usagi e Naru entraram no prédio da escola assim que o segundo sinal tocou.

 

oOo

Usagi descobriu quem era a estranha assim que entrou na sala de aula após a sua visita a enfermaria, com um enorme curativo no queixo que fez os seus colegas rirem da sua cara.

A menina era Ami Mizuno, nova aluna do Colégio Juuban, e agora a pessoa que ocupava a carteira ao seu lado.

— Me desculpe. – Usagi pediu assim que sentou em seu lugar após o sermão básico da sua professora por causa do atraso.

Mesmo com um atestado da enfermeira da escola e o curativo visível em seu rosto, a srta. Haruna arrumou uma razão para repreendê–lo. Ela realmente não gostava de Usagi.

Ami sobressaltou–se ao ouvir a voz de Usagi e olhou para ele com olhos largos por detrás de seus óculos.

— O quê? – perguntou com uma expressão chocada e rosto pálido de quem parecia surpreso por alguém estar falando com ela, especialmente um menino.

— Me desculpe por hoje cedo. Você se machucou? – Ami corou da cor de um tomate, fez um não com a cabeça e depois desviou o olhar e abaixou o rosto.

— Sr. Tsukino, pare de bulinar a pobre Ami. – a voz estridente da professora soou dolorosamente em seu ouvido. – E estude mais! – ela o repreendeu e espalmou algo no tampo da mesa dele.

Usagi grunhiu ao ver o teste de Matemática da semana anterior, pois no canto superior direito deste havia um enorme 35 em vermelho, uma nota bem abaixo da média, uma nota que faria a sua mãe comer o seu fígado.

Usagi odiava a sua vida.

 

oOo

Ao final da tarde, assim que saiu da escola, Usagi bem que tentou arrastar Naru com ele para casa. Ikuko adorava a menina e com certeza iria ficar menos furiosa com a sua nota no teste de Matemática diante da presença da garota. Mas Naru foi ajudar a mãe na joalheria em que ela trabalhava. A loja era da família e na noite anterior havia sido assaltada, por isso Usagi foi sozinho para casa e encontrou Ikuko o esperando na porta de entrada.

— Mãe! – Usagi deu o seu maior e mais brilhante sorriso para a mãe, mas isto não desfez a carranca de Ikuko e ela estendeu uma mão para ele sem dizer uma palavra.

Com um suspiro, Usagi tirou o teste de sua mochila e o estendeu para a mãe.

— Trinta e cinco?! – Ikuko guinchou, lançou para Usagi um olhar que era uma mistura de raiva e desapontamento e entrou na casa, batendo a porta na cara do garoto. – Só volte aqui quando tiver conseguido um cem! – Ikuko gritou de dentro da casa e Usagi soltou mais um suspiro. A sua mãe era extremamente dramática. Felizmente a raiva dela não durava muito tempo e enquanto ela não se acalmava só havia um lugar para onde Usagi poderia ir procurar abrigo:

O Arcade.

O Arcade era um fliperama e lanchonete, ponto de encontro dos adolescentes que viviam no distrito de Juuban. Usagi frequentava o lugar desde que tinha oito anos e por isso era bem conhecido pelos funcionários, principalmente por Motoki, que lhe sorriu assim que Usagi passou pelas portas automáticas e foi para o balcão da lanchonete.

— Posso chutar? Cinquenta. – Motoki disse divertido e Usagi grunhiu. Motoki era uns cinco anos mais velho que Usagi e a família dele era a dona do Arcade.

— Quem me dera. – Usagi resmungou e deu com a testa no tampo do balcão.
Motoki suspirou.

Usagi era inteligente, mas relaxado e preguiçoso, e Motoki sabia disto porque já vira o garoto estudar de verdade e passar com notas altas na escola. O problema era que Usagi sempre deixava para última hora para correr atrás do prejuízo.

— Talvez se você bater com a testa em um livro, o conhecimento entre por osmose. – Motoki fez uma careta e lançou um olhar irritado para Mamoru que havia surgido do nada no balcão, e esperou apreensivo a resposta de Usagi.

Usagi ergueu a cabeça lentamente e fuzilou o recém-chegado.

Mamoru Chiba era a pedra em seu sapato.

Vinte anos, vindo de família rica, os pais eram médicos e ele também cursava medicina em Tóquio U. Mamoru era o sonho de consumo de todas as mulheres de Tóquio, e alguns homens também, e até a mãe de Usagi, quando o encontrou pela primeira vez, ficou corada na presença do rapaz diante da postura de lorde dele, da sua boa educação e da sua inteligência. Mais tarde ela deu um tapa na nuca de Usagi e disse:

— Por que você não pode ser como ele?

Usagi ficou de mau humor por dias.

Usagi não queria ser como Mamoru, até porque eles eram o completo oposto um do outro.

Mamoru tinha ao menos uns dez centímetros a mais que Usagi em altura e a sua pele era levemente morena, em contraste com o tom pálido de Usagi. Os seus olhos azuis eram da cor do cobalto e faziam as meninas tecerem sonetos sobre eles. O cabelo de Mamoru era negro como o céu da noite, o seu rosto era absurdamente másculo, como o de um príncipe da Disney, e ele tinha um horrível senso de moda já que a peça de roupa que ele mais usava era uma horrorosa jaqueta verde da cor de vômito.

E mesmo sendo extremamente bonito, Mamoru tinha uma personalidade horrorosa.

Ao menos com Usagi ele agia de maneira que em nada parecia com o príncipe encantado pelo qual as meninas suspiravam. Tudo isto porque, há um ano, Usagi arremessou por acidente um de seus testes com nota vermelha na cabeça dele. Desde então Mamoru era o seu karma.

— Eu fico surpreso como você consegue passar de ano. – Mamoru debochou, colocando os seus grossos livros e cadernos de anotações sobre o balcão.

Usagi arqueou uma sobrancelha para ele, mas nada disse.

— E o que foi isso no seu queixo? Sempre pensei que a sua cabeça dura causaria estrago em propriedade pública, não o contrário.

— Mamoru! – Motoki repreendeu o amigo que apenas sorriu divertido para ele.

Motoki rolou os olhos, desistindo de colocar qualquer bom senso que fosse na cabeça dura do rapaz. Felizmente Usagi não era o tipo de menino que se ofendia fácil, pois embora ele tivesse feições delicadas, de delicada a sua personalidade não tinha nada.

Usagi levou a mão ao queixo, onde o seu ferimento nem ao menos doía mais, e depois lançou um longo olhar para Mamoru que esperava uma reação de Usagi. Porque Mamoru vivia para isto, para satisfazer-se diante das explosões de Usagi. Mas, desta vez, seria diferente.

Usagi sorriu misterioso para Mamoru, o que desarmou o universitário por completo, e depois virou-se para Motoki:

— Acho que eu vou querer umas dez fichas. – pediu e Motoki riu e deu uma piscadela para ele enquanto lhe dava as fichas.

— Muito videogame e pouco estudo só vai encher mais a sua cabeça de ar! – Mamoru ainda tentou uma última alfinetada enquanto Usagi seguia na direção dos fliperamas.

A única resposta de Usagi foi mostrar o dedo médio para o outro rapaz.

 

Ooo

 

O gesto grosseiro fez o queixo de Mamoru praticamente ir ao chão e Motoki gargalhar ao seu lado.

— Você mereceu. – Motoki acusou. – Por que implica tanto com o garoto? – Mamoru deu ao amigo, desde os tempos de escola, um sorriso de escárnio.

Irritar Usagi era uma coisa que era mais forte do que ele. Sabia que não deveria, que era errado, mas ele não conseguia evitar. Usagi tinha todo aquele falso ar inocente que podia convencer qualquer desavisado de que ele era um menino delicado e frágil, mas longe disto, o que ele tinha mesmo era uma personalidade forte, uma língua ferina e um ótimo gancho de esquerda. Mamoru o vira usar uma vez em um garoto que estava molestando Naru, a melhor amiga do menino.

A cena havia acontecido no meio do Arcade e chocou a todos, até mesmo Motoki que conhecia Usagi há mais tempo que Mamoru. E Mamoru, desde este dia, tornou-se um viciado. Viciado em ver aquela expressão feroz que viu no rosto de Usagi naquele dia, de ver novamente os olhos azuis cristalinos brilharem de raiva, o corpo tremendo de fúria e energia contida, os punhos cerrados e prontos para um novo ataque. Contra a luz e sobrepondo-se ao garoto caído no chão por causa do soco, Usagi pareceu uma divindade que desceu dos céus para agraciar os pobres mortais com a sua presença.

O coração de Mamoru havia dado um estranho pulo naquele dia, fato que ele decidiu ignorar veementemente o seu significado. Ao invés disto, ele começou a provocar de forma mais intensa o adolescente na esperança de ver um relance que fosse daquela divindade.

— Você é patético. – Motoki suspirou ao seu lado e Mamoru desviou o olhar de Usagi, que praticamente esmurrava a máquina com o jogo mais recente da Sailor V, para o amigo

— O quê? – Mamoru perguntou sem entender e Motoki apenas sacudiu a cabeça em uma negativa e soltou outro suspiro.

— Simplesmente patético.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Bishounen Senshi Sailor Moon" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.